Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: julho 2011

terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 345 ♥ The End.

Janice caminhou até Eleonora e Jenifer parecendo brilhar mais do que o sol. Pegou Virgínia que estava no colo de Jenifer e beijou e abraçou a neta, que retribuiu o carinho com seu jeito tão doce.
- Entrem, vamos conversar lá dentro – Disse Janice indo para o interior da casa.
Jenifer a seguiu e Eleonora virou para trás apenas para acionar o alarme do carro.
- Onde vocês vão morar? Quando decidiram voltar? – Perguntou Janice sentando no sofá com Virgínia no colo.
- Vamos morar naquela casa perto da casa da tia Do Carmo, sabe? Aquela branca de janelas azuis... – Respondeu Eleonora.
- Sério minha filha? Nunca ia imaginar que a casa estava sendo reformada para vocês morarem. Sua tia até me disse um dia: “Estou ficando com medo dos moradores dessa casa, fui perguntar quem ia morar ali e o pedreiro disse que era segredo”. Mal sabia ela que eram vocês. Achei que fossem morar lá em São Paulo pra sempre.
- Decidimos voltar por que estávamos com saudade e criar uma criança num apartamento é desconfortável imagina criar duas – Completou Jenifer pegando a caneca de água de Virgínia que estava na bolsa e oferecendo para a filha.
- Duas? Como assim duas? Você está grávida de novo?
- Não – Respondeu Jenifer pegando na mão de Eleonora – Não sou eu.
Janice olhou para a filha já com os olhos marejados.
Depois das duas tentativas de adoção não ter dado certo Jenifer questionou Eleonora sobre o segundo filho
vir da maneira como veio Virgínia, mas por meio dela. Eleonora não respondeu de imediato, mas a ideia ficou rondando seus pensamentos depois disso. Até que ela decidiu tentar uma inseminação.
E Eleonora teve a mesma sorte que Jenifer, na primeira tentativa conseguiu engravidar e agora carregava outra vida dentro de si.
- Por que essa cara, mãe? Não gostou da ideia de ser avó de novo? – Questionou Eleonora rindo da cara da mãe.
- Para de ser boba menina, claro que gostei. Adorei. É muita felicidade pra um dia só. De quantos meses você está?
- Um mês e meio, ainda está no começo – Disse Eleonora passando a mão na barriga.
- Seu pai vai pular de alegria quando souber disso – Disse Janice.
Eleonora sorriu.
- Vamos lá na nossa casa pra eu mostrar pra senhora como ela ficou – Convidou Eleonora já se levantando do sofá – Liga pro seu pai e pra sua avó, amor.
Enquanto caminhavam até a casa Jenifer conversava com a avó pelo celular que assim como Janice ficou surpresa por saber que a neta estava na cidade. No caminho encontraram Maria do Carmo voltando pra casa, estava em horário de almoço e como sempre resolvendo problemas. Quando viu as sobrinhas Maria do Carmo foi cumprimentá-las e aproveitou para ir junto delas conhecer a casa.
Eleonora e Jenifer pararam em frente ao portão se entreolharam e sentiram Virgínia tentar passar pelo espaço que estava entre suas pernas. Jenifer pegou a filha no colo, Eleonora destrancou o portão e as duas entraram com o pé direito. Seguidas por Maria do Carmo e Janice.
- Quantas árvores – Observou Maria do Carmo chegando perto de uma goiabeira – E tudo árvore que dá fruta.
- A ideia de plantar árvores frutíferas foi da Léo – Disse Jenifer – Tem mangueira, goiabeira, limoeiro, jabuticabeira e lá no fundo tem um pé de jaca.
- Nossa a casa é grande – Disse Janice observando o lugar onde provavelmente seria a sala, um espaço grande, com janelas retangulares e que tinha uma porta de correr ao fundo que dava pra um imenso quintal.
No fundo da casa tinha uma árvore imensa que Eleonora e Jenifer quiseram preservar. Segundo um dos pedreiros que reformaram a casa a árvore deveria ter mais de sessenta anos. Suas folhas verdes e grossas ultrapassavam sem esforço o telhado da casa.
- Ave Maria! – Exclamou Maria do Carmo – Que tamanhão de árvore minhas filhas, vocês não vão cortar, não?
- Não – Respondeu Eleonora olhando pra cima, vendo raios de sol por entre as folhas – Eu e a Jenifer tivemos uma ideia e vamos precisar da árvore pra concretizar.
Jenifer sorriu com cumplicidade para Eleonora.
- Que ideia é essa? – Quis saber Janice.
- Vamos construir uma casa na árvore pras crianças – Respondeu Eleonora.
- Vocês fizeram muito bem de voltar pra cá, a casa é muito grande as crianças da família vão aproveitar de montão cada cantinho – Disse Maria do Carmo maravilhada com as cores da casa.
- Com certeza tia. A Virgínia vai poder descontar no filho do Plínio tudo que ele fez comigo quando era criança – Disse Eleonora rindo.
- Ave Maria! Coitado do Arturzinho – Exclamou Maria do Carmo rindo também.
Uma buzina foi ouvida minutos depois, eram os dois caminhões que traziam o restante da mudança de Eleonora e Jenifer.
Logo em seguida entraram Giovanni e Flaviana, abraçando Jenifer duplamente.
- Vô! – Exclamou Virgínia correndo até Giovanni – Vovô.
Giovanni se derreteu todo com a neta.
- Então quer dizer que agora vocês não vão mais voltar para aquela cidade de doidos? Vou ver minha bisneta crescer pertinho de mim? – Perguntou Flaviana encostada a janela onde seria o quarto das crianças.
- É vó, vamos ficar aqui por um bom e longo tempo – Respondeu Jenifer encostando a mesma janela colando-se a avó.



Alguns anos depois...



Toda família Ferreira da Silva e Improtta estavam sentados na sala da casa de Eleonora e Jenifer esperando ansiosamente pelo programa de TV que começaria dali alguns minutos. Virgínia que estava cinco anos estava no colo do avô Sebastião devorando metade da bacia de pipoca, puxando vez ou outra a vasilha da mão da irmã Manuela, essa com três anos.
O programa que fez toda a família se reunir era um programa sobre variedades e naquele dia a entrevistada do dia era Jenifer. O motivo da entrevista era o enorme sucesso que estava tendo com sua clínica particular de psicologia, voltada única e exclusivamente para jovens gays.
Logo após terminar a faculdade, Jenifer recebeu todo apoio moral e financeiro de Eleonora para montar a clinica. Passaram por alguns apuros devido a isso. Venderam o carro para saldar algumas dividas, suspenderam a baba que cuidava de Virgínia e Manuela e se atrasaram com contas como água e luz. Por um momento Jenifer quis desistir. Era madrugada e Jenifer estava acordada e sentada na casa da árvore que os homens da família ajudaram a construir. Estava sentada com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas conversando sozinha ou com Deus.
Eleonora subiu pela escada de cordas e sentou ao seu lado sem dizer nada, passando seu braço em volta de seu ombro.
- Acho melhor eu desistir disso e voltar pra fisioterapia. Meu currículo é bom, sei que tenho capacidade pra voltar – Disse Jenifer deixando as lágrimas escorrerem lentamente.
- Você não vai desistir, Jenifer! – Respondeu Eleonora um pouco dura – Eu nunca achei que você fosse se encaixar tão perfeitamente na psicologia. E você sabe que eu não estou exagerando – Completou ao ver a expressão de discordância – Vamos dar a volta por cima, já superamos tantas coisas. Vamos conversar com nossos pais, eles não vão nos negar ajuda.
E Eleonora estava certa. Giovanni se dispôs de uma boa quantia para erguer os pilares da clínica de Jenifer e junto de Sebastião e Janice ajudaram na decoração e outro detalhes. E depois de a clínica estar de pé, Jenifer assumiu seu posto de psicóloga.
Durante algumas semanas o movimento foi fraco, pois ninguém sabia ainda da clínica. Maria do Carmo então decidiu ajudar também, fazendo propaganda boca a boca entre os fregueses da sua loja. Não muito tempo depois o movimento começou a aumentar e quando a clínica completou um ano já tinham pacientes das redondezas e da capital carioca.
A clínica de Jenifer tinha se tornado um sucesso e ela viu que foi um ótimo negócio não ter desistido.
E naquela noite ela estava extremamente radiante por saber que agora mais pessoas saberiam da sua clínica.
Bianca, a filha de Reginaldo, trabalhava na clínica de recepcionista.
Já Eleonora assumiu a chefia do Hospital Central com a garra que sempre teve e não poderia ter se saído melhor. Trabalhou até não aguentar mais o peso de Manuela dentro de si. A gravidez foi tranquila e Eleonora pagou o preço por zombar da fome de Jenifer durante a gravidez de Virgínia. Estava comendo o dobro de Jenifer.
Certa vez era quatro horas da manhã e Eleonora acordou dizendo que estava com vontade de comer pizza. Mas não era qualquer pizza, era pizza de muçarela com chantilly. Jenifer acendeu a luz do abajur e encarou Eleonora espantada.
- Eu estou falando sério amor. Quero pizza com chantilly – Disse Eleonora olhando para a cara de riso de Jenifer.
A pizza veio com muçarela escorrendo pelos lados. Eleonora detonou metade do vidro de chantilly que estava na geladeira. Depois disso dormiu satisfeita.
O parto de Eleonora foi tranquilo também e assim como Jenifer optou por parto normal. Manuela nasceu com quase quatro quilos e pequena, como a mãe. Cabelos castanhos claros e cheios.
Eleonora, Jenifer, Virgínia e Manuela eram a família mais comentada e feliz de Vila São Miguel. Aonde iam as crianças chamavam atenção por serem de uma doçura invejável. Claro, tinham aqueles que as olhavam enviesado. E quando isso acontecia, Jenifer beijava Eleonora docemente no meio da rua, enquanto segurava alguma das filhas pela mão.
Virgínia já frequentava a escola infantil e quando algum amiguinho perguntava sobre seu “papai”, ela respondia naturalmente:
- Tenho duas mães. A mamãe Jeni e a mamãe Léo.
- E você não quer ter um pai? – Perguntou certa vez um menino que estava dividindo a massa de modelar com ela.
- Não. Eu quero minhas mamães pra sempre.
Até aquele momento Virgínia se contentava apenas com suas mães e nunca questionou a falta de um pai, por saber desde que começou a entender melhor que aquilo era uma família, mesmo sem ter um pai.
Virgínia e Manuela se davam bem. Tinham uma relação intensa de amizade e carinho. Quando Manuela fazia alguma peraltice e Jenifer ou Eleonora ameaçava dar-lhe uma palmada na bunda, Virgínia entrava na frente e impedia, geralmente dizendo:
- A Manu é minha irmã e você não vai bater nela.
Eleonora e Jenifer não sabiam se achavam aquilo irritante ou fofo.
A verdade é que as duas eram uma dupla de furacão. Quando ambas estavam muito quietas poderia se desconfiar que estavam fazendo alguma arte.
Numa tarde de folga para Eleonora e Jenifer, enquanto as mães limpavam a casa Virgínia e Manuela tiveram a brilhante ideia de repintar a casa. Claro que metade do plano foi arquitetado por Virgínia que era mais forte e dois anos mais velha. Virgínia abriu uma lata de tinta roxa e junto de Manuela que apenas a imitava “tatuaram” suas mãos do lado de fora da casa. Virgínia quis empurrar a lata e a fez cair no seu pé espalhando tinta por todo o chão e no corpo, espirrando em Manuela também. O grito estridente de Virgínia fez Manuela chorar também. O choro das duas alarmou Eleonora e Jenifer que ao chegarem se viram obrigadas a rir da arte das filhas.
A família Ferreira da Silva/Improtta estava mais unida do que antes. Maria do Carmo resolveu se entregar ao amor antigo de Giovanni, com a condição de não sair de sua casa. Regininha estava noiva de Rodolfo, amigo de Eleonora no hospital e já escolhera as sobrinhas para entrarem com as alianças na cerimônia de casamento.
Danielle também resolveu voltar pra Vila de São Miguel, depois de encontrar com Venâncio no Rio de Janeiro e ser pedida em namoro. Era mais um casamento que estava por vir.
João Manoel era a causa perdida e irrecuperável. Quando Eleonora e Jenifer foram almoçar certo domingo na casa dos Improtta, Jenifer pode perceber que o irmão não mudara em nada. Todos estavam sentados no sofá quando o casal e as filhas chegaram, Virgínia foi logo pulando no colo do avô e Manuela no colo de Flaviana.
- Não vai falar oi pro seu tio? – Instigou Jenifer – É a minha filha João...
Antes que Virgínia descesse do colo do avô, João Manoel levantou do sofá e passou por entre Eleonora e Jenifer sem dizer uma palavra. Deixando Virgínia confusa.
Não havia mais nada a fazer...
Dafne e Rosalie haviam se casado. Moravam num apartamento não muito longe dali e vez ou outra iam visitar Eleonora e Jenifer. Dafne vivia pegando Virgínia para passear com ela. Mas alegando veemente que não queria filhos.
No aniversário de cinco anos de Virgínia Marcela e Abelle foram até Vila São Miguel. Estavam bem e cada uma ainda exercendo a profissão que já faziam. Abelle trabalhava agora num consultório além do Hospital Paulistano. Estava juntando dinheiro para comprar seu próprio apartamento. Marcela ainda trabalhava no hospital e estava dividindo a casa com Natasha sua namorada. Mas ainda sentia uma ardência no coração quando via Eleonora. Algo totalmente fácil de ignorar.
Era inacreditável como tanta coisa havia acontecido na vida de Eleonora e Jenifer, quantos obstáculos ultrapassaram juntas. O quanto o amor entre elas foi provado e comprovado que era maior e mais forte do que qualquer coisa. Hoje estavam felizes e realizadas profissional e amorosamente. Tinhas duas filhas saudáveis e lindas, que vez ou outra davam um pouco de trabalho por serem elétricas. Mas que no geral eram doces e meigas, bem criadas e amadas incondicionalmente por ambas as mães sem fazer diferença por não serem irmãs de sangue. O amor falava mais alto do que a genética.
Eleonora e Jenifer conseguiram provar pra todos que quando se tem amor, todas as outras coisas se anulam. Quando o amor é verdadeiro nada e nem ninguém poderia destruir. Provaram pra si mesmas que quando menos se espera o amor pode aparecer, pode assustar um pouco, mas quando se percebe a sinceridade e ternura não há por que recusar. É preciso se jogar de cabeça sem medo.
Eleonora e Jenifer agora tinham tudo que queriam na vida. Estava completa e se completavam desde sempre.

domingo, 3 de julho de 2011

Capítulo 344 ♥ Penúltimo capítulo...

Algum tempo depois...


Quando Virgínia completou um ano Jenifer decidiu começar a cursar a faculdade de psicologia. Depois de ouvir a história de Emily Jenifer sentiu que poderia fazer mais pelas pessoas. Começou a fazer a faculdade com o intuito de se formar para abrir uma clínica especializada apenas em jovens homossexuais que se descobrem e não sabem como lidar com isso, ou não sabem como lidar com o preconceito dentro e fora de casa.
Eleonora a apoiou desde que recebeu a notícia naquele jantar um ano atrás. E Eleonora ainda continuava no comando da ortopedia no Hospital Paulistano e não pensava em mudar de profissão jamais, aquilo era realmente o que queria fazer pelo resto da vida.
Virgínia já crescera muito e agora andava e falava mais que um papagaio. Seus cabelos haviam perdido a forma de cachos que tinham quando era apenas um bebê, agora estavam ondulados e louros como ouro. Sua pele estava clara e rosada, como a de Eleonora e já podia se notar que ela teria sardas iguais às de suas mães. Seus olhos eram esverdeados e vivos iguais aos de Jenifer. Quem a visse Virgínia junto de Eleonora falaria que ela era filha biológica de Eleonora e não de Jenifer. Como certa vez no playground que ficava numa praça perto do edifício Bossa Nova. Jenifer e Eleonora levaram Virgínia para brincar. Já no final da tarde quando estavam cansadas, Eleonora segurava Virgínia para que Jenifer arrumasse o carrinho para colocar a pequena quando chegou um casal hetero, aparentando ter lá seus 35 anos. A mulher do casal disse:
- Que menina linda. Ela é sua filha?
- Nossa filha! – Jenifer fez questão de responder.
A mulher e o homem se entreolharam.
- Ah, entendi. Mas foi ela que deu a luz?
- Não, eu.
- Nossa, mas ela parece com vocês duas – Disse a mulher encantada e um pouco perturbada, pegando na mão de Virgínia e abrindo um sorriso para ela.
Eleonora e Jenifer trocaram olhares e riram.
De algum jeito muito surreal a natureza tratou de fazer com Virgínia fosse fenotipicamente parecida com Eleonora e Jenifer.
A ideia de adoção ainda persistia em Eleonora. Para Jenifer elas poderiam adotar, até queria poder fazer aquilo agora. Jenifer dizia que não queria que Virgínia crescesse sozinha, e que ela deveria ter um irmão ou irmã.
Mas o processo de adoção era muito desgastante.
E elas já haviam tentado duas vezes, dias depois que Virgínia fizera um ano. Na primeira negaram o pedido pelo motivo mais inaceitável: Duas mulheres não podem criar uma criança. O pedido nem chegou a ir para o tribunal, ele parou ainda no orfanato, pois no orfanato onde Eleonora e Jenifer foram procurar por uma criança o responsável pelo local era um pastor da igreja evangélica que ficava ali nas redondezas.
- Se fosse possível eu tiraria a guarda dessa pobre criança de vocês, ela tem que crescer num lar onde se tem um pai e uma mãe e não duas mães ou dois pais – Foi o que elas ouviram quando Jenifer disse que quem criaria a criança seria ela e a sua esposa.
Depois disso foram em outro orfanato e o pedido chegou até a assistente social que negou alegando que Eleonora e Jenifer viviam uma vida atribulada entre trabalho, a faculdade de Jenifer e Virgínia. Talvez quando elas soubessem como administrar aquilo melhor elas pudessem retornar com um novo pedido.
Depois dessas duas tentativas sem sucesso, Eleonora e Jenifer resolveram dar um tempo na ideia de adoção e dedicar-se apenas a doce Virgínia.


Eleonora estava na sala sentada no sofá de frente para a TV e para Virgínia que estava sentada na cadeirinha e se recusava a experimentar um pedaço de abobora que Eleonora oferecia.
- Não qué – Dizia a pequena.
- Você nem experimentou, filha. Só um pedacinho – Insistia Eleonora com o garfo parado no meio do caminho.
- Não qué.
- Tudo bem então, nada de danone depois.
Virgínia fez bico e ameaçou abrir o berreiro quando a porta da sala se abriu e ela sorriu ao ver sua outra mãe.
- Boa noite meus amores – Cumprimentou Jenifer colocando seu material e suas coisas no sofá. Beijando em seguida Eleonora e Virgínia.
- Que cara é essa, amor? – Perguntou Eleonora tirando o babador da filha e abrindo a cadeirinha para pega-la.
- Você ainda quer voltar pra Vila São Miguel? – Perguntou Jenifer escorregando o corpo no sofá, encolhendo-se.
- Sim, ainda quero muito.
- Então vamos começar a planejar isso? – Perguntou Jenifer.


Quando Eleonora e Jenifer chegaram de carro na porta da casa dos pais de Eleonora, foi um choque. Ninguém sabia que elas estavam de volta e daquela vez seria pra ficar.
Tudo na capital paulista estava resolvido. Jenifer conseguiu sem maiores problemas transferir os três anos que restavam da faculdade para o Rio de Janeiro. Eleonora já havia conversado com seu antigo chefe do hospital de Vila São Miguel e não só conseguira seu emprego de volta como conseguira um posto melhor; Agora era chefe. Chefe do setor de ortopedia do Hospital Central de Vila de São Miguel.
Nesses dois anos que se seguiram a casa de janelas azuis e jardim verde que misteriosamente não tinha nenhum morador, estava passando por reformas e ninguém na cidade sabia quem seriam os novos moradores. As janelas azuis escuras agora ganharam um tom de azul mais claro, o jardim continuava verde e ganhara algumas árvores frutíferas. Eleonora disse que queria ensinar a filha o quanto era bom comer fruta retirada do pé. Um espaço na lateral esquerda ficou destinada a garagem do carro, que ganhou um forro em telhas romanas pintadas de brancas, assim como todas as telhas da casa. Jenifer vira na internet que telhados pintados de brancos diminuíam o aquecimento global por refletir a luz solar que batia nos telhados. O portão grande e de grades espessas estava trancado, mas não por muito tempo.
Deixar São Paulo não foi uma tarefa fácil, Jenifer e Eleonora pensaram e repensaram nos benefícios e desvantagens em deixar a capital paulista. Pensaram nas oportunidades que perderiam, nas amizades que ficariam para trás (mesmo Abelle e Marcela jurando que nunca perderiam o contato)...
Mas não era apenas por elas que queriam voltar. Jenifer e Eleonora pensaram em Virgínia em primeiro lugar, na criação que tiveram e que queriam dar a ela. Na liberdade maior em deixar a filha brincar na rua, correr no quintal. E Virgínia também cresceria junto dos primos que tinham a mesma idade. E no final de tudo Jenifer e Eleonora perceberam que voltar para Vila São Miguel foi a melhor escolha.
Quando Eleonora abriu o portão de casa tirando os óculos escuros e colocando-os na cabeça, Janice abriu a porta com os olhos brilhando e as mãos cruzadas junto ao rosto.
- O que vocês fazem aqui? E... – Janice olhou o carro estacionado na porta e a quantidade de malas no bagageiro – Por que tantas malas?
- Dessa vez a gente voltou pra ficar – Respondeu Eleonora sorrindo enquanto seus olhos se encontravam com os de Jenifer.