Capítulo 265 ♥

Jenifer levantou sua mão na altura dos olhos e mordeu os lábios.
- Esqueci na casa da Bel, a gente estava fazendo... – A cabeça de Jenifer falhou na hora de mentir. -... Bolinhos de chuva e pra não sujar eu tirei e devo ter esquecido em cima da pia da cozinha ou do banheiro.
- Hum – Resmungou Eleonora voltando pra dentro do apartamento, braços cruzados para se proteger do frio. Segura de que Jenifer mentira, mais uma vez.
Jenifer esperou Eleonora se afastar e ligou para Kátia minutos depois, pedindo para que levasse sua aliança na faculdade no dia seguinte. Jenifer olhava a marca da aliança em seu dedo e recordações fortes invadiram seus pensamentos. Lembrou-se de cada segundo com Eleonora, lembrou-se do primeiro dia que a viu, da primeira vez que seu coração bateu diferente por ela, do medo que sentiu em assumir aquele sentimento, do que teve que enfrentar para ficar com ela... Será que tudo aquilo não valeu de nada? Será que uma aventura pesava mais do que toda a história das duas?
Eleonora fazia um chocolate quente quando ouviu os passos vacilantes de Jenifer. Estava mexendo o líquido viscoso numa xícara decorada em preto e branco, lembrava a pele de uma zebra. Jenifer parou ao seu lado, seus dedos gelados levaram uma mexa do cabelo de Eleonora para trás da orelha.
Os lábios de Jenifer tocaram com amor a bochecha rosada de Eleonora. Eleonora fechou os olhos tentando se lembrar como era receber um carinho de Jenifer que há algum tempo estava tão diferente. Sua mão parou de mexer o chocolate quente e afagou os cabelos de Jenifer. Jenifer tirou a mão de Eleonora de seus cabelos e a colocou em sua cintura, pegou a outra mão e colocou do outro lado. Ficaram abraçadas minutos a fio, sem dizer uma única palavra.
- A gente vai ficar bem, não é? Independente do que esteja acontecendo? – Perguntou Jenifer com medo, arrependimento, dor, amor e vários sentimentos misturados na voz.
Eleonora apertou Jenifer em seus braços.
- Eu não sei mais de nada – Respondeu Eleonora.
Não era a resposta que Jenifer esperava, mas foi o mais próximo que Eleonora conseguiu chegar.


O caso com a Kátia parecia ter perdido metade daquele fogaréu que tinha no começo, parecia estar ficando menos caloroso e mais monótono e quando Jenifer reivindicava um gesto a mais de carinho percebia que Kátia se esquivava de várias de formas. Viu como saída tentar pegar o que era seu de volta, mas o caminho não era tão fácil.


Um, dois, três, quatro, cinco dias se passaram desde que Marcela vira a cena de Kátia e Jenifer no portão. As fotos ainda continuavam no celular e Marcela via todos os dias, se prometendo de que daquele dia não passava e que ela contaria a verdade. Marcela não via na traição de Jenifer uma forma de ter Eleonora para ela, não de imediato.
Só precisava reunir força e coragem pra olhar Eleonora nos olhos novamente sem sentir o coração disparar.
O expediente terminara e Eleonora saía do hospital rumo ao seu apartamento em Paraíso quando ouviu uma voz chamar seu nome. Ao se virar para saber quem era Eleonora abriu um sorriso que há dias não dava. Um sorriso largo, capaz de iluminar aquele bairro inteiro.
- Oi – Cumprimentou Marcela sem jeito evitando olhar nos olhos de Eleonora.
Eleonora tentou conter a felicidade de ter Marcela diante de si, mas era difícil.
- Ma, como você está? Tudo bem?
- Estou bem. Será que a gente pode conversar? – Se titubeasse um pouco não contaria nada. Então Marcela resolveu ser objetiva.
- Claro que sim! – Exclamou Eleonora alegre.
- Eu só preciso saber de uma coisa antes: Você confia em mim? – A voz de Marcela mudou o tom, deixando o ar pesado.
- Fala logo, você está me deixando um pouco aterrorizada – Disse Eleonora com um meio sorriso rápido.
- Responde! – Exigiu Marcela.
- Claro, Ma. Eu confio muito em você, e você sabe que é verdade.
Marcela começou a sentir um leve tremor interno, sua boca de repente ficou seca.
- A Jenifer, e-ela...
- O que aconteceu com a Jeni? – Interrompeu Eleonora tropeçando nas palavras.
- Nossa Marcela, você não pode contar isso assim, no meio da rua – Disse Marcela recriminando a si mesma – Onde a gente pode conversar? – Se perguntou olhando ao redor.
- Tem aquele barzinho ali embaixo – Sugeriu Eleonora ansiosa.
- Não, tem muita gente. – Marcela pensou por mais alguns minutos – Vem comigo.
E Marcela levou Eleonora para algumas ruas à frente. Onde havia uma praça iluminada com luzes brancas e que estava vazia.
- Senta e por favor, Léo, por favor – Pediu Marcela olhando Eleonora nos olhos de forma intensa – Tenta manter a calma.
O pé de Eleonora começara a bater no chão repetidamente. Uma ansiedade violenta bombeando seu coração.