Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: abril 2011

sábado, 30 de abril de 2011

Capítulo 301 ♥

Eleonora soltou uma risada abafada.
- Você acha mesmo que algum dia da minha vida eu ia pensar em cometer uma loucura dessas? Voltar com você, só em sonho mesmo... E sonho seu – Respondeu Eleonora irônica.
- Eleonora, eu amo você.
- Eu também me amo – Debochou Eleonora divertindo-se.
- Você lembra dos nossos filhos e do nosso cachorro? Da nossa casa? O que a gente viveu não foram meses, foram anos, anos lindos...
- ...que você jogou fora sem pensar duas vezes – Eleonora completou a frase com a impaciência saindo pelos poros. – Sinceramente Kátia, não dá mais nem pra ser sua amiga, de você quero distância. Agora se me der licença...
E antes que Kátia contestasse, Eleonora já estava no interior do shopping.
Kátia encolheu os ombros como se tivesse recebido um balde de água fria, seus olhos acompanharam Eleonora até que ela sumisse de suas vistas; Desejou jamais ter feito a escolha errada do passado.


Depois de cruzar e descruzar as pernas, tomar um café expresso e um cappuccino e recusar outros pedidos, Jenifer viu Eleonora caminhando em sua direção novamente. Dessa vez sozinha.
Eleonora soltou um sorriso tímido, parecia que estava no passado; momento no qual seu amor era o seu segredo. Colocou a bolsa em cima da mesa e sentou-se. Pegou o cardápio e o analisou por alguns segundos, ainda em silêncio.
- Quer alguma coisa? – Perguntou a Jenifer.
- Além de você? Não, não quero – Respondeu Jenifer.
O sorriso de Eleonora se ampliou.
Eleonora ergueu o braço e uma garçonete de pele avermelhada e cabelos lisos presos num coque se aproximou.
- Traga dois sucos de laranjas e essas rosquinhas italianas, por favor.
A garçonete anotou os pedidos e foi até o balcão.
Eleonora e Jenifer estavam sentadas frente a frente, as mãos de Jenifer repousavam sobre a mesa. O assunto parecia faltar.
- Você está bem? – Perguntaram as duas simultaneamente.
As duas riram.
- Melhor agora – Respondeu Jenifer – Muito melhor...
- A gente tem muito que conversar, não é?
- Muito – Concordou Jenifer – Mas antes de qualquer coisa eu quero te pedir uma coisa.
- Pode pedir.
- Me perdoa? Me perdoa por tudo que fiz, me perdoa por te fazer chorar, por te fazer sofrer de novo, me perdoa... – Começou a pedir Jenifer. Seu coração acelerou quando Eleonora colocou sua mão sobre a mão dela, formando um elo forte.
Jenifer fechou os olhos sentindo o toque quente da mão de Eleonora.
- Eu te perdoo sem saber o porquê você fez, te perdoo por que te amo e não aguento mais viver um minuto sem você – Disse Eleonora não aguentando segurar mais nenhuma palavra dentro de sua boca.
- Mas eu preciso te explicar tudo que aconteceu...
- Eu sei, também tenho coisas pra te explicar.
A garçonete voltou com os pedidos não atrapalhando em nada o clima de reconciliação.
Eleonora mudou o rumo da conversa para coisas do cotidiano enquanto saboreavam as rosquinhas italianas. Ali realmente não era um local pra conversar coisas tão sérias.
- A gente pode conversar lá em casa, pode ser? – Sugeriu Eleonora enquanto limpava a boca com o guardanapo.
- Claro – Aceitou Jenifer de imediato.
- Traz a conta, por favor.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Capítulo 300 ♥

Jenifer pensou em levantar e dar as costas. Mas ficou ali sentada, ignorando a presença de sua professora.
- Cadê aquela garota educada que conheci? – Cutucou Kátia.
Jenifer continuou calada.
- Posso me sentar?
- Não, não pode – Respondeu Jenifer grosseira – Estou esperando a Léo.
O coração de Kátia vibrou ao ouvir o apelido de Eleonora.
- Então vocês se acertaram? Ela te perdoou?
- Isso não é da sua conta, alias minha vida não é da sua conta.
Jenifer se levantou e ao olhar para o lado viu Eleonora chegando acompanhada de Marcela, por um momento pensou em pegar suas coisas e ir embora, mas ficou ali em pé.
Kátia percebeu a expressão de assombro no rosto de Jenifer. Girou o tronco para o lado, seus olhos viram Eleonora se aproximando. Levantou-se como Jenifer.
No caminho Eleonora parou, desacreditando no que via. “Como a Jenifer poderia ter coragem de levar a Kátia ali? Mas será que elas estavam juntas?” Eleonora tentou ignorar os pensamentos negativos, e continuou caminhando. Agora o caminho pareceu ser muito maior.
Quando Eleonora e Marcela chegaram perto da mesa, Jenifer viu o peito de Eleonora subir e descer, sua respiração estava acelerada como a dela e provavelmente seus corações estariam no mesmo ritmo também.
Jenifer não conseguiu conter o sorriso que começava a brotar nos seus lábios, o sorriso tomou conta de toda sua boca, parecendo que a rasgaria a qualquer momento.
Kátia olhava inexpressiva. Eleonora olhava em dúvida. Marcela olhava intrigada.
- Quanto tempo... – Murmurou Kátia para Eleonora – Você, você continua linda...
- A gente vai poder conversar aqui ou teremos que ir pra outro lugar? – Perguntou Eleonora para Jenifer parecendo nem ouvir Kátia.
- Eu já vou indo, boa sorte pra vocês. A gente se vê no hospital amanhã – Despediu-se Marcela.
Agora que estavam apenas as peças principais daquela história, o clima pesado pairou sobre o Café. Até o sol que brilhava lá fora pareceu se esconder atrás de nuvens espessas.
- Nossa conversa tem que ser a sós – Disse Eleonora olhando Kátia nos olhos depois de ignorá-la por alguns minutos.
O encontro de seus olhares fez Kátia estremecer, Eleonora ficou totalmente indiferente.
- Léo, eu... Eu também quero conversar com você a sós e não vejo melhor oportunidade do que essa – Disse Kátia sentindo o olhar de Eleonora se tornar cada vez mais vazio.
- Não tenho nada para conversar com você – Respondeu Eleonora ainda em seu tom seco e indiferente.
- Não preciso que você me diga nada, só me ouça.
Eleonora olhou Jenifer que devolveu o olhar não gostando nem um pouco da ideia.


- Pode falar – Pediu Eleonora impaciente.
- Senta.
- Não, estou com pressa.
Kátia levara Eleonora para fora do shopping, deixando Jenifer esperando por ela, sentada no Café.
- Me desculpa por tudo que fiz, tudo mesmo... Calma, deixa eu falar – Pediu ao ver a boca de Eleonora se mexer para falar alguma coisa – Você e a Jenifer estão juntas? Voltaram?
- Isso não é do seu interesse.
- É do meu interesse sim, por que se vocês estão separadas... Eu... – Kátia hesitou completamente perdida, a cabeça zunindo como se tivesse milhares de abelhas dentro – Eu sempre amei você, sempre vou amar. E se eu atrai a Jenifer, foi pra poder separar vocês e ter você de volta pra mim.
Eleonora arregalou os olhos, enojada pela confissão de Kátia.
- Como você pode ter coragem de confessar uma coisa dessas? Como pode ser tão sórdida?
- Ela não te ama mais do que eu – Acusou Kátia – Nunca vai amar, ela é uma menina...
- Ela não é uma menina, ela é uma mulher. Que me ama sim, muito mais do que você e só pro seu governo já vivemos coisas que você e eu jamais vivemos nos anos que ficamos juntas – Replicou Eleonora nervosa.
- Se ela te ama tanto assim por que é colocou um par de chifres em você?
Aquilo foi como um golpe na boca do estômago de Eleonora.
- Vim aqui pra isso, pra saber o porquê – A voz de Eleonora agora era menos severa.
- Não tem um por que, ela te traiu por que é uma garota fácil que quer só curtir.
- Ah, cala sua boca – Disse Eleonora – Quer saber? Não tenho que ficar discutindo com você, tenho uma vida pra tentar reconstruir.
- Reconstrua comigo – Pediu Kátia pegando na mão de Eleonora.

Capítulo 299 ♥

Dafne arrumava suas malas enquanto Eleonora estava parada em frente ao seu guardarroupa, indecisa – como se uma peça de roupa fosse fazer a diferença.
- Não vou poder ficar mais, mas eu desejo toda sorte do mundo pra vocês. Pelo amor que vocês têm uma pela outra, se acertem, o amor de vocês é tão lindo, tão... Tão inspirador, que se vocês não se acertarem pra mim vai ser a certeza de que amor verdadeiro não existe – Disse Dafne segurando nas mãos de Eleonora.
- Eu só tenho a agradecer a você por tudo que fez por mim – Disse Eleonora com os olhos brilhando – A Jenifer me trouxe muitas coisas boas e você foi uma das melhores, pode ter certeza, cabelo de fogo – Brincou bagunçando as mechas avermelhadas da ruiva.
- Quando eu chegar em casa eu te ligo pra saber de tudo, tá? Isso se a Jenifer não me ligar antes.
Dafne e Eleonora terminaram de se arrumar e desceram até o térreo do Bossa Nova. Eleonora esperou Dafne entrar no taxi que a levaria para o aeroporto. Quando o carro sumiu de seus olhos seguiu para o shopping Morumbi.


Jenifer se arrumava em frente a um imenso espelho no quarto de Gabrielle quando a dona do quarto entrou e ficou espiando da porta.
- Você mal chegou e pelo visto já vai – Comentou Gabrielle.
- É, não é por nada, mas não vejo a hora de ir embora – Disse Jenifer radiante. – Obrigada por ter me deixado ficar aqui esses dois dias e desculpa por qualquer coisa.
- Ah, sem problemas. Estou acostumada em me interessar por garotas erradas, se não héteros, são casadas ou quase – Riu-se Gabrielle – Eu que peço desculpas a você por ter te enchido tanto o saco. Espero que tudo de certo agora e pra sempre.
Jenifer piscou para Gabrielle. Olhou-se mais uma vez no espelho e parecia ver sua alma colorida e alegre refletindo.


Eleonora chegou muito mais cedo que o necessário. Andou pelo shopping olhando as vitrines. Quando sentiu um corpo colidindo com o dela em frente a uma loja de sapatos. Era Marcela.
- Trabalhar que é bom ninguém quer, não é? – Brincou Marcela beijando o rosto de Eleonora.
- Ah, hoje é minha folga, tem que descansar também – Respondeu Eleonora sorrindo exageradamente.
- Que empolgação é essa? – Perguntou Marcela percebendo o brilho radiante de Eleonora.
Eleonora hesitou um pouco. Quanto mais Marcela aguentaria?
- Eu... Eu vim conversar com a Jenifer.
- Ah – Disse Marcela quase inaudível.
- Desculpa, Ma eu...
- Léo, para de se desculpar ok? Eu estou bem. Pode acreditar, e espero realmente que vocês se acertem. Nunca vi um amor tão imenso como esse, seria uma batalha sangrenta e perdida se eu fosse me meter – Marcela parecia um pouco irritada – Mas ainda posso ser sua amiga, certo?
- Claro que pode.
- Então tudo está bem.


Jenifer chegou ao Café uma hora antes do combinado, pensou encontrar Eleonora a sua espera, mas se enganou. Sentou-se numa mesa no canto, encostada a parede. Tirou um pequeno espelho retangular da bolsa e se olhou pela milésima vez. Enquanto ajeitava os cílios sentiu um perfume conhecido que a fez erguer a cabeça rapidamente. Mas diferente do passado, aquele perfume cítrico fez seu estômago embrulhar.
- Achei que minha aluna preferida tinha sumido – Disse Kátia em pé em frente a Jenifer.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Capítulo 298 ♥

Abelle arrumou as coisas de Jenifer as pressas, lágrimas de desespero rolando de seu rosto.
Jenifer ainda estava lá embaixo com Alessa, Enzo, Gabrielle e os pais dela.
- Eu sabia que isso um dia ia acontecer... – Se lamentava Jenifer atordoada – Coitada da Bel.
- Não esquenta, minha irmã é de boa, vai saber levar a situação tranquila – Disse Enzo.
- Não dá nada a Jenifer ficar lá em casa, né? – Perguntou Gabrielle para os pais – É só por uns tempos, dias talvez...
- Não tem problema. Esse meu irmão, um dia ainda ele vai quebrar a cara por causa desse preconceito – Disse o pai de Gabrielle.
Quando Abelle surgiu no térreo do edifício com as malas ao redor, o tio foi ajudá-la. Enquanto o tio lidava com as malas, Abelle abraçou Jenifer.
- Por favor, amiga me desculpa, não queria causar essa confusão toda – Pediu Jenifer abraçada a Abelle.
- Não se preocupa, só quero que você fique bem, tá? Fica na casa da Gabi uns dias, sei que logo você e a Léo vão se acertar, me mantenha informada.
- As aulas começam na semana que vem, não é? A gente vai se ver em breve. E mais uma vez me desculpa, por favor. Seu pai vai matar você e por minha culpa.
- Relaxa, o máximo que vai acontecer é minha família toda levar um sermão – Garantiu Abelle dando um beijo na testa de Jenifer, abraçando-a mais uma vez.


Eleonora abriu os olhos assustada, o coração palpitando descontrolado. Seu peito doía e por um momento ela pensou ser uma dor que só um médico cardiologista poderia resolver, mas ao olhar o espaço vazio ao lado na cama percebeu que aquela dor apenas uma pessoa – e não era um médico – poderia curar. A falta de Jenifer nunca havia lhe doído tanto desde então.
Eleonora pegou o celular, não esperaria mais nenhum segundo.


A casa de Gabrielle não ficava muito longe da casa de Abelle. Era uma casa grande para três moradores, uma garagem ao ar livre, com uma grama verde bem cortada. Uma goiabeira a oeste proporcionava uma sombra amigável. Jenifer estava sentada embaixo da árvore, relendo algumas matérias, tentando se atualizar dos acontecimentos das últimas aulas quando fechou os livros e pegou o celular na mão. Como se ele fosse tocar a qualquer segundo.
“Ele não vai tocar” Pensou Jenifer. Começou então a discar os números de Eleonora.


Uma, duas, três, quatro vezes tentando ligar para Jenifer e o celular da mesma dava ocupado. Eleonora tentou mais uma, duas vezes. Achou que o seu celular estava com defeito, pegou o telefone sem fio que estava em cima do sofá, ainda dava ocupado. Mas uma música começou a tocar a suas costas, ela jogou o telefone em cima do sofá novamente e correu para o quarto. “Amor chamando” brilhava na tela do seu aparelho telefônico móvel. Ela atendeu.


Depois de muito tentar, Jenifer enfim conseguiu ouvir a saudosa voz de Eleonora.
- Até que enfim consegui falar com você – Disse Jenifer antes de qualquer coisa, dando uma risada tímida.
Do outro lado da linha ela não poderia imaginar o tamanho do sorriso que estava nos lábios de Eleonora.
- Eu... Eu estava tentando te ligar também, acho que por isso não conseguiu - Respondeu Eleonora tremendo de ansiedade.
Um curto silêncio pairou.
- Acho que a gente precisa conversar. – Disse Jenifer depois de um minuto – Você pode me encontrar amanhã naquele Café que abriu no shopping Morumbi?
- Claro! – Exclamou Eleonora em êxtase – Depois do almoço pode ser?
- Pode. Uma hora?
- Certo... Nos encontramos lá.
- Tudo bem. Um beijo.
- Outro... – Eleonora tirou rapidamente o aparelho do ouvido e Jenifer ainda continuava na linha.
As duas riram.
- Não vai desligar? – Perguntou Jenifer meio abobada.
- Vou... – Respondeu Eleonora – Até amanhã.
Jenifer deitou no gramado sentindo o coração bater feliz novamente.

sábado, 23 de abril de 2011

Capítulo 297 ♥

- O que você faz aqui essa hora? – Perguntou Dafne espantada olhando para Eleonora e depois para o relógio na estante, sentando-se de pernas cruzadas e colocando de lado o balde de pipoca que comia.
Eleonora sentou ao lado e contou o que viu.
- O que? Eu não acredito nisso – Dafne estava com o rosto vermelho e quente – Mais um desencontro, não... Primeiro você e agora ela, ah pelo amor de Deus!
- Ela parecia muito envolvida – Acusou Eleonora com os olhos fixos na TV ligada.
- Ah, não vem com essa agora não, ela também disse a mesma coisa de você. Vocês estão se desencontrando demais pro meu gosto, nem nos filmes de Hollywood é assim, cadê o final feliz?
Eleonora riu.
- Eu vou falar a mesma coisa que disse pra ela. Não desista.
- Não vou desistir, mas só preciso saber qual é daquela magrela estranha que estava com ela... – Disse Eleonora mais para si mesma do que para Dafne.
- Ela quer a Jenifer, Léo – Disse Dafne – Vai deixar ela roubar a Jenifer de você?


- Minhas suspeitas nunca são infundadas – Disse Josias em voz alta, fazendo Gabrielle dar um pulo pra trás.
Jenifer virou-se para Josias, seu rosto espantado.
- Agora fodeu – Murmurou Gabrielle puxando Jenifer para perto.
- Você – Disse ele apontando para Gabrielle – Você eu já sabia que era uma perdida, devassa. E você – Agora seu dedo apontava para Jenifer – Pensei que fosse coisa da minha cabeça, no mundo de hoje é tão “normal” (mesmo que não deveria ser) ser assim... Como vocês. Mas minhas suspeitas sempre estão certas.
- Olha tio, a Jenifer, ela não tem nada haver com isso... – Gabrielle tentou se explicar.
- Pegue suas coisas e vai embora da minha casa – Ordenou Josias com uma voz assustadoramente calma – Quando eu subir não quero ver você lá.
Jenifer atendeu ao pedido de prontidão e já ia para o interior do edifício quando a mão de Gabrielle a fez parar.
- Ela não tem pra onde ir, por enquanto pelo menos – Começou a dizer Gabrielle entre os dentes – Cansei de ficar calada. Você seu religioso de merda se acha superior e o salvador de almas perdidas, quando na verdade não passa de um alienado e babaca.
- Para – Pediu Jenifer em vão.
- Por que é que você não se importa com quem mata gente inocente? Por que não se importa com quem abandona filho na rua, maltrata outras pessoas, rouba, estupra...? A gente não está fazendo nada de errado. Isso interfere na sua vida? – Continuou a despejar Gabrielle.
Josias ia dizer algo. Mas os filhos, a mulher o irmão e a cunhada já estavam ao redor se perguntando o porquê da confusão.
- Se isso for pecado, quem vai pro inferno vai ser a gente e não você – A voz de Gabrielle foi se tornando mais alta e esganiçada. Sua mãe aflita pedia o silêncio, mas ela não se calou – Pecado é matar, roubar, fazer o mal a outras pessoas... A gente não está fazendo mal a ninguém.
- Por favor, vamos continuar essa conversa lá em cima – Pediu Antonieta agoniada.
- Não tia, eu vou embora e a Jenifer vem comigo – Proclamou Gabrielle.

Capítulo 296 ♥

- Não... – Murmurou Jenifer de testa colada com Gabrielle – Olha, minha vida está uma bagunça, e você sabe que não quero me envolver com ninguém, não posso.
- Mas você viu que ela já tem outra pessoa, você mesma viu – Contestou Gabrielle agora puxando Jenifer pela cintura – Se ela pode ter outra pessoa, você também pode.
- E se elas não estavam juntas? Eu não sei, pode ter sido um engano – Rebateu Jenifer – Não deixei ela se explicar...
Gabrielle se afastou irritada.
- Jenifer, eu estou louca por você – Confessou.
- Você está, a Eleonora é louca por mim. Sua loucura vai passar, a dela não – Replicou Jenifer.
- Não vai passar Jenifer, você não entende? Faz tempo que não me sinto assim... – As mãos de Gabrielle agora entravam nos bolsos de seu jeans rasgado – É uma luta perdida, não é? Eu querer ficar com você?
Jenifer assentiu.

- Eu só quero um beijo, só pra saber como é... – Os olhos de Gabrielle eram suplicantes.
“É só um beijo” Pensou. Jenifer atendeu ao pedido.


Eleonora chegou ao edifício de Abelle já no final da festa. Encontrou o salão já meio vazio. Mas ainda assim ficou intimidada pelos olhares curiosos. Apressou-se em buscar por Jenifer ou Abelle. Ao ver a figura pequena de Eleonora, Abelle arregalou os olhos.
- Cadê a Jenifer? – Perguntou Eleonora.
- Você veio falar com ela? – Perguntou Abelle.
- Vim.
- Ela... – Abelle olhou em volta tentando se lembrar por onde Jenifer saíra – Acho que ela foi pro playground. Fica por ali. – Apontou para a porta a suas costas.
Eleonora agradeceu e foi, passou pela porta de correr de vidro grande e aberta pela metade – mesma porta que minutos antes Josias também passara.
Quando Eleonora sentiu seus pés na areia fofa do playground, desejou que a areia fosse movediça e a sugasse para bem longe dali.
Do ângulo que via, uma outra garota beijava com vontade Jenifer e ela parecia retribuir do mesmo modo.
Um homem alto de cabelos grisalhos acompanhava a cena mais adiante, e caminhou em passos firmes para mais perto das duas. Mas Eleonora já vira demais, não queria saber o que ele queria com as duas.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Capítulo 295 ♥

A festa de Enzo corria animada no salão de festas do edifício. Dj tocando músicas eletrônicas, boa comida, luzes coloridas refletindo no globo prateado que ficou no centro do salão... Mas a cabeça de Jenifer estava viajando pra longe dali, num bairro distante, entre prédios, exatamente no décimo andar de um deles.
Jenifer estava sentada em uma mesa junto de Abelle e Alessa, faziam comentários sobre a festa quando Gabrielle apareceu, junto de seus pais.
- Você não disse que ela não vinha? – Perguntou Jenifer para Abelle ao avistar Gabrielle.
- Achei que não, mas... Tenho certeza que ela veio por sua causa – Respondeu Abelle.
- Ninguém merece – Murmurou Jenifer bebericando um pouco de uísque com refrigerante.
Alessa riu.
Gabrielle logo foi até a mesa da prima, seu sorriso iluminando um pouco mais o salão.
- Posso me sentar aqui com vocês? – Perguntou Gabrielle já puxando a cadeira.
Do outro lado do salão o pai de Abelle acompanhava tudo em silêncio, seus olhos registrando cada movimento da sobrinha.

- A festa era hoje? – Perguntou Eleonora para Dafne, enquanto calçava seus tênis.
- É. Deve ter começado, quando liguei pra Jenifer ela me disse que estava enchendo bexigas – Respondeu Dafne – Você vai lá, mesmo?
- Por que esse “mesmo”? Até ontem você disse pra eu ir falar logo com ela pra não deixar pra depois, agora tá dando pra trás? – Perguntou Eleonora encarando Dafne.
- Ah, é só que... Uma festa, a família da Abelle vai estar lá, não sei...
- Dafne, eu não vou conversar com ela lá, vou “sequestrar” ela, entendeu?
- Aaaah, entendi agora. Pelo visto o apartamento hoje vai ser só meu, né? – Brincou a ruiva arrancando risadas de Eleonora.
- E ai, como estou? – Perguntou Eleonora exibindo-se para Dafne.
- Linda – Respondeu sorrindo a ruiva – Não vejo a hora de ter vocês de volta.
- Nem eu – Respondeu Eleonora olhando pela janela a lua grande e cheia.

O relógio marcava 23h30. Todos se juntaram em volta da mesa para cantar parabéns para o irmão mais novo de Abelle. Gabrielle ficou atrás de Jenifer, apoiando suas mãos magras na cintura dela. Mas o gesto se desfez quando Gabrielle viu que Josias a observava intrigado.
Os parabéns ecoaram salão afora. O bolo começou a ser cortado, a música recomeçou, dessa vez mais baixa e lenta, algumas bexigas foram estouradas e Jenifer pegou seu pedaço de bolo e foi para o playground do edifício. Sentou-se num balanço e começou a se balançar vagarosamente. Olhando para o relógio no pulso, se perguntando se Eleonora estava dormindo ou em volta de seus livros de medicina.
Seus devaneios foram interrompidos por Gabrielle, que sentou no balanço ao lado.
- Está pensando no que? – Perguntou Gabrielle para Jenifer.
- Pensando que daqui uns dias é o aniversário dela – Respondeu Jenifer separando o glacê do restante do bolo.
- A sua ex?
- Ex-futura – Corrigiu Jenifer.
- Quer esquecer isso?
Jenifer olhou com estranheza.

Gabrielle levantou do balanço, estendeu a mão para Jenifer que aceitou o gesto. O vento trazia a música lenta de dentro do salão.
Jenifer sabia onde aquilo iria dar, mas continuou no jogo de Gabrielle só pra ter certeza.
Gabrielle afastou os cabelos de Jenifer do rosto, suas mãos magras puxaram o rosto de Jenifer para mais perto.

Capítulo 294 ♥

- Eu beijei a Marcela – Começou a dizer Eleonora – E foi só isso. A gente... A gente trocou uns carinhos, adormecemos no tapete, mas só isso. Eu juro.
- Mas não era o que parecia – Respondeu Dafne – Sinceramente, Léo...
- Eu tô sinceramente arrependida de ter beijado a Ma, por que ela me vê além de uma amiga e toda essa dedicação, esse carinho que ela demonstrou ter... – Eleonora suspirou jogando o corpo no sofá.
- Ela veio aqui pra conversar com você, sabia? Ela disse que queria se acertar e daí você vem e me dá uma mancada dessas? Agora a Jenifer está achando, e com toda razão, que você e a Marcela estão juntas. A Jenifer está muito arrependida por ter te traído, está devastada e só quer você de volta.
Dafne contou dos inúmeros fora que Jenifer deu quando saíram para o bar da Augusta, deixando Eleonora ainda mais amargurada.
- Vai logo atrás dela, Léo. Do mesmo jeito que a Marcela te ronda, tem uma garota que está rondando a Jenifer – Alertou Dafne – Logo as aulas voltam, e como é o último semestre, ela vai ficar praticamente inacessível, por que ela me disse que vai ter de arrumar um estágio, então...
Eleonora ouviu tudo atentamente, sem contestar uma sílaba.
- Já a perdi uma vez, não posso perdê-la novamente – Disse Eleonora depois de um minuto processando as informações. – Você sabe onde a Abelle mora? – Perguntou a Dafne.


Uma semana depois de sentir mais uma vez Eleonora escapar entre os dedos, Jenifer estava na sala de Abelle ajudando para os preparativos da festa de aniversário de Enzo, o irmão mais novo de sua amiga.
Jenifer, Abelle e Alessa enchiam as bexigas ao som de Elvis Presley, Enzo era apaixonado pelo rei do rock.
- “Love me tender, Love me sweet, Never let me go.You have made my life complete, And i love you so.” – Cantarolava Jenifer baixo, sentindo os olhos marejarem.
Jenifer amarrou a boca da bexiga e a colocou de lado.
- E se elas... E se elas estiverem juntas? – Perguntou Jenifer um pouco mais baixo.
- Você nem deixou ela se explicar, ela não te deixou explicar antes de te colocar pra fora de casa e isso está virando uma bola de neve de mal entendidos e desencontros – Concluiu Abelle. – Só uma conversa muito bem detalhada vai dar um jeito nessa situação, ou vocês voltam ou ficam separadas de vez.
- Prefiro a primeira opção – Disse Jenifer – E se ela disser que já seguiu em frente? Disser que ela e aquela outra estão juntas?
- E se ela não estiver com a Marcela? – Indagou Abelle – Amiga, presta atenção, as coisas não vão se resolver sozinhas, vocês tem que conversar.
- Mas ela não veio atrás de mim pra isso – Replicou Jenifer amarrando a boca de uma bexiga.
- Por que talvez ela tenha cansado de correr atrás de você.
- Ela não é assim...
- Talvez tenha se tornado. Se quiser ela de volta, vai ter que correr, amiga. E acho que não é pouco.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Capítulo 293 ♥

Jenifer tentou ir para mais perto, mas Dafne a conteve segurando-a pelo pulso. Lágrimas de ódio escaparam de seus olhos decepcionados.
Eleonora abriu os olhos para a luz difusa, a cabeça um pouco confusa. Sentou-se no tapete e esfregou os olhos ao reabri-los seu coração acelerou. Permaneceu imóvel diante da figura de Jenifer. Olhou para Dafne confusa.
- Parece que você já está seguindo em frente, não é? – Acusou Jenifer tentando conter as lágrimas, seu tom era raivoso – Quem sabe não está fazendo isso bem antes de...
- N-não, não aconteceu nada – Respondeu Eleonora assustada, levantando-se. Esquecendo da raiva que ainda remoía em seu coração.
- Não é isso que parece! – Gritou Jenifer.
- Calma – Pediu Dafne, mas outro grito de Jenifer trovejou pela sala, acordando Marcela.
- O que está acontecendo? – Perguntou Marcela apertando os olhos para luz incomoda.
Ao ver o rosto de Jenifer vermelho de fúria, assustou-se.
- A gente não fez... – Tentou dizer Eleonora, mas Jenifer a interrompeu.
- Eu não quero ouvir mais nada, não acredito em você, n-não quero te ver tão cedo... – E saiu correndo do apartamento, descendo as escadas de dois em dois degraus.
- Que vacilo hein, Eleonora? Que vacilo – Condenou Dafne indo atrás de Jenifer.
Extremamente abalada Eleonora sentou no sofá. Marcela sentou-se ao seu lado, as mãos sobre o colo.
- Me desculpa Ma, mas a gente... Droga. – Se condenou Eleonora, confusa – Olha, eu... Eu não quero te magoar ainda mais, não posso te prometer nada, minha cabeça está a um milhão por hora... Não sei mais o que dizer – Terminou por fim.
- Por que não me surpreendo nem me decepciono? – Se questionou Marcela mais para ela do que para Eleonora – Eu sei, só retribui o beijo por que era tudo que sempre quis, mas eu sei, depois de ver essa cena, tenho certeza que eu e você... Você e eu, não vai acontecer. Nada além de amizade.
Eleonora olhou chorosa para Marcela, se sentindo um ser muito pequeno por ter feito tão mal a uma pessoa que tinha tanta consideração.
- Me desculpa, me perdoa Ma... Por favor – Pediu Eleonora com a voz fraca – Ah meu Deus, nunca me senti tão perdida.


Jenifer passou correndo pela portaria, Dafne a alcançou na calçada.
- Não acredito que ela fez isso, e-ela... E tudo que ela dizia sentir por mim e o quanto ela disse que me amava? – Começou a dizer Jenifer ainda bufando de raiva – Era tudo mentira então? Achei que ela fosse pelo menos querer me escutar, a gente tem muito que conversar, mas pelo visto...
Dafne puxou Jenifer e a abraçou.
- Você vai desistir de reconquistar ela? Vai entregar ela de mão beijada? – Contestou Dafne segurando Jenifer pelos ombros – Amiga, vocês são aquilo que chamam de “alma gêmea”. Não deixa isso que você viu na sala estragar seus planos.
- Não sei mais de nada, Dafne. Vou embora, amanhã a gente se fala tá? – Jenifer nem deixou Dafne responder e subiu a rua.
Dafne voltou pro apartamento e encontrou apenas Eleonora sentada no sofá, Marcela parecia ter ido embora. Talvez se desencontraram nos elevadores.
Dafne sentou ao lado de Eleonora, com a voz firme exigiu:
- Agora me diz o que aconteceu, vou te escutar.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Capítulo 292 ♥

- Você tem certeza que quer ir? – Perguntou Dafne receosa.
- Eu cansei de esperar por ela, pelo jeito ela não virá atrás de mim como já fez muitas vezes. Sei que errei, quero consertar o erro e não vejo mais por que esperar por isso – Explicou Jenifer em cólicas.
Gabrielle pareceu uma flor a murchar.
- Ah, me desculpa, mas não vou poder te levar, lembrei que tenho que buscar minha irmã no balé – Mentiu olhando para o relógio – As horas voaram e eu não percebi. A gente se vê por ai.
Jenifer e Dafne caminharam para fora do parque enquanto Jenifer ligava para Abelle avisando que se fosse voltar pra casa, voltaria mais tarde que imaginou, mas que talvez não voltasse. Esse era seu verdadeiro desejo, não voltar.
Durante o trajeto Jenifer ficou muito quieta com seus pensamentos, repassando a melhor maneira de abordar Eleonora, como falar o quanto estava arrependida...
Quando pararam em frente ao Bossa Nova o coração de Jenifer começou a bater na garganta. Entraram ainda silenciosas.
O silêncio foi rompido por Rafael.
- Você ainda existe! – Exclamou o rapaz feliz, abraçando Jenifer – Você vai embora, não dá noticias, esquece dos amigos...
- Desculpa Rafa – Pediu Jenifer um pouco sem ar devido ao abraço apertado – Eu não estava com muita vontade de viver esses dias, mas agora estou bem, talvez fique melhor logo mais.
- Vai voltar? Acertaram-se?
- Ainda não... Vim pra isso. Ela está em casa? Você a viu?
- Eu não fiquei na portaria hoje – Respondeu Rafael virando-se para o pai sentado na guarita – A Léo saiu?
- Não, ela não passou por aqui hoje, ficou lá em cima o dia todo com uma moça... – A voz de Genézio foi sumindo, arrependendo-se de dizer “com uma moça”.
- Moça, que moça? – Perguntou Jenifer exaltando-se.
- A Marcela, suponho – Respondeu Dafne – Vamos, amiga, relaxa – Dafne puxou Jenifer pela mão, arrastando-a para o elevador que acabara de parar no térreo.
De longe Rafael desejava boa sorte, fazendo figa.
A subida até o décimo andar pareceu durar horas, dias... Quando o elevador parou o coração de Jenifer parou junto. O que esperar ao atravessar a porta?
Jenifer respirou fundo e esperou Dafne abrir a porta, que estava destrancada.
Quando a porta foi aberta o cheiro familiar da sua casa deixou Jenifer com um gosto de nostalgia na boca. Mas esse gosto de nostalgia foi logo substituído pelo gosto de bile que lhe subiu a garganta ao ver Eleonora e Marcela deitadas no tapete em que outrora ela e Eleonora haviam se amado.

domingo, 17 de abril de 2011

Capítulo 291 ♥

Marcela adormeceu no tapete da sala, enroscada no corpo de Eleonora. Eleonora por sua vez agora tinha os pensamentos fervilhando como água em ebulição.
Seu excesso de carência, sua tristeza desmedida, a dedicação de Marcela para com sua agonia extrema, fez Eleonora perceber que o que acabara de deixar acontecer era um erro. Daria a Marcela uma esperança fina e frágil de algo que não poderia passar do que tinha acontecido na sala. Por mais que ainda estivesse machucada e por mais que a dor às vezes a sufocasse, Eleonora sabia que contava secretamente as horas para ter Jenifer de volta. Por mais que lutasse contra o orgulho ferido, às vezes a vontade de ir atrás de Jenifer a deixava zonza.
Seria a segunda vez que Eleonora quebraria o coração de Marcela.


- Hoje você parece mais triste – Comentou Gabrielle olhando Jenifer.
- Ah, normal, a tristeza fez morada em mim – Respondeu tranquilamente.
- Nossa, que drama – Brincou Dafne cutucando Jenifer, arrancando um sorriso – Tudo vai passar, tudo vai melhorar, logo logo você e a Léo estão de volta vivendo felizes com seus filhos.
Gabrielle torceu o nariz ao ouvir o nome de Eleonora, Jenifer tentou se agarrar a esperança lançada nas palavras da amiga.
- E se não der certo com ela, vai dar com qualquer outra gata – Disse Gabrielle passando a mão no rosto de Jenifer.
- Outra garota, outra garota – Repetiu Jenifer impaciente – Ninguém entende que não quero outra quero a minha mulher – Jenifer levantou do gramado e começou a andar ao redor do lago.
Gabrielle e Dafne levantaram junto. Gabrielle tentando contornar a situação.
- Desculpa, eu realmente não sei o que aconteceu e fico me intrometendo... Vamos mudar de assunto então.
- Tenho que ir embora, faz tempo que estou fora de casa... – Jenifer lembrou-se da sua antiga casa – Literalmente.
- Quer que eu te leve? – Ofereceu-se Gabrielle com segundas intenções.
- Quero – Aceitou Jenifer – Mas não vou pra casa da Bel, quero me leve em outro lugar.
- Onde? – Perguntaram Dafne e Gabrielle juntas.
- Pra casa – Respondeu Jenifer sentindo algo muito forte e grandioso dentro de si – Me leve pra minha verdadeira casa.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Capítulo 290 ♥

Do outro lado da cidade Dafne e Jenifer caminhavam pelo parque Ibirapuera.
- Ela está realmente bem? – Perguntou Jenifer para Dafne.
- Ela está tão bem quanto você Jenifer – Respondeu Dafne com sinceridade – Mas às vezes não escapa da vontade de saber como você está, é difícil se desprender de velhos costumes.
- Ela pergunta de mim?
- Ela perguntou onde eu estava indo, respondi que vinha ver você e ela só resmungou um “hum”.
Jenifer e Dafne chegaram ao Planetário do Parque do Ibirapuera que estava lotado, época de férias lugares do tipo não costumavam ficar vazios. Jenifer resolveu então ir para onde apelidou de “meu canto”. Compraram sorvetes e sentaram na grama baixa em frente ao lago.
Jenifer começou a jogar pedras no lago e contemplar, absorta, as marolas que as pedras produziam ao bater na superfície da água antes de afundar.
- Achei que depois de todos esses dias ela fosse querer conversar comigo – Começou a dizer Jenifer ainda com o olhar no lago – Ela nem sequer me ligou e desde aquele dia meu celular vive ligado, mas nunca recebo nenhuma chamada e nem mensagem dela.
Os lábios de Dafne formaram um linha firme, como se ela não quisesse que algumas palavras saíssem.
- O que foi? – Perguntou Jenifer virando-se para Dafne.
- Nada – Mentiu Dafne tentando não transparecer sua insegurança.
- Pode parar Dafne, se você tiver alguma coisa pra me falar, desembucha – Exasperou-se Jenifer – Que foi? Ela tá com outra? É isso?
- Não, ela não tem ninguém, mas... A Marcela, ela não sai de lá – Avisou Dafne.
Jenifer bufou pesadamente jogando uma pedra longe.
- O que ela está fazendo lá?
- Ah, vendo se a Léo está bem, se está precisando de alguma coisa...
- Ela já tem você, ela não precisa de mais ninguém – Disse Jenifer com a voz esganiçada – Ela vai roubar a Léo de mim!!! – Gritou inconformada, lágrimas brotando de seus olhos.
- Calma, Jeni – Dafne estava assustada com a reação de Jenifer – Ela, ela... A Marcela está sendo uma ótima amiga e só isso, nunca agiu de outra maneira perto de mim, embora eu saiba que ela gosta da Léo, mas ela está respeitando muito esse momento dela.
- Respeitando pra depois virar o jogo e ficar com ela – Retrucou Jenifer – Mais idiota sou eu que fico aqui parada, achando que ela virá atrás de mim. Ela já correu muito atrás de mim e eu não tenho vergonha de admitir isso. Tenho vergonha por não ter feito o mesmo.
A revolta de Jenifer assustou Dafne.
- Todas às vezes ela que veio até mim e eu sempre fugi, fui tão grosseira, tão... Tão idiota.
- Mas dá pra entender um pouco amiga, você estava assustada no começo de tudo...
- É, talvez... – Respondeu Jenifer deitando-se no gramado, apoiando a cabeça no colo de Dafne. Seus olhos se fecharam e nenhuma das duas disse mais nada, Jenifer começava a pensar no que Dafne dissera e tentar bolar alguma ideia para conversar com Eleonora, se explicar, pedir desculpa, mas de repente ficou mais escuro por dentro, Jenifer abriu os olhos e viu que a sombra que fora projetada diante de seus olhos fechados era por que Gabrielle a encarava de cima.
- Te vi de longe, pensei e pensei e decidi vim te falar um oi, espero não ter atrapalhado nada – Disse Gabrielle olhando para Dafne.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Capítulo 289 ♥

Vinte longos dias se passaram desde que o mundo em que Eleonora e Jenifer viviam havia sido destruído.
Marcela e Eleonora haviam se aproximado ainda mais desde que tudo de ruim havia acontecido. Do outro lado da cidade Jenifer ainda lamentava a falta de Eleonora, tenho pequenos momentos de melancolia.
Naquele dia Marcela e Eleonora estavam sozinhas em casa, pois Dafne que ainda estava na capital paulista havia ido dedicar-se um pouco a Jenifer, então Eleonora e Marcela se dedicaram ao “nadismo”. O dia anterior fora atribulado no hospital e parecia que no dia tinha sido acrescentado mais dez horas sem permissão. Então o dia seguinte foi de extremo marasmo e conversa jogada fora.
Marcela levara alguns incensos e acendera um com uma essência que inebriou Eleonora, a fumava que exalava um forte e delicioso aroma de erva cidreira enchia seus pulmões acalmando-a.
- Esse cheiro é muito bom – Disse Eleonora inspirando mais forte – Dizem que incensos trazem sorte, prosperidade e coisas do tipo.
- É verdade, uma das características desse incenso é promover o encontro com o verdadeiro amor – Marcela falou sem pensar muito no que significava agora a palavra amor para Eleonora – Desculpa, Léo... Não foi minha intenção.
O ar parecia ter faltado nos pulmões de Eleonora.
Desde que vira Jenifer pela última vez no hospital, Eleonora disse que não falaria mais no nome dela nem em nada relacionado a ela daquele dia em diante, pois sempre que dizia seus olhos se enchiam de lágrimas doloridas. E ela já havia se cansado de chorar.
- Me desculpa – Pediu Marcela novamente.
- Relaxa, uma hora seria inevitável. – Respondeu Eleonora cética.
- Como você está se sentindo em relação a isso?
- Não sei, Ma, meus sentimentos andam confusos, tenho pensado muito em outra pessoa...
Marcela engoliu em seco, sentindo o coração acelerar.
- Em q-quem você anda pensando? – Quis saber Marcela sentindo a boca secar.
- Em você – Respondeu Eleonora.
O coração acelerado de Marcela a fez perder todos os sentidos por alguns segundos.
- Sabe, Ma. Tudo que você fez por mim e ainda faz, todo seu cuidado, seu carinho... – Disse Eleonora diante do silêncio de Marcela - Você está deixando de viver a sua vida pra viver a minha. Finais de semana comigo aqui, trancada nesse apartamento, você poderia se divertir, mas fica aqui comigo. Eu não sei como vou te agradecer por tudo – Eleonora chegou mais perto de Marcela e tirou seus cabelos negros de seu rosto.
Marcela encarou os olhos de Eleonora.
- Você pode me agradecer assim – Disse Marcela puxando Eleonora para um beijo.
No primeiro momento Marcela pensou em parar com o gesto, mas quando sentiu que Eleonora não estava querendo recusá-lo continuou a beijá-la de forma calma, sentindo seus lábios se mover em sincronia.
Depois de desprendem os lábios, se olharam encantadas. Marcela parecia ter alcançado as nuvens, Eleonora sorria um pouco boba. E naquele momento todos as coisas ruins que sentia pareciam ter sido dissipadas como nuvens finas.
- Você não sabe o quanto sonhei em fazer isso – Confessou Marcela beijando Eleonora novamente – E sei que depois vou me machucar, mas...
Eleonora calou Marcela beijando-lhe mais ardentemente.
- Eu não quero saber do que vem depois, quero viver esse momento, agora, com você.
E Eleonora deitou Marcela no tapete da sala, beijando-a. Sentindo o coração de Marcela martelar.

domingo, 10 de abril de 2011

Capítulo 288 ♥

Gabrielle estendeu sua mão para Jenifer que retribuiu o gesto e se desequilibrou ao sentir o corpo sendo puxado pra mais perto, Gabrielle beijara sua bochecha fazendo seu rosto afoguear ligeiramente.
Ao contrário de Abelle, Gabrielle tinha uma pele amorenada, cabelos lisos em um corte repicado moderno, em duas camadas, os olhos vivamente verdes. Tinha uma cicatriz que chamava a atenção em cima da sobrancelha direita. Era um três dedos mais baixa que Jenifer e seu estilo lembrava os roqueiros da Galeria do Rock: Muito preto, piercings, tatuagens. Mas aquele sorriso que mostrava duas covinhas dava a Gabrielle um ar de menina irresistivelmente encantadora.
- Pra onde você vai agora? Vamos fazer alguma coisa – Sugeriu Abelle animada – Faz tempo que não nos vemos.
- Eu estava indo embora, mas acho que acompanho vocês aonde quer que estejam indo – Aceitou Gabrielle de bom grado.
As quatro foram para um dos vários barzinhos que ficavam na Augusta. Sentaram em uma das mesas que ficavam na calçada movimentada.
Jenifer mal se sentou quando uma mulher negra e alta abaixou-se ao lado dela, perguntando se ela estava acompanhada e se poderiam conversar. Jenifer respondeu dizendo que não estava acompanhada e que por enquanto também não queria companhia. Aquela pergunta havia lhe trazido novamente a lembrança amarga e dolorida da falta de Eleonora. Ela precisou respirar fundo para não deixar as lágrimas escorrerem.
Gabrielle olhou o fora indignada. Abelle olhou apreensiva. Sua mão longa afagou a mão de Jenifer, confortando-a.
Durante a noite Jenifer já havia contabilizado doze foras, de mulheres de vários estilos e poderia dizer de variadas idades.
- Você tem certeza que é lésbica? – Perguntou Gabrielle achando graça dos foras que Jenifer dera – Não é possível que você seja tão exigente assim.
Uma hora seria inevitável não dar explicação.
- Gabi não...
- Deixa – Interrompeu Jenifer – Não sou exigente, é só... Não quero ficar com ninguém – Tentou demonstrar descontração e não a dor.
- Típica resposta de quem terminou um relacionamento a pouco tempo – Constatou Gabrielle acertando na mosca.
- Gabiiii – Chamou a atenção Abelle. Dessa vez um pouco sem paciência – Deixa de ser xereta.
Gabrielle apoiou o copo pela metade na mesa, olhou de Jenifer para Abelle e com a mão no queixo concluiu:
- Ah! Então você terminou mesmo um relacionamento a pouco tempo...
Jenifer apenas assentiu.
- Ah, desculpe. Bom, não tinha como eu saber e...
- Não tem problema, Gabrielle. Só peço pra não perguntar nada sobre isso – Pediu Jenifer apoiando sua mão gelada na mão de Gabrielle.
O gesto fez Gabrielle estremecer na cadeira e sorrir para Jenifer, desejando segurar a mão dela pra sempre.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Capítulo 287 ♥

Alessa olhou para Abelle que devolveu o olhar e depois parou com ele em Jenifer.
- Tá louca? Posso saber causa, motivo, razão ou circunstância para você ir embora? – Perguntou Abelle aborrecendo-se.
- Seu pai, amiga.
- Mas ele não sabe de nada, Jenifer – Tranquilizou Alessa – O papai nem desconfia.
- Acho que desconfia sim, Lê – Contrariou Abelle – Ele está bem desconfiado depois de conversar com a Jeni. Mas isso não é motivo, e além do mais, pra onde você vai? As pontes dessa cidade estão concorridas.
As três riram.
- Realmente, eu não tenho mesmo pra onde ir. Mas... Caramba, Bel, seu pai vai ficar furioso se descobrir qualquer coisa e não quero te causar problemas – Lamentou-se Jenifer preocupada.
- Você só vai me causar problemas se for embora pra onde eu não possa cuidar de você.
Jenifer abraçou Abelle em resposta as palavras carinhosas da amiga.
- Vamos sair? Eu deixo você escolher o lugar – Sugeriu Abelle.
- Cinema, quero ir mais pela pipoca amanteigada do que pelo filme – Disse Jenifer sorrindo mais uma vez verdadeiramente. – Se você quiser, pode ir também – Disse para Alessa – Até que eu fui com a sua cara, não é tão pirralha quanto a Bel me disse.
Alessa jogou um travesseiro na irmã.
- Dá próxima vez te jogo daí da janela, palhaça – Disse Alessa em tom de brincadeira.
Jenifer se deixou levar pela experiência em pipocas amanteigadas de Alessa, que jurou que a melhor pipoca era de um cinema que ficava bem no centro de São Paulo.
E Jenifer comprovou que era verdade, pois depois de assistir ao filme comprou mais um saco de pipoca em tamanho pequeno, com muita manteiga. Mesmo que não quisesse admitir, ainda era possível se divertir sem ter a presença de Eleonora, mesmo que ela ainda a sentisse a quilômetros de distância.
As três comentavam o filme que terminaram de ver quando Abelle viu um braço erguido acenando em sua direção. Ela respondeu ao gesto da mesma forma.
Jenifer olhou instantaneamente para o lado, sentindo o coração acelerar, pensando que talvez poderia ser Eleonora... Mas não era. Nunca tinha visto aquela figura antes, mas pelo largo sorriso de Abelle, ela parecia conhecer muito bem.
- Estávamos falando de você hoje – Jenifer ouviu Abelle dizer enquanto a amiga abraçava a desconhecida.
- Falando bem ou mal? – Perguntou a moça com um sorriso maior do que o de Abelle.
Quando os olhos da moça caíram nos olhos de Jenifer o sorriso largo pareceu se ampliar. Jenifer sorriu sem graça.
- Jeni, essa daqui é a Gabi, minha prima – Apresentou Abelle por fim depois de tanto apertar a prima em um abraço.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Capítulo 286 ♥

- Tudo bem, Bel. Vamos dar uma volta, parece que tá fazendo sol e... – Jenifer se interrompeu quando viu que quem estava no quarto era o pai de sua amiga e não ela – Ah! Oi senhor Josias.
- Bom saber que você está querendo sair – Respondeu Josias em tom amigável, sentando na beirada da cama.
Jenifer tentou sorrir de volta e se endireitou.
Um silêncio incomodo invadiu o quarto, Jenifer revirou os olhos esperando algumas palavras de Josias, o que aconteceu.
- Tenho te observado desde que chegou e percebo que tem alguma coisa afligindo seu coração.
Jenifer não controlou o impulso se assentir.
- Sei que não vai querer se abrir com um velho que mal conhece, mas pode abrir seu coração para Jesus, ele vai te ajudar.
- Hã?
- Você não vai à igreja, minha filha? – Josias parecia espantado.
- Não, ia quando era menor e minha avó me obrigava...
- Ah – Respondeu o homem com desapontamento ou intriga na voz – Se quiser ir comigo, quiser conversar com Deus em sua casa, eu levo você. Aqui em casa é uma luta pra levar esse pessoal pra igreja, só minha mulher vai.
- Ah... Bom, obrigada senhor Josias, mas... – Jenifer ficou desconcertada em negar o pedido – Mas eu prefiro ficar assim mesmo, não me leva a mal, mas... Não sou muito fã da igreja católica.
Josias levantou da cama com uma ponta de frustração.
- Compreendo... Mas você deveria ir pra igreja, só Deus pode aliviar a carga que está em seu coração – Disse ele por fim convencido de que a conversa não tinha surtido efeito.
“Só quem pode aliviar meu coração é a Eleonora” Pensou Jenifer suspirando pesadamente em seguida
Abelle roeu toda a unha do mindinho enquanto esperava pelo pai andando de um lado para outro. Mas se não ouviu gritos, nem xingamentos, era por que nada demais teria acontecido.
Assim que o pai apareceu na sala, Abelle correu até ele tentando não demonstrar a ansiedade.
- O que você disse pra ela? – Perguntou Abelle.
- Nada demais... Só a chamei pra ir à igreja comigo e sua mãe.
- E o que ela respondeu?
- A mesma coisa que aquela sua prima perdida respondeu – Respondeu o pai carrancudo – Espero que seja só uma infeliz coincidência.
- Seu pai não pode nem sonhar com a minha opinião sobre qualquer tipo de religião – Disse Jenifer quando Abelle entrou no quarto. Sentindo estranhamente animada, sorrindo verdadeiramente depois de tudo que aconteceu.
- Se ele souber que você é lésbica, não vai nem ligar para sua opinião sobre religião – Respondeu Abelle com o humor inverso ao de Jenifer.
- Que cara é essa?
Abelle explicou para Jenifer o que o pai lhe dissera na sala e começou a contar a história da prima para Jenifer:
- Essa minha prima é lésbica, mas os pais dela aceitam normalmente. O que fez meu pai brigar com o meu tio, por que meu pai disse que era irresponsabilidade ele se conformar com a sexualidade da minha prima. Até chegou a marcar um psiquiatra pra ela, sem autorização do meu tio. Essa minha prima era muito ligada ao meu pai, tanto que quando saíamos juntos pensávamos que éramos irmãs, tamanho zelo do meu pai por ela.
E um dia numa festa de família ela chegou junto de outra menina, resolveu contar pra família toda pra não ter que ficar repetindo a mesma coisa milhares de vezes.
Abelle parou de falar quando ouviu passos vindos em direção ao quarto, mas para seu alívio era Alessa.
- Estou contando da Gabrielle pra Jenifer – Esclareceu Abelle.
Alessa assentiu e se juntou a elas.
- Primeiro a Gabi chamou meus tios num canto, contou tudo e apresentou a Maria Fernanda. Eu já sabia e achei que ia ter uma guerra aquele dia, mas não, meus tios disseram que já desconfiavam e que a aceitaria sem complicação nenhuma. Bom, chegou a hora de falar pra família...
Alessa e Abelle se entreolharam.
- O que aconteceu? – Perguntou Jenifer completamente absorta.
- Quando a Gabi anunciou que era lésbica e que a menina que sempre a acompanhava nas festas era sua namorada, meu pai levantou da cadeira completamente perturbado e disse... – Abelle virou os olhos pro teto tentando resgatar cenas daquele dia.
- O papai disse que a Gabi era a maior decepção da vida dele – Respondeu Alessa – Que tinha ela como uma filha e que por essa consideração não ia admitir “essa safadeza", como ele mesmo dise. Sem dizer que ele disse que a ira de Deus ia cair sobre elas, que o inferno agora estava em festa por saber que receberiam no dia do juízo final mais duas perdidas.
O queixo de Jenifer caiu.
- Isso, foi isso mesmo – Respondeu Abelle voltando pro presente – Disse também que ia fazer de tudo pra separar as duas e muitas outras coisas, minha prima sofreu muito por causa do meu pai. Mas pelo menos meus tios estavam ao lado dela.
- E elas ainda estão juntas? Sua prima e a Maria Fernanda? – Quis saber Jenifer.
- Não, hoje elas não são nem amigas. A vaca daquela Mafer, é o apelido dela, traiu minha prima com um homem muito mais velho que ela – Respondeu Alessa com cara de desprezo.
Jenifer levantou da cama e olhou pela janela o sol fraco que timidamente tentava sair detrás das nuvens.
- Jeni, que foi? – Perguntou Abelle emparelhando-se a amiga.
- Não sei aonde vou, mas acho que não posso mais ficar na sua casa – Respondeu Jenifer.

domingo, 3 de abril de 2011

Capítulo 285 ♥

- Jenifer, você tem que sair dessa casa um pouco. Nossas férias começaram tem duas semanas e você só saiu daqui pra ir ao hospital, está precisando tomar um sol – Bronqueava Abelle.
Jenifer estava jogada na cama da amiga, deitada de bruços olhando os olhos verdes da amiga lhe encarando e exigindo uma reação. O máximo que conseguiu fazer foi um “joia” com o dedão e virar o rosto para o outro lado.
- Não gosto de te ver assim, não dá pra te deixar ficar assim... Jenifer, você tem que continuar a viver, não pode parar a sua vida por causa do que aconteceu.
- Eu não tenho mais motivo pra continuar, Bel. Minha vida acabou no momento em que a Eleonora me colocou pra fora de casa, ela é a única coisa que movia minha vida, agora... Não sei mais o que pode acontecer – Se lamentou Jenifer.
- Você pode conhecer outras garotas, Jeni. Pode começar de novo – Sugeriu Abelle.
- Não! – Exaltou-se Jenifer – Não me vem com essa história agora, eu não quero outra garota eu quero a minha mulher, quero a Eleonora de volta.
Abelle levou o dedo indicador a boca pedindo silêncio, pareceu ouvir passos no corredor. Caminhou até a porta e depois de alguns minutos ouviu a voz grave do pai chamar pela mãe. Abelle encostou a porta sentindo o coração acelerar.
- Que foi? – Perguntou Jenifer olhando a ligeira palidez no rosto da amiga.
- Meu pai passou aqui, tomara que não tenha ouvido nada.
- E tem problema se ouvir?
Abelle sorriu de nervoso.
- Ele não sabe que você é lésbica e nem pode saber, meu pai é uma pessoa muito boa, um coração do tamanho do mundo, mas é muito religioso, é contra tudo que vai contra o que ele aprendeu. E se ele sonhar que você está aqui por que sua mulher te colocou pra fora de casa, talvez não só você e também eu vou pra fora de casa – Explicou Abelle.
Na sala os pais de Abelle conversavam.
- Essa amiga da Abelle, a Jenifer, até agora não entendi por que ela não volta pra casa – Comentava o pai de Abelle.
Antonieta engoliu em seco e tentou formular uma resposta rápida e convincente, mas não conseguiu.
- Ah! Eu também não sei, a Bel não quis falar muito sobre o assunto – Disse Antonieta despreocupada.
- Hum – Murmurou o marido pouco convencido – Ela é casada não é? Vi a aliança na mão dela.
- É sim.
- E o marido dela não se importa em ter a mulher fora de casa sem dar satisfações?
- Manhê, fala pro Enzo devolver o meu celular e parar de fuçar minhas mensagens? Que saco, garoto! – Reclamava Alessa que adentrou a sala correndo atrás do irmão tentando pegar o celular.
Antonieta agradeceu pela interrupção.
Abelle saiu do quarto e caminhou normalmente até a sala, sentindo que tudo ainda estava em ordem, excluindo a discussão infantil dos irmãos. Quando voltava para o quarto, sentiu a mão do pai pesar em seus ombros.
- Sua amiga cadê? – Perguntou o pai fazendo Abelle virar de frente para ele.
- Tá no quarto.
- Ela vai ficar trancada nele até quando? Vai ficar doente desse jeito, vou falar com ela...
- Não, pai... – Tentou argumentar Abelle, mas o pai já tinha passado pela porta do quarto, e para seu desespero, ouviu o barulho conhecido da porta se fechando.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Capítulo 284 ♥

Abelle engoliu em seco, o corte na mão de Eleonora começou a latejar. Cambaleante Jenifer andou até Eleonora que ficou estática e pálida, parecia ter visto um fantasma. Desejara ver um fantasma do que Jenifer.
- Fiquei sabendo que você machucou a mão – Começou a dizer Jenifer em frente à Eleonora, segurando o impulso de pular em seu colo – Está tudo bem?
Eleonora ainda paralisada desejou que Jenifer não tivesse percebido o quanto havia mexido com ela. O peito de Eleonora subia e descia numa respiração descompassada, estava começando a se sentir sufocada. Procurou com os olhos algum sinal de seu carro, mas por algum motivo, Dafne ainda não aparecera.
Jenifer se aproximou mais alguns pequenos passos, ficando próxima o suficiente para sentir o perfume que o vento leve trazia de Eleonora.
- Como você machu... – Tentou perguntar Jenifer estendo a mão para pegar na mão machucada de Eleonora, mas Eleonora tirou a mão abruptamente, fazendo uma careta de dor.
- Eu costumo me afastar de coisas que me dão nojo... – Disse Eleonora se afastando – Ou pessoas – Completou quando enfim viu seu gol preto parar na porta do hospital.
As palavras de Eleonora transpassaram Jenifer como uma lâmina afiada, cortando a carne e fazendo sangrar excessivamente.
Pouco depois a mãe de Abelle chegara para buscá-las.
Jenifer afundou no banco detrás do carro e ficou com os olhos fixos no céu cinza, desacreditando que esteve tão perto de Eleonora e que não pode fazer nada, que Eleonora parecia estar diante de uma estranha.
Entrando na garagem do Bossa Nova Eleonora também se sentia como Jenifer, estranha.
- Está se sentindo bem? – Perguntou Dafne sentindo a quietude de Eleonora.
- Ela estava tão pálida – Murmurou Eleonora se lembrando do rosto de Jenifer – Olheiras profundas, parece que emagreceu de um dia pro outro...
- Ela está bem, Léo. Aquela amiga dela está cuidando bem dela e lembra de que você tem que se preocupar com você agora – Ressaltou Dafne destrancando a porta do apartamento.
Não muito longe dali Jenifer chegou à sua nova-provisória casa e foi direto para o quarto, sentindo-se ainda um pouco fraca, olhando para a marca que ficara na dobra do braço onde a enfermeira furou para colocar o soro.
Na cozinha mãe e filhas preparavam o almoço quando Alessa, irmã de Abelle perguntou:
- Afinal de contas, o que é que aconteceu com a sua amiga, Bel?
Abelle sentiu a faca escorregar da carne que cortava e a repousou na tábua virando-se de frente para irmã.
- Vocês não vão comentar nem com o Enzo e muito menos com o papai, ok?
- É algo muito grave? – Perguntou a mãe de Abelle abaixando o fogo para não deixar queimar o arroz.
- Não é grave, mas se o papai souber não vai gostar nada – Disse Abelle – E o Enzo é muito criança ainda e fofoqueiro não sabe guardar segredo.
Alessa e a mãe assentiram.
- A Eleonora, esposa da Jenifer, a expulsou de casa.
- Que? E-ela é lésbica? – Gaguejou Alessa incrédula.
- Agora entendi por que seu pai não pode saber... – Comentou a mãe voltando sua atenção para panela.
- Você não vai contar a ele, né mãe? Por favor, a Jeni não tem pra onde ir, elas nem são daqui como disse pra senhora... – Começou a dizer Abelle, mas a mãe a interrompeu.
- Tudo bem, eu não vou dizer nada ao seu pai, pode ficar tranquila.
O pai de Abelle era um homem de coração enorme, bondoso e que sempre poderia se esperar ajuda caso fosse necessário. Apesar de sua extrema bondade era impiedoso quando algo que julgava “fora do normal” chegava aos seus ouvidos. Quase um fanático da religião católica, Josias não admitia nada que fosse contra as suas crenças e nisso estava incluído a homossexualidade.