Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: julho 2010

sábado, 31 de julho de 2010

Capítulo 150 ♥

Depois do jantar Eleonora e Jenifer permaneceram mais alguns minutos na mesa conversando. Quando o silêncio começou a ficar muito grande e a troca de olhares intensa, Eleonora levantou-se da cadeira.
- Aonde você vai? – Perguntou Jenifer.
- Dar o seu presente ué – respondeu.
- Não preciso de mais presente, tudo isso que você fez... – Jenifer estava com os olhos marejados – Você já é o meu maior presente Léo.
Enquanto Jenifer caminhava até a cama, Eleonora tirava da geladeira a champanhe e a colocava num balde prateado junto com gelo.
Quando Jenifer olhou pra cama deu o maior sorriso que conseguia.
- Você não existe – disse Jenifer olhando as pétalas vermelhas espalhadas pelo lençol branco.
Eleonora beijou Jenifer e depois lhe entregou uma taça colocando o líquido espumante.
- À você – disse Eleonora brindando.
- À nós – Corrigiu Jenifer.
Antes de findar com a champanhe, Eleonora colocou as taças em cima do criado do lado da cama. Uniu as mãos de Jenifer e as beijou, com os olhos nos olhos dela pediu:
- Fecha os olhos e abre a mão.
Jenifer hesitou, mas acabou obedecendo. Esticou a palma direita e sentiu algo pousar nela. Fechou a mão e percebeu que era uma pequena caixa de tecido aveludado. Abriu os olhos e sentiu o coração acelerar.
- Abre – Instigou Eleonora.
Quando abriu a pequena caixa azul-marinho os olhos de Jenifer transbordaram.
- N-no-ssa – Disse Jenifer arfante. Um minuto depois conseguiu voltar a pensar – Isso são...
- Alianças – Concluiu Eleonora.
Jenifer pegou uma aliança com delicadeza e a colocou sob a palma esquerda. Algumas lágrimas começaram a cair e ela não conseguia dizer nada. Passou o dedo indicador sobre o objeto, como se ainda não acreditasse.
- É... Linda – disse Jenifer.
E era linda mesmo. Era uma aliança de chapa reta em ouro branco. Com uma pedra que na luz se mostrava ser furta-cor, ao redor da pedra um fio fino dava o acabamento final.
Eleonora tirou a aliança da mão de Jenifer e a colocou de volta na caixa – aquela era a aliança que Jenifer mais tarde colocaria no dedo de Eleonora – e pegou outra pouca coisa maior do que aquela. Pegou a mão direita de Jenifer que ainda estava extasiada.
- Jenifer Improtta – começou Eleonora a dizer, um pouco nervosa colocando a aliança no dedo de Jenifer – Eu, Eleonora Ferreira da Silva prometo, amá-la cada segundo de minha vida, todos os dias, todas as noites... Prometo sempre ser o seu refúgio, seu porto seguro. Prometo sempre estar ao seu lado, em todos os momentos.
Jenifer tentou enxugar as lágrimas com a mão esquerda, mas não adiantava.
- Eu amo você mais do que qualquer coisa no mundo – continuou Eleonora enquanto colocava a aliança. Parou a aliança no nó do dedo de Jenifer e convicta pediu: Quer se casar comigo?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Capítulo 149 ♥

Dafne parou o carro em frente ao prédio onde estivera mais cedo.
- Vem – disse ela abrindo a porta para Jenifer, tirando o cinto e segurando sua mão.
- Não posso tirar?
- Não – disse Rosalie – Ainda.
- Vai estragar toda a minha maquiagem – reclamou.
- Relaxa amiga. Confia na gente pô – Disse Dafne.
- Eu confio.
Rosalie passou para o lado direito de Jenifer, dando o braço esquerdo para que ela se segurasse. Dafne passou na portaria e avisou para o porteiro:
- A gente esteve aqui mais cedo, só vamos levar ela lá em cima, logo vamos descer.
- Ah, tudo bem – respondeu o cara grisalho despreocupado.
- Opa, levanta um pé que tem um degrau – avisou Rosalie para Jenifer.
- A gente está num elevador? – Perguntou Jenifer quando sentiu que estava subindo.
- Sim – respondeu Dafne.
- Humpf, andar de elevador com os olhos vendados não é muito legal – disse para si mesma.
- Pronto, chegamos – avisou Rosalie quando viu a luz do número nove no painel se apagando.
Dafne segurou a porta, e Rosalie conduziu Jenifer para fora.
As três pararam de frente ao apartamento.
Dafne do lado esquerdo, Jenifer no meio e Rosalie do seu lado direito.
- Pronto chegamos – disse Dafne. Deu duas batidas na porta, quando ia dar a terceira, Eleonora abriu. Fez sinal de silêncio com o dedo na boca e Dafne colocou a mão de Jenifer na mão de Eleonora.
- Obrigada – Eleonora disse sem som o agradecimento. Mas as meninas haviam entendido.
Dafne e Rosalie piscaram simultaneamente e desceram pelo elevador que estava parado no andar ainda, pois Dafne apertara antes de sair o botão que deixava a porta aberta.
- Eu conheço essa mão – disse Jenifer cruzando sua mão na mão de Eleonora.
Eleonora soltou sua mão para fechar e trancar a porta.
Jenifer andou dois passos imprecisos, por medo de esbarrar em alguma coisa e afastou alguma coisa da ponta do nariz.
Eleonora girou Jenifer para que ficasse de frente a ela, e tirou a máscara.
- Amor?
- Parabéns, minha vida – desejou Eleonora pegando uma rosa vermelha que estava na mesinha de centro ao lado do sofá. Eleonora beijou a rosa e entregou para Jenifer.
Jenifer jogou a pequena bolsa que estava em sua mão no sofá e abraçou Eleonora. Depois a beijou.
- Hum... Aquele gloss maldito que deixa minha boca colando – disse Eleonora rindo.
Jenifer nem ouviu o que a namorada dissera.
Pegou um fitilho dourado que parecia flutuar na frente de seus olhos e o puxou para baixo. Puxou mais um pouco e percebeu que uma bexiga de mesma cor estava amarrado a ele. Ergueu a cabeça e percebeu que vários balões decoravam o teto.
- Cadê as meninas? – Perguntou ainda hipnotizada pelos balões.
- Hoje a noite é nossa – Eleonora pegou a mão de Jenifer a girou, fazendo-a parar de frente para toda a decoração que havia arrumado junto de Dafne e Rosalie durante a tarde.
- Q-que lindo – Jenifer ficou pasmada diante da decoração.
Além dos balões no teto, velas decoravam o ambiente. Uma vela vermelha de uns cinquenta centímetros quadrada, estava acesa na mesa onde Eleonora pegara a rosa. No chão, na bancada que dividia a copa da cozinha, na mesa de centro e mais alguns lugares, velas maiores, do mesmo tamanho e menores, quadradas e retangulares iluminavam o local. Eram de variadas cores, rosas, vermelhas, azul-claras, verdes, brancas...
- Você fez tudo isso Léo? – Perguntou Jenifer ainda admirada.
- Com uma ajuda da Dafne e da Rosalie – respondeu – Gostou?
- Se eu gostei? Eu amei, está lindo. Obrigada meu amor – Jenifer pegou Eleonora pelas mãos, apoiando-as em sua cintura. Passou a mão no rosto da namorada e puxou para um beijo.
Se beijaram minutos a fio. Desequilibraram-se e caíram no sofá.
As duas riram.
- Está com fome? – Perguntou Eleonora.
- Um pouco – admitiu Jenifer torcendo a boca.
- Vem – Eleonora levantou e puxou Jenifer.
Eleonora colocou dois castiçais em cima da mesa de vidro que ornamentava a cozinha e acendeu as compridas velas brancas.
Jenifer admirava. Seus olhos brilhavam e era impossível parar de sorrir. Permaneceu encostada na pilastra.
Depois de apagar o fósforo com um sopro e jogá-lo no lixo que ficava no canto da pilastra em frente Jenifer, Eleonora olhou a namorada de cima a baixo.
- Que foi? – Perguntou Jenifer ainda sorrindo.
- Você está linda meu amor – respondeu Eleonora acariciando o rosto de Jenifer.
Eleonora estendeu a mão em direção a cadeira para que Jenifer se sentasse.
Pratos antigos de porcelana estavam sob a mesa, opostos. Talheres prateados reluziram na luz quando Jenifer os pegou na mão. As taças que Eleonora pegara emprestada da tia estavam ao lado dos pratos.
Eleonora colocou sob a mesa o prato preferido de Jenifer.
Quando reconheceu o macarrão recheado, Jenifer desacreditou.
- Não acredito, faz tanto tempo que não como isso – disse Jenifer maravilhada – Foi você que fez?
- Sim – Gabou-se Eleonora colocando um pedaço em cada prato – Bom apetite, espero que tenha ficado igual o da Tula.
Jenifer deu uma garfada. E de olhos fechados suspirou. Deu outra garfada e outra e então respondeu:
- Tá delicioso amor, superou o da Tula.
Eleonora riu.
- Eu estou falando sério – continuou Jenifer a sustentar seu elogio – Delicioso.
Enquanto comiam, conversaram sobre como havia sido o dia de cada uma e sobre como Eleonora arrumara o apartamento.

Capítulo 148 ♥

O sol começava a cair atrás do morro quando Dafne, Eleonora e Rosalie terminavam de arrumar o apartamento.
- Onde você arrumou esse cilindro de gás hélio? – Perguntou Eleonora para Dafne.
- É do tio da Ros – respondeu enquanto enchia uma bexiga prata cintilante. Dafne jogou a bexiga cheia no chão, junto de outras da mesma cor e outras bexigas douradas. Pegou a mangueira que manuseava e puxou um pouco de gás do cilindro.
- A minha voz fica sexy assim? – Perguntou a ruiva com a voz igual a do Pato Donald – Aaaaaah, minha voz tá igual a do pato amigo do Mickey – gritou ela quando caiu em si.
Eleonora e Rosalie caíram na risada.
- Pato Donald não é sexy – disse Rosalie com os olhos rasos de lágrimas de tanto rir.
- Vamos terminar de arrumar isso gente – disse Eleonora ainda rindo.


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Jenifer colocava sobre a cama a roupa que comprara para comemorar o aniversário junto das amigas e da namorada, quando o celular tocou atrás dela no criado mudo.

“Você achou que eu ia esquecer desse dia importante? Claro que não :o) Parabéns Jeni, sinto muito não estar ai pra poder te dar um abraço, está muito corrido aqui no Rio. Mas assim que puder, vou até ai. Ou quem sabe você vem visitar minha casa. Um beijo, Dani”

- Dani... Que saudade de você – disse Jenifer olhando para a mensagem.

Olhou para o relógio do aparelho e lá marcava 18h30. Tinha uma hora e meia para tomar banho e fazer todo aquele ritual feminino para se arrumar.


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- Eu estou com fome – reclamou Dafne com a mão no estômago.
- O meu também está roncando – disse Eleonora.
- Que tal uma pizza? – Sugeriu Rosalie sentada no chão ajeitando uma pequena vela verde ao seu lado.
- Tem um mercado aqui perto onde vende mini pizzas, eu vi quando estávamos vindo – lembrou a ruiva.
- Eu vou lá buscar – disse Eleonora.Quinze minutos depois Eleonora voltara com duas embalagens de mini pizzas – cada embalagem contendo seis - e uma garrafa de refrigerante. Colocou de duas em duas pizzas no microondas. E quando ficaram todas prontas, as três, que aparentavam exaustão, sentaram-se à mesa de vidro e devoraram as pizzas.
- O que você resolveu Dafne? Vai falar pra Jenifer que não vai dar pra jantarmos todas juntas, ou decidiu outra coisa? – Questionou Eleonora enquanto passava o guardanapo na boca.
- Eu pensei em ir buscar a Jenifer junto da Ros e dizer á ela que você decidiu por um lugar diferente pra jantar – disse Dafne terminando de mastigar a pizza.
- E daí vendaremos os olhos dela e traremos ela até aqui no apartamento. E depois é com você – completou Rosalie.
- Hum, gostei – aprovou Eleonora.


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20h em ponto Jenifer ouviu da sala uma buzina do lado de fora.
- Deve ser a Léo – disse.
- Você está linda minha filha, linda – Admirava Giovanni.
Jenifer trajava um vestido em cetim na cor rosa, mas um rosa escuro tomara que caia. Com uma faixa preta na cintura que ostentava um laço lateral. Nas pálpebras, sombras de duas tonalidades – rosa na cor do vestido e cinza mais claro – se misturavam em harmonia. Em seus cabelos uma presilha com strass brilhava conforme a luz batia. Nos pés, ela estava com um sapato estilo boneca, preto, com os bicos redondos, fivelas prateadas e um salto que não deveria passar dos dez centímetros. E pra terminar o look carregava na mão uma bolsa pequena, que cabia no máximo um celular, um gloss e dinheiro.
- Obrigada pai – Agradeceu com um sorriso que iluminava.
Quando saiu estranhou o carro que estava em sua porta. Aquele não era o Gol de duas portas preto que estava habituada a ver.
- Dafne? – Perguntou com um certo estranhamento.
- Oi amiga – Dafne desceu do carro e nem se importou em amassar o vestido da amiga, a agarrou pela cintura e abraçou.
- Cadê a Léo? – Perguntou – Oi Ros – disse abaixando na altura da janela do veículo e acenando para Rosalie.
- Entra que eu te explico no caminho.
Jenifer passou abriu a porta traseira do Fiesta verde-água, sentou-se e colocou o cinto de segurança.
- Você está linda Jenifer – Elogiou Rosalie.
- Obrigada Ros. Adorei que você está usando a presilha que eu te dei – observou.
- Ficou bonitinha né?
- Sim.
Quilômetros depois Dafne estacionou no posto de gasolina – mesmo o carro estando abastecido – para Rosalie passar para o banco traseiro e vendar Jenifer.
Rosalie entrou, desabotoou o cinto e pediu pra Jenifer ficar de costas pra ela.
- O que está acontecendo? – Perguntou Jenifer enquanto Rosalie tirava a máscara para dormir da bolsa – Vocês estão me sequestrando no dia do meu aniversário?
Do lado de fora Dafne esperava Rosalie terminar o serviço.
- Descobriu – disse Rosalie rindo.
- Sério gente, o que vocês estão aprontando?
- Fica quieta que eu não quero estragar seu cabelo – Rosalie encaixou a máscara nas mãos, para bagunçar o menos possível o cabelo de Jenifer – Pronto, e só tire quando eu mandar.
- O que é isso? - Perguntou ela colocando a mão na máscara.
Rosalie colocou novamente o cinto de segurança em Jenifer e voltou para o banco da frente.
- A máscara de dormir da minha mãe – respondeu Dafne já ligando o carro.
- Vocês não vão mesmo me falar aonde estão me levando? – Perguntou Jenifer tentando tirar alguma informação das amigas.
- Não – responderam as duas em coro.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Capítulo 147 ♥

O dia dezessete de Julho chegara enfim. Apesar de ainda ser inverno – mesmo que teoricamente – o dia estava quente. O sol brilhava como nunca, pássaros cantavam e um vento calmo refrescava a cidade.
Eram onze horas quando Jenifer acordou. Olhou no relógio do criado mudo e se permitiu ficar na cama mais um pouco.Sentiu o celular vibrando debaixo de algum dos vários travesseiros que costumava dormir. Ela jogou alguns no chão apressadamente e achou o aparelho debaixo do último travesseiro.

“ Parabéns pra você, amor da minha vida. Minha vida. Nesse dia eu desejo o principal: Saúde. Pra que possamos criar nossos futuros filhos, ver nossos netos crescer e quem sabe tricotar casaquinhos para nossos bisnetos. Te quero eternamente ao meu lado. Eu te amo”

Jenifer esfregou os olhos ainda um pouco inchados e embaçados, e leu a mensagem novamente, um sorriso brotou de seus lábios. Sentou na cama espreguiçando-se.
O aparelho vibrou novamente, era Dafne:

“ Sapatilha mais amada do mundo =P Parabéns meu amor, que você continue essa amiga maravilhosa e de coração grandioso que é. Te amo muito amiga. Beijo grande meu e da Ros”

Seu aniversário não poderia ter começado melhor. Foi para o banho ao som de Beyoncé e continuou a ouvi-la quando saiu. Estava animada e feliz. E prometeu para si mesma que nada abalaria sua felicidade.
Desceu as escadas e o pai a esperava lá embaixo, com um lindo buquê de rosas vermelhas, mescladas com rosas cor de rosa claras.
- Parabéns pra filha mais linda que eu tenho – disse Giovanni entregando o buquê.
- Ah, obrigada pai são lindas.
- Deixa que eu as coloque na água – disse a empregada pegando as flores – Parabéns dona Jenifer.
- Obrigada Tula.
- Quantos anos? Dezoito? Menos? Dezesseis? – Brincou o pai.
- Sua filhinha já tem vinte e três pai, estou velha.
- Eu é que estou ficando velho. Meu bebê já tem vinte e três anos. Mas mudando de assunto... Tem planos pra hoje? A doutora vai lhe levar pra algum lugar especial?
- A gente vai jantar com duas amigas. A Dafne e a namorada dela, a Rosalie – Explicou Jenifer.
- Bom, muito bom.
Flaviana entrava na sala tirando seu grande chapéu de sol e viu pai e filha abraçados. “É hoje” lembrou-se.
- Não vai desejar parabéns pra sua neta minha sogra? – Perguntou Giovanni.
Jenifer estremeceu. Mesmo que se mantivesse firme em sua promessa de não se entristecer aquele dia, sentia que a promessa poderia ser quebrada a qualquer segundo.
- Claro – disse Flaviana um pouco seca – Venha cá para eu te dar um abraço – Flaviana abriu os braços.
Jenifer ficou paralisada alguns segundos e caminhou até a avó. Encaixando-se no abraço. “Como eu senti falta desse abraço” pensou Jenifer quando sentiu o calor da avó.
Flaviana abraçou Jenifer como se nunca mais fosse a ver. Beijou seus cabelos e acariciou seu rosto. Mantendo a mão em seu rosto disse com a voz embargada:
- Eu só desejo juízo e que você seja feliz Jenifer – Pigarreou duas vezes e respirou fundo – E que você mantenha a cabeça no lugar.
- Obrigada vó, isso foi realmente muito importante pra mim – Algumas lágrimas caíram do rosto de Jenifer. Ela estava realmente emocionada.
João Manoel descia as escadas abotoando sua camisa laranja abóbora e não escapou do pai.
- Hoje é aniversário da sua irmã, num vai cumprimentá-la?
- Não tenho mais irmã – respondeu ríspido, olhando em direção a Jenifer.
Mas a promessa de Jenifer estava cumprida, graças à avó que a tratou como nos velhos tempos.
- João Manoel... – Giovanni tentou chamar a atenção do filho, mas Jenifer interveio.
- Não liga pra ele não pai. Eu não tô nem ai – garantiu.


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Eleonora acordou mais animada que Jenifer. Arrumou algumas coisas em uma maleta de mão, ajeitou algumas sacolas e saiu dizendo para tia:
- Eu não volto hoje pra casa tia, vou dormir fora.
- É aniversário de Jenifer né? – Perguntou Maria do Carmo com um sorriso malicioso.
Eleonora corou.
- Sim. Tia queria pedir uma coisa pra você – disse Eleonora vacilante.
- O que minha querida?
- Me empresta duas taças de champanhe?
- Mas é claro, pegue as que você quiser. Só as traga inteira fazendo um favor – pediu Maria do Carmo em um tom leve.
Eleonora foi para o apartamento de sempre. Dafne e Rosalie estavam na portaria esperando por ela.
- Bom dia meninas – cumprimentou Eleonora dando um beijo no rosto de cada uma.
- Bom dia, e ai pronta? Trouxe o que te pedi? – Perguntou Dafne olhando para as mãos ocupadas de Eleonora.
- Trouxe – Eleonora ergueu algumas sacolas brancas.
- Deixa eu te ajudar – Ofereceu-se Rosalie.
- Vocês acham que a Jenifer vai gostar? – Perguntou Eleonora enquanto esperava pelo elevador.
- Certeza. – disse Dafne com convicção – Minha amiga é a pessoa mais romântica do mundo. Vai se derreter toda.
Elas entraram no elevador.
- Aperta o número nove – disse Eleonora.
Dafne apertou.
Chegaram ao nono andar e o apartamento 95 foi aberto.
As moçoilas jogaram algumas sacolas na poltrona branca do lado da janela e outras em cima da cama.
Eleonora abriu as janelas e Rosalie e Dafne tiraram algumas coisas das sacolas – velas de variados tamanhos e cores, pétalas de rosas vermelhas em grande quantidade, taças de cristal (emprestadas de Maria do Carmo), uma garrafa de champanhe e varias outras coisas.
- Léo, vou colocar as pétalas da rosa na geladeira, senão até de noite estraga – gritou Dafne para Eleonora que estava no banheiro.
- Aproveita e coloca a champanhe também amor – disse Rosalie entregando a garrafa para a namorada.
- E ai, vamos começar a arrumar? – Perguntou Eleonora.

Capítulo 146 ♥

O dia amanheceu fresco. Céu azul, nuvens finas desenhavam a imensidão azul e o sol subia aos poucos, quente.
Como falara para tia, Eleonora passara a noite no hospital, cuidando dos pacientes e vez ou outra indo até o quarto ver como Bianca estava.Olhou no relógio de pulso e ele informava que eram dez horas. “A Bianca já deve ter acordado” pensou a doutora.Eleonora foi até o quarto onde Bianca estava, e como pensou, ela estava acordada.
- Bom dia – disse Eleonora sentando-se na beirada da cama.
- Bom dia.
- Está se sentindo melhor?
- Hunrum – respondeu Bianca ajeitando-se na cama. – Bem melhor.
- Que bom. – Eleonora olhou no relógio novamente – Daqui uma hora eu estou indo embora. Vou ver se consigo que você tenha alta.
Bianca sorriu em agradecimento.
Eleonora deu um beijo na testa de Bianca e ia saindo quando Bianca puxou sua mão.
- Posso falar com você rapidinho?
- Claro. – Eleonora sentou na cama novamente.
- Eu... – Bianca estava sentindo envergonhada pelo papelão que o pai fez – Eu queria te pedir desculpa pelo meu pai. Ele é um estúpido quando quer.
- Não precisa se desculpar querida, já passei por coisas piores – garantiu Eleonora.
- Mesmo assim, ele não tinha o direito de tratar você e a Jenifer daquela maneira...
- Fique tranquila.
Eleonora levantou-se da cama e ao abrir a porta, deu de cara com Reginaldo.
- Posso ver a minha filha – perguntou ele olhando para Eleonora.
Sem responder, Eleonora apenas deixou a porta aberta para que ele entrasse.
- Bom dia minha princesa. – Disse Reginaldo dando um beijo na filha.
- Bom dia.
- Como você está se sentindo, vai poder ir embora hoje ainda o médico me disse.
- Hum, que bom – respondeu sem muita empolgação.
- Que foi? Parece que gostou de ficar no hospital – disse Reginaldo olhando a cara desanimada da filha.
- Não agüento nem mais um minuto esse hospital, quero minha cama – disse Bianca bufando – O pai...
- Diga.
- Posso te pedir uma coisa?
- O que a minha princesa quiser.
- O que eu quiser?
- O que quiser – Assinalou o pai.
- Acho que você deveria pedir desculpas à Eleonora.
Reginaldo deu um salto da cama. E caminhou de um lado para o outro algumas vezes. Passou a mão nos cabelos, bagunçando-os e com um olhar duro para filha respondeu:
- Me peça outra coisa Bianca.
- Pai! Você não poderia ter falado daquele jeito com ela – Bianca aumentou uma nota de sua voz – Nem com a Jenifer – lembrou-se.
Reginaldo ignorou.
Bianca ajeitou-se na cama, colocando o travesseiro nas costas e as mãos em cima do colo. Tentou cruzar os braços, mas o soro que estava em sua mão direita a impediu.
- Se você não concorda com o jeito que elas se relacionam, o problema é todo seu. Mas você tem o dever de respeitar, ainda mais quando não está na sua casa.
- Eu sabia que não deveria deixar você ir sozinha na casa da minha mãe, agora essa sapatão encheu a cabeça da minha filha – Reginaldo resmungava para si mesmo, mas Bianca escutara tudo.
- A Eleonora não tem nada a ver com a minha opinião.
Reginaldo exasperado caminhou até a cama de Bianca. Ia falar alguma coisa sobre proibir de ir à casa da avó sozinha quando ouviu vozes femininas vindo do lado de fora.
Eleonora e Rebeca, médica responsável pelo caso de Bianca que estavam chegando. Reginaldo afastou-se da cama novamente, dando espaço para elas.
- Que tal a senhorita ir pra casa agora? – Perguntou Rebeca com um sorriso, anotando algumas coisas na prancheta que carregava.
- Eu acho ótimo – respondeu Bianca.Rebeca arrancou uma folha, e entregou a Reginaldo.
- Aqui estão alguns remédios que ela ainda terá que tomar, só por mais alguns dias. E nada de comer torta de frango estragada novamente, viu mocinha? – disse Rebeca direcionando-se a Bianca.
- Ah pode deixar – garantiu – Nem estragada e nem boa, peguei trauma de torta de frango.
- Você vai lá pra casa? – Perguntou Eleonora enquanto tirava o soro e outro medicamento intravenoso.
Reginaldo a olhou com o cenho franzido. Eleonora ignorou. Bianca também.
- Eu posso pai? – Perguntou ela na esperança de ter conseguido mudar o pensamento do pai.
- Não – respondeu ele guardando a receita médica no bolso do paletó – Acho melhor você ir pra nossa casa.
- Mas não vai ter ninguém lá. Nem o chato do meu irmão.
- Acho melhor você não ficar sozinha. A Rebeca só te deixou ir embora hoje por que eu garanti que alguém – Eleonora olhou Reginaldo – ficaria monitorando sua temperatura. Por que se você tiver febre vai ter que ser medicada.
- Ouviu pai?
- Tudo bem. – Cedeu por fim Reginaldo – Mas é só até eu chegar do trabalho.
Eleonora sorriu e deu uma piscadela cúmplice para Bianca.


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Depois que Eleonora se instalara na casa da tia, Jenifer estava praticamente fazendo o mesmo. Já que ficar na casa de Do Carmo não tinha aquele clima ruim que havia em sua casa.Eleonora e Jenifer estavam no quarto de Do Carmo, conversando com Bianca que preferia ficar esparramada na grande cama king size da avó.
Elas conversavam sobre assuntos diversos, com direito a voltas ao túnel do tempo, da parte de Eleonora e Jenifer.
- Eu sinto falta dos meus quinze anos – disse Jenifer.
- Eu também sinto falta, mas hoje eu sou muito mais feliz – disse Eleonora pegando na mão de Jenifer.
Jenifer soltou delicadamente, por causa de Bianca.- Não, não se incomode – disse Bianca quando viu Jenifer retirando a mão – Eu não me importo. Acho tão fofo vocês duas.
Jenifer sorriu envergonhada.
- Posso fazer uma pergunta pra vocês?
- Hum – murmurou Eleonora com uma sobrancelha arqueada – Pode.
- É muito difícil ser lésbica? Digo... – Bianca enrolou os cabelos colocando-os por cima do ombro direito – Eu sei que ainda é difícil, mas... É que vocês são mais velhas do que a minha amiga, tem mais experiência...
- Você tem uma amiga lésbica? – Perguntou Jenifer.
- Acho que sim. Levando em consideração que ela não ficou com mais nenhum menino desde que começou a ficar com a Letícia.
- No começo é muito difícil – Eleonora começou a responder a pergunta – Pra mim foi muito complicado, eu tinha quatorze anos. Não queria e nem podia contar pra ninguém, fiquei confusa. Confusa em relação a como contar aos meus pais, por que eu sabia em algum lugar do meu interior que eu gostava mesmo era de mulheres.
- Mas você nunca ficou com meninos?
- Já. Mas depois que fiquei com a primeira menina, nunca mais fiquei com garotos. E depois que contei ao meu irmão, as coisas ficaram mais fáceis.
- E você? – Perguntou Bianca com os olhos em Jenifer.
- Bom. Pra mim foi assustador. Por vários motivos – Jenifer parou por um segundo. Seu coração batia rápido e doía um pouco em lembrar daquela fase – Primeiro por descobrir que a Léo era apaixonada por mim. Segundo por que eu só ouvia coisas negativas sobre homossexualidade, principalmente em casa. E terceiro por que agora, lá em casa ninguém me aceita. Só o meu pai.- Nossa. Deve ser a maior barra né?
- É sim – confirmou Jenifer com a cabeça baixa. Desenhando com o dedo indicador as flores que estampavam a colcha da cama – Mas agora que eu tenho a Léo comigo, tudo fica bem mais fácil – Ela ergueu a cabeça e olhou para a namorada.Eleonora deu um beijo no rosto de Jenifer, que em seguida tombou sua cabeça em seu ombro.
- Que fofo – murmurou Bianca para si mesma.
- Já que vocês não descem para vir comer um lanchinho porreta que Cícera fez pra vocês, a gente trouxe aqui pra cima – Maria do Carmo e Cícera estavam paradas na porta, carregando uma bandeja cada uma.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Capítulo 145 ♥

- Pare com isso Reginaldo – Pediu Maria do Carmo educadamente – Eleonora é médica.
- Ela cuida de ossos quebrados – respondeu Reginaldo.
E enquanto mãe e filho discutiam entre si, Eleonora foi até o quarto e pegou um estetoscópio, termômetro e outros aparatos médicos.Ao tirar o termômetro de Bianca, o objeto acusava uma febre de 39 graus.
- Bianca, você comeu alguma coisa diferente hoje? – Perguntou Eleonora enquanto apalpava as amígdalas de Bianca.
- Antes do jantar... Ai – gemeu ao sentir uma pontada no estômago – Antes do jantar eu comi uma coisa que estava na geladeira da minha avó.
- O que minha querida? – Perguntou Maria do Carmo ajoelhando-se ao lado da neta, segurando sua mão.
- Comi dois pedaços de uma torta de frango.
- Eu me lembro de a mãe ter falado pra Cícera jogar a torta fora que estava estragada – murmurou Isabel para Plínio que estava ao seu lado.
- Cícera, eu não lhe pedi pra jogar aquela torta fora ontem à noite? – Perguntou Maria do Carmo exaltada.
- Eu esqueci Do Carmo. Desculpa – Disse a empregada cabisbaixa.
- Agora o estrago já tá feito. O que a gente vai fazer Eleonora?
- Acho bom levar a Bianca pro hospital tia. Ela precisa tomar soro e fazer alguns exames. – Eleonora guardou seus pertences em sua maleta preta.
Vivian, esposa de Reginaldo tentava conter o sentimento de raiva, nojo que tomava conta dele. Mas não conseguiu segurá-lo por muito tempo. Ele desvencilhou-se dos braços da mulher e foi até o sofá, tomando Bianca nos braços.
- Deixa que da minha filha eu cuido – disse ele indo para a porta.
O estômago de Bianca rodou em seu interior, foi inevitável que ela vomitasse em cima do pai.
- Bianca! – Esbravejou Reginaldo olhando a gosma alaranjada com pedaços verdes no paletó.
- Desculpa... – pediu Bianca falando baixo.
- Da ela aqui – disse Viriato com os braços estendidos para pegar a sobrinha.
Reginaldo passou a filha para o irmão e foi se limpar.Reginaldo subiu as escadas correndo, seguido por Vivian.
Lá em baixo, Viriato e a noiva, Maria Eduarda levavam Bianca para o hospital, junto de Eleonora e Jenifer.
- Fala pra tia que eu ligo assim que tiver alguma resposta – disse Eleonora a Plínio, que estava do lado de fora.


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- Você tá louco Reginaldo? Falar daquele jeito com a sua prima e a namoradinha dela? – dizia Vivian numa voz baixa, mas áspera para o marido.
- Eu não quero saber da minha filha, minha menininha de conversa com aquelas duas nojentas. Dessa vez minha mãe se superou, abrigando aquela sapatão aqui – respondeu Reginaldo tirando a gravata e a camisa suja. – E você está defendendo elas por quê?
- Eu não estou defendendo ninguém. Só acho não precisa de mais nenhum motivo pra aumentar a discórdia entre você e a sua mãe.
- Acho melhor eu parar de vir aqui, até que essa... Até que a minha priminha querida – ironizou – arrume um canto pra ficar de sem vergonhice.
- Faça o que achar melhor meu filho – Maria do Carmo estava parada no corredor em frente ao banheiro, com os braços cruzados.
Reginaldo, dissimulado como sempre tentou reverter.
- Não mãe... Eu só acho que você tem que parar com essa mania de querer salvar o mundo – disse o filho com um sorriso falso de descontração.
Maria do Carmo deu mais alguns passos, ficando perto o suficiente para olhar bem no fundo dos olhos de Reginaldo.
- Eu não salvo o mundo por que eu não sou nenhuma super heroína. Mas eu não vou abandonar ninguém, ninguém que precise da minha ajuda. Ainda mais alguém da família. E se você não esta satisfeito com a presença da sua prima aqui nessa casa é bom que não venha mais.
Maria do Carmo deu meia volta e voltou para sala.
Reginaldo deu um soco na parede e queixou-se consigo mesmo.


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- Eleonora tá demorando pra ligar – disse Maria do Carmo sentada na poltrona, demonstrando a aflição em suas mãos inquietas.
- Ela acabou de sair daqui mãe, calma – pediu Plínio sentando no braço da poltrona ao lado da mãe.
- Não sei se deveria falar isso, mas... – Isabel hesitou-se por um instante. Mas achou melhor expressar sua opinião.
- Fale minha querida – instigou a mãe.
- O Reginaldo foi muito grosso com a Eleonora.
- E com a Jenifer também. Ele praticamente arrancou a Bianca dela quando a Jenifer estava ajudando-a a descer o restante da escada – disse Angélica.
- Ele não gosta que a filha fique de converse com a Eleonora – entregou Cícera.
- Quem foi que lhe disse isso? – Perguntou Maria do Carmo.
- A própria Bianca.
- Reginaldo é meu filho, mas às vezes eu duvido disso. Nunca vi pessoa mais...
- Mais preconceituosa? – tentou completar a frase Plínio.
- Grossa? – Chutou Angélica.
- Estranha? – disse Isabel.
- Estranha, é essa a palavra. – Maria do Carmo balançou a cabeça afugentando o negativismo das palavras e mudou a conversa – Ave Maria! Tô me consumindo de preocupação. Vou até o hospital...
E antes de terminar a frase, o telefone tocou.
- Alo? – Atendeu Maria do Carmo ansiosa.
- Tia, sou eu. A Bianca tá bem. Mas vai ficar aqui essa noite, tomando alguns medicamentos e em observação.
- E foi a maldita torta de frango que fez mal a minha neta?
- Foi sim. Mas ela já está bem. Meu plantão começaria amanhã bem cedo, mas eu pedi ao meu chefe que mudasse meu horário. Vou ficar aqui essa noite, assim posso ficar de olho na Bianca de vez em quando.
- Muito obrigada viu minha filha? Você não existe. Um beijo, tchau.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Capítulo 144 ♥

Eleonora acabava de chegar do plantão, era onze horas da manhã. O cheiro de almoço sendo feito enchia seus pulmões. Foi até a cozinha bisbilhotar.
- Bom dia Cícera, o que vai ter de bom pro almoço hoje?
- Vou fazer uma costela assada. É bem calórica – admitiu a cozinheira.
- Cícera, isso aqui é o que você pediu? – Perguntou Bianca adentrando o recinto com um maço de pequenas folhas verdes em mãos.
- É sim minha querida, pode colocar em cima do balcão. Obrigada.
- Bianca? – Eleonora olhou para o relógio de parede e voltou os olhos para a garota – Você não tinha que estar na escola?
- É, tinha. Mas a professora dos dois últimos tempos faltou e como não tem ninguém lá em casa, eu resolvi vir pra cá – explicou – E mesmo que tivesse alguém eu não voltaria. O clima tá ruim à beça.
- Brigou com o pai de novo? – A pergunta soava praticamente como uma afirmação.
- Ele que brigou comigo. Eu só não fiquei calada – respondeu a garota livrando-se da acusação.
- Hum – murmurou Eleonora não dando muito crédito. – Eu vou dormir por que o plantão hoje foi puxado.
Cícera esperou Eleonora sumir de suas vistas e voltou ao assunto que discutia com Bianca, antes da mesma ir buscar o que ela pedira.
- Então Bianca, acaba de contar – Pediu enquanto tirava a costela do forno para regá-la com o molho shoyu.
- É verdade – Bianca apoiou os cotovelos no balcão, cruzou as mãos e apoiou o queixo nelas – Quando eu disse que viria pra cá, depois da aula, meu pai disse que não. Perguntei por que, ele deu mil e uma desculpas, disse que incomodaria minha avó.
Cícera fez uma cara que parecia dizer “nada a ver”.
- Eu também fiz essa cara. Ai fiquei enchendo o saco dele, falando que estava com saudade da minha avó, dos meus primos. E ele continuou dando as mesmas desculpas – Bianca deu a volta no balcão, e encostou-se nele. Ficando de frente para Cícera e um tom abaixo do que falava prosseguiu – Daí me liguei que ele não quer que eu venha aqui sozinha por causa da Eleonora.
- O que tem a Eleonora? – Questionou Cícera confusa.
- Eu perguntei: É por causa da Eleonora né? Ele não respondeu, deu de ombros. O que tem eu ir lá sozinha? Conversar com ela? Eu perguntei. Sabe o que ele respondeu?
- O que?
- Que era por causa dela sim, que ela poderia me corromper. Ele disse – Bianca fechou os olhos e tamborilou com os dedos no rosto tentando se lembrar – Ah! Ele disse que não queria saber que estive conversando com a Eleonora. Que não quer que eu seja como ela, que ela é má influência...
- Que absurdo – disse Cícera – A Eleonora é uma ótima pessoa. Pena que é sapatão – completou em cochicho.
- Pena por quê? – Alterou-se um pouco Bianca – Vai me dizer que você também não concorda com o fato da Eleonora e da Jenifer namorarem? E sapatão é um termo muito feio. Ela é lésbica.
- É muito estranho ver isso de perto – confessou Cícera – Deus não fez as coisas assim...
Bianca riu.
- Tá rindo do que?
- Dê você, do meu pai e de todo mundo que acha que ser gay é errado. Pecado. “Deus não fez as coisas assim” – repetiu a frase ainda rindo. – Deus fez o livre arbítrio, pra cada um seguir o seu caminho. E não acho que isso seja pecado, amar alguém não é pecado.
Cícera olhava a garota admirada.
- Da onde você aprendeu tanto sobre o assunto? – Perguntou a cozinheira com os olhos estreitos de curiosidade.
- Ah! – Bianca coçou a nuca e soltou um meio sorriso. Fazendo um suspense proposital.
- Bianca, pelo amor de Deus não vai me dizer... – precipitou-se Cícera.
- Calma, calma, calma. Eu não beijei nenhuma garota ok? – Esclareceu apressadamente, antes de ouvir conclusões precipitadas.
- Ufa! – Cícera aliviou-se instantaneamente.
- Mas eu tenho uma amiga que fica com meninas. E por causa dela eu comecei a pensar assim. – concluiu.
- Você é muito nova pra pensar desse jeito – ralhou Cícera.
- Eu já tenho quinze anos – avisou – E idade não é documento. Não são todas as garotas da minha idade que são fúteis e só pensam em ir ao shopping gastar o dinheiro dos pais, beijar todos os garotos e ir a festas e etc. Faço parte da exceção.
Cícera pensou em dizer algo, mas depois do que ouvira achou melhor continuar cuidando de sua costela no forno.

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Jenifer e Eleonora estavam na sala quando Isabel chegou mais cedo do trabalho.
- Boa noite para as primas mais lindas que eu tenho – Cumprimentou Isabel jogando para cada uma um beijo e indo direto para o quarto.
- Boa noite – respondeu Eleonora e Jenifer em coro.
- Continuando o assunto Léo – disse Jenifer – Semana que vem é o meu aniversário, como você sabe... Tava pensando em chamar a Dafne e a Rosalie, um jantarzinho só entre nós.
- Hum... Boa ideia meu amor. Sem grandes comemorações “a lá” Maria do Carmo.
Jenifer riu.
Pouco depois Cícera chamou as duas para jantarem.
Viriato havia buscado a noiva Maria Eduarda para jantar com eles e Plínio buscara Angélica. Maria do Carmo queria reunir todos os filhos, e chamou Reginaldo e a esposa, Vivian. E lamentou o fato de o filho Leandro não estar presente. Leandro estava morando no estado do Rio Grande do Sul, por conta de uma promoção no trabalho.
- Como é bom ver todos os meus filhos junto comigo na mesa – disse Maria do Carmo olhando cada um com um sorriso largo.
- Mas ela não é sua filha – Objetou Reginaldo, apontando para Eleonora.
- Lógico que é – rebateu Maria do Carmo dando uma piscadela para sobrinha-filha.
- Ganhei duas irmãs, uma mais gata que a outra – disse Plínio olhando para Eleonora e Isabel.
- Minha mãe morre de ciúmes quando tia Do Carmo diz isso pra ela – Disse Eleonora sorrindo. E seu sorriso sumiu quando seus olhos encontraram os de Reginaldo, que a olhava com as sobrancelhas unidas, em uma expressão séria.
O jantar seguiu tranquilo, todos conversaram e riram como de costume. Assim que o jantar terminou, Bianca nem esperou a sobremesa, saiu da mesa alegando dor de cabeça. A avó recomendou que se deitasse.
Quando todos estavam na sala, ainda papeando, Bianca desceu as escadas lentamente. Parou umas duas vezes, apoiando-se no corrimão. Sentia uma forte vertigem.
- Gente a Bianca não tá bem – Avisou Jenifer levantando-se do sofá e indo até ela. Passou um braço da garota em volta de seu pescoço e encaixou uma mão em sua cintura.
Reginaldo voltava da cozinha e quando viu a filha sendo carregada por Jenifer até o sofá, disse entre os dentes de modo exigente e grosseiro:
- Tira a mão da minha filha – Jenifer olhou assustada. Reginaldo arrancou a filha do apoio de Jenifer e a colocou no sofá – Bianca, o que você tá sentindo?
- Meu estômago tá embrulhando, minha cabeça tá doendo. – Bianca levou as mãos ao estômago e se contorceu.
- Eleonora, minha filha. Veja o que minha neta tem, ela está pálida – Pediu Maria do Carmo com a voz aflita.
- Nem pense em tocar nela – Estrilou Reginaldo.

Capítulo 143 ♥

Depois do almoço, Jenifer e Eleonora foram para a piscina. O tempo abafado e o sol que a qualquer momento torraria os moradores de Vila São Miguel, exigiam um banho de piscina gelado.
Isabel caminhava pelo jardim e sentou-se numa espreguiçadeira, admirando com um olhar afetuoso e um sorriso escondido a nova prima junto de sua namorada.
- Bel... Vem nadar com a gente. – Convidou Eleonora.
- Nem vai dar, problemas femininos, se é que me entende.
Eleonora assentiu com a cabeça e foi surpreendida por Jenifer que a afundou pelas costas, arrancando risadas de Isabel.
Eleonora vingou-se, afundando Jenifer como a mesma tinha feito com ela. Uma luta dentro d’água começou e terminou com um longo beijo.
Isabel ficou constrangida. Quando se lembrou da presença de Isabel ali, Jenifer e Eleonora também ficaram constrangidas.
Cícera deixara uma bandeja na mesa redonda ao lado de outras espreguiçadeiras.
Jenifer e Eleonora saíram da piscina e colocaram os roupões.
- Meu Deus, minha tia não existe. Depois de um almoço daquele, ainda faz a Cícera trazer um lanche – disse Eleonora admirada, olhando os grandes pedaços de bolo, as torradas, a geléia e a jarra de suco.
- Não vai comer nada Isabel? – Perguntou Jenifer colocando suco no copo.
Isabel chegou mais perto, sentando-se na cadeira junto à mesa.
- Não, obrigada. Comi demais no almoço. Os almoços são sempre assim?
- São sim – respondeu Eleonora. – Minha tia adora uma mesa farta.
Isabel sorriu e um breve silêncio pairou.
- Como você conseguiu chegar até aqui? – Perguntou Jenifer a Isabel, puxando assunto.
- A minha... – Isabel sentiu o estômago retorcer ao associar a palavra “mãe” à pessoa que te criou – A Nazaré, a pessoa que me roubou e me criou começou a agir muito estranho de uns tempos pra cá. E fuçando no guarda roupa dela para procurar uma meia calça, achei várias matérias de jornal com a Do Carmo procurando por mim. E numa dessas matérias tinha uma bem antiga, com o papel já bem amarelo e nela a Do Carmo deveria ter a minha idade e na foto ela se parece demais comigo.
Jenifer e Eleonora ficaram completamente envolvidas no monólogo.
- E daí eu comecei a pesquisar mais e mais. Escondida, claro. – continuou Isabel - A Nazaré acabou me contando a verdade há uns quatro dias atrás. Falou que me roubou por que não podia engravidar e só engravidando pra não perder o meu pai.
- Ela é louca! – Exclamou Jenifer com as sobrancelhas arqueadas.
- Louca mesmo – concordou – E eu esperei um pouco, pra processar todas essas informações e vir atrás da minha mãe verdadeira. E pra minha sorte a Do Carmo é muito conhecida aqui, perguntei pra uma pessoa que me falou onde ela morava. Resumidamente é isso. E agora eu descubro que tenho uma família enorme, irmãos... – Isabel fitava o céu azul.
- E o seu pai... Ou melhor, o marido da Nazaré... Como ele reagiu quando soube que você não é filha dele? – Perguntou Eleonora.
- Ele morreu há três meses – respondeu Isabel ainda olhando o céu.
- E agora você vai morar aqui?- Ah, acho que sim né? – Os olhos de Isabel brilharam diante da situação – Morar com a minha mãe e meus irmãos... – Ela riu achando engraçado e diferente – Ontem quando você abriu a porta pra mim eu me perguntei: Será que ela é minha irmã?
As três riram.
- Praticamente, a tia Do Carmo tem sido uma mãe pra mim.
- E por que você mora aqui?
Eleonora olhou para Jenifer, que retribuiu o olhar.
Isabel percebeu que a pergunta não agradava muito.-
Desculpa por querer saber...
- Não precisa se desculpar. É só que... É uma longa história. – respondeu Eleonora com o olhar no bolo que esmigalhava.
Isabel não resistiu ao chamativo bolo de cenoura e mordiscou um pedaço. E enquanto comia, ouvia atentamente a história da prima.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Capítulo 142 ♥

A festa foi até muito tarde. Dia seguinte todos acordaram já na hora do almoço. Almoço esse que era apenas para família.
- Posso chamar a Jenifer? – Perguntou Eleonora a tia.
- Mas é claro, Jenifer já é da família.
Por uma infeliz coincidência, Sebastião estava de frente para Eleonora à mesa.
- Para de ficar encarando homem de Deus, que situação desconfortável – bronqueou Janice.
Sebastião ignorou e continuou com os olhos na renegada filha, que dificilmente conseguia desviar o olhar.
- Da próxima vez eu não deixo você vir – continuou a esposa.
- Fique quieta mulher, até parece que eu vou deixar de vir a casa da minha irmã por causa dessa sapatão – rispidamente respondeu, tirando enfim os olhos de Eleonora.
- Sapatão não. E-le-o-no-ra – Janice pronunciou o nome da filha bem devagar - É esse o nome da minha filha.
E antes que uma discussão explodisse entre eles, Maria do Carmo pediu licença batendo com o cabo do garfo no copo e disse:
- Eu só queria agradecer a cada um que está aqui, comemorando comigo o dia mais feliz de toda minha vida. Vocês foram fundamentais nessa minha longa caminhada. Muito obrigada por nunca terem desistido de me ajudar a procurar minha filha.
Todos emocionados aplaudiram Maria do Carmo. Maria do Carmo beijou a filha, que a abraçou.
- Desculpa o atraso – disse Jenifer na porta que dividia a sala de estar e a sala de jantar.
- Pois venha se sentar conosco minha querida. – disse Maria do Carmo.
Sebastião olhou a nora, olhou a mulher e depois Eleonora. Indignado.
Jenifer cumprimentou Eleonora com um beijo carinhoso em seus cabelos, e bem sutil passou o dorso da mão em seu rosto.
Eleonora retribui o carinho com um beijo na mão de Jenifer.
Sebastião bateu a mão na mesa, assustando alguns.
- Oxe! O que é isso meu irmão? – Perguntou Maria do Carmo.
- Perdi a fome. Me dá... Me dá náuseas... Essas duas – Sebastião apontou para Jenifer e Eleonora. Levantou-se da mesa jogando o guardanapo que estava em seu colo dentro do prato vazio e saiu porta afora, bufando.
Todos se entreolhavam assustados. Eleonora também saiu da mesa. Correu até o pai que estava já com a mão na maçaneta da porta principal.
- Pai... – chamou receosa.
Sebastião Ignorou e foi embora.
- Mas que droga – murmurou nervosa a doutora. Subindo para o quarto.


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- Léo vamos almoçar vai, esquece – Jenifer tentava convencer a namorada.- Como eu vou esquecer isso Jeni? Como? – Perguntava chorando baixo – Acho que ele nunca, nunca vai... Pelo menos me respeitar. Que droga! Ele é meu pai e eu estou sentindo raiva dele.
- Calma, vem cá – Eleonora aninhou-se nos braços de Jenifer – Essa raiva vai passar logo, você vai ver. E lá em baixo tem tantas pessoas que gostam de você como você é, tente não dar tanta importância. Lá em casa é pior, agora só tenho meu pai do meu lado.
- O mundo inteiro poderia estar contra mim, menos meu pai – reclamou Eleonora.
- Não fala assim meu amor, calma. – Jenifer ergueu o rosto de Eleonora, enxugando seus olhos – Vamos almoçar, tô morrendo de vontade daquela lasanha.
Eleonora sorriu.
- Você come tanto, que daqui a pouco vai sair rolando por ai – brincou Eleonora.
- Boba.
Jenifer abriu os braços e Eleonora se encaixou ali. Sentindo-se a pessoa mais protegida do mundo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Capítulo 141 ♥

Quando Eleonora e Jenifer chegaram, a festa parecia muito longe de terminar. Isabel era o centro das atenções e já parecia um papagaio repetindo a cada meia hora para alguém que via lhe cumprimentar, a história de como conseguira encontrar sua mãe.
- Minha sobrinha é linda – babava Sebastião. – Se parece muito com você na juventude.
- É o que todo mundo diz – Maria do Carmo estava abraçada a filha quando viu Eleonora e Jenifer se aproximarem. Fez um aceno com a mão para que fossem até elas.
Sebastião olhou para traz para ver quem era e sem disfarçar saiu de perto.
- Minha filha, essa aqui você já conhece é Eleonora. Filha de seu tio Sebastião e essa boneca ao lado dela – Maria do Carmo olhou e viu que Sebastião já estava longe. Deu de ombros – É a namorada dela, Jenifer. Filha de Giovanni.
- Prazer – cumprimentou Isabel com um beijo no rosto de Jenifer.
Maria do Carmo pediu licença para conversar com os outros convidados e as três ficaram paradas ali, se olhando.
- É... Hum... – Isabel procurava um meio de puxar assunto. Estava nervosa - Que legal vocês são namoradas...
Eleonora e Jenifer assentiram com um olhar apaixonado e um sorriso.
- E todo mundo sabe? – Perguntou Isabel.
- Todo mundo - confirmou Jenifer. – Gostem ou não, somos namoradas – segurou firme a mão de Eleonora.
- Acho que ele não deve ter gostado muito – Isabel indicou com a cabeça para frente. Jenifer e Eleonora olharam e viram que ela se referia a Sebastião, que vez ou outra olhava para elas. – Seu pai né?
- É – respondeu Eleonora pesarosa.
- Desculpa, é que é muita gente e eu ainda estou perdida.
- Tudo bem.
- Bom, estão me chamando. Mas a gente conversa depois.
- Claro, vamos nos ver todos os dias, se você vier morar aqui – informou Eleonora.
Isabel sorriu e foi até outra roda de convidados.
Jenifer arrastou Eleonora para um lugar qualquer, longe dos olhos raivosos do irmão e do sogro.
- Ela é linda, Léo – disse Jenifer encantada – E como você disse muito parecida com a sua tia.
- Linda mesmo. – concordou.

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Regina sentara no banco de balanço que dava para o jardim mal iluminado. João Manoel aproveitou a oportunidade e sentou-se junto dela.
- Oi – disse ele.
- Oi – respondeu Regina sem olhá-lo.
- Como você está? Você vem me evitando há algum tempo.
- Eu tô bem. E se ando evitando você, a culpa não é minha.
- Morena – indagou João Manoel chegando mais perto – Eu sinto muito a sua falta. Morro de saudade desse seu fogo.
Regininha nem se mexeu.
- Volta comigo? – pediu o rapaz.
Regininha continuou paralisada.
- Volta? – Insistiu.
- Eu também sinto sua falta, mas... Eu só volto com você, com uma condição. Duas na verdade – Seu tom era de exigência.
- O que você quiser minha morena.
- Respeite nossas irmãs e volte a falar com a Jenifer como antes.
João Manoel se afastou e emburrado, cruzou os braços.
- Você só pode tá de brincadeira...
- Não João. Eu estou falando sério. Eu não posso ficar com alguém que não respeita minha família, alguém que destrate minha irmã.
- Elas não têm nada a ver com a gente – desconversou.
- Tem sim João. Elas são nossas irmãs. Não sei você, mas pra mim, a minha irmã é muito importante. Muito.
- Eu não tenho mais irmã – disse João Manoel sério. – Esquece elas morena...
Regina o ignorou e continuou com o discurso que foi interrompido:- E além de um namorado que eu ame, quero um namorado que a respeite, que não faça cara feia quando ela estiver de mãos dadas com a namorada. Alguém que vá junto comigo visitá-la em sua casa de domingo e a elogie pela sobremesa.
- Casa? – Questionou João Manoel com a cara que expressava nojo e surpresa.
- É, casa João. Ela e a Jenifer pensam em morar juntas.
- Isso é ridículo – desdenhou.
- Ridículo é o seu preconceito.
Regininha levantou-se nervosa e cambaleou, sentando-se de novo no banco. Recostou a cabeça no encosto e respirou fundo.
- Que foi morena? Você tá passando mal?
- Não... Foi só uma tontura. – Massageava as têmporas com os dedos indicadores e médios.
- Vou chamar a sua mãe.
Mas antes que João Manoel se levantasse, Regininha o fez primeiro. João Manoel pegou em seu braço.
- A gente não tem mais nada pra conversar. Me solta.
- Não acredito que você vai deixar que aquelas duas sem vergonhas acabem com o nosso namoro.
- Quem acabou com tudo foi você – Apontou o dedo na cara do ex-namorado e voltou para dentro. Deixando o rapaz ainda mais furioso.
Eleonora saía do banheiro quando encontrou com a irmã no corredor.
- Rê, você tá pálida – colocou a mão no rosto da irmã – e fria.
- Acho que a minha pressão tá um pouco baixa.
- Vem aqui – Eleonora foi para o quarto e pegou seu aparelho de pressão.
A pressão de Regininha estava realmente baixa.
- Culpa daquele idiota – resmungou a morena.
- Que idiota?
- O João Manoel, a gente discutiu...
- Você sabe que não pode ficar passando nervoso. - Esbravejou moderadamente.
- Mas já passou... Acabou.
- Acabou? – Eleonora parecia realmente espantada.
Regina fez que sim com a cabeça.
- Sabe, Léo... – Regina deu um longo suspiro - Não posso admitir que tratem mal a minha irmã.
- Mas você não fez isso apenas por minha causa né? – Perguntou Eleonora com um pouco de culpa.
- Talvez esse tenha sido só a gota d’água. Acho que eu já não gostava tanto dele assim. Eu tô confusa, mas fiz o certo.Eleonora olhou a irmã com compaixão e a abraçou.
João Manoel foi embora da festa atordoado, sem dar explicações para ninguém. Isentava-se da culpa pelo fim do relacionamento e colocava a culpa apenas em uma pessoa: Jenifer.

Capítulo 140 ♥

- E agora ela voltou pra Minas, e espero que fique eternamente por lá – Eleonora terminara de explicar o desfecho da história com Úrsula, para a mãe.
- Que bom minha filha, que bom. Agora sua vida volta ser o que era – A voz de Janice era aliviada.
E tudo estava de volta ao normal na vida de Eleonora. A única coisa que faltava para sua vida ficar perfeita era o pai lhe perdoar por aquilo que ela não tinha controle – e nem gostaria de ter controle, pois se tratava da sua felicidade.
Era dia de folga e Eleonora estava em casa estudando. Veria Jenifer mais tarde, pois assim como ela, a namorada estava em meio aos livros.
Como todos estavam trabalhando, resolveu ficar na sala. Tirou o vaso da mesinha de centro e ocupou a mesma com seus vários livros sobre a ortopedia. Tudo estava calmo quando a campainha tocou. Cícera não estava em casa aquele horário, foi à feira fazer as compras da semana. Eleonora então foi atender a porta.
- O-oi... – A voz de Eleonora ficou presa na garganta quando se deparou com a moça a sua frente.
- Oi, é aqui que mora a Maria do Carmo? – Perguntou a moça com uma voz doce.
- Hãnram – respondeu Eleonora automaticamente. Sua cabeça estava confusa.
- Ela está?
- Nã-não. A minha tia esta trabalhando... Entra que falta de educação a minha.
A moça entrou e Eleonora tirou alguns livros que estavam em cima do sofá de três lugares.
- Você está bem? Parece pálida – Analisou a moça olhando para Eleonora.
- Eu... Eu acho que estou um pouco... Zonza. – Eleonora olhava a moça como se ela fosse alguma aberração, não com os olhos assustados de medo. Mas de surpresa. – Você... Só pode ser você.
- Só pode ser eu o que? – Indagou a moçoila com um sorriso confuso.
- Espera um segundo – Eleonora saltou do sofá e foi até a estante, onde Maria do Carmo guardava algumas das várias fotos de família. Eleonora revirou algumas caixas e tirou uma foto da tia, onde ela aparentava ter mais ou menos a sua idade.
Eleonora voltou para o sofá em passos lentos, com os olhos na foto e na moça que estava em sua frente. E desacreditava.
- Olha – Eleonora pôs a foto nas mãos da garota que também ficou com os olhos arregalados.
- Idênticas! – Exclamou a moça.
- Idênticas – repetiu Eleonora. – Tenho que ligar pra minha tia agora.
- Mas aconteceu alguma coisa minha filha? Sua voz tá me deixando apavorada – Disse Maria do Carmo do outro lado da linha. – Entendi. Eu tinha uma reunião pra daqui meia hora, mas acho que pode esperar.
Eleonora deixou a moça na sala intima, com as portas fechadas e estava andando de um lado para o outro quando a tia entrou pela sala.
- Mas o que foi que aconteceu? Tô que não me agüento de curiosidade.
- Tia... Acho que... Vai na sala intima que você vai entender – E Eleonora abriu a porta da pequena sala.
Os olhos de Maria do Carmo logo se encharcaram. Não restava dúvidas, a semelhança física entre ela e a moça que a olhava era gritante. Maria do Carmo enfim, havia encontrado sua filha – a filha havia encontrado a mãe.

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A notícia logo se espalhou pela cidade. E quem conhecia Maria do Carmo sabia o quanto a chegada inesperada da filha a deixaria feliz. Dia seguinte a festa estava marcada, afinal de contas um acontecimento daqueles merecia uma festa.
Depois do plantão, Eleonora se refugiou junto de Jenifer no apartamento de sempre.
Estavam deitadas, e conversavam sobre o aparecimento de Isabel, filha de Maria do Carmo.
- A sua tia deve estar radiante – disse Jenifer.
- Muito. Você precisava ver o quanto ela chorou quando viu a Isabel. Apesar de não precisar, ela vai fazer o teste de DNA só pra confirmar. Mas quando você a ver, vai dizer: É mesmo a filha da Do Carmo. São muito parecidas.
- Deve ser horrível ter um filho roubado – disse Jenifer com uma voz entristecida – Ainda mais ela, que era um bebê
.- Eu ficaria louca se roubassem um filho meu – disse Eleonora.
Jenifer sentou na cama, com a expressão surpresa e perguntou:
- Você pensa em ter filhos Léo?
- Eu nunca te falei?
Jenifer negou com a cabeça.
- Penso, penso sim. Você não pensa?
- Ah – Jenifer deitou-se na cama de novo, encarando o teto – Penso, mas...
- Mas agora que você namora outra mulher acha complicado demais? – Questionou Eleonora deitando-se ao lado de Jenifer, olhando-a.
- Na verdade... É isso sim. É muito diferente, deve ser complicado para a criança, pra mim também... Eu acho.
- Por que complicado pra você?
- Por que meu amor... – Jenifer revirou os olhos pensativa – Por que eu não saberia o que falar quando meu filho chegasse e dissesse que um amiguinho o humilhou, xingou a mãe. Sabe? Essas coisas.
- Isso você vai aprendendo com o tempo Jeni – A voz de Eleonora era despreocupada. – Mas você quer engravidar?
- Eu quero.
- Você vai ser a grávida mais linda do mundo – elogiou Eleonora delineando o rosto de Jenifer com os dedos.Jenifer a beijou delicadamente.
- Eu queria ficar aqui com você, mas a gente vai ter mesmo que ir pra festa.
- Acho que agora a Do Carmo tem seis filhos – disse Jenifer.
- Seis?
- É: O Reginaldo, Leandro, Viriato, Plínio, a Isabel... E você. Você já é mais que sobrinha. – Respondeu Jenifer.
- Ah – Eleonora sorriu – Deixa minha mãe ouvir isso, vai se morder de ciúmes. Agora vamos sua preguiçosa, senão, chegamos lá quando a festa já tiver acabado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Capítulo 139 ♥

Eleonora e Jenifer esperavam nas poltronas que ficavam bem perto do escritório de Miro. Jenifer segurava com carinho a mão de Eleonora.
- Você está muito nervosa meu amor, sua mão esta suando.
- Não agüento mais esperar – confessou.
- Calma.
A sirene de uma ambulância soava incessantemente do lado de fora. Eleonora desejava estar no hospital a trabalho e cuidar do paciente – se fosse o caso. Úrsula passava pelo corredor, quando reconheceu a pequena figura aloirada sentada no canto da parede. Deu meia volta e foi conferir.
- Você por aqui – disse Úrsula olhando para Eleonora e rapidamente para Jenifer.
Eleonora a ignorou.
- Não me lembro de você ser mal educada – prosseguiu a morena, diante da carranca de Eleonora.
- Me deixa em paz – pediu Eleonora.
- Sabe – Úrsula sentou-se no braço da poltrona a esquerda de Eleonora. – Muita gente vem me perguntar sobre você, já que estou no seu lugar.
- No meu lugar? – Perguntou Eleonora estarrecida – Não acredito...
Jenifer observava tudo em silêncio.
- Ah, viram que eu posso ser como você ou melhor, bem melhor que você na ortopedia. Pedi ao Miro, e ele me concedeu o lugar. Já que você não vai mais trabalhar aqui.
- Quem disse que eu não vou mais trabalhar aqui?
- Ignora amor – Pediu Jenifer um pouco irritada.
- Eu estou dizendo.
- Não sei por que eu estou perdendo meu tempo com você – Eleonora se levantou e a porta do escritório se abriu.Marco Antônio cumprimentou Miro com um aperto de mão e seus olhos se voltaram para Úrsula, que com o queixo no colo desacreditava no que via.
- Posso saber o que a senhorita faz aqui? – Perguntou Miro a Úrsula. – Que eu saiba – tirou o relógio do bolso – Está no horário de visitar os pacientes.
Ainda incrédula com a presença de Marco Antônio, Úrsula saiu sem dizer nada.
- Pode entrar – disse Miro para Eleonora. Um sorriso discreto nos lábios.
- Eu vou ficar aqui fora – disse Jenifer – Boa sorte.
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Lá dentro a tensão poderia ser sentida no ar que o ventilador espalhava.
O pé de Eleonora batia a todo o momento no chão. Ansiedade corria em suas veias junto de seu sangue.
- A história é inacreditável Eleonora – observou Miro – Se você não tiver pressa, posso te contar tudo.
- Eu fico aqui até a meia noite, mas eu escuto tudo o que tem pra me dizer.
- Como você já sabe, Marco Antônio foi chefe da Úrsula, quando ela trabalhava em Minas.
- Hunrum – concordou Eleonora.- Lá foi o último hospital que ela trabalhou antes de vir para Vila de São Miguel – prosseguiu – Ela esteve em nove hospitais, antes desse. O motivo: Problemas com colegas de trabalho.
“Eu não fui a única então” pensou Eleonora.
- Marco Antônio me disse que em seu hospital, Úrsula acusou um outro colega de assédio sexual e moral também. Ele expulsou o médico, e Úrsula tomou o lugar do rapaz. Depois de um tempo, Marco Antônio ficou sabendo que no outro hospital onde a Úrsula trabalhou, também acontecera o mesmo e que o chefe do hospital a mandara para analise psiquiátrica. – Miro fez uma pausa, tomando um pouco de água – Descobriram que ela é psicótica. E ela sempre quer o lugar daqueles que tem o maior destaque no trabalho. Aqueles médicos queridos por todos. E ela não se limita a nada. Faz de tudo para roubar o cargo de quem quer que seja. E com você não foi diferente.
- Nossa! – Exclamou Eleonora surpresa.
- E ela aproveitou da sua sexualidade para fazer isso. Ela chegou a fazer tratamento, com remédios e consultas, estava se saindo bem, mas como você pode perceber...
- Ela teve uma recaída – completou a frase.
- Exato! – Miro sentou na cadeira, olhando para Eleonora – Quero que saiba, que em nenhum momento eu acreditei nisso. Você trabalha aqui um tempo suficiente para saber o quão responsável, profissional e séria você é.
Eleonora agradeceu os elogios com um sorriso.
- Bom... A Úrsula vai ser mandada para tratamento novamente, tenho que falar com a família dela – Miro olhava a ficha de Úrsula que estava em sua mesa – E você, poderá voltar ao trabalho, se quiser é claro – seu tom sério ficou leve.
- Se eu quiser? É tudo que eu mais quero - Eleonora estava radiante. Saiu do escritório e pegou Jenifer no colo, rodando-a.
- Amor, ficou doida? – Perguntou Jenifer quando foi colocada no chão.
- Acabou – disse aliviada – Volto pro meu trabalho amanhã.
- Que bom meu amor – Jenifer a abraçou – Mas... E aquela outra?
- Se eu te contar, você não vai acreditar.