Capítulo 264 ♥

Mesmo que doesse como lâmina cortando a carne se manter afastada de Eleonora, Marcela estava conseguindo tirar de letra essa dolorosa tarefa. Pedira ao chefe que a colocasse de volta ao andar que sempre esteve, pois não aguentava ouvir o choro constante de crianças. E Marcela voltou a conviver com
Eleonora todos os dias, mas sem dizer uma palavra, um simples olhar deixava Marcela tonta.
E Eleonora não tentava se reaproximar por mais que precisasse do colo de Marcela, sabia o quanto sua presença doía.
Alguns dias foram assim, até que algo que Marcela vira a obrigou engolir a dor.
Era começo de noite quando Marcela voltava do hospital. Ia novamente para o Itaim Bibi, sua amiga que outrora voltava a capital paulista a passeio, dessa vez se mudara definitivamente. Depois de dobrar o quarteirão deserto uma cena no mínimo surpreendente lhe chamou a atenção. Pra sua sorte uma grande árvore estava bem a sua frente e ela se escondeu atrás.
Uma mulher alta de cabelos pretos pouco abaixo do ombro segurava uma outra mulher pela cintura, essa um pouco mais baixa e de cabelos claros.
Quando a mulher de cabelos claros direcionou seu olhar para a direita a boca de Marcela se abriu formando um “O” e custou a fechar.
Jenifer e Kátia pareciam despreocupadas o suficiente para se beijarem livremente na rua. Kátia e Jenifer riam de algo e Kátia puxava Jenifer para beijá-la a todo instante.
Marcela sentiu uma raiva incomum e uma vontade de ir até mais perto e dar um tapa na cara de Jenifer, mas preferiu continuar ali e tirar fotos com seu celular. Xingou baixo por não poder usar o flash, deu o máximo de zoom que pode. Depois de várias tentativas algumas fotos mais nítidas saíram.
A raiva de Marcela se converteu em lágrimas de ódio. “Eu jamais faria isso com você, Léo” Dizia Marcela em voz baixa para si mesma. “Isso não vai ficar barato”


Jenifer preferiu ir para casa de metrô já que não era tão tarde. Quando Jenifer sumiu das vistas de Kátia, a professora pegou o celular.
- Oi, quero ver você, AGORA!
Após desligar o celular entrou alegremente em casa, parecendo que acabara de ganhar algum prêmio.


Eleonora ainda continuava com sua expressão triste quando Jenifer chegara. Jenifer pensou ser o único motivo para que Eleonora estivesse tristonha nos últimos tempos, mas mal sabia ela que tinha algo mais.
Ambas agora se cumprimentavam como se fossem colegas de quarto, exceto pelo toque rápido nos lábios que trocavam.
Jenifer largou seu material no sofá e deitou-se na rede que ficava na sacada. A mão esquerda pendendo para o lado de fora.
O ar frio que entrava pela janela pareceu convidativo à Eleonora que foi para fora, olhar a paisagem noturna de inverno. Eleonora recostou-se a sacada, ficando de frente para Jenifer. Trocaram seus olhares enigmáticos de sempre. Eleonora tentou sorrir, mas sentiu que aquele gesto seria falso e resolveu guardá-lo para quando sentisse que seria utilizado em uma ocasião realmente merecedora. Abaixou os olhos para arrumar a barra da calça que estava dobrada contra sua vontade e sentiu seu coração dar um forte golpe na sua caixa torácica e parar repentinamente.
Onde deveria estar a aliança de Jenifer estava apenas uma marca.
- Cadê a sua aliança? – Perguntou Eleonora secamente sem rodeios, pegando Jenifer de surpresa.