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terça-feira, 5 de julho de 2011

Capítulo 345 ♥ The End.

Janice caminhou até Eleonora e Jenifer parecendo brilhar mais do que o sol. Pegou Virgínia que estava no colo de Jenifer e beijou e abraçou a neta, que retribuiu o carinho com seu jeito tão doce.
- Entrem, vamos conversar lá dentro – Disse Janice indo para o interior da casa.
Jenifer a seguiu e Eleonora virou para trás apenas para acionar o alarme do carro.
- Onde vocês vão morar? Quando decidiram voltar? – Perguntou Janice sentando no sofá com Virgínia no colo.
- Vamos morar naquela casa perto da casa da tia Do Carmo, sabe? Aquela branca de janelas azuis... – Respondeu Eleonora.
- Sério minha filha? Nunca ia imaginar que a casa estava sendo reformada para vocês morarem. Sua tia até me disse um dia: “Estou ficando com medo dos moradores dessa casa, fui perguntar quem ia morar ali e o pedreiro disse que era segredo”. Mal sabia ela que eram vocês. Achei que fossem morar lá em São Paulo pra sempre.
- Decidimos voltar por que estávamos com saudade e criar uma criança num apartamento é desconfortável imagina criar duas – Completou Jenifer pegando a caneca de água de Virgínia que estava na bolsa e oferecendo para a filha.
- Duas? Como assim duas? Você está grávida de novo?
- Não – Respondeu Jenifer pegando na mão de Eleonora – Não sou eu.
Janice olhou para a filha já com os olhos marejados.
Depois das duas tentativas de adoção não ter dado certo Jenifer questionou Eleonora sobre o segundo filho
vir da maneira como veio Virgínia, mas por meio dela. Eleonora não respondeu de imediato, mas a ideia ficou rondando seus pensamentos depois disso. Até que ela decidiu tentar uma inseminação.
E Eleonora teve a mesma sorte que Jenifer, na primeira tentativa conseguiu engravidar e agora carregava outra vida dentro de si.
- Por que essa cara, mãe? Não gostou da ideia de ser avó de novo? – Questionou Eleonora rindo da cara da mãe.
- Para de ser boba menina, claro que gostei. Adorei. É muita felicidade pra um dia só. De quantos meses você está?
- Um mês e meio, ainda está no começo – Disse Eleonora passando a mão na barriga.
- Seu pai vai pular de alegria quando souber disso – Disse Janice.
Eleonora sorriu.
- Vamos lá na nossa casa pra eu mostrar pra senhora como ela ficou – Convidou Eleonora já se levantando do sofá – Liga pro seu pai e pra sua avó, amor.
Enquanto caminhavam até a casa Jenifer conversava com a avó pelo celular que assim como Janice ficou surpresa por saber que a neta estava na cidade. No caminho encontraram Maria do Carmo voltando pra casa, estava em horário de almoço e como sempre resolvendo problemas. Quando viu as sobrinhas Maria do Carmo foi cumprimentá-las e aproveitou para ir junto delas conhecer a casa.
Eleonora e Jenifer pararam em frente ao portão se entreolharam e sentiram Virgínia tentar passar pelo espaço que estava entre suas pernas. Jenifer pegou a filha no colo, Eleonora destrancou o portão e as duas entraram com o pé direito. Seguidas por Maria do Carmo e Janice.
- Quantas árvores – Observou Maria do Carmo chegando perto de uma goiabeira – E tudo árvore que dá fruta.
- A ideia de plantar árvores frutíferas foi da Léo – Disse Jenifer – Tem mangueira, goiabeira, limoeiro, jabuticabeira e lá no fundo tem um pé de jaca.
- Nossa a casa é grande – Disse Janice observando o lugar onde provavelmente seria a sala, um espaço grande, com janelas retangulares e que tinha uma porta de correr ao fundo que dava pra um imenso quintal.
No fundo da casa tinha uma árvore imensa que Eleonora e Jenifer quiseram preservar. Segundo um dos pedreiros que reformaram a casa a árvore deveria ter mais de sessenta anos. Suas folhas verdes e grossas ultrapassavam sem esforço o telhado da casa.
- Ave Maria! – Exclamou Maria do Carmo – Que tamanhão de árvore minhas filhas, vocês não vão cortar, não?
- Não – Respondeu Eleonora olhando pra cima, vendo raios de sol por entre as folhas – Eu e a Jenifer tivemos uma ideia e vamos precisar da árvore pra concretizar.
Jenifer sorriu com cumplicidade para Eleonora.
- Que ideia é essa? – Quis saber Janice.
- Vamos construir uma casa na árvore pras crianças – Respondeu Eleonora.
- Vocês fizeram muito bem de voltar pra cá, a casa é muito grande as crianças da família vão aproveitar de montão cada cantinho – Disse Maria do Carmo maravilhada com as cores da casa.
- Com certeza tia. A Virgínia vai poder descontar no filho do Plínio tudo que ele fez comigo quando era criança – Disse Eleonora rindo.
- Ave Maria! Coitado do Arturzinho – Exclamou Maria do Carmo rindo também.
Uma buzina foi ouvida minutos depois, eram os dois caminhões que traziam o restante da mudança de Eleonora e Jenifer.
Logo em seguida entraram Giovanni e Flaviana, abraçando Jenifer duplamente.
- Vô! – Exclamou Virgínia correndo até Giovanni – Vovô.
Giovanni se derreteu todo com a neta.
- Então quer dizer que agora vocês não vão mais voltar para aquela cidade de doidos? Vou ver minha bisneta crescer pertinho de mim? – Perguntou Flaviana encostada a janela onde seria o quarto das crianças.
- É vó, vamos ficar aqui por um bom e longo tempo – Respondeu Jenifer encostando a mesma janela colando-se a avó.



Alguns anos depois...



Toda família Ferreira da Silva e Improtta estavam sentados na sala da casa de Eleonora e Jenifer esperando ansiosamente pelo programa de TV que começaria dali alguns minutos. Virgínia que estava cinco anos estava no colo do avô Sebastião devorando metade da bacia de pipoca, puxando vez ou outra a vasilha da mão da irmã Manuela, essa com três anos.
O programa que fez toda a família se reunir era um programa sobre variedades e naquele dia a entrevistada do dia era Jenifer. O motivo da entrevista era o enorme sucesso que estava tendo com sua clínica particular de psicologia, voltada única e exclusivamente para jovens gays.
Logo após terminar a faculdade, Jenifer recebeu todo apoio moral e financeiro de Eleonora para montar a clinica. Passaram por alguns apuros devido a isso. Venderam o carro para saldar algumas dividas, suspenderam a baba que cuidava de Virgínia e Manuela e se atrasaram com contas como água e luz. Por um momento Jenifer quis desistir. Era madrugada e Jenifer estava acordada e sentada na casa da árvore que os homens da família ajudaram a construir. Estava sentada com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas conversando sozinha ou com Deus.
Eleonora subiu pela escada de cordas e sentou ao seu lado sem dizer nada, passando seu braço em volta de seu ombro.
- Acho melhor eu desistir disso e voltar pra fisioterapia. Meu currículo é bom, sei que tenho capacidade pra voltar – Disse Jenifer deixando as lágrimas escorrerem lentamente.
- Você não vai desistir, Jenifer! – Respondeu Eleonora um pouco dura – Eu nunca achei que você fosse se encaixar tão perfeitamente na psicologia. E você sabe que eu não estou exagerando – Completou ao ver a expressão de discordância – Vamos dar a volta por cima, já superamos tantas coisas. Vamos conversar com nossos pais, eles não vão nos negar ajuda.
E Eleonora estava certa. Giovanni se dispôs de uma boa quantia para erguer os pilares da clínica de Jenifer e junto de Sebastião e Janice ajudaram na decoração e outro detalhes. E depois de a clínica estar de pé, Jenifer assumiu seu posto de psicóloga.
Durante algumas semanas o movimento foi fraco, pois ninguém sabia ainda da clínica. Maria do Carmo então decidiu ajudar também, fazendo propaganda boca a boca entre os fregueses da sua loja. Não muito tempo depois o movimento começou a aumentar e quando a clínica completou um ano já tinham pacientes das redondezas e da capital carioca.
A clínica de Jenifer tinha se tornado um sucesso e ela viu que foi um ótimo negócio não ter desistido.
E naquela noite ela estava extremamente radiante por saber que agora mais pessoas saberiam da sua clínica.
Bianca, a filha de Reginaldo, trabalhava na clínica de recepcionista.
Já Eleonora assumiu a chefia do Hospital Central com a garra que sempre teve e não poderia ter se saído melhor. Trabalhou até não aguentar mais o peso de Manuela dentro de si. A gravidez foi tranquila e Eleonora pagou o preço por zombar da fome de Jenifer durante a gravidez de Virgínia. Estava comendo o dobro de Jenifer.
Certa vez era quatro horas da manhã e Eleonora acordou dizendo que estava com vontade de comer pizza. Mas não era qualquer pizza, era pizza de muçarela com chantilly. Jenifer acendeu a luz do abajur e encarou Eleonora espantada.
- Eu estou falando sério amor. Quero pizza com chantilly – Disse Eleonora olhando para a cara de riso de Jenifer.
A pizza veio com muçarela escorrendo pelos lados. Eleonora detonou metade do vidro de chantilly que estava na geladeira. Depois disso dormiu satisfeita.
O parto de Eleonora foi tranquilo também e assim como Jenifer optou por parto normal. Manuela nasceu com quase quatro quilos e pequena, como a mãe. Cabelos castanhos claros e cheios.
Eleonora, Jenifer, Virgínia e Manuela eram a família mais comentada e feliz de Vila São Miguel. Aonde iam as crianças chamavam atenção por serem de uma doçura invejável. Claro, tinham aqueles que as olhavam enviesado. E quando isso acontecia, Jenifer beijava Eleonora docemente no meio da rua, enquanto segurava alguma das filhas pela mão.
Virgínia já frequentava a escola infantil e quando algum amiguinho perguntava sobre seu “papai”, ela respondia naturalmente:
- Tenho duas mães. A mamãe Jeni e a mamãe Léo.
- E você não quer ter um pai? – Perguntou certa vez um menino que estava dividindo a massa de modelar com ela.
- Não. Eu quero minhas mamães pra sempre.
Até aquele momento Virgínia se contentava apenas com suas mães e nunca questionou a falta de um pai, por saber desde que começou a entender melhor que aquilo era uma família, mesmo sem ter um pai.
Virgínia e Manuela se davam bem. Tinham uma relação intensa de amizade e carinho. Quando Manuela fazia alguma peraltice e Jenifer ou Eleonora ameaçava dar-lhe uma palmada na bunda, Virgínia entrava na frente e impedia, geralmente dizendo:
- A Manu é minha irmã e você não vai bater nela.
Eleonora e Jenifer não sabiam se achavam aquilo irritante ou fofo.
A verdade é que as duas eram uma dupla de furacão. Quando ambas estavam muito quietas poderia se desconfiar que estavam fazendo alguma arte.
Numa tarde de folga para Eleonora e Jenifer, enquanto as mães limpavam a casa Virgínia e Manuela tiveram a brilhante ideia de repintar a casa. Claro que metade do plano foi arquitetado por Virgínia que era mais forte e dois anos mais velha. Virgínia abriu uma lata de tinta roxa e junto de Manuela que apenas a imitava “tatuaram” suas mãos do lado de fora da casa. Virgínia quis empurrar a lata e a fez cair no seu pé espalhando tinta por todo o chão e no corpo, espirrando em Manuela também. O grito estridente de Virgínia fez Manuela chorar também. O choro das duas alarmou Eleonora e Jenifer que ao chegarem se viram obrigadas a rir da arte das filhas.
A família Ferreira da Silva/Improtta estava mais unida do que antes. Maria do Carmo resolveu se entregar ao amor antigo de Giovanni, com a condição de não sair de sua casa. Regininha estava noiva de Rodolfo, amigo de Eleonora no hospital e já escolhera as sobrinhas para entrarem com as alianças na cerimônia de casamento.
Danielle também resolveu voltar pra Vila de São Miguel, depois de encontrar com Venâncio no Rio de Janeiro e ser pedida em namoro. Era mais um casamento que estava por vir.
João Manoel era a causa perdida e irrecuperável. Quando Eleonora e Jenifer foram almoçar certo domingo na casa dos Improtta, Jenifer pode perceber que o irmão não mudara em nada. Todos estavam sentados no sofá quando o casal e as filhas chegaram, Virgínia foi logo pulando no colo do avô e Manuela no colo de Flaviana.
- Não vai falar oi pro seu tio? – Instigou Jenifer – É a minha filha João...
Antes que Virgínia descesse do colo do avô, João Manoel levantou do sofá e passou por entre Eleonora e Jenifer sem dizer uma palavra. Deixando Virgínia confusa.
Não havia mais nada a fazer...
Dafne e Rosalie haviam se casado. Moravam num apartamento não muito longe dali e vez ou outra iam visitar Eleonora e Jenifer. Dafne vivia pegando Virgínia para passear com ela. Mas alegando veemente que não queria filhos.
No aniversário de cinco anos de Virgínia Marcela e Abelle foram até Vila São Miguel. Estavam bem e cada uma ainda exercendo a profissão que já faziam. Abelle trabalhava agora num consultório além do Hospital Paulistano. Estava juntando dinheiro para comprar seu próprio apartamento. Marcela ainda trabalhava no hospital e estava dividindo a casa com Natasha sua namorada. Mas ainda sentia uma ardência no coração quando via Eleonora. Algo totalmente fácil de ignorar.
Era inacreditável como tanta coisa havia acontecido na vida de Eleonora e Jenifer, quantos obstáculos ultrapassaram juntas. O quanto o amor entre elas foi provado e comprovado que era maior e mais forte do que qualquer coisa. Hoje estavam felizes e realizadas profissional e amorosamente. Tinhas duas filhas saudáveis e lindas, que vez ou outra davam um pouco de trabalho por serem elétricas. Mas que no geral eram doces e meigas, bem criadas e amadas incondicionalmente por ambas as mães sem fazer diferença por não serem irmãs de sangue. O amor falava mais alto do que a genética.
Eleonora e Jenifer conseguiram provar pra todos que quando se tem amor, todas as outras coisas se anulam. Quando o amor é verdadeiro nada e nem ninguém poderia destruir. Provaram pra si mesmas que quando menos se espera o amor pode aparecer, pode assustar um pouco, mas quando se percebe a sinceridade e ternura não há por que recusar. É preciso se jogar de cabeça sem medo.
Eleonora e Jenifer agora tinham tudo que queriam na vida. Estava completa e se completavam desde sempre.

domingo, 3 de julho de 2011

Capítulo 344 ♥ Penúltimo capítulo...

Algum tempo depois...


Quando Virgínia completou um ano Jenifer decidiu começar a cursar a faculdade de psicologia. Depois de ouvir a história de Emily Jenifer sentiu que poderia fazer mais pelas pessoas. Começou a fazer a faculdade com o intuito de se formar para abrir uma clínica especializada apenas em jovens homossexuais que se descobrem e não sabem como lidar com isso, ou não sabem como lidar com o preconceito dentro e fora de casa.
Eleonora a apoiou desde que recebeu a notícia naquele jantar um ano atrás. E Eleonora ainda continuava no comando da ortopedia no Hospital Paulistano e não pensava em mudar de profissão jamais, aquilo era realmente o que queria fazer pelo resto da vida.
Virgínia já crescera muito e agora andava e falava mais que um papagaio. Seus cabelos haviam perdido a forma de cachos que tinham quando era apenas um bebê, agora estavam ondulados e louros como ouro. Sua pele estava clara e rosada, como a de Eleonora e já podia se notar que ela teria sardas iguais às de suas mães. Seus olhos eram esverdeados e vivos iguais aos de Jenifer. Quem a visse Virgínia junto de Eleonora falaria que ela era filha biológica de Eleonora e não de Jenifer. Como certa vez no playground que ficava numa praça perto do edifício Bossa Nova. Jenifer e Eleonora levaram Virgínia para brincar. Já no final da tarde quando estavam cansadas, Eleonora segurava Virgínia para que Jenifer arrumasse o carrinho para colocar a pequena quando chegou um casal hetero, aparentando ter lá seus 35 anos. A mulher do casal disse:
- Que menina linda. Ela é sua filha?
- Nossa filha! – Jenifer fez questão de responder.
A mulher e o homem se entreolharam.
- Ah, entendi. Mas foi ela que deu a luz?
- Não, eu.
- Nossa, mas ela parece com vocês duas – Disse a mulher encantada e um pouco perturbada, pegando na mão de Virgínia e abrindo um sorriso para ela.
Eleonora e Jenifer trocaram olhares e riram.
De algum jeito muito surreal a natureza tratou de fazer com Virgínia fosse fenotipicamente parecida com Eleonora e Jenifer.
A ideia de adoção ainda persistia em Eleonora. Para Jenifer elas poderiam adotar, até queria poder fazer aquilo agora. Jenifer dizia que não queria que Virgínia crescesse sozinha, e que ela deveria ter um irmão ou irmã.
Mas o processo de adoção era muito desgastante.
E elas já haviam tentado duas vezes, dias depois que Virgínia fizera um ano. Na primeira negaram o pedido pelo motivo mais inaceitável: Duas mulheres não podem criar uma criança. O pedido nem chegou a ir para o tribunal, ele parou ainda no orfanato, pois no orfanato onde Eleonora e Jenifer foram procurar por uma criança o responsável pelo local era um pastor da igreja evangélica que ficava ali nas redondezas.
- Se fosse possível eu tiraria a guarda dessa pobre criança de vocês, ela tem que crescer num lar onde se tem um pai e uma mãe e não duas mães ou dois pais – Foi o que elas ouviram quando Jenifer disse que quem criaria a criança seria ela e a sua esposa.
Depois disso foram em outro orfanato e o pedido chegou até a assistente social que negou alegando que Eleonora e Jenifer viviam uma vida atribulada entre trabalho, a faculdade de Jenifer e Virgínia. Talvez quando elas soubessem como administrar aquilo melhor elas pudessem retornar com um novo pedido.
Depois dessas duas tentativas sem sucesso, Eleonora e Jenifer resolveram dar um tempo na ideia de adoção e dedicar-se apenas a doce Virgínia.


Eleonora estava na sala sentada no sofá de frente para a TV e para Virgínia que estava sentada na cadeirinha e se recusava a experimentar um pedaço de abobora que Eleonora oferecia.
- Não qué – Dizia a pequena.
- Você nem experimentou, filha. Só um pedacinho – Insistia Eleonora com o garfo parado no meio do caminho.
- Não qué.
- Tudo bem então, nada de danone depois.
Virgínia fez bico e ameaçou abrir o berreiro quando a porta da sala se abriu e ela sorriu ao ver sua outra mãe.
- Boa noite meus amores – Cumprimentou Jenifer colocando seu material e suas coisas no sofá. Beijando em seguida Eleonora e Virgínia.
- Que cara é essa, amor? – Perguntou Eleonora tirando o babador da filha e abrindo a cadeirinha para pega-la.
- Você ainda quer voltar pra Vila São Miguel? – Perguntou Jenifer escorregando o corpo no sofá, encolhendo-se.
- Sim, ainda quero muito.
- Então vamos começar a planejar isso? – Perguntou Jenifer.


Quando Eleonora e Jenifer chegaram de carro na porta da casa dos pais de Eleonora, foi um choque. Ninguém sabia que elas estavam de volta e daquela vez seria pra ficar.
Tudo na capital paulista estava resolvido. Jenifer conseguiu sem maiores problemas transferir os três anos que restavam da faculdade para o Rio de Janeiro. Eleonora já havia conversado com seu antigo chefe do hospital de Vila São Miguel e não só conseguira seu emprego de volta como conseguira um posto melhor; Agora era chefe. Chefe do setor de ortopedia do Hospital Central de Vila de São Miguel.
Nesses dois anos que se seguiram a casa de janelas azuis e jardim verde que misteriosamente não tinha nenhum morador, estava passando por reformas e ninguém na cidade sabia quem seriam os novos moradores. As janelas azuis escuras agora ganharam um tom de azul mais claro, o jardim continuava verde e ganhara algumas árvores frutíferas. Eleonora disse que queria ensinar a filha o quanto era bom comer fruta retirada do pé. Um espaço na lateral esquerda ficou destinada a garagem do carro, que ganhou um forro em telhas romanas pintadas de brancas, assim como todas as telhas da casa. Jenifer vira na internet que telhados pintados de brancos diminuíam o aquecimento global por refletir a luz solar que batia nos telhados. O portão grande e de grades espessas estava trancado, mas não por muito tempo.
Deixar São Paulo não foi uma tarefa fácil, Jenifer e Eleonora pensaram e repensaram nos benefícios e desvantagens em deixar a capital paulista. Pensaram nas oportunidades que perderiam, nas amizades que ficariam para trás (mesmo Abelle e Marcela jurando que nunca perderiam o contato)...
Mas não era apenas por elas que queriam voltar. Jenifer e Eleonora pensaram em Virgínia em primeiro lugar, na criação que tiveram e que queriam dar a ela. Na liberdade maior em deixar a filha brincar na rua, correr no quintal. E Virgínia também cresceria junto dos primos que tinham a mesma idade. E no final de tudo Jenifer e Eleonora perceberam que voltar para Vila São Miguel foi a melhor escolha.
Quando Eleonora abriu o portão de casa tirando os óculos escuros e colocando-os na cabeça, Janice abriu a porta com os olhos brilhando e as mãos cruzadas junto ao rosto.
- O que vocês fazem aqui? E... – Janice olhou o carro estacionado na porta e a quantidade de malas no bagageiro – Por que tantas malas?
- Dessa vez a gente voltou pra ficar – Respondeu Eleonora sorrindo enquanto seus olhos se encontravam com os de Jenifer.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 343 ♥ Últimos capítulos...

Quando Eleonora chegou em casa naquela tarde de sábado estranhou o som grave e rouco de uma voz que vinha da sacada. Ao chegar mais perto notou algumas ferramentas no chão, um home negro e de braços musculosos terminava de fazer alguma coisa, que viu logo em seguida o que era: Ele estava colocando uma tela de proteção que pegava toda sacada.
- Pronto dona Jenifer agora sua filha já está protegida – Disse o homem dando um arremate numa ponta que ficou pra fora.
- Obrigada, fico muito mais tranquila – Agradeceu Jenifer apertando a mão do homem. – Amor, nem vi que você tinha chegado, olha – Jenifer apontou para a tela – Agora nossa filha está mais segura, né?
Eleonora assentiu sorrindo e cumprimentou o homem com um aceno de cabeça. Estava um pouco inquieta e Jenifer percebeu.
Esperou até que o homem passasse pela porta da sala, ouvindo o clique ao fechar.
- Que foi meu anjo? – Perguntou Jenifer acariciando o rosto de Eleonora e a puxando para um abraço.
- Eu tenho uma coisa pra te falar... Uma vontade que me deu desde que voltamos de Vila São Miguel no final do ano – Respondeu Eleonora entrelaçando suas mãos nas costas de Jenifer.
- E vai me contar só agora por quê?
- Por que a vontade está aumentando cada vez mais e...- Eleonora foi interrompida por um grito estridente vindo do interior da casa.
Nem precisava saber que era Virgínia que tinha aprontado alguma coisa. E quando chegaram ao quarto da pequena, encontraram a embalagem de talco jogada no chão, o quarto cheirava a talco e quando Jenifer olhou no chão boa parte dele estava branco e escorregadio. E Virgínia estava com os cabelos brancos de produto.
- Essa menina ainda me mata do coração – Disse Jenifer brava e preocupada – Filha, a mamãe já não disse que não pode sair por ai puxando coisas?
Virgínia fez bico e enfiou a cabeça pouco abaixo do seio de Jenifer, escondendo-se.
- Ajeita isso que eu vou dar outro banho nela – Disse Eleonora pegando a filha.
- Espera, Léo... Você não vai me falar o que está acontecendo com você? – Perguntou Jenifer colocando a embalagem vazia de talco dentro do lixo.
- Depois que ela dormir vamos conversar, prometo – Garantiu Eleonora beijando Jenifer e indo com Virgínia para o banheiro.


Depois de tirar todo o talco do corpo de Virginia e limpar o chão Eleonora e Jenifer estavam exaustas deitada na cama, abraçadas conversando sobre o futuro e a vontade de Eleonora.
- Não precisa ser agora, até por que você vai começar sua outra faculdade, a Virgínia ainda está muito pequena... – Ia justificando-se Eleonora.
- Entendi... – Respondeu Jenifer soltando o ar pesadamente dos pulmões – Eu gosto daqui. Gosto mesmo. Já me sinto uma paulista, mas eu tenho muita saudade de Vila São Miguel...
- A gente espera um tempo, pode ser que essa vontade de voltar vá embora ou pode ser que só aumente, mas se você não quiser ir, tudo bem, ficamos por aqui mesmo.
- Não fica chateada comigo, Léo, eu não respondi se vou ou não, só disse que precisamos pensar, ok? – Disse Jenifer com a mão no rosto de Eleonora encarando seus olhos na meia luz.
- Tudo bem, nós temos todo tempo do mundo – Respondeu Eleonora com um sorriso demonstrando sua calma.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Capítulo 342 ♥ Últimos capítulos...

Já era noite quando Jenifer chegou em casa. Quando olhou na sala estranhou o espaço vago entre um sofá e outro, ali costumava ter uma mesa de centro. O tapete também não estava ali.
- Até que enfim chegou hein, mamãe? Estávamos com saudade de você – Disse Eleonora dizendo como se fosse Virgínia indo de encontro a Jenifer.
- A mamãe demorou, né filha? Amor... Alguém ligou, algum recado...? – Perguntou Jenifer tomando Virgínia nos braços.
- Não, ninguém ligou, mas ela tem uma surpresa pra você.
- Você tem uma surpresa pra mim? – Perguntou Jenifer olhando a filha que piscava alegremente – Vai dizer que nasceu mais algum dente, ai meus seios não vão aguentar...
- Não, não foi isso... Vem comigo filha, mostra pra mamãe o que você sabe fazer – Eleonora pegou Virgínia no colo, tirou sua sandália e colocou a pequena no chão de pé – Amor, ajoelha – Pediu pra Jenifer.
Jenifer obedeceu e ajoelhou a alguns bons centímetros das duas.
- Vai lá e mostra pra ela o que você sabe fazer – Disse Eleonora para Virgínia que se soltou de suas mãos um pouco insegura, caindo de bunda no chão, mas levantando em seguida com a ajuda de Eleonora.
Jenifer levou as mãos a boca, sentindo as lágrimas se formarem ao ver que sua filha estava andando até ela, sozinha.
- Gostou da surpresa? – Perguntou Eleonora já sabendo da resposta.
- Foi uma das melhores surpresas, nunca achei que ia me emocionar tanto por ver que a nossa filha aprendeu a andar – Disse Jenifer levantando-se e pegando Virgínia, cobrindo a filha de beijos.
- E pensar que ainda há tantas coisas para descobrir...


E a surpresa da semana seguinte não poderia ser melhor. O apartamento de Eleonora e Jenifer estava com o mesmo clima alegre de sempre. Música rolando, comida diferente sendo feita, Virgínia agora andando de um lado pro outro, vez ou outra caindo e abrindo o berreiro que parava pouco depois. Era horário de almoço e nos finais de semana aquele momento se tornou sagrado já que durante a semana Eleonora e Jenifer mal conseguiam ir ao banheiro.
Virgínia estava sentada na cadeirinha perto da mesa com seu babador rosa em volta do pescoço. Naquele momento fazendo careta, pois Jenifer ofereceu um pedaço de chuchu para filha que recusou na hora.
Eleonora tentou oferecer um pedaço do tomate que estava no seu prato. Virgínia aceitou de bom grado.
- Vou pegar a sobremesa – Disse Jenifer retirando-se da mesa e levando seu prato pra colocar na pia.
Eleonora tirava o babador de Virgínia quando seu coração parou ao ouvir:
- Mã!
Eleonora colocou o babador no colo e ficou olhando para Virgínia com os olhos arregalados.
- Mã!
Virgínia acabara de pronunciar – ou tentar – a primeira palavra.
- Amor, corre aqui – Pediu Eleonora com urgência.
Jenifer largou o refratário sobre a pia, enxugando as mãos no pano de prato.
- Que foi?
- Mã! – Repetiu Virgínia! – Mamã...
Jenifer olhou para Eleonora.
- E-ela... Ela te chamou de mãe? – Perguntou Jenifer.
- Acho que sim. Ela me chamou de mãe. Ela me chamou de mãe! – Eleonora quase saiu pulando dentro do apartamento – Diz de novo, filha...
Virgínia riu da cara de boba de Jenifer e Eleonora e se calou depois. Bocejou e mostrou que diria qualquer coisa depois de tirar sua soneca da tarde.
- Não dorme não, diz só mais uma vez – Pediu Jenifer rindo – Acorda filha...
Mas Virgínia já não estava mais ali, o sono chegou e ela dormiu ainda na cadeirinha.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 341 ♥ Últimos capítulos...

A garota se chamava Emily, tinha 19 anos, olhos pretos e marcados por olheiras profundas. A pele clara estava com marcas roxas e amareladas e arranhões. Mas a ferida maior estava na alma. Há uma semana ela se assumiu lésbica para os pais. Viu a reação que sempre achou que eles teriam. Além de falar coisas que deixaram seu coração aos pedaços, bateram na filha e jogaram seus poucos pertences na rua, atraindo o olhar de curiosos e fofoqueiros. Não bastasse isso, seus parentes lhe viraram as costas, fingindo que Emily era uma desconhecida. E quando Emily atravessava a cidade para ir até a sua última alternativa, ir até a casa da namorada, foi atacada por um grupo de homofóbicos que a espancaram, fazendo-a fraturar a perna e deixando escoriações no rosto e braços.
- E se não fosse a Paola, minha namorada, não sei o que seria de mim – Terminou Emily, desistindo de enxugar os olhos encharcados.
- Meu Deus, isso é...
- Inacreditável né? Eu sei. Às vezes acho que vou acordar desse pesadelo e ver minha mãe do lado da minha cama, me chamando dizendo que se eu não acordar vou perder a hora de ir pra faculdade. Mas não... Isso é a minha vida agora.
Emily estava a ponto de uma crise nervosa. Chorava copiosamente. Jenifer não sabia o que fazer. Apenas chegou a cadeira mais perto e abraçou Emily. Uma ideia passou por sua mente e estacionou ali. Desde então ela não conseguiu parar de pensar em outra coisa.


Depois de colocar Virgínia no berço Eleonora voltou pra cozinha, pra enfim fazer aquilo que desejava a horas: Comer.
Estava sentada diante de Jenifer que ficava mexendo a comida com o garfo, comendo uma coisa ou outra.
- O que aconteceu? – Perguntou Eleonora deixando a comida de lado. Buscando as mãos de Jenifer com as suas.
- Eu tive uma ideia, duas na verdade. Quero a sua opinião. Mas antes eu quero te contar o porquê quero isso – Respondeu Jenifer deixando o prato de lado também.
- Pode dizer.
Jenifer contou a história de Emily para Eleonora. Eleonora ouviu tudo com a mesma perplexidade que Jenifer teve na hora, sentindo uma angustia por pensar que aquilo poderia ter acontecido com qualquer uma das duas.
- E então por isso, depois de ouvir a história da Emily eu decidi que quero isso – Disse Jenifer por fim.
- E se você quer saber, tem o meu total apoio. – Apoiou Eleonora entrelaçando sua mão a de Jenifer.


Era final de tarde na capital paulista. Jenifer estava fora de casa desde cedo correndo atrás do seu novo projeto enquanto Eleonora assistia TV com Virgínia deitada em seu peito.
- Vamos tomar banho, filha? Hein? Tá virando uma porquinha já – Disse Eleonora cheirando e mordendo Virgínia, fazendo a filha rir.
Enquanto pegava as roupas para tomar banho, Eleonora olhava Virgínia a cada meio segundo para saber se ela não tinha engatinhado para algum lugar perigoso. Virgínia estava brincando com seus ursos e bonecas sentada no grande tapete redondo que ficava na beirada da cama de suas mães.
Eleonora abaixou-se para procurar sua calça do pijama quando se assustou ao sentir as pequenas mãos da filha nas costas.
-Ai meu Deus! – Exclamou Eleonora com o coração aos pulos virando-se cuidadosamente – Ai meu Deus, você está andando. Desde quando isso mocinha?
Eleonora sentou no chão olhando Virgínia andar um pouco vacilante para sentar em seu colo.
- Sua mamãe Jenifer vai surtar quando ver isso – Concluiu Eleonora sorrindo para Virgínia enquanto a pequena passava sua pequena mão no rosto da mãe.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capítulo 340 ♥

Maria Eduarda colocou sua mão sobre o braço do marido num gesto que pedia calma. Mas ele não cedeu. A boca de Viriato se abriu para disparar mais e mais palavras quando um senhor de túnica branca bordada em dourado e com desenhos vermelhos apareceu. Demonstrando calma. - O que aconteceu aqui meus filhos? – Era o padre Joaquim que perguntava, olhando rapidamente para Jenifer, Eleonora e a filha.
- Acontece que eu não acredito que você vai batizar a filha... – O homem que reclamara de Jenifer e Eleonora anteriormente dera uma risada irônica e abafada – Essa criança. Não acredito que o senhor vai batizar essa criança que elas dizem ser filha delas.
- E qual o problema? – Indagou padre Joaquim ainda calmo.
- O senhor ainda pergunta? Isso... Isso não pode ser chamado de família. Elas... Elas fogem da lei de Deus – Justificou o homem ficando vermelho.
- E quem disse que elas “fogem da lei de Deus”? – Questionou Padre Joaquim – Deus prega o amor, a união e é isso que eu vejo...
- Chega! Não vou aceitar isso, Amélia – Interrompeu o homem olhando para a mulher ao seu lado – Vamos embora, não quero ficar num lugar onde aceitam esse tipo de coisa.
Sebastião que estava do outro lado da igreja, no meio, pensou em levantar e dar uma lição no homem, mas Janice o conteve.
Giovanni entrara na igreja quando o homem saiu, não sabia o que estava acontecendo. Ainda.
- Mais alguém tem alguma coisa contra eu aceitar batizar a filha de Eleonora e Jenifer? Se alguém não concordar peço que se retire da minha igreja – Declarou o padre pousando sua mão enrugada e quente na mão de Eleonora.
Pelo visto ninguém tinha nada contra, pois a igreja permaneceu em silêncio.


No final do batizado quando todos já iam embora, Eleonora tomou a liberdade de entrar na sala onde o padre se preparava para a missa. Deu duas batidas na porta e ouviu um acolhedor “entre” ser dito.
- Eleonora... Entre, pode entrar. O que deseja? – Perguntou padre Joaquim ajeitando a gola de sua camisa.
- Eu... Eu queria agradecer por tudo que fez por mim e por minha filha – Disse Eleonora um pouco sem jeito – Eu ainda não acredito que aceitou batizar a filha de duas mulheres...
- Não precisa agradecer minha filha, fiz o que meu coração mandou. Além de mim tem alguém lá em cima que sabe que entre você e a Jenifer existe amor, cumplicidade... Não fiz nada demais – Disse o padre segurando a mãos de Eleonora entre as suas.
Eleonora não conseguiu segurar a vontade e abraçou o padre, recebendo o gesto de volta. Mal sabia ela que não muito tempo depois aquela notícia correria todo o país.


De volta a capital paulista Eleonora e Jenifer voltaram para a rotina. Agora nova rotina já que não era apenas mais as duas que habitavam o apartamento do bairro Paraíso.
Primeiro dia de volta ao trabalho depois do parto foi à correria que já esperavam. Arrumar a pequena mala de Virgínia que ficaria na creche do hospital, facilitando e muito a vida de suas mães.
E se adaptando a nova rotina de casa, no hospital tudo estava a mil por hora. Eleonora corria com um paciente que tinha caído de moto enquanto Jenifer sem querer fazia uma paciente chorar com os exercícios de fisioterapia.
- Desculpa... Sei que está doendo, mas se não for assim seu joelho não vai ficar bom – Disse Jenifer enquanto puxava a perna da garota.
- Eu sei... – Respondeu a garota limpando os olhos – Isso perto do que eu passei não foi nada.
Jenifer parou o que estava fazendo, pedindo que a garota relaxasse a perna.
- E o que aconteceu pra você vir parar aqui? Se quiser falar claro...
- Com certeza quero falar, mas antes... – A garota analisou Jenifer por algum tempo – Eu sabia que te conhecia de algum lugar, você é casada com outra doutora, não é? Qual o nome dela...
- Eleonora – Respondeu Jenifer – Sou casada com ela sim, de onde você me conhece?
- Aaaaah doutora, quem não conhece o primeiro casal gay a conseguir batizar um filho na igreja? Meu, isso foi dito no Brasil todo! Sério, vocês ganharam uma fã.
E Jenifer e Eleonora estavam mesmo famosas após batizar Virgínia. A notícia correu Vila de São Miguel naquele mesmo dia como faísca ao encontrar uma trilha de pólvora. Na mesma semana Jenifer e Eleonora estavam nas páginas de notícias de vários sites da internet como o primeiro casal a conseguir batizar um filho. Ganharam fãs e mais inimigos hipócritas e mal amados que responderam a isso com palavras como “inferno” e “ira de Deus”. Mas Eleonora e Jenifer não se importaram, estavam protegidas pelo amor que as unia.
- Ah, obrigada! – Jenifer estava com as bochechas um pouco coradas – Você não sabe o quanto fiquei feliz. Mas me fala de você, o que aconteceu?
- Tudo aconteceu quando eu contei para os meus pais que sou lésbica.
Jenifer analisou a frase e garota que estava machucada e pensou “isso não deve ter sido nada bom”. Respirou fundo puxando todo ar que podia, olhou em volta e pegou uma cadeira que estava atrás de si. Ignorando o pequeno caos que estava aquele dia, fingindo ainda fazer seu dever, Jenifer sentou-se e prestou atenção em cada palavra que a garota ia dizer.

domingo, 26 de junho de 2011

Capítulo 339 ♥

- Mas olha só como ela está linda – Admirou Janice ao ver a neta no colo de Eleonora.
Jenifer descia as escadas voltando do banheiro.
- Vem com a vovó, meu anjo – Janice mal estendeu os braços e Virgínia se jogou no colo da avó, deixando-a ainda mais boba.
- E esse neném lindo de quem é? – Perguntou Jenifer olhando para um bebê de olhos verdes e curiosos, que abriu seu sorriso banguela quando ela se aproximou.
- É um dos meus netos – Respondeu Maria do Carmo toda orgulhosa – Esse é Julinho, Julio Cesar filho da Duda e do Viriato. Sua filha tá a coisa mais linda, não é? Até tá parecendo um pouco com Eleonora...
- Inacreditável né? Até parece que a Virgínia saiu dela...
Maria do Carmo foi até Janice que brincava e babava na neta, enquanto Jenifer abria a fivela que segurava Julio Cesar no carrinho, pegando o pequeno no colo.
Eleonora foi até o lado externo da casa, abrindo o portão e caminhando pela calçada, quando deu por si estava de frente para a casa que vira anteriormente dentro do carro. Não sabia, mas Maria do Carmo estava atrás dela com Virgínia nos braços.
- Ah, oi tia, nem te vi ai – Disse Eleonora surpresa beijando a mão gorducha da filha em seguida. – Nunca vi essa casa antes, é construção nova, não é?
- É sim, construíram e depois colocaram pra vender, não sei muito bem o que aconteceu com os donos, mas ela é linda – Respondeu Maria do Carmo analisando a construção.
- Eu a achei muito bonita parece grande, tem um jardim lindo...
- Por que não compra? – Sugeriu Maria do Carmo.
- Ah não... Eu e Jenifer estamos bem lá em São Paulo – Respondeu Eleonora apertando os olhos para a luz do sol.
- Mas criar uma coisa linda dessa num apartamento chega a ser pecado, criança precisa de espaço.
Eleonora assentiu em silêncio.
- Ave Maria! Já tá quase na hora do almoço, deixa eu ver como andam as coisas. Vai com a mamãe vai minha linda – Maria do Carmo entregou Virgínia para Eleonora.
- E você o que acha? Queria morar numa casa bonita assim ou prefere ficar vendo os carros lá do alto como a gente faz todo dia? – Perguntou Eleonora para Virgínia que tombou a cabeça no seu ombro, demonstrando cansaço. – Tudo bem, não precisa responder agora, vamos mamar e dormir que eu sei que você tá cansada.


Aproveitando que já estavam na cidade Jenifer achou melhor já deixar tudo ajeitado para o batizado da filha que seria junto do batizado dos outros recém chegados a família Ferreira da Silva/Improtta.
Jenifer acabava de dar banho em Virgínia. Saiu do banheiro com a pequena enrolada na toalha e a colocou na cama para enxugá-la.
Ouviu-se uma batida na porta e ao virar a cabeça para saber quem era, Jenifer viu o cabelo cor de fogo da amiga aparecer na fresta que se formara na porta.
- Cadê a coisa mais linda da madrinha? – Perguntou Dafne afinando a voz e beijando a barriga de Virgínia fazendo a pequena se desmanchar de tanto rir – Olha o que a madrinha comprou pra você.
Dafne tirara de uma embalagem branca e rosa um vestido branco com alguns babados e um mini chapéu na mesma cor do vestido.
- Ela vai ficar linda amiga, adorei – Agradeceu Jenifer beijando Dafne no rosto. – Cadê a sua namorada?
- Deve estar quase chegando, atrasada como sempre.
Enquanto conversavam Jenifer vestiu a filha, substituindo o laço que ganhara da sogra pelo chapéu que Dafne deu.
- Preparada pra ser a neném mais cobiçada e linda da igreja, hein? – Perguntou Dafne pegando Virgínia no colo - Vem com a madrinha pra mamãe terminar de se arrumar.


Na igreja a primeira fileira de bancos foi tomada por toda família Ferreira da Silva/Improtta.
Plínio, Angélica e o filho Artur estavam numa ponta, ao lado deles Maria Eduarda e Viriato ajeitavam os últimos detalhes da roupa de Julio Cesar, enquanto Isabel e Edgar paparicavam a pequena Maria Paula. Jenifer, Eleonora e Virgínia sentaram ao lado deles já sentindo o clima por ser o único casal gay – talvez o primeiro da história da cidade – a batizar uma criança.
- Eu não acredito nisso que estou vendo – Disse um homem em voz baixa, mas não baixo o suficiente para que Eleonora e Jenifer não ouvissem.
- O que? – Perguntou a mulher ao seu lado, estava com uma criança no colo.
- Essas duas sapatas, filha daquele bicheiro miserável e a outra que se acha uma ortopedista... Não vai me dizer que aquela pobre criança é filha delas?
- Pobre criança por quê? – Perguntou Viriato levantando-se do banco e virando para trás – Por que pobre criança? Ela está sendo criada e muito amada, por duas mulheres sim, você se importa com isso?
De repente a igreja toda ficou em silêncio, todos os olhares voltados para o casal e Viriato.

Capítulo 338 ♥

Ao chegarem em casa Eleonora foi colocar Virgínia no berço enquanto Jenifer tirava a comida comprada na rua da sacola.
Eleonora colocou a pequena no berço, fechou a janela e as cortinas, cobrindo bem a filha com um cobertor todo desenhado por ursinhos.
- Agora você é a Virgínia Ferreira da Silva Improtta, minha filha – Dizia Eleonora debruçada no berço ajeitando a coberta.
- Amor, vem comer – Chamou Jenifer entrando no quarto.
Parou ao lado de Eleonora, passando seu braço em volta de sua cintura.
- Dá pra acreditar? Nossa filha registrada no nome de nós duas e agora podemos oficializar a nossa união – Disse Eleonora ainda com os olhos em Virgínia que já dormia profundamente.
- Duas grandes vitórias num mesmo dia são pra se duvidar mesmo. Só não espero que surja alguém de algum lugar dizendo que é pegadinha – Respondeu Jenifer rindo.
- Meio caminho já está andado, agora só falta podermos casar no civil e fica tudo perfeito – Disse Eleonora desencostando do berço sentindo o efeito da posição em sua coluna.
- É, mas enquanto isso ainda não é possível vamos comemorar o que conquistamos hoje – Disse Jenifer puxando Eleonora pelo cós do jeans.
- Você chamou pra comer... – Sussurrou Eleonora no ouvido de Jenifer – A comida vai esfriar...
- O que você vai comer está quente, pode apostar.
Jenifer saiu puxando Eleonora pela cintura, suas mãos parecendo ter vida própria tirando suas roupas.


Seis meses passaram rápidos como um piscar de olhos. Quando deram por si, Virgínia já estava sorrindo e rindo. Crescia e engordava ainda mais por já poder tomar sucos e comer papinhas, e ainda mamando rigorosamente durante a madrugada ou quando desse vontade.
Virgínia estava saudável e sua fisionomia se misturava entre Jenifer, o pai desconhecido e por incrível que pareça Eleonora; Mesmo não tendo nenhum dado genético de Eleonora, ela parecia carregar algum gene de sua outra mãe.
- Meu cabelo era cacheado igual o dela – Observou Eleonora um dia, enquanto secava os cabelos de Virgínia após um banho – O nariz dela parece o meu, pequeno e meio arrebitado.
- Os olhos dela são iguais aos meus – Disse Jenifer – Que coisa estranha... Estranha e bom, por que ela está parecendo com nós duas.
- Exceto o fato de ela ter essas covinhas quando sorri, deve ter puxado do pai.
Virgínia estava sentada no berço, enrolada numa toalha amarela desenhada com pequenos patos e observava suas mães a analisarem, piscando seus olhos esverdeados. Prestou atenção como se entendesse cada palavra.
Eleonora e Jenifer perceberam a intensidade com que a filha as observava e pararam de conversar.
- Olha amor, ela está prestando atenção em tudo, até parece que está entendendo alguma coisa – Disse Jenifer olhando a filha de rabo de olho.
Virgínia franziu o cenho e inclinou a cabeça para a direita, foi tombando lentamente dentro do berço, caindo na risada em seguida.


Naquela semana que começava Jenifer e Eleonora arrumavam as malas para irem direto pra Baixada Fluminense. Era mais um final de ano que passariam ao lado de suas famílias que agora estavam com três membros a mais além de Virgínia.
Jenifer emendou a licença maternidade com as férias, pegando quinze dias para descansar e aproveitar a família.
- Pegou a bolsa dela? – Perguntou Eleonora pegando a chave do carro e a bolsa em movimentos rápidos.
- Peguei – Respondeu Jenifer fechando o zíper da bolsa.
- Pegou a mamadeira, as fraldas e o Jack?
Jack era o ursinho marrom de pelúcia que Virgínia não desgrudava.
- Peguei – Disse Jenifer chegando à sala esbaforida. Carregando a bolsa de um lado e a cadeirinha de segurança do carro na outra mão.
- Cadê a Virgínia? – Perguntou Eleonora olhando para as mãos de Jenifer.
Jenifer ergueu uma sobrancelha e fez bico como se dissesse “Não tá vendo que eu tô ocupada?”
Eleonora foi até o quarto e tirou a pequena do berço.
Já dentro do carro Jenifer prendeu a pequena na cadeirinha e beijou sua testa, fazendo o sinal da cruz em seguida, assim como sua mãe fazia sempre antes de sair, era uma das lembranças mais fortes que Jenifer tinha da mãe.
Era a primeira vez que Eleonora iria dirigir até sua antiga casa, o tempo estava bom, era verão e o sol da manhã já brilhava forte e intensamente no céu azul e sem nuvens.
A falta de trânsito facilitou muito para que não demorassem a chegar em Vila de São Miguel. Janice avisara Eleonora que estariam todos na casa de Maria do Carmo, juntando a família para facilitar a visita.
Eleonora errou o caminho da casa da tia entrando numa rua antes, diminuiu a velocidade do carro, quase parando. Colocou a cabeça para fora do carro olhando uma casa que nunca tinha visto antes, mesmo quando morava na cidade.
- Que foi? – Perguntou Jenifer olhando para o rumo de Eleonora.
- Essa casa... Nunca a vi – Respondeu Eleonora olhando as janelas azuis fechadas – Bonita...
- Linda mesmo, mas vamos pra casa da sua tia, preciso muito ir ao banheiro – Disse Jenifer apressando Eleonora.
Eleonora engatou o carro e saiu, dando uma última olhada na casa.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Capítulo 337 ♥

- Então quer dizer que pra gente registrar a Virgínia no nome de nós duas, teremos que contratar um advogado? – Perguntou Jenifer já em casa junto de Eleonora, dobrando algumas roupas lavadas da filha.
- E pelo jeito isso vai demorar mais do que a gente quer, já que nem a união estável ainda nos foi concedido. Mas é pro bem dela – Respondeu Eleonora com a voz esmagada e entristecida, apontando para Virgínia que estava no carrinho – Eles não podem tirar o direito dela. Nem o nosso.
- Amor, você não viu que estão quase aprovando o reconhecimento de união homoafetiva aqui no Brasil? Só se fala disso há uma semana.
- Aqui no Brasil as coisas demoram, por isso eu não me iludo – Respondeu Eleonora indo até o carrinho para pegar Virgínia.
Jenifer deu de ombros e colocou as roupas dobradas em cima da cadeira.
- Vou aproveitar que ela está quietinha e vou tomar banho, prometo ser rápida – Disse Jenifer beijando a filha e Eleonora.
- Podem dizer o contrário, mas eu sinto que você é minha filha. Ninguém vai mudar isso, ninguém – Disse Eleonora apertando Virgínia em seus braços.


E depois de uma semana cansativa, Eleonora e Jenifer estavam a um passo de conseguir o que tanto queriam: Registrar Virgínia no nome de ambas, deixando em lei o que já estava claro, que as duas eram mães da pequena e nada mudaria isso.
Jenifer e Eleonora estavam em uma sala toda moldada por madeira, em estilo antigo e com cadeiras almofadas por um veludo em tom de verde-água. Uma mesa retangular estava no centro. Samir – o advogado contratado por Jenifer – e Eleonora estavam sentados em volta da mesa, com alguns papeis nas mãos. Jenifer estava em pé embalando Virgínia que estava quase dormindo. Talvez quando acordasse já estaria registrada, e se tivesse sorte seria no nome de suas duas mães.
- A juíza está demorando mais do que esperávamos – Disse Samir para Eleonora, que apenas balançou a cabeça concordando. Estava nervosa demais para falar qualquer coisa.
Minutos depois do que Samir disse a mesma ruiva que dias atrás estava no cartório conversando com Eleonora e Jenifer estava entrando na sala. Com sua roupa preta, seus cabelos cor de fogo presos num coque com uma rede preta. Estela era a juíza que diria sim ou não ao pedido do advogado.
Eleonora e Jenifer trocaram olhares nervosos.
A seção começou, o advogado apresentou todos os motivos para que Virgínia fosse registrada no nome do casal.
Para temor de Eleonora e Jenifer, Estela ficou quieta a maioria do tempo, suas mãos cruzadas sobre a mesa, seus ouvidos apurados. Fazia uma pergunta pertinente ou outra, mas na maioria do tempo ficou calada.
- E por esses motivos e outros tantos que poderia apresentar aqui, acho que a pequena Virgínia tem o direito de ter o sobrenome de suas mães – Terminou Samir juntando os papeis.
Estela deu um meio sorriso, fazendo seu olhar encontrar o de Eleonora, queria demonstrar tranquilidade, mas Eleonora sentiu tensão.
- Eu não preciso de mais motivos para dar a decisão final Samir – Começou a dizer Estela saindo de seu lugar e caminhando lentamente pela sala – O motivo principal eu já vi nos olhos da Eleonora: Amor. Ela ama essa criança como se tivesse saído dela e só isso já me basta pra conceder o seu pedido.
Jenifer aproximou-se de Eleonora com Virgínia nos braços, querendo poder abraçá-la e comemorar a decisão que nem tinha sido dita ainda.
- E o outro motivo para que eu conceda esse direito a Virgínia é que agora – Estela olhou no relógio de parede – Às 17h30 foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Seria um retrocesso negar esse pedido diante desse acontecimento.
Por um momento Jenifer achou que deixaria Virgínia escorregar de seus braços. Eleonora estava anestesiada, ficou sentada na cadeira tentando organizar o que tinha ouvido.
- Quer dizer que agora... Teremos nossos direitos garantidos como qualquer casal? – Perguntou Jenifer afoita.
- Sim! – Respondeu Estela deixando seu sorriso a mostra.
Agora dentro de Eleonora e Jenifer pareciam ter fogos de artifícios, prontos para estourarem no céu.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Capítulo 336 ♥

Eleonora e Jenifer iam para o aeroporto paulista, levar Flaviana e Janice que voltariam para Vila de São Miguel naquela manhã fria. Virgínia dormia como um anjo na cadeirinha no banco detrás do carro.
- Não se esqueça de colocar luvas e meia nela, e touca, por que aqui faz um frio horrível – Aconselhava Janice enquanto Eleonora estacionava o carro.
- Não se esqueça também de sempre ver se as fraldas estão acabando, é melhor manter um estoque do que passar apuros – Disse Flaviana.
- Tudo bem, pode deixar, não vou esquecer nada disso – Disse Jenifer anotando mentalmente cada palavra.
Chegaram ao aeroporto que estava calmo, minutos depois chamaram o vôo que levaria Janice e Flaviana para Vila de São Miguel. Jenifer se despediu pedindo para que elas ficassem mais um pouco.
Quando o avião levantou vôo, Jenifer sentiu um aperto no coração.
- Agora estamos sozinhas – Disse para Eleonora com os olhos no avião que subia cada vez mais.
- Não estamos, eu tenho você e você me tem.
- Será que vamos conseguir sem elas?
- Claro que vamos. Somos mulheres fortes, prontas pra enfrentar qualquer coisa. – Garantiu Eleonora pegando na mão de Jenifer.
Jenifer tirou os olhos do avião para olhar Eleonora.
- Eu amo você – Ela disse – Amo muito você, Eleonora Ferreira da Silva.
- Eu também amo muito você, Jenifer Improtta.
- Vamos passar no cartório agora?
- Vamos. Vamos para a nossa primeira batalha, espero que seja primeira e última.
De mãos dadas saíram do aeroporto. Armadas de confiança e do amor por Virgínia, Eleonora e Jenifer seguiram para o cartório a fim de registrar a pequena no nome de ambas.


O cartório estava com uma grande movimentação. Eleonora tirou da bolsa toda a documentação necessária para realizar o registro.
Pediu que Jenifer esperasse sentada num canto junto de Virgínia, enquanto pedia informações.
- Oi, bom dia. Gostaria de saber se é aqui com você que faz o registro de nascimento da minha filha – Disse Eleonora para uma mulher magra de cabelos curtos até as orelhas e óculos com armações redondas.
- Sim, é comigo. Você é mãe solteira? – Perguntou a mulher com voz monótona.
- Não... Bom, na verdade eu não sou a mãe biológica dela... Hum... A minha esposa que deu a luz a minha filha.
A mulher abaixou os óculos encarando Eleonora por um segundo que pareceu o suficiente para deixar seu coração acelerado.
- Sinto muito, mas fazemos registros apenas em nome de casais normais. Se quiser registrar a filha da sua mulher, é apenas no nome dela – Respondeu a mulher ríspida.
Eleonora deu uma risada abafada desacreditando daquilo que ouvia. O sangue lhe subiu deixando sua face rubra. Ela iria fazer uma coisa que detestava: Perder o controle.
- Casais normais, então... Como você é ridícula. Eu e a minha esposa somos um casal normal, temos nossa casa, pagamos nossas contas e agora vamos criar uma criança linda que é fruto do nosso amor – Começou a gritar Eleonora sentindo o sangue esquentar seu rosto – Fruto do nosso amor sim – Salientou ela quando percebeu que a mulher a encarou discordando do que ouvia – Você acha o que? Que só por que eu não “ajudei” a fazer, eu não tenho nenhum direito sobre aquela criança?
Quem estava ao redor parou pra ouvir o que Eleonora dizia. Jenifer pegou Virgínia que dormia ainda na cadeirinha e foi até Eleonora.
- Amor, vamos embora, por favor... – Pediu Jenifer puxando Eleonora pelo braço.
- Não – Respondeu Eleonora livrando o braço da mão de Jenifer – Eu amo a minha filha como se ela tivesse saído de mim, vou cuidar dela, vou protegê-la e amá-la com todo amor que eu sinto. E se você acha que isso não é normal, você realmente tem muito que aprender sobre a vida. O amor não escolhe cor, credo, religião ou sexo ele acontece e pelo visto você não tem disso na sua vida...
Um silêncio pesado como uma bola de ferro pairou no ar. A mulher encarava Eleonora com a boca seca. Todos ao redor abaixaram a cabeça. Alguns continuaram o que estavam fazendo, outros continuaram ali, esperando que algo mais acontecesse.
- Posso saber o que está acontecendo? – Perguntou uma mulher tão ruiva quanto Dafne. Olhos azuis vivos e grandes, cabelos presos num rabo de cavalo e expressão amigável.
- Elas... – A mulher detrás do balcão engasgou e pigarreou – Elas querem registrar a filha no nome das duas, mas... Eu disse...
- Que aqui só registram filhos de casais normais – Dedurou Eleonora ainda com a raiva correndo nas veias.
- Homofobia no meu cartório, Valéria? – Perguntou a ruiva olhando para a mulher.
Valéria ficou calada. Engolindo em seco.
A ruiva ignorou o silêncio de Valéria e abriu a portinhola que ficava ao lado, passando para o outro lado.
- Me desculpem o mal entendido, depois vou conversar com ela... Muito prazer, meu nome é Estela – Disse a ruiva estendendo a mão para Eleonora e Jenifer – E vocês quem são?
- Eu sou Eleonora, ela é a Jenifer minha esposa e a nossa filha, Virgínia – Apresentou Eleonora apontando para Jenifer e Virgínia.
- Oi pequena, tudo bem? Que mamãe brava você tem, hein? – Brincou Estela acariciando o rosto de Virgínia. – Vocês podem me acompanhar até minha sala, vou explicar pra vocês como funciona o registro para filhos de casais gays.
Jenifer e Eleonora seguiram Estela. Eleonora dando uma última olhada para Valéria.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Capítulo 335 ♥

Depois de meses dormindo em apenas uma posição, Jenifer esparramou-se na cama de bruços matando a saudade de dormir na sua posição favorita. O braço esquerdo estava nas costas de Eleonora e ela dormia profundamente.
Já passava das três horas da madrugada quando Virgínia começou a chorar. Eleonora acordou num sobressalto, assustada, desacostumada por ser a primeira vez que acordava com aquele “barulho”.
- Amor, acorda – Chamou Eleonora tirando o cabelo do rosto amassado de Jenifer. – A Virgínia acordou.
Jenifer resmungou alguma coisa e virou pro outro lado, puxando o cobertor todo para si.
- Amor, acorda – Chamou Eleonora de novo, agora acendendo o abajur do lado de Jenifer a luz forte clareando seu rosto cansado.
Jenifer abriu os olhos para a luz que incomodava sua visão e virou para o lado oposto.
- Vai lá ver o que é – Disse para Eleonora.
- Ela quer você amor, deve ser fome.
Jenifer ergueu a cabeça ainda sonolenta, tentando organizar os pensamentos.
- Amor, agora você não pode mais dormir uma noite inteira e nem dormir quanto quiser, seu sono agora depende dela.
Virgínia parou de chorar repentinamente assustando Eleonora e Jenifer que pularam da cama.
Correram até o quarto e sentiram como se tivessem lhe tirado um elefante das costas: Janice embalava Virgínia sentada na poltrona.
- Achei que não vinha mais – Disse com a voz áspera e baixa quando viu Jenifer.
- Desculpa, desculpa... Dá ela aqui.
Janice levantou da poltrona dando o lugar para Jenifer que sentou e pegou Virgínia nos braços, oferecendo o seio para que pudesse se alimentar. E Eleonora estava certa, a pequena estava com fome.
- Isso é hora de sentir fome, filha? – Perguntou Jenifer enquanto sentia Virgínia sugar o leite.
- Ela ainda não tem noção de horas, amor. Relaxa, rápido você acostuma – Disse Eleonora sentando no braço da poltrona, esquentando a filha e a mulher.
- Vou voltar pra cama, se precisarem de alguma coisa é só chamar – Avisou Janice saindo pela porta.
- Obrigada, sogra – Agradeceu Jenifer.
Janice sorriu de volta, deixando a porta entreaberta para espiar a filha, a nora e a primeira neta.


Era meados de Junho, o Outono estava se disfarçando perfeitamente de inverno na capital paulista. Virgínia já estava com uma semana de vida, parecia ter crescido alguns centímetros desde então. Estava no berço enquanto Janice e Flaviana ajeitavam o banheiro para dar o banho na pequena.
- Linda da mãe... Eu já te amo tanto sabia? – Dizia Jenifer para Virgínia – Você foi a segunda melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não fica com ciúmes, por que a primeira melhor coisa que me aconteceu foi sua outra mamãe, a Léo... É, você tem duas mamães que te amam muito.
- Jenifer pode trazer ela – Chamou Janice do banheiro.
Jenifer tirou o macacão de Virgínia e a enrolou numa toalha, formando um pacotinho pequeno e gorducho.
O banheiro estava tomado pelo vapor que saia da água quente do chuveiro, a temperatura também era maior, fazendo com que Jenifer tirasse a blusa de frio.
- Banho de criança não precisa demorar muito, é coisa rápida, ainda mais no frio – Disse Flaviana ajudando Jenifer a desenrolar Virgínia da toalha.
- Pode dar o banho, eu fico olhando – Disse Jenifer sorrindo de nervoso.
- Nada disso – Repreendeu Janice – Já faz uma semana que você está olhando, quando a gente for embora como você vai fazer?
- Ela é muito pequena, tenho medo de deixar ela cair, escorregar, Deus me livre.
- Calma, só isso que você tem que ter – Disse Flaviana – Coloca ela dentro da banheira.
Jenifer deu a volta por detrás da avó, entrando no boxe e colocando a filha na água morna.
- E agora? – Perguntou Jenifer tremendo.
- Vira ela de costas pra poder lavar as costas e o bumbum – Orientou Janice gesticulando como Jenifer deveria segurar Virgínia – Isso mesmo.
Sem esperar alguma orientação, Jenifer virou Virgínia de frente, jogando água naquele corpo frágil e pequeno.
- Pronto. Viu como é fácil? – Perguntou Flaviana pegando a toalha para enrolar a bisneta novamente.
- É, não é tão difícil...
- Quanto você tiver o segundo filho já vai estar craque!
Jenifer olhou para a avó com os olhos assustados.
- Ué, que foi? Eu ainda penso que você e a Eleonora vão me dar outro bisneto.
- Eu prefiro não comentar – Disse Jenifer sorrindo levando Virgínia para o quarto.
Enquanto enxugava a filha Jenifer pensou no futuro. Onde estaria fazendo a mesma coisa que fazia naquele momento, enxugando seu filho, mas não era Virgínia por que esta estava puxando a barra de sua calça pedindo atenção. Era outro filho, um segundo. Não sabia se teria nascido dela ou de Eleonora. Mas por um breve momento esse pensamento rondou sua mente.
Mas aquilo ainda era uma vontade distante, ou nem tanto assim.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Capítulo 334 ♥

Jenifer voltou para casa no dia seguinte, essa era uma das muitas vantagens de se fazer parto normal; Voltar pra casa no dia seguinte, sem dor nem cortes medonhos na barriga.
Quando Eleonora abriu a porta Jenifer deu de cara com a sogra, a avó, as amigas e alguns balões coloridos pendurados na estante próxima a porta de correr que dava pra sacada. Entre alguns balões tinha a frase escrita em cores fortes e alegres “Bem vinda Virgínia”.
- Foi ideia dela – Disse Dafne apontando pra Rosalie.
- Que lindo gente, muito obrigada. – Agradeceu Jenifer sorrindo – Olha filha, fizeram isso pra você – Sussurrou para Virgínia que estava com seus olhos arregalados.
- Deixa eu pegar ela um pouco? – Pediu Dafne já estendendo os braços.
Jenifer assentiu e entregou a pequena nos braços de Dafne.
- Oi bebê. Sabia que sou sua madrinha? É, sou sua madrinha e vou ajudar as suas mães cuidar de você – Dafne conversava com Virgínia enquanto seus olhos se encaravam curiosos.
- Será que vocês vão conseguir batizar ela? – Perguntou Flaviana para Jenifer e Eleonora – Vocês sabem, eles não deixam batizar uma criança sem os pais estarem casados na igreja, imagina quando verem que ela tem duas mães...
- Eu também pensei nisso – Respondeu Eleonora coçando a nuca – Talvez algum padre não se importe, talvez...
- Sei de um padre que batizaria a minha neta – Disse Janice se intrometendo na conversa – O padre que batizou você minha filha.
- O padre Joaquim? Você tem certeza?
- Tenho! Quando eu descobri que você gostava da Jenifer mais do que amiga, depois que você contou isso pra mim eu fui falar com ele. Antes de toda a cidade saber que vocês namoravam ele já sabia – Explicou Janice – Sabia por que eu tinha falado com ele, e você sabe o quanto ele gosta de você.
- Você nunca me contou isso – Disse Eleonora.
- Mas estou contando agora. Foi ele que disse pra que eu não me afastasse de você, que o fato de você ser lésbica nasceu com você, assim como suas sardas e a cor dos seus olhos. Acho que ele não se recusaria a batizar a Virgínia.
Eleonora e Jenifer trocaram um olhar.
- Pronto, problema resolvido – Disse Flaviana – E quando vocês vão registrar ela? Ela vai chamar como, Virginia Improtta Ferreira da Silva ou Virgínia Ferreira da Silva Improtta?
- Nem um, nem outro – Respondeu Eleonora soltando o ar dos pulmões pesadamente pelas narinas – Virgínia Improtta apenas. Legalmente ela é filha apenas da Jenifer.
Janice balançou a cabeça algumas vezes em sinal de negação, murmurando algo que talvez ela mesma não ouvisse.
- O que foi mãe?
- Por que eles complicam tanto as coisas? – Perguntou Janice um pouco brava – Vocês estão formando uma família, uma família linda por sinal e eles negam o direito de vocês assim?
- Pra eles nós não somos uma família – Respondeu Jenifer – Num país tão hipócrita e religioso somos a perdição.
- Mas a gente vai desistir de registrar nossa filha no nosso nome por causa disso? – Perguntou Eleonora encarando Jenifer.
- Não – Respondeu Jenifer encarando Eleonora da mesma maneira – Ela nasceu de mim, mas ela é nossa, nós vamos criá-la e amá-la muito.
- É assim que se fala – Apoiou Janice – Já vi casos de gays que tem filhos adotivos e conseguiram registrar o filho no nome dos dois.
- E nós vamos conseguir também, vai ser uma luta cansativa, mas o importante é conseguir – Disse Eleonora.
- Ei mamãe, acho que alguém precisa trocar a fralda – Disse Dafne entregando Virgínia para Jenifer.
- Hã, trocar a fralda? – Perguntou Jenifer pegando a filha e buscando ajuda com os olhos.
Eleonora riu.
- Você não quer que ela faça isso sozinha, né? – Implicou Eleonora rindo.
- Vamos lá pro quarto que eu vou te mostrar como faz – Disse Flaviana – Já deu banho nela?
- No hospital antes de vir a enfermeira deu, me ensinou a trocar a fralda e dar banho, mas...
- Calma. Aprende com quem tem experiência – Disse Janice pegando Virgínia no colo.
- Ainda bem que vocês vão ficar aqui alguns dias, assim não fico tão perdida – Disse Jenifer sentindo-se mais segura.