Capítulo 138 ♥

A semana já estava na metade, e o espírito carnavalesco da cidade havia ido embora. O cotidiano dos moradores de Vila São Miguel voltara ao normal.
Mas a vida profissional de Eleonora estava sendo decidida, naquela tarde de quarta-feira. Marco Antônio chegara à cidade dia anterior à noite. E não queria esperar nem mais um segundo para saber o que sua ex funcionara havia aprontado.
Miro pedira para que não fosse interrompido de modo algum.
- Bom Marco Antônio, aconteceu um fato muito curioso aqui há alguns dias. Recebemos uma denúncia de assédio sexual e moral contra uma funcionária nossa, a Eleonora. E quem fez a denúncia foi uma ex-funcionária do hospital que você administra.
- Úrsula Prado de Souza... – disse Marco Antônio reflexivo.
- Ela mesmo – concordou Miro. – Se fosse em outro caso, eu já entregaria o caso as autoridades competentes e lavaria minhas mãos. Mas aqui no hospital, a Dra. Eleonora, todos sabem, ela é muito responsável, centrada e extremamente profissional. Mesmo sendo homossexual assumida, isso jamais aconteceu. Ela respeita todos e todas a sua volta. – explicou. – Por isso o chamei aqui, para saber sobre a Úrsula.
- Hum – murmurou Marco Antônio com a mão no queixo – Ela com certeza não lhe contou o porquê esse é o décimo hospital em que ela vai trabalhar, em menos de um ano não é?
- Décimo? – Repetiu Miro perplexo.
- Vou lhe explicar.

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Como Eleonora estava proibida de colocar os pés em sua antiga casa, Regininha e a mãe foram visitá-la. Janice percebeu que a filha mais velha estava ansiosa e quis saber:
- Eleonora, minha filha, você pode explicar o que está te deixando tão aflita? Vai abrir um buraco em baixo do seu pé.
Eleonora parou de bater o pé direito no chão instantaneamente.
- É... É hoje que o Miro está conversando com aquele cara de Minas Gerais, pra saber mais sobre a Úrsula. Me ligaram do hospital e disseram que faz mais de uma hora que os dois estão trancados no escritório.
- Ai Léo, calma, tudo vai dar certo, você vai ver – disse Regina esperançosa.
- Assim espero...
- Nem parece minha filha falando com esse desânimo – censurou Janice.
- Esses casos são complicados demais mãe, não sei se o Miro confia tanto em mim. Mas não quero mais pensar nisso – Eleonora balançou a cabeça espantando os pensamentos – Vamos conversar outras coisas. Como você está Rê? Se sentindo melhor?
- Bem melhor. Estou até pensando em voltar a ir aos ensaios na quadra da escola. Ano que vem eu quero estar tinindo para o carnaval.
Eleonora estreitou os olhos.
- Você não tem jeito mesmo hein? Mas nem pense em voltar agora para os ensaios. Espere mais uns quinze dias.
Regininha ia falar alguma coisa, mas Janice a cortou.
- Não discuta com a sua irmã, ela sabe do que está falando.
- Desculpa interromper a conversa de vocês, mas tem gente querendo falar com você no telefone Eleonora – Avisou Cícera.
Eleonora nem perguntou quem era, foi correndo até o telefone.
- Alô?
- Eleonora, aqui é o Miro. Pode dar um pulo aqui no hospital? Temos um assunto a resolver, se você se lembra.
- Claro, claro! – respondeu agitada – Daqui meia hora estou ai.
Eleonora subiu as escadas correndo, pegou a bolsa no quarto, a chave do carro e voltou para a sala.
- Era do hospital, acho que a conversa com o Marco Antônio terminou. Vou lá saber o que aconteceu – disse para mãe e para irmã.
- Quer que eu vá com você? – Ofereceu-se Janice.
- Não mãe obrigada, está na hora de fazer a janta do pai, se ele chega lá e não tem janta pronta, você sabe como ele fica.
- É verdade, nem me dei conta da hora – Janice olhou para o relógio na parede – Vamos Regininha. Não deixe de me avisar o que aconteceu minha filha.
- Vou ligar para a senhora assim que chegar em casa.
Eleonora estava a caminho do hospital quando pegou o primeiro retorno e decidiu buscar Jenifer, se sentiria muito mais segura com ela ao seu lado.