Capítulo 329 ♥

Era manhã de outono, as ruas e calçadas estavam pintadas em alto relevo com folhas amareladas e marrons. O céu estava desenhado por nuvens que variavam de cinza claro pra cinza chumbo, em harmonia. Um vento frio bagunçava os cabelos de
Jenifer que estava caminhando pelo Ibirapuera. Mesmo que tenha passado metade do tempo sentada, ainda assim valeu a pequena caminhada que dera em volta do lago. O médico indicara alguns exercícios para melhorar a circulação e respiração, além de ajudar na posição do bebê para a hora do parto.

Jenifer cansou-se de ficar andando, sua coluna parecia que se romperia a qualquer momento. Sentou-se num banco enquanto esperava por Eleonora que havia ido buscar algo que as esquentasse.
A barraca que no verão vendia sucos gelados e sorvete, dera lugar para bebidas quentes.
- Doutora Eleonora – Disse uma voz atrás de Eleonora. Antes de a pessoa falar, Eleonora conseguiu decifrar quem era pelo perfume cítrico e inconfundível.
Seus joelhos cederam e seu coração deu uma única batida forte. Girou o corpo só pra poder olhar e ter certeza de quem a chamava.
Kátia estava ali diante dela, com sua exuberância, escondendo seus olhos azuis atrás de óculos escuros, escondendo suas formas num moletom preto com detalhes em verde. Parecia voltar da academia.
Eleonora a olhava sem entender o porquê de ficar ali parada sem dizer nada, poderia ter ignorado e dado as costas, mas por algum motivo não o fez.
- Achei que tinha voltado pra Vitória – Disse Eleonora depois de algum tempo, virando-se para frente da fila novamente.
- E eu voltei, mas fiz amigos aqui e às vezes venho visitá-los – Informou Kátia tirando os óculos e segurando-os na mão – Parece que quanto mais o tempo passa você fica mais linda.
Eleonora ia dizer alguma coisa, mas preferiu ficar calada.
A moça da barraca chamou por “próximo” e Eleonora deu alguns passos a frente, pegou seu chocolate quente e o de Jenifer e ia saindo quando Kátia a interrompeu.
- E você e a Jenifer...? – Perguntou como nem não quer nada.
- Melhor impossível – A voz de Eleonora saiu estranhamente cordial.
A poucos metros dali Jenifer balança seus pés inquieta. Colocou a mão no coração achando estranho o jeito como ele batia. Não quis esperar Eleonora e decidiu ir atrás dela. Quando foi chegando perto entendeu o porquê do seu coração bater tão estranho.
Enquanto caminhava com seu corpo pesado até perto de Eleonora, seus olhos encontraram os de Kátia.
Os olhos de Kátia pareciam ter saído de foco quando ela percebeu que Jenifer estava diferente da última vez. Não parecia a garota de corpo leve e esguio com quem se enroscara da última vez.
- Amor, se você demorasse mais um pouco eu ia beber um chocolate frio – Reclamou Jenifer tomando o copo da mão de Eleonora com uma brutalidade subtendida.
- Você está grávida... – Analisou Kátia olhando fixamente para a barriga de Jenifer – A gente fica fora algum tempo e quando volta tantas coisas mudaram...
- Nós precisamos ir – Disse Eleonora ignorando o comentário de Kátia e pegando na mão de Jenifer.
- Leo! – Chamou Kátia dando uma pequena corrida até Eleonora, puxando ela pela mão, fazendo se desgrudar de Jenifer.
Jenifer virou-se para ela com um olhar de fuzilamento.
- Obrigada por ter falado comigo, isso realmente foi importante – Disse Kátia contendo a vontade de abraçar Eleonora – Você é uma pessoa excepcional.
Eleonora não sabia se agradecia ou ficava quieta. Limitou-se a dar um sorriso. Caminhando de costas e indo de encontro a Jenifer Eleonora deixou Kátia.
- Se eu não te busco, você ia ficar conversando com ela até amanhã, não é? – Disse Jenifer nervosa.
- Não, não ia. Isso foi mais um monólogo do que um diálogo – Respondeu Eleonora tranquilamente.
- Depois de tudo que aconteceu é impressionante que você ainda converse com ela, Eleonora.
Jenifer estava nervosa e apertava o copo em sua mão imaginando o pescoço de Kátia.
- Posso saber por que você tá tão nervosa? Quer deixar nossa filha experimentar o estresse antes mesmo de ter nascido? – Perguntou Eleonora parando Jenifer no portão do parque.
- Eu percebi o jeito como vocês estavam conversando, pareciam amigas de anos... – Jenifer era a ironia em forma de gente.
- Pelo amor de Deus, Jenifer. Você está tendo um ataque de ciúmes? É isso mesmo ou estou enganada?
- Não, está certa. Pra que gastar seu tempo com ela sendo educada e simpática? Você já esqueceu tudo que aconteceu, tudo que ela causou conosco?
“Até onde eu saiba a culpa não foi só dela” Respondeu Eleonora mentalmente. Mas de sua boca saiu:
- Eu não me esqueci, mas Jenifer isso já tem quase um ano, você sabe que eu não sou uma pessoa rancorosa e muito menos mau educada. Foi um encontro casual, ela me disse oi, eu respondi, ela perguntou como nós estávamos eu disse que melhor impossível e quando eu estava voltando, você apareceu e agora está me atirando mil pedras. Quando eu te disse que não queria nem a amizade dela eu não estava mentindo. Não quero mesmo, isso seria muita burrice, ser amiga de uma pessoa que me fez tão mal, como eu te disse eu só respondi o que ela perguntou, sem me preocupar em perguntar como ela estava.
Jenifer jogou o copo no lixo e quis abraçar Eleonora por inteiro, mas aquela barriga imensa atrapalhava, Jenifer então pegou na mão de Eleonora agora mais calma e disse:
- Desculpa, amor. Me estressei a toa, eu sei que você jamais iria querer a amizade da Kátia. Esses hormônios vão me fazer surtar qualquer momento, essa menina tá pesando demais, minhas costas estão doendo e acho que preciso da minha cama agora.
- Tudo bem, vamos embora – Disse Eleonora.