Capítulo 260 ♥

Eleonora chegou ao hospital parecendo um boi bravo. Soltando o ar quente dos pulmões com raiva pelo nariz gelado. O hospital estava estranhamente movimentado naquele domingo de inverno. Enquanto lia o quadro de cirurgias, sentiu Marcela passar atrás de si, seu perfume doce inconfundível marcando o território.
- Ma, preciso conversar com alguém. Acho que meu mundo está desabando – Começou a dizer Eleonora.
Marcela a ignorou, parecia mais brava que Eleonora.
- Ma, você me ouviu?
Marcela continuou ignorando-a e saiu como se ninguém estive ali. Eleonora sentiu uma pontada no coração. “Será que os problemas de Marcela tinham saído do controle?”
Logo em seguida Eleonora ficou sabendo por outro enfermeiro que Marcela havia pedido para que a mudassem de andar. Ao questionar o motivo o enfermeiro não soube responder. Eleonora ficou ainda mais brava, pois Marcela não dissera nada a ela. Esperaria até ter uma oportunidade em meio aquele domingo atribulado para falar com ela.
Marcela um andar abaixo sentia a todo instante vontade de chorar. Mas se ficasse no mesmo andar que Eleonora, esbarrando com ela a qualquer momento, sentindo a presença e o cheiro dela, poderia machucá-la mais do que já estava machucada. E naquele momento só pedia que Eleonora não conseguisse nem um espaço para tirar uma pausa para tomar um café e que se conseguisse que fosse num momento em que Marcela não estivesse na lanchonete. Mas alguém lá em cima parecia estar conspirando contra Marcela.
- Tô precisando de você – Marcela ouviu a voz chorosa de Eleonora entrando por seus ouvidos como uma música que lhe trazia uma lembrança ruim. O café amargou na boca.
- Desculpa, mas agora estou com pressa – Marcela não olhou para Eleonora. Mantinha seu olhar preso ao chão, como se olhar para Eleonora fosse uma arma letal.
Eleonora saiu ao encalço de Marcela, quase correndo para alcançá-la. Marcela tentava fugir o mais rápido possível, mas não conseguira. Eleonora agarrou seu braço e a arrastou para dentro de um quarto onde tinham alguns materiais cirúrgicos. Acendeu a luz ao seu lado e colocou Marcela contra a parede.
- O que eu fiz pra você? Por que você está tão grossa comigo de uns dias pra cá? Por que mudou de andar?
Os olhos de Marcela começaram a marejar de dor, estava arfante o ar parecia sumir lentamente.
- Me responde – Insistia Eleonora.
- Chega! – Gritou Marcela – Chega... Eu vou explodir, não dá mais...
- Não dá mais o que, Ma? O que aconteceu? É sobre seu problema na família?
Marcela deu um sorriso entre as lágrimas.
- Meu problema de família não é de família, meu problema é você. É você – Vociferou Marcela tentando controlar as lágrimas.
Eleonora esperou mais um pouco para entender o que ela tinha haver com as lágrimas da amiga.
- Eu te amo Eleonora, eu te amo demais. Eu não sei mais o que fazer pra acabar com isso, parece erva daninha que toma conta do jardim. Eu arranco, mas ai cresce em algum lugar, eu arranco e cresce em outro lugar...
Agora que estava entendo, Eleonora prendeu a respiração assustada.
- Eu não sei mais o que fazer pra te afastar de mim. Mudar de andar não ajudou em nada, por que eu penso em você todos os segundos do meu dia. Você me faz bem mesmo me fazendo mal, isso é tão estranho... E eu não consigo mais esconder minha vontade de ter você pra mim, mesmo que seja por míseros minutos. Toda vez que te vejo, tenho vontade de beijar você, d-de fazer amor com você. Mas eu não faço isso por que te amo. E por te amar é que te respeito e até te ajudo com os problemas que tem tido com a Jenifer – Marcela falava sem pausas, as lágrimas escorrendo por seu rosto. Seus olhos em carne viva – Só que está se tornando pesado demais pra mim. Tudo que eu quero dizer é o contrário daquilo que te digo, contrário aos meus conselhos... Eu te amo, Léo. Eu te amo muito, mesmo.
Eleonora buscava palavras certas para dizer a Marcela sem machucar, mas naquele momento parecia a coisa mais difícil a se fazer.