Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: outubro 2010

domingo, 31 de outubro de 2010

Capítulo 192 ♥

Eleonora e Jenifer despediram-se de todos os convidados e saíram rumo ao destino que até então era conhecido apenas por Jenifer.
O Vectra prata de Jenifer agora estava pichado por dizeres em branco e rosa de felicidades, recém-casadas, corações desenhado no vidro traseiro do automóvel junto ao nome de Eleonora e Jenifer. E claro, as latinhas amarradas com barbante no para-choque do carro.
- Quem fez isso no meu carro? – Perguntou Jenifer de modo leve.
- Espero que tenha gostado da surpresa, senão gostou pode colocar a culpa na Isabel – Disse Plínio apontando para a irmã que estava de pé ao seu lado no topo da escada.
- Ah, eu adorei. Vocês são demais – Respondeu Jenifer.
Maria Eduarda apareceu correndo passando no meio do namorado e de Leandro, dizendo:
- Vocês não podem ir sem jogar os buques, né?
Eleonora olhou para Jenifer pedindo para que ela não tivesse se importando com o fato esquecido, mas Jenifer se importou e disse:
- Claro, claro. Chama todo mundo lá dentro.
E em poucos segundos todas as mulheres da festa estavam do lado de fora da casa, amontoadas e com as mãos para cima.
Jenifer e Eleonora subiram até a metade da escada. Depois de contar até três Eleonora foi a primeira a jogar seu buquê, fazendo-o cair nas mãos de Dafne. O buquê de Jenifer caiu nas mãos de Angélica, namorada de Plínio.
Depois da fuzarca se desfazer Viriato abriu a porta traseira do carro como um chofer para estranhamento de Eleonora.
- A gente vai levar vocês até o aeroporto – Avisou Maria Eduarda quando viu a cara de Eleonora – Pra trazermos o carro da Jenifer de volta.
- Aeroporto... – Refletiu Eleonora colocando o cinto de segurança traseira.
- Você colocou tudo no porta mala, Duda? Não esqueceu nada? – Averiguou Jenifer.
- Pode ficar tranquila Jenifer, eu e as meninas checamos tudo.
E com as latas arrastando-se pelo chão, Eleonora e Jenifer partiram para o aeroporto do Rio de Janeiro.

Uma hora depois, já no saguão do aeroporto do Rio Eleonora e Jenifer esperavam pelo voo.
- Que milagre! Você não perguntou pra onde vamos – Observou Jenifer sorrindo.
- Qualquer lugar com você é perfeito, meu amor.
- Até o Afeganistão? – Brincou Jenifer.
Eleonora arregalou os olhos, incrédula.
- Estou brincando, amor – Acalmou Jenifer – Não vamos para o Afeganistão.
Um peso enorme pareceu sair das costas de Eleonora.
- Eu ia falar pra você ir sozinha – Disse Eleonora rindo. – Pra onde vamos então?
Jenifer abriu sua bolsa tirando os documentos de ambas. Ao ver seu passaporte na mão de Jenifer Eleonora concluiu que seria uma viagem internacional. Após fechar a bolsa Jenifer colocou os documentos de Eleonora nas mãos dela e um papel retangular azul lhe chamou a atenção.
Eleonora puxou e viu que era o roteiro da viagem. Quando leu o nome do destino que iria com Jenifer, seus olhos brilharam.
- Roma! Meu Deus, eu vou pra Roma! – Exclamou Eleonora para si mesma, mas Jenifer ouviu e pode perceber a alegria no rosto de Eleonora.
- E depois vamos para Veneza meu amor – Disse Jenifer mostrando o outro encarte. – Espero que tenha gostado da surpresa.
- Você é louca, a gente tem uma casa pra montar em São Paulo, uma vida...
- Falando assim parece que você não gostou – Disse Jenifer com um pouco de decepção nas palavras.
- Claro que não meu amor. – Garantiu Eleonora – Eu só estou muito surpresa, por que você sabe que essa viagem era tudo que eu mais quero na vida, mas a gente tem muita coisa pra ajeitar, entende?
Jenifer iria falar alguma coisa, mas a voz da moça que avisava sobre os voos fez Eleonora e Jenifer prender os olhos no letreiro onde era avisado sobre os vôos que estavam pra sair. E o vôo para Roma estava entre eles.
Eleonora levantou, estendeu sua mão direita que ainda estava um pouco tremula pela emoção dos últimos acontecimentos e perguntou para Jenifer:
- Pronta pra ir à Roma?

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capítulo 191 ♥

Depois da cerimônia se findar a primeira coisa que Eleonora fez foi puxar Jenifer, a mãe, Flaviana e Maria do Carmo para um canto.
- Vocês todas fizeram isso, né? – Acusou Eleonora apontando o dedo indicador para cada uma.
Todas se entreolharam e responderam sim e deram uma risada musical em seguida.
- Por quê? Não gostou? – Indagou Flaviana.
- Claro que eu gostei, eu adorei. Só queria saber como eu não desconfiei de nada, quem teve a ideia, como vocês fizeram tudo em tão pouco tempo... – Disse Eleonora encantada, voltando os olhos para a decoração impecável do local.
- A ideia veio de nós duas – Disse Jenifer apontando para si mesma e para avó. Eleonora arregalou os olhos quando viu que Flaviana participara da ideia do casamento – Tudo começou depois do dia que eu disse que ia embora pra São Paulo com você e ela disse sobre o chá de cozinha, lembra?
Eleonora afirmou com a cabeça.
- Então, a minha avó perguntou sobre o casamento, e eu expliquei que casamento mesmo não daria por um bom tempo por causa das leis e etc... Mas que tinha esse contrato de união estável, que já era um passo. E daí ela teve a ideia de fazer essa coisa grande. Falei com a minha sogra que falou com a sua tia que ofereceu a casa e a gente fez tudo – Resumiu Jenifer.
- A gente também ajudou, dê nossos créditos – Reivindicou Isabel aparecendo do lado da mãe, com Angélica e Maria Eduarda a tiracolo.
- Todo mundo ajudou um pouco, minha querida – Disse Maria do Carmo – Você merecia, vocês – corrigiu-se – mereceram e merecem muito mais por serem tão fortes e não desistirem nunca da felicidade de vocês por causa de meia dúzia de mal amados.
- Mas as surpresas não acabaram – Entregou Maria Eduarda – Ou você vai dizer só quando chegar mesmo a hora? – Seus olhos pararam em Jenifer.
- Só quando chegar mesmo a hora – Afirmou Jenifer dando um sorriso meigo para Eleonora.
Conversaram por mais alguns minutos quando o barulho de um objeto sendo batido em uma taça e uma voz grossa falando “Peço a atenção de vocês por um momento” chamou a atenção do grupo de mulheres no canto.
Era Sebastião que pedia atenção.
- Venham mais perto – Pediu Sebastião acenando para Eleonora e Jenifer.
Eleonora e Jenifer chegaram mais perto e Sebastião começou a dizer, a voz um pouco embargada:
- Bom... – Limpou a garganta e organizou as palavras por um breve minuto – Quero primeiro desejar a vocês toda a felicidade que é possível ter. Quero desejar que essa nova vida, longe da gente, seja tranquila e que juntas vocês alcancem todos os objetivos e os conquistem. Tenho muito o que desejar a vocês, mas o mais importante é que espero que você – Sebastião olhou profundamente para Jenifer – Cuide bem da minha menina, ela é o meu tesouro.
- Isso é o que eu sei fazer de melhor, cuidar da Eleonora – Gabou-se Jenifer com os olhos marejados.
- Eu quero agradecer a todo mundo que esteve envolvido nisso tudo. Foi o melhor dia da minha vida, um dos dias mais feliz que eu já tive – Agradeceu Eleonora com a voz também embargada.
Aos poucos os convidados voltavam aos assuntos antes de serem interrompidos e a música alta animava todos.
Do lado externo, Jenifer, Eleonora, Rosalie e Dafne conversavam animadas.
- Caraca! Vocês estão casadas, ca-sa-das! – Abobalhou-se Dafne – E você disse que iria se casar só quanto tivesse vinte e cinco ou vinte e seis anos, talvez não antes dos trinta – Assinalou para Jenifer.
- Pra você ver como essa coisa de futuro é mesmo imprevisível. Nunca ia me imaginar casada aos vinte e três e ainda por cima com uma mulher. Uma mulher linda e que me faz a pessoa mais feliz do Universo – Respondeu Jenifer beijando a mão de Eleonora e afagando o rosto dela.
- Em breve também teremos nosso contrato assinado, né meu amor? – Perguntou Rosalie tomada pelo sentimentalismo do momento.
- Aham – Respondeu Dafne rapidamente, um frio lhe percorreu a espinha. Casamento por enquanto estava fora de cogitação para ela.
Jenifer riu da fuga da amiga.
Ao olhar para cima Jenifer viu que o sol já estava pronto para dar lugar para lua, o céu foi tomado por uma coloração forte de amarelo e alaranjado. Nuvens finas e esparramadas pela imensidão alaranjada se tonalizavam como o céu, num tom mais claro e encantador.
- Vai te dar torcicolo – Brincou Dafne quando percebeu que Jenifer fixara o olhar no céu.
- Não tem coisa mais linda do que por do sol – Viajou Jenifer. Depois de fechar os olhos por alguns segundos disse para Eleonora: - Acho que já está na hora de irmos.
- Irmos aonde? – Questionou Eleonora já acostumada com os mistérios de Jenifer.
- Pra nossa lua-de-mel – Respondeu Jenifer com um sorriso de tomar toda a extensão da boca.
- Vai dizer que você achou mesmo que vocês iam ficar sem lua-de-mel? Fala sério Eleonora Ferreira da Silva – Dafne mesma respondeu sua pergunta com uma indignação cômica – Pensamos em tudo, amiga. Tudo.
- Mas eu tenho que ir pra São Paulo terminar o processo de compra do apartamento – Lembrou-se Eleonora preocupada.
- Eu já resolvi isso, meu amor. Você vai no final de semana que vem. Fique tranquila – Assegurou Jenifer totalmente confiante.
Eleonora decidiu não ficar mais preocupada com nada, já que Jenifer tomara conta de tudo.
- E pra onde nós vamos? – Perguntou Eleonora.
- Pra um lugar que você sempre quis conhecer – Jenifer deixou o mistério no ar.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo 190 ♥

Incrédula, Eleonora soltou a mão da mão do pai e abraçou Jenifer com tanta força que o ar foi ficando rarefeito para as duas.
Segurando o choro ao máximo para que a maquiagem de ambas não fossem borradas, Eleonora disse:
- Você é inacreditável.
Jenifer nada disse, apenas puxou Eleonora para mais um abraço emocionado.
- Deixem para se abraçarem-se depois, o juiz já está esperando – Avisou Giovanni.
Giovanni tomou Jenifer em seus braços, Sebastião fez o mesmo com Eleonora.
Uma música instrumental começou a tocar, suave e calma quando a porta da frente foi se abrindo lentamente.
Enquanto caminhavam em direção a porta, Eleonora admirava as flores que ornamentavam a porta em forma de arco.
Bianca apareceu correndo com dois buques em mãos. Ambos de rosas vermelhas e cor-de-rosa.
- Noiva sem buquê não é noiva – Disse Bianca enquanto entregava as flores para Eleonora e Jenifer.
Quando já se era possível ver a sala por completo, Eleonora percebeu que aquele espaço havia se transformado em uma coisa completamente diferente do que viu durante os meses que morou ali.
A sua esquerda se via o corrimão da escada enfeitado por tecidos brancos e flores do campo. As flores exalavam um perfume suave que o vento trazia. Todos os móveis foram retirados e onde se via a estante que antes era lotada de portarretratos estava uma mesa retangular, com uma toalha de renda branca e um homem de terno preto atrás dela.
De um lado da mesa estava Venâncio e Regina e do outro Rosalie e Dafne. Todos com sorrisos que tomavam conta de toda boca. Dafne tinha um pouco de lágrima nos olhos.
Depois de analisar cuidadosamente toda a decoração, Eleonora reconheceu os rostos que sorriam para ela.
Mãe, primos, primas, agregados, amigos... As pessoas mais importantes da sua vida estavam ali para compartilhar o momento mais importante para ela.
Eleonora abriu um sorriso quando seus olhos se encontraram com os olhos da mãe, olhos esses que estavam úmidos pelas lágrimas que Janice não conseguia segurar.
Giovanni e Sebastião deixaram as filhas em frente ao juiz dando um beijo em suas testas. Eleonora e Jenifer se entreolharam nervosas, felizes, emocionadas. Entrelaçaram as mãos livres e estavam prontas para ouvir o que o juiz tinha a dizer.
- Bom dia – Desejou o juiz para Eleonora, Jenifer e os outros presentes.
Todos responderam o bom dia em coro.
- Antes de mais nada devo dizer que de todos os casais, heteros ou não, em que realizei tal cerimônia, vocês são o casal mais bonito que eu já vi – Elogiou o juiz.
Eleonora e Jenifer se entreolharam sorridentes.
- Então vamos começar.
O juiz começou explicando que apesar de toda pompa da cerimônia aquilo não era de fato um casamento civil, apenas a assinatura de uma união estável entre elas. Esse contrato consistia em dar os mesmos direitos que os casais heterossexuais tinham como: plano de saúde ou aluguel de imóvel.
Mas diferente do casamento, Eleonora e Jenifer não poderiam adotar o sobrenome uma da outra e nem mudariam o estado civil.
O juiz ainda disse que se algum dia rompessem sem acordo que seria necessário levar as testemunhas para o cartório e pedir a revogação.
- Isso não vai ser necessário – Assegurou Eleonora em voz baixa unindo mais o elo que sua mão formava com a de Jenifer.
Depois de tudo esclarecido o juiz disse:
- Jenifer Improtta, você confirma os acordos recebendo Eleonora Ferreira da Silva como sua legitima companheira?
- Claro! – Exclamou Jenifer.
- Eleonora Ferreira da Silva, você confirma os acordos recebendo Jenifer Improtta como sua legitima companheira?
- Sim – Respondeu Eleonora com os olhos marejados em Jenifer.
- Pode beijar sua companheira então – Disse o juiz sorrindo – Eu vos declaro, casadas – Anunciou o juiz, mesmo estando ciente de que não era um casamento de fato.
Pétalas de rosas foram jogadas em Eleonora e Jenifer, palmas e assovios comemoravam aquele momento. Com um beijo delicado e cheio de amor, Jenifer e Eleonora davam mais um passo para a eternidade uma ao lado da outra.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Capítulo 189 ♥

Eleonora saiu do banho enrolada na toalha, os cabelos molhados desenhando pingos em seus ombros nus. A roupa que repousava sobre sua cama lhe chamou a atenção.
- E esse vestido ai em cima? – Perguntou enquanto se desenrolava da toalha e secava os cabelos com a mesma.
- É pra você usar oras – Respondeu Jenifer casualmente.
Depois de caçar por alguns minutos Jenifer achou o secador de cabelo em meio a algumas caixas médias encostadas na parede. Depois de Eleonora vestir a lingerie, Jenifer começou a secar os cabelos da namorada.
Um silêncio peculiar invadia o quarto.
- Pronto, agora põe o vestido, calça a sandália, coloca esses brincos aqui – Jenifer colocou brincos de argola nas mãos de Eleonora – Que eu ainda tenho que te maquiar.
- Meu Deus, o Senhor pode me dizer o que essa pessoa está tramando? – Perguntou Eleonora olhando para cima.
Como única alternativa, Eleonora obedeceu Jenifer e novamente sentou-se de frente a ela pra ser maquiada. Uma maquiagem leve, afinal de contas era uma manhã quente de verão.
- Você consegue ficar ainda mais linda – Admirou Jenifer com um sorriso largo nos lábios.
Eleonora sorriu e abraçou Jenifer.
- Agora vamos, já estamos atrasadas.

Jenifer passava em frente a casa de Maria do Carmo, Eleonora estranhou a quantidade de carros estacionados em volta da casa da tia. Um lugar estava vago bem em frente a casa cor salmão, e foi ali que Jenifer parou. Para estranhamento maior de Eleonora.
- Espera um segundo eu já volto – Pediu Jenifer desabotoando o cinto e voando para dentro da residência.
Segundos depois voltou Jenifer, Sebastião e Giovanni. Sebastião e Giovanni estavam trajando ternos, Sebastião com um discreto terno cinza claro e Giovanni não tão discreto em um terno azul céu.
Sebastião se aproximou do Vectra prateado de Jenifer e abriu a porta, estendeu a mão direita para Eleonora que um pouco assustada perguntou:
- Pai, o que está acontecendo ou vai acontecer aqui?
Jenifer que estava um pouco à frente de Eleonora ouviu a pergunta e respondeu:
- É o nosso casamento.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Capítulo 188 ♥

Eleonora começava a organizar suas coisas em caixas de papelão que se espalhavam pelo quarto. Livros e mais livros foram separados, roupas colocadas em cima da cama, o que não lhe agradava mais seria dado a alguma família que precisasse, assim também seria feito com seus calçados.
Os álbuns de fotos que estavam empoeirados no fundo do guarda roupa foram colocados sobre uma cadeira. Foi verificar se tinha mais algum perdido lá dentro quando encontrou apenas uma foto, antiga e que lhe causou surpresa por ainda estar ali. Era uma foto junto com Kátia. Eleonora olhou a foto já um pouco amarelada e bem amassada por alguns segundos e não pensou duas vezes em rasgar em vários pedacinhos e jogar no lixo. “Já não representa mais nada” disse para si mesma, enquanto tirava outras coisas da parte superior do guarda roupa.
Janice passava pelo corredor quando ouviu barulho de coisas sendo arrastadas, papeis sendo rasgados, zíperes sendo abertos e entreabriu a porta, olhando pelo vão Eleonora. Deu uma batida de leve na porta e nem esperou resposta para entrar. Sorriu para a filha e sentou-se no pouco espaço que tinha na cama.
- Eu sempre soube que um dia você iria embora de casa, me preparar para sua ida era uma forma de já me preparar para não sofrer tanto, mas não adiantou – Confessou Janice já com os olhos cheios de lágrimas.
- Oh mãezinha, não fica assim, não é o fim do mundo – Eleonora abraçou a mãe e beijou o alto de sua cabeça.
Janice enxugou as lágrimas com o dorso da mão e balançou a cabeça.
- O tempo tá passando muito rápido, semana que vem já é o chá de cozinha na casa da sua tia, e daqui três semanas você e a Jenifer já vão estar naquela cidade doida – Brincou Janice enquanto lacrava uma caixa com fita adesiva.
Eleonora sorriu.
- O tempo voa quando a gente precisa que ele tenha calma. E eu ainda tenho que ir até São Paulo ver o apartamento que a Carolina me indicou, e se der tudo certo fechar contrato.
- Você vai quando?
- Acho que no final de semana se o Miro permitir, como já está quase tudo certo e eu já conversei com o proprietário, não vou demorar mais que dois dias.
Venâncio escutou a conversa vinda do quarto da irmã enquanto chegava do trabalho, desejou boa tarde e perguntou se precisavam de ajuda. Eleonora disse que sim e apontou para uma mala enorme em cima do guarda roupa.
Os três então passaram o fim da tarde organizando as coisas para a mudança.


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Agora o mistério não fazia apenas parte de Eleonora. Depois de dizer que estariam praticamente casadas Jenifer guardou para si um segredo que também era uma surpresa para Eleonora.
Era mais um dia de folga de Eleonora e ela estava em meio a sua bagunça, organizando coisas para a nova vida em São Paulo.
Jenifer estacionou o carro em frente a casa e saiu saltitante do veículo, abriu o portão chamando pelo nome da namorada. Abriu a porta da sala e subiu as escadas correndo.
- O que foi? – Perguntou Eleonora assustada com tamanha empolgação de Jenifer – Você não tinha que estar na faculdade? – Eleonora olhou no relógio e ainda eram dez horas da manhã.
- Não preciso mais ir pra faculdade se eu não quiser – Respondeu Jenifer um pouco afoita com a correria – Deixa tudo isso, e vem comigo.
- Você vai me falar o que está acontecendo?
- Não, só vem comigo – Insistiu.
- Minha mãe não tá aqui, ela disse que ia sair e que não ia demorar mais pelo visto mudou de ideia. E se ela demorar mais um pouco eu vou ter que dar uma adiantada no almoço, por que meu pai vem almoçar em casa hoje – Justificou Eleonora.
- Não precisa se preocupar com isso, amor. Eu sei onde seus pais estão e seu pai não vira almoçar – Garantiu Jenifer ainda com a empolgação estampada no rosto.
- Você tá me escondendo alguma coisa né? Eu sabia – Eleonora mesmo respondeu a pergunta, olhando para a cara de paisagem de Jenifer – Começa a falar, anda...
- Não tenho nada pra falar, só pra mostrar. Vai tomar um banho e ficar mais linda do que você já é, eu te espero, não demora muito – Pediu Jenifer já se sentando na cama.
Eleonora parou em frente a ela, a olhou de cima a abaixo e percebeu que Jenifer estava arrumada demais para uma simples manhã de meio de semana.
Jenifer vestia um vestido simples de alças finas, meio rodado, rosa - claro combinando com sua sandália em um rosa meio metálico. Uma tiara prata com discretos strass ornamentava seus cabelos.
- Eu posso saber aonde a senhorita vai arrumada desse jeito?
- Eu vou pro mesmo lugar que você, agora para de enrolação, a gente não pode se atrasar muito.
- Atrasar para o que, meu Deus? – Perguntou Eleonora coçando a cabeça.
Antes que fosse jogada no banheiro por Jenifer Eleonora pegou sua toalha e foi tomar banho. Se perguntando o que Jenifer tanto queria lhe mostrar.
Jenifer vasculhou as poucas roupas que ainda estavam no guarda roupa de Eleonora e separou um vestido azul bebê tomara que caia, que Eleonora quase não usara e que Jenifer adorava.
- Você vai ficar ainda mais linda – Disse Jenifer colocando o vestido sobre a cama.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Capítulo 187 ♥

Enquanto Flaviana, Eleonora e Jenifer conversavam sobre o chá de cozinha João Manoel saiu detrás da porta da cozinha, passando pela sala deixou seu já conhecido astral pesado e negativo pairando por ali.
Encostou-se na pilastra e observou as três mulheres a sua frente conversarem, um tanto incomodadas com sua presença.
- Que foi João Manoel? Quer alguma coisa? – Perguntou Flaviana cansada de sentir os olhos do neto ali.
João Manoel não respondeu e saiu da sala, sem dizer absolutamente nada.
- Ele deve estar pensando que o mundo está acabando – Disse Eleonora.
- Que pense, eu não me importo mais com ele. Não mesmo – Respondeu Jenifer com amargura na voz.
Flaviana pegou na mão de Jenifer e confessou:
- Eu não queria que a situação tivesse chegado nesse ponto, mas eu prefiro que vocês nem se olhem a brigarem todo santo dia como era.
- É, eu também. Mas deixa ele pra lá e vamos continuar a organizar nosso chá de cozinha – Jenifer pegou na mão de Eleonora e a olhou com um sorriso radiante. A felicidade estava transbordando.

Jenifer saía da sala do reitor da faculdade quando topou com Dafne no corredor.
- Bom dia, o que é isso? – Disse Dafne pegando o papel que Jenifer segurava na mão – Uma... Transferência? – Perguntou meio aturdida.
- Tenho uma coisa pra te contar – Adiantou Jenifer – Vamos matar a primeira aula e eu te conto tudo.
Dafne e Jenifer foram até as arvores que circundavam a quadra poliesportiva e sentaram no banco encostado a grade da quadra.
- Eu tentei te ligar ontem e anti ontem, mas você não estava em casa e seu celular estava desligado e eu não tive tempo pra ir à sua casa – Jenifer começou se justificando por não ter falado com a amiga antes.
- Sem problemas – Disse Dafne – Agora me explica o que é isso, você vai mudar de faculdade pra que?
- Por que eu vou embora.
- Embora? Pra onde? Por quê?
Jenifer então começou a contar para Dafne o motivo daquela transferência. Dafne ouviu tudo atentamente sem interromper.
- Caraca! Você vai se casar – Exclamou Dafne boquiaberta – Você tem certeza disso?
- Tenho, muita certeza – Garantiu Jenifer.
- A mesma certeza que tinha quando a Léo queria adotar a Manoela?
- Não. Essa certeza é de verdade, não que a certeza da adoção da Manoela fosse de mentira. Mas eu não estou com medo como eu estava, estou me sentindo segura, confiante e acho que estou pronta pra dar esse passo, que é menor do que adotar uma criança.
Dafne resmungou alguma coisa ininteligível e fez bico.
- Você vai embora, vai pra longe de mim... – A ficha parecia estar caindo naquele momento.
- Ah, para. Não quero começar a chorar desde agora – Disse Jenifer já com os olhos marejados – Ainda tenho um mês e pouquinho pra curtir a minha ruiva preferida – Jenifer abraçou Dafne.
Aquela seria apenas o começo de várias despedidas que Jenifer teria de vivenciar. Jenifer sentiu um aperto gigantesco no peito enquanto Dafne estava em seus braços. Não tem a presença ruiva e alegre da amiga em todos os seus dias seria uma das maiores torturas que enfrentaria, mas algo muito mais forte que ela – provavelmente seu amor por Eleonora – ajudaria a aliviar as faltas que a mudança para São Paulo traria.

sábado, 16 de outubro de 2010

Capítulo 186 ♥

A testa de Giovanni ficou vincada por longos segundos. Flaviana parecia atordoada. Jenifer ficou enfraquecida pelo silêncio da avó e do pai. Eleonora nervosa.
- Mas meu mimo, você ainda não terminou a faculdade... E... E isso é quase um casamento – Disse Giovanni por fim, atropelando as palavras.
- Não é quase um casamento, é um casamento pai. E quanto a faculdade... Bom, é meu último ano. Não terá maiores problemas.
- Mas você ainda é um bebê, minha querida – Disse Flaviana.
- Ela já tem vinte e três anos, minha sogra – Contestou Giovanni – Mas ainda é meu bebê...
Ainda de mãos dadas, Eleonora e Jenifer sentaram no outro pequeno sofá, ficando de frente para Giovanni e Flaviana.
- Você tem certeza disso, minha filha? Mudança, uma vida a dois, duas no caso... É muita responsabilidade.
- Eu sei pai, mas eu não vou estar sozinha. – Objetou Jenifer com uma tranquilidade invejável. – Eu sempre pensei em construir uma vida ao lado da Léo, e se o momento é agora, se eu me sinto preparada, por que esperar?
Giovanni ficou impressionado com a firmeza das palavras de Jenifer e aos poucos foi ficando mais confiante vendo que a filha estava confiante e certa do que queria.
- Mas tinha que ser São Paulo, doutora? Não poderia ser no Rio que é mais perto? – Brincou Flaviana.
Eleonora sorriu.
- Quando você... Vocês se mudam?
- No começo do ano – Respondeu Eleonora.
- Hum... Então ainda dá tempo de curtir mais um pouco o meu bebê, né? – Disse Flaviana abrindo os braços para que Jenifer se aconchegasse ali.
E foi o que Jenifer fez. Aninhou-se na avó, tendo ainda mais certeza de que ela estava ao seu lado.
- Eu só quero que você seja feliz, minha querida. Longe ou perto, eu só quero a sua felicidade – Sussurrou Flaviana apertando Jenifer ainda mais em seus braços.
- Obrigada vó, você é a melhor avó do mundo. Eu amo você.
- A gente ainda tem muito o que conversar Jenifer, mas deixe para amanhã que estou um pouco cansado, meio zonzo com essa história e preciso deitar na minha cama – Disse Giovanni já indo para o quarto.
- Pai? – Chamou Jenifer.
- Diga meu mimo.
- O senhor ficou chateado por que eu vou embora?
- Não meu mimo, eu só esqueci que você ia crescer um dia – Cabisbaixo Giovanni foi para o quarto e deixou Jenifer com o coração partido, pois ela sentira que a notícia entristecera o pai.
- Ele vai superar, fique tranquila. E sabendo que você está em boas mãos – Os olhos de Flaviana pairaram suaves em Eleonora – Ele vai ficar tranquilo também.
Jenifer ficou menos preocupada ao ouvir as palavras da avó.
- Eu vou lá na cozinha ver se a Tula faz alguma coisa pra vocês – Avisou Flaviana deixando Eleonora e Jenifer sozinhas.
Sentadas no sofá maior, Jenifer deitou apoiando a cabeça no colo de Eleonora. Seus olhos brilhavam como pérolas em contatos com o sol, cintilantes. A nova vida que estava por começar deixara em sua boca um gosto bom de novidade e um gosto amargo por deixar as pessoas que ama para trás.
- No que está pensando? – Perguntou Eleonora enrolando os dedos no cabelo de Jenifer.
- Em como eu tenho sorte por ter uma família tão... Tão perfeita sabe? Não pensei que seria tão fácil deles aceitarem a ideia de que daqui a pouco tempo eu não vou mais morar aqui.
- Tá ansiosa?
- Muito. Ansiosa e segura. Um pouco assustada, mas com você do meu lado o medo vai embora – Jenifer olhou para Eleonora e a beijou de forma calma.
Pouco depois Flaviana voltou da cozinha com uma bandeja farta de guloseimas, colocando-a em cima da mesa de centro.
- Vocês não podem ir embora antes de fazer um chá de cozinha, hein? – Disse Flaviana em um tom animado.
Jenifer e Eleonora se entreolharam.
- Chá de cozinha? – Repetiram juntas.
- Claro, já que vocês vão se casar, precisam de um chá de cozinha. É bom também pra ajudar na casa, assim vocês não gastam muito.
As três riram. E começaram a organizar a festa de chá de cozinha.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Capítulo 185 ♥

Eleonora puxou Jenifer para um abraço apertado e emocionado.
- Eu amo você, Jenifer. Mais que tudo – Sussurrou Eleonora no ouvido de Jenifer.
Seus corações acelerados batiam no mesmo compasso.
O abraço durou minutos a fio e ninguém se atreveu a falar nada que interrompesse aquele momento. Quando acharam que a hora havia chegado, se separaram fisicamente, mas os olhos continuaram vidrados um no outro.
Eleonora continha a vontade de beijar Jenifer ardentemente.
- Agora quem tem que reunir a família toda sou eu – Disse Jenifer depois de um longo suspiro – Você vai lá em casa comigo?
- Claro, meu amor! Que pergunta – Concordou Eleonora – Você vai falar com seu pai e sua avó hoje?
- Não... Ou melhor, se você quiser, já que agora a gente meio que tem que correr contra o tempo – Jenifer deu um sorriso nervoso.
- Calma – Pediu Eleonora serena – A gente não precisa correr contra o tempo, mas também não podemos ficar adiando. Ainda temos pouco mais de um mês e meio para irmos embora.
- Tá, tudo bem. Amanhã ou depois eu converso com eles – Decidiu Jenifer.
Dona Janice olhou para Jenifer com um sorriso largo e feliz, tendo certeza de que o que dissera influenciara bastante na decisão dela. Jenifer retribuiu o sorriso.


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Era fim de tarde quando Eleonora chegou a casa de Jenifer para conversar com o pai e avó sobre a mudança.
Flaviana foi quem atendeu a campainha. Simpática e receptiva pediu que Eleonora subisse até o quarto de Jenifer, pois a mesma estava terminando de tomar banho.
- Amor, cheguei – Avisou Eleonora entreabrindo a porta do banheiro, o vapor quente tocando sua pele.
Jenifer desligou o chuveiro assim que ouviu a voz de Eleonora. Nua e com o corpo molhado limitou-se apenas a um breve selinho em Eleonora, para não molhá-la. Eleonora por sua vez, pegou a toalha rosa e enrolou Jenifer, abraçando-a em seguida.
- Você acha que eles vão receber bem a noticia? – Perguntou Eleonora enxugando os cabelos de Jenifer.
- Não sei – Respondeu Jenifer temerosa – Eu realmente não tenho ideia, Léo.

- Vó, cadê meu pai? – Perguntou Jenifer descendo as escadas de mãos dadas com Eleonora.
- Não sei que horas ele volta, minha querida – Respondeu Flaviana enquanto passava uma linha na agulha – Ele não me disse à que horas chegaria.
- Mas eu disse pra ele que precisava conversar com os dois – Jenifer pegou o telefone e ligou para o pai.
Eleonora sentou no sofá central e perguntou a Flaviana o que ela bordava. Enquanto Jenifer conversava no telefone com o pai, elas conversavam sobre bordados.
- Mas pai, eu preciso conversar com você hoje, é urgente.
- Se acalme-se meu mimo, logo mais eu estou chegando em casa.

Giovanni chegou tempestivo na sala. Derrubando um vaso no tapete, que por pura sorte não quebrou, ou Flaviana mataria o genro.
- Posso saber onde é o incêndio? – Perguntou Giovanni afoito olhando para filha.
- Não tem incêndio nenhum pai – Respondeu Jenifer rindo – Eu só precisava que o senhor estivesse aqui para gente conversar.
- Aconteceu alguma coisa? Oi doutora, nem a vi ai – Giovanni cumprimentou Eleonora com seu forte aperto de mão.
Giovanni sentou ao lado da sogra, no sofá menor.
- Vó, a senhora poderia prestar atenção em mim, por favor? – Pediu Jenifer.
Flaviana guardou suas linhas e agulhas em sua sacola, colocando-a no chão.
Jenifer olhou para Eleonora nervosa. Suas mãos transpiravam e ela não sabia por onde começar. A tensão ficou pior quando João Manoel apontou na sala.
- Reuniãozinha aqui em casa? – Perguntou sarcástico e acido como sempre.
Todos o ignoraram. Exceto Giovanni.
- Sua irmã tem alguma coisa de muito importante pra nos falar – Disse Giovanni.
- Veio dizer que criou vergonha na cara e arrumou um homem?
O estômago de Jenifer deu um looping dentro de si.
João Manoel não esperou qualquer resposta e foi para cozinha, mas a curiosidade o fez parar atrás da porta e ouvir o que diziam do outro lado.
Jenifer engoliu em seco. Chamou Eleonora com um aceno discreto com a mão. Eleonora ficou ao seu lado. Pegou em sua mão trêmula passando-lhe confiança.
- Eu vou ser direta – Começou Jenifer com o tremor das mãos subindo por sua garganta – A Eleonora recebeu uma proposta de trabalho em São Paulo...
- Oh, que bom Eleonora – Disse Flaviana com a voz suave.
- E – Jenifer aumentou um pouco do tom da voz, deixando subtendido que não queria ser interrompida – Ela vai se mudar pra lá. E eu vou com ela.
Quando terminou de dizer, as mãos unidas formaram um elo mais forte. A testa de Giovanni ficou vincada por rugas verticais. Flaviana tirou do rosto a expressão serena e colocou a expressão de desentendimento.
- Bom, é isso que eu queria dizer – Concluiu Jenifer enquanto avó e pai absorviam as informações.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Capítulo 184 ♥

- Bom, eu reuni vocês todos aqui por que...
- Oi oi gente, desculpa a demora – Interrompeu Regininha sem a menor discrição. Sentou-se no sofá pequeno ao lado de Venâncio e prestou atenção ao que Eleonora começava a dizer.
- Como eu ia dizendo, eu reuni todos aqui pra dizer que um amigo do Miro de São Paulo ligou para ele esses dias dizendo que surgiu uma vaga para residente em ortopedia e perguntou também se ele não tinha nenhum funcionário que pudesse se interessar.
- Que bom minha filha e o Miro chamou você? – Entusiasmou-se Janice.
- Sim mãe. Perguntou se eu gostaria de ir trabalhar no hospital que esse amigo dele é diretor.
- Que bom minha irmã, e onde fica esse hospital? É aqui em Vila São Miguel mesmo? – Perguntou Venâncio.
- Não. É em São Paulo – Respondeu Eleonora direta, sentindo de imediato o olhar de Jenifer parar nela.
- São Paulo? – Repetiram todos, excluindo Jenifer, ao mesmo tempo.
Agora Jenifer entendera o porquê de Eleonora estar com a cabeça em São Paulo aquele dia, as peças começavam a se encaixar lentamente.
- É uma excelente vaga. Possibilita-me adquirir muito mais experiências por ser um hospital bem maior do que esse em que trabalho. É uma oportunidade única – Concluiu Eleonora sentindo um tremor pequeno em seu corpo.
- E você aceitou? – Perguntou Regininha.
- Ainda não tem nada certo – Eleonora recuou e não disse que já havia aceitado. O olhar indecifrável de Jenifer a deixou temerosa – Eu preciso saber se você vai comigo – Eleonora girou o corpo ficando de frente pra Jenifer.
Tirou as mãos dos bolsos e abaixou de frente a Jenifer, segurando suas mãos.
- Você quer essa vaga? – Perguntou Jenifer com uma voz quase inaudível.
- Muito – Respondeu Eleonora no mesmo tom.
- Eu não sei Léo, eu tenho medo.
- Medo do que? Vamos estar juntas como sempre.
- Eu sei, eu sei... Depois a gente conversa, acho que seus pais querem mais algumas explicações – Jenifer se levantou do seu lugar e foi para cozinha.
- Mas minha filha, São Paulo é uma cidade muito grande, perigosa, você vai se arriscar assim? – Disse Sebastião um pouco preocupado.
- Vou me arriscar sim. Lá é grande sim e por isso mais perigosa, mas eu preciso correr meus riscos. Todos eles – Respondeu Eleonora segura.
- E quando você vai se você aceitar a proposta?
- No começo do ano, Vê.
- Daqui pouco mais de um mês – Disse Janice pensativa.
Jenifer foi até a cozinha pegar um copo de água, e acabou se perdendo nos seus pensamentos encostada a pia. Esqueceu de beber a água, deixando o copo praticamente cheio ainda em sua mão.
Na sala Eleonora ameaçou ir até a cozinha, mas sua mãe impediu, pedindo para que deixasse ela ir conversar com Jenifer naquele momento.
- Jenifer? – Chamou Janice dando um estalo com os dedos.
Jenifer deu um meio sorriso.
- Não gostou da ideia de ir morar em São Paulo com a Léo?
- Não sei dona Janice, a gente vai praticamente se casar. Vai ser muita responsabilidade. Eu ainda tenho que terminar a faculdade, vou deixar minha família, meus amigos... – Jenifer bebeu metade da água no copo de uma vez e o repousou na pia depois de jogar a outra metade fora.
- Eu não sou daqui do Rio, vim do Mato Grosso. E não vim com meus pais, vim com Sebastião – Janice começou a contar um pouco da sua vida com a pretensão de clarear as coisas pra Jenifer que prestava atenção – Ele tinha ido pra lá durante uma viagem quando era caminhoneiro. Apaixonei-me por ele na primeira vez que o vi, achei que nunca mais o veria quando ele apareceu na minha cidade pela segunda vez. Vim pra cá praticamente fugida, só com a roupa do corpo e alguns trocados no bolso. Não me arrependo de nada por que eu sabia que se eu o deixasse voltar sozinho eu poderia perdê-lo pra sempre e eu não queria isso.
Os olhos de Jenifer foram ficando rasos de lágrimas.
- No começo foi difícil, por que alguns meses depois eu engravidei do Venâncio, mas a Do Carmo nos ajudou bastante e fomos seguindo e hoje estamos aqui. Você e a Léo tem muito mais do que eu e Sebastião tínhamos na nossa época, não deixe que o medo impeça que você viva novas experiências. Isso vai ser bom pra Léo e pode ser bom pra você também e caso não dê certo pra ambas, vocês poderão voltar por que sei que assim como eu seu pai vai estar te esperando de braços abertos.
As lágrimas precipitadas desceram lentamente o rosto de Jenifer que abraçou Janice e agradeceu por suas palavras. Jenifer limpou o rosto e voltou pra sala enquanto o riso de pai e filhos ecoavam ali.
Quando Jenifer apareceu, Eleonora ficou com uma expressão vazia de medo. Seu coração pulsava rápido e ela não conseguia pensar em nada.
Jenifer estendeu a mão para que Eleonora se levantasse do sofá. Eleonora se levantou e entrelaçou as mãos com as de Jenifer. Jenifer deu um sorriso confiante e iluminado, limpou a garganta e olhando no fundo dos olhos de Eleonora disse com convicção:
- Eu vou com você!

sábado, 9 de outubro de 2010

Capítulo 183 ♥

Miro pediu que Eleonora se sentasse, mas sua ansiedade era tão grande que ela preferiu ficar em pé.
- Bom, Pablo, o diretor do hospital disse que a vaga que me falara anteriormente já foi ocupada...
Eleonora bufou.
- Calma – Pediu Miro acenando com a mão direita em riste – Mas ele disse que tem outra vaga na residência em ortopedia e que se você quiser, ele está esperando por você. Vai aceitar?
- Claro que eu aceito – Respondeu Eleonora sem pensar meio segundo – Eu só preciso avisar minha família, a Jenifer primeiramente.
- Então posso ligar pra ele e dizer que você aceitou.
- Claro! Vai demorar muito?
- Só o tempo de arrumar os papeis de sua transferência, e a outra parte já é com você.
- Outra parte?
- É. Arrumar uma casa e essas coisas de pessoas que se mudam – Respondeu Miro sorrindo.
- Claro, claro. Tenho milhões de coisas pra organizar a partir de agora – Refletiu Eleonora rendendo-se a poltrona preta em sua frente.
- Se quiser ir embora, eu libero você – Miro olhou para o relógio de pulso – Uma hora mais cedo, hoje a movimentação está bem tranquila, se quiser, pode ir embora doutora.
- Muito obrigada Miro, por tudo – Agradeceu Eleonora com um forte aperto de mão.

Eleonora chegou em casa e subiu direto para o quarto, nem foi até a cozinha ou a área de serviço dar o beijo na mãe que sempre dava. Pegou o telefone e ligou para Jenifer pedindo para que fosse jantar em sua casa. Ligou também para o irmão pedindo que ele não fizesse hora extra no serviço, pois tinha um assunto sério para conversar e precisava da presença dele.
No banho pensou mil maneiras de contar a família sobre sua decisão. Mas o que a atormentava levemente era a ideia de Jenifer não querer se mudar com ela. Aquela residência em ortopedia em São Paulo seria uma oportunidade imensa, 8 entre 10 residentes em medicina gostariam de ir para onde Eleonora estava encaminhada. Por um breve momento pensou em ir sozinha e deixar Jenifer, voltar quando a residência terminar. Mas voltar apenas para buscar Jenifer. No mesmo instante os flashes do dia em que Katia a abandonou inundou seus pensamentos e ela desistiu no mesmo instante de ir sozinha. Não queria repetir a mesma história, não com Jenifer.
Meia hora embaixo da água morna foi suficiente para Eleonora se preparar para todas as reações que foram possíveis de imaginar: Recusa, desapoio, apoio, felicidade...
Com os cabelos envoltos numa toalha, parou em frente ao guarda-roupa e pegou sua blusa de pano mole e confortável, colocou seu jeans já bem gasto e desceu as escadas. Ainda no inicio dos degraus sentiu o cheiro de Jenifer invadindo a sala.
- Oi meu amor – Eleonora aproveitou que apenas as duas ainda estavam na sala e beijou Jenifer com intensidade.
Jenifer riu.
- Se o seu pai vê isso, louca – Jenifer não resistiu e retribuiu o beijo.
- Louca por você – Respondeu Eleonora sussurrando no ouvido de Jenifer.
Antes que as coisas começassem a esquentar um barulho de maçaneta girando as interrompeu. Era Sebastião.
- Boa noite meninas – Cumprimentou Sebastião com umas sacolas de supermercados nas mãos.
Eleonora foi até o pai ajudar a pegar as sacolas e perguntou:
- A mãe não fez compras esses dias?
- Fez, mas como você disse que a Jenifer viria jantar aqui ela resolveu fazer aquele pavê de chocolate que ela gosta.
- Eu amo a minha sogra – Declarou Jenifer sorrindo.

Venâncio chegou quando o jantar já estava à mesa. Foi o mais rápido que conseguiu chegar, explicou. O jantar seguiu animado e misterioso, Eleonora se esquivava das perguntas sobre o assunto que queria tratar, mas estava tranquila.
Depois do jantar e de Jenifer comer sua tão adorada sobremesa, todos foram para sala e sentaram-se nos sofás. Eleonora ficou de pé, com as mãos nos bolsos traseiros da calça e o olhar viajando em cada pessoa a sua frente, respirou fundo e começou a dizer o motivo daquela pequena reunião.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Capítulo 182 ♥

Eleonora estava na casa de Jenifer, aconchegada em seus braços, deitada na cama. Seu pensamento estava apenas em São Paulo, tentava pensar o menos que pudesse em Manoela, já que isso ainda lhe provocava uma dorzinha chata.
- Acho que o pensamento da minha namorada está looonge – Disse Jenifer puxando Eleonora do mundo da Lua.
- Não tão longe – Respondeu Eleonora sorrindo e beijando o queixo de Jenifer.
- Posso saber aonde?
- Em São Paulo.
- São Paulo? – Repetiu Jenifer confusa – Por quê?
- Amanhã, junto dos meus pais e dos meus irmãos, eu te conto. Prometo.
- Antes de a gente namorar eu nunca percebi que você era tão misteriosa – Ironizou.
- Claro que não percebeu, senão teria percebido logo de cara que eu era apaixonada por você – Respondeu Eleonora rindo e arrancando risos de Jenifer.
- Sabe Léo, depois dessa história toda da Manoela, descobri que eu também tenho a maior vontade de ser mãe – Confessou Jenifer depois de um longo silêncio.
- É? – Questionou Eleonora um pouco descrente.
É. Mas não agora, talvez depois que eu terminar a faculdade... Mas eu quero ter um filho meu mesmo, quer dizer, nosso.
- Como assim “nosso”?
- Quero engravidar, ter um filho biológico.
Eleonora arqueou as sobrancelhas de espanto.
- Por que essa cara, amor? Acha que eu ia ficar feia com aquele barrigão? – Perguntou Jenifer rindo.
- Não, é que eu pensei que... Nada.
- Fala.
- Eu só não poderia imaginar que você fosse querer ficar grávida. Eu quero adotar mesmo.
- Quantos filhos você quer ter?
- Dois no máximo.
- Então a gente vai adotar um e eu vou engravidar de outro – Disse Jenifer de forma séria, mas com ar leve.
- Você tá falando sério?
- Sim, por quê? Não foi você que me disse um dia que era bom planejar certas coisas? Os filhos estão incluso nessas “coisas”.
- Entendi. Mas você quer ter filhos por métodos naturais? – Eleonora perguntou tranquilamente, mas o medo da resposta existia.
- Claro que não! – Exclamou Jenifer incrédula – Inseminação artificial está ai pra isso, não é?
Eleonora aproveitou a brecha sobre o assunto e resolveu tirar as duvidas que vez ou outra assombravam sua mente.
- Então você não... Não tem vontade mais de...
- Não, eu não tenho mais vontade nenhuma de transar com homens – Completou Jenifer vendo a dificuldade de Eleonora em dizer aquilo. – Mesmo que eu só tenha feito amor com você, foi o suficiente para que eu tenha certeza de que eu gosto é de mulheres. Acho que se não fosse você, não sei quando eu me descobriria. – Jenifer foi sincera como sempre e esperou que Eleonora tivesse acreditado em tudo que disse.
E Eleonora acreditou e se sentiu aliviada por ouvir tudo aquilo.
- Que bom ouvir isso meu amor. Bom saber que não vou ter que te dividir com ninguém – Brincou Eleonora.
- Boba. Claro que não, eu sou sua e de mais ninguém – Ressaltou Jenifer, beijando o alto da cabeça de Eleonora. – Mas agora só me responde uma coisa: Por que você está pensando em São Paulo?
- Daqui uns dias você vai ficar sabendo.

..‗‗‗‗‗‗‗‗‗‗..

Era sexta-feira de manhã. Eleonora organizava suas pranchetas para iniciar sua visita aos pacientes. Assim que saiu do quarto em que uma criança que havia fraturado a clavicular após cair de bicicleta estava, Miro a chamou para o seu escritório e dar a resposta sobre a sua tão desejada vaga em São Paulo.
- E então Miro, qual foi a resposta que eles te deram? – Perguntou Eleonora com a ansiedade saindo por seus poros.