Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: maio 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

Capítulo 320 ♥

Eleonora e Jenifer ainda se olhavam, pareciam não ter entendido o que o médico dissera.
- Não pode ser, eu tive cólica esses dias, tenho tido muito sono e hoje estou muito enjoada... – Disse Jenifer apertando os olhos para a pequena imagem na tela – Isso não são efeitos colaterais do remédio que tomei? Não?
- Típico de mães de primeira viagem – Disse o médico rindo do que Jenifer dissera – Isso são alguns dos sintomas de gravidez, Jenifer. Você é uma das mulheres mais sortudas, você conseguiu engravidar na primeira inseminação...
- Então... Então quer dizer que esse pontinho, essa coisa pequena é... É o nosso filho? – A voz de Eleonora estava esmagada pela emoção.
- Se você tivesse vindo a semana passada já poderia saber que a sua cólica não foi bem uma cólica e que já tem uma vida sendo gerada ai dentro.
- Então eu estou grávida? De verdade?
- Sim. Você está grávida – Confirmou o médico tirando as luvas e quando ia desligar o aparelho, Jenifer o interrompeu:
- Não desliga, não. Mostra ele de novo – Pediu Jenifer com a voz tão baixa que quase não se ouvia.
O médico passou mais um pouco de gel na barriga de Jenifer e lá estava na tela novamente o pequeno ponto. Jenifer mordeu o lábio inferior e sorriu, uma lágrima escorreu de seu olho.
- Agora meu trabalho termina por aqui, mas vou indicar a vocês um ótimo obstetra e ginecologista que trabalha aqui mesmo e que se vocês quiserem, podem acompanhar a gravidez – Disse o médico afastando a máquina da maca para que Jenifer pudesse levantar.
Jenifer limpou a barriga com um papel e desceu a blusa, sentada na maca abraçou Eleonora pela cintura enquanto o médico anotava alguma coisa num papel.
- O nome do médico é Diego, é um excelente profissional – O médico entregou o papel para Jenifer. – Espero sinceramente que tudo corra bem daqui pra frente. Acho que nunca vi duas pessoas me passarem tanta segurança na vontade de construir uma família.
Eleonora beijou o alto da cabeça de Jenifer depois de trocarem olhares cúmplices.
- Obrigada por tudo Escobar, muito obrigada – Agradeceu Eleonora com uma vontade reprimida de dar um abraço no médico. Mas fez o gesto se transformar em um aperto de mão firme.
- Tudo de bom pra vocês! – Desejou o médico despedindo-se delas.
Eleonora e Jenifer saíram da sala e ainda no corredor não conseguiram conter a felicidade que estava explodindo como fogos de artifício dentro do peito. Jenifer puxou Eleonora cintura e abraçou com toda vontade que sentia. Não disseram nada, apenas permaneceram abraçadas, em meio ao corredor, atrapalhando quem passava e olhava curioso para a cena.
- A gente conseguiu, nós vamos ser mães – Murmurou Jenifer no ouvido de Eleonora.
- Seremos a melhores mães do mundo – Respondeu Eleonora desvencilhando dos braços de Jenifer e juntando suas mãos na barriga de Jenifer.
Faltava menos de três horas para Eleonora e Jenifer terminarem o expediente. Se pudessem sairiam gritando para quem quisesse ouvir o tamanho da felicidade delas. Mas ainda tinha trabalho a fazer.
- Posso saber onde você estava? Te procurei feito uma louca, não sabia o que fazer com a menina do 107, dei um calmante pra ela que estava muito agitada – Disse Marcela em tom bravo e nervoso.
Eleonora não se importou, parecia não estar ali. Estava boba e com o pensamento longe.
- Que cara é essa? – O tom na voz de Marcela agora era curioso.
- A Jenifer... E-ela conseguiu Ma, vamos ser mães... Ela está grávida – Respondeu Eleonora sorrindo.
- Sério? Que ótima notícia – Comemorou a morena abraçando Eleonora.
Eleonora assentiu com os olhos rasos d’água e ainda sustentando seu sorriso.
- Agora está tudo perfeito. Vou ter minha família Ma, minha mulher e um filho... Por um momento achei que nunca fosse acontecer quando... Quando aconteceu aquilo, mas agora... É verdade, minha família... – Eleonora parecia estar dentro de um sonho.
- Sabe por que tudo deu certo no final? – Perguntou Marcela.
Eleonora negou com a cabeça.
- Por que você é maravilhosa, Eleonora. É dedicada, amorosa, não só a Jenifer, mas em tudo, você faz tudo com muito amor. Deus não poderia deixar de recompensá-la por ser tão especial.
Eleonora agradeceu com um sorriso e um abraço. Agora existiria outra preocupação, outra coisa com o que se importar e se dedicar. E se pudesse, Eleonora faria aqueles nove meses passarem num estalar de dedos.

domingo, 29 de maio de 2011

Capítulo 319 ♥

Eleonora e Jenifer estavam sentadas na sacada do apartamento, olhando as luzes que se acendiam aos poucos, o sol indo embora para dar lugar a lua. O vai e vem de carros e pessoas na rua. Jenifer estava com as mãos no ventre.
- Nove meses parece tanto tempo... – Disse Jenifer acariciando a barriga e olhando para Eleonora.
- Parece mesmo – Concordou Eleonora aproximando-se de Jenifer. Ajoelhou-se próxima a ela e colocou a cabeça na barriga de Jenifer que afagou seus cabelos. – Será que ele ou ela já está ai?
- Queria saber, temos que voltar ao médico semana que vem – Respondeu ainda mexendo nos cabelos de Eleonora – Essa semana já deveria ter voltado, mas não deu, uma correria...
- A gente vai contar pra nossa família agora? – Perguntou Eleonora levantando-se para ajeitar a rede para se deitar.
- Acho melhor deixar pra quando tiver certeza. Por que vai que não dá certo, todos vão criar expectativas, minha avó é um exemplo. – Jenifer fechou os olhos com força e abaixou-se apoiando a testa nos joelhos. Alguma coisa estava errada.
- Amor, o que foi? O que você está sentindo? – Eleonora logo deixou a rede de lado e foi até Jenifer.
- Cólica – Respondeu Jenifer com a voz baixa e embargada. Ao levantar o rosto Eleonora viu lágrimas brotarem os olhos de Jenifer.
- Amor, por que você está chorando?
- Por que eu estou com cólica e se estou com cólica é por que não deu certo, é por que logo minha menstruação vai vir e a gente vai ter que começar tudo de novo, não acredito...
Eleonora ficou sem saber o que fazer, a não ser tomar Jenifer em seus braços, num abraço de conforto.
- Vou fazer alguma coisa bem gostosa pra gente comer, tá? – Disse Eleonora beijando Jenifer – E fica calma por que a gente não sabe o por que dessa cólica, não fique pensando coisas ruins...
Jenifer tentou sorrir, mas foi até a rede e deitou-se. Balançando-se suavemente, desejando que nada tivesse dado errado.


Horário de intervalo e todos estavam na mesa da cantina comendo e conversando. Exceto Jenifer que parecia estar em outro planeta.
- A Jenifer sempre foi uma ótima aluna, mas agora parece que tá saindo da linha, dormiu a aula toda do Armando – Implicou Ícaro cutucando as costelas de Jenifer. Jenifer deu um pulo e bocejou.
- Vou ter que ter uma conversa com a doutora Eleonora – Brincou Max arrancando risadas e um tapa amigável de Jenifer.
- Ontem eu dormi muito bem se querem saber. Mas ultimamente ando com muito sono, se pudesse dormia o dia todo – Defendeu-se Jenifer dando outro bocejo – Não ando muito normal...
- Foi ao médico? – Perguntou Abelle.
- O que você tem? Tá doente? – Quis saber Jeremias já deixando o sanduiche de lado esperando alguma revelação de Jenifer.
Dentre os amigos de Jenifer Abelle era a única que sabia que Jenifer e Eleonora estavam querendo um filho.
- Não, estou ótima... Só... É só que passei mal esses dias, coisas de mulher sabe? Cólica... – Mentiu Jenifer tranquilamente. Jenifer girou o pulso e olhou para o relógio. – Eu não vou ficar na ultima aula não, vou pra biblioteca dormir. Quando for pro hospital me chama, Bel?
Abelle assentiu e Jenifer foi para a biblioteca.


No hospital, Eleonora estava com o dia cheio. Um acidente entre dois carros havia deixado os passageiros em estado graves e que precisavam de cirurgias de urgência. Até o meio do expediente ainda não tinha visto Jenifer.
Do outro lado Jenifer ajudava uma adolescente a fazer alguns exercícios apoiada a barra de ferro que ficava perto de uma parede.
- Doutora Jenifer... Você tá bem? – Perguntou a garota observando Jenifer franzir os lábios e o cenho, parecendo reprimir uma vontade.
- Estou, mas acho que seu perfume... Ele é muito doce, me deixou um pouco enjoada – Respondeu Jenifer – Espere um pouco, já volto.
Jenifer foi até Abelle que cuidava de um garotinho, pediu licença e puxou ela pra um canto.
- Será que tem como você terminar os exercícios da Júlia? – Pediu Jenifer apontando para a garota do outro lado da sala – Eu vou ao médico agora, não tô me sentindo muito bem...
- Pode deixar amiga, eu cuido dela pra você.
Jenifer saiu da sala em passos rápidos. Procurou por Eleonora nos corredores e não a encontrou. Entrou escondida na ala restrita cirúrgica, foi até uma sala e olhou pelo vidro que havia médicos que estavam fazendo cirurgia, mas não conseguiu identificar Eleonora. Quando o elevador parou no oitavo andar Jenifer viu que Eleonora voltava de algum lugar.
- Amor! – Exclamou Eleonora surpresa – Nossa, nem deu tempo de te ver hoje, isso aqui está uma loucura. Me desculpa? Só agora consegui comer alguma coisa...
- Não tem problema, eu entendo... Léo, eu vou ao médico, não estou me sentindo muito bem – Avisou Jenifer – Estou me sentindo enjoada e um pouco tonta.
- Eu vou com você – Disse Eleonora imediatamente.
- Não precisa. Você tem outras coisas importantes pra cuidar, amor. Pode ir.
- Minha maior importância é você, Jenifer. Vamos – Eleonora puxou Jenifer pela mão e entraram no elevador.
Jenifer andava de um lado pro outro impaciente, enquanto esperava o médico desocupar.
Quando a porta abriu Jenifer quase atropelou a mulher que saia. Eleonora riu.
- Antes tarde do que nunca, não é? – Disse o médico em tom meio sério meio tranquilo – Não tinha que ter vindo aqui semana passada?
- Eu sei. Mas não deu tempo... – Respondeu Jenifer um pouco sem graça.
O médico nada disse.
- Hoje eu não estou muito bem, estou com muito sono, um pouco enjoada... – Disse Jenifer buscando Eleonora com o olhar. Eleonora estava bem perto da porta e chegou mais perto, ficando atrás de Jenifer que estava sentada na cadeira. – Ac-acho que... Acho que não deu certo.
- Vamos ver isso agora – Disse o médico calçando as luvas e indicando que Jenifer deita-se na maca.
O médico puxou um pesado equipamento que tinha uma tela LCD, um teclado branco e bem diferente de um teclado de computador e algo que lembrava aquele objeto que as moças do caixa do supermercado usavam para passar o código de barra.
- Mas isso não é uma maquina de ultrasonografia? – Perguntou Eleonora olhando pra Jenifer confusa.
O médico assentiu com um sorriso. Ligou a máquina, levantou a blusa de Jenifer e passou um gel gelado na barriga dela.
- Não estou entendo mais nada – Disse Jenifer em voz baixa, olhando uma imagem turva que apareceu na tela.
- Estão vendo isso? – O médico apontou para uma imagem pequenina, parecia menor que uma bola de ping pong.
Jenifer e Eleonora se entreolharam e olharam para o médico.
- Não – Responderam as duas juntas.
- É o futuro bebê de vocês.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Capítulo 318 ♥

Alguns dias depois...

- Como funciona agora, doutor? – Perguntou Jenifer deitada na cama, suas pernas abertas apoiadas em braços de ferro. Eleonora ao seu lado acompanhando tudo com os olhos.
- Agora iremos introduzir os espermatozóides no seu útero e esperar que eles nadem até as tubas uterinas para poder fecundar o óvulo – Explicou calmamente o médico enquanto preparava o cateter para fazer a inseminação.
Eleonora olhou o líquido esbranquiçado sendo colocado no cateter. Eram os espermatozóides que daqui poucos minutos iam parar dentro do corpo de sua mulher e se tudo corresse bem, logo se transformaria em um embrião e depois em um feto que se transformaria em um bebê.
- Pronta? – Perguntou o médico para Jenifer.
Jenifer olhou Eleonora e estendeu sua mão procurando apoio. Eleonora entrelaçou seus dedos.
- Agora estou pronta – Respondeu Jenifer apertando a mão de Eleonora. “Que tudo dê certo” Mentalizou Jenifer quando sentiu o cateter entrando no seu corpo.
Fechou os olhos, mesmo que aquilo não fosse assustador e nem causasse dor.
Ao abrir os olhos o médico estava retirando as luvas e Eleonora a olhava com os olhos brilhando e um sorriso.
- Acabou? – Perguntou Jenifer.
- Acabou, amor.
- E agora?
- Agora você já pode ir pra casa. Evite excessos e mantenha a alimentação saudável que você já tem. E ah! Faça um repouso hoje e por algumas semanas se puder descansar... – Assinalou o médico – A resposta da sua pergunta pode chegar em breve... Ou não.
- Como assim “ou não”? – Questionou Eleonora – A gravidez pode não acontecer agora, é isso?
Jenifer empertigou-se na maca.
- As chances da fecundação acontecer são em torno de 15% a 20%. Conversamos tanto que talvez eu tenha me esquecido desse detalhe.
Eleonora e Jenifer se olharam permanecendo em silêncio.
Jenifer desceu da maca e foi se trocar. Voltou já vestida e com o olhar perdido.
- Seu retorno está marcado pra daqui duas semanas. Qualquer coisa que você sentir de diferente não deixe de me ligar a qualquer hora do dia e da noite – Disse o médico entregando um papel para Jenifer.
- Tudo bem, pode deixar – Disse ela tão baixo que parecia apenas um silvo.
- Boa sorte e até a semana que vem.
Eleonora e Jenifer saíram da sala do médico ainda em silêncio, passaram pela recepção e entregaram alguns papeis. Quando saiam do hospital viram um casal heterossexual entrando as pressas. A mulher com uma barriga do tamanho de uma melancia, estava sentada na cadeira de rodas. Enquanto uma mulher mais velha carregava uma bolsa azul e branca com alguns desenhos e o homem atrapalhado dava instruções para que estacionassem o seu carro enquanto acompanhava uma enfermeira empurrar a cadeira de sua mulher. Mais uma criança estava para vir ao mundo.
- E se não der certo? – Perguntou Jenifer olhando a mulher grávida atravessar a porta de vidro. – E se todo esse trabalho não resultar em nada, a gente vai começar do nada, de novo?
- Começaremos de novo do nada – Respondeu Eleonora – A gente não pode desistir, eu quero muito ter um filho com você...
- Eu também quero muito ter um filho com você, mas...
- Mas as coisas são difíceis demais, acertei? – Perguntou Eleonora olhando para Jenifer com um sorriso.
- É, amor. São muito difíceis, achei que as chances fossem maiores...
- Tenho o palpite que somos do grupo de 15 ou 20% que conseguem de primeira – Sugeriu Eleonora animando Jenifer.
Jenifer a olhou com um sorriso. Colocou a mão na barriga fechando os olhos e perguntando mentalmente “será que daqui umas semanas você já vai estar aqui?”

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Capítulo 317 ♥

Algumas semanas depois, contas a menos a pagar Eleonora e Jenifer voltaram ao médico. Agora com a decisão tomada. Jenifer engravidaria e juntas, se vissem que haviam tirado de letra a arte de ser mães, adotariam uma criança independente de sexo ou cor ou idade. Adotariam aquela criança que fizessem seus corações baterem mais forte, adotariam aquela criança que de alguma forma formassem uma ligação entre elas.
- Então a futura mamãe será você? – Perguntou o médico para Jenifer quando ela e Eleonora entraram na sala numa tarde quente de fim de inverno.
Jenifer assentiu sorrindo.
- Vamos aos primeiros procedimentos então – Disse o médico indicando que Eleonora senta-se na cadeira – Você pode trocar de roupa e deitar ali – Disse para Jenifer apontando primeiro para um pequeno quarto dentro da sala e depois para a maca que ficava as costas de Eleonora.
Jenifer voltou do quarto com uma roupa branca e aberta nas costas, feita de um tecido fino e transparente. Suas bochechas estavam levemente coradas.
- Vou fazer e pedir alguns exames de rotina só para ter certeza de que sua saúde está em ordem – Disse o médico tirando seu estetoscópio cinza do pescoço para ouvir o coração e a respiração de Jenifer. – Vocês já sabem o tipo do doador?
- Ah, não pensamos nesse detalhe, amor... – Disse Eleonora vendo Jenifer fazer careta ao sentir o médico apalpar suas amígdalas.
- Acho que não tem muita importância, ou tem? Quer dizer, a característica principal é ser saudável... Não me importo de ser um pouco bonito – Disse Jenifer rindo junto com Eleonora - A gente deveria ter procurado alguém que parecesse com você, assim nosso filho ou filha parecia com nós duas – Brincou.
- Se você quer alguém que pareça com sua parceira, então tem que ser alguém de descendentes italianos ou alemães, que tem o fenótipo de vocês. – Disse o médico anotando algumas coisas na sua prancheta.
Jenifer e Eleonora assentiram.
- De imediato parece que tudo está bem, vamos pedir um hemograma só pra ter certeza.
- Ela vai precisar de algum remédio? – Perguntou Eleonora.
- Talvez de um estimulante para ovulação, vai ter que tomar durante dez dias, depois vamos ver como ela reage e se tudo correr bem, dentro de dez ou quinze dias podemos tentar a inseminação e então...
- Eu já vou estar grávida, certo? – Perguntou Jenifer em pé atrás de Eleonora, com os braços em torno de seu pescoço.
- Certo – Respondeu o médico – O resultado do hemograma não deve demorar mais que três dias. Você sabe quando começa a ovulação?
Jenifer se desenrolou de Eleonora para pegar o calendário que estava sobre a mesa. Contou os dias, fez as contas nos dedos e depois respondeu:
- Só no começo do mês agora – Sua voz soou desanimada.
- Se tudo correr bem... – O médico pegou o calendário e o folheou até o ano seguinte – Em Junho ou Julho do ano que vem você estará com um filho nos braços.
“Por que eu deveria esperar nove meses? Nove longos meses...” Esse era o pensamento de Jenifer. O tempo parecia ser longo demais para ela. Se pudesse gostaria de piscar os olhos uma vez e ter seu neném nos braços. Mas o tempo era longo e necessário. Ter um filho acendeu em Jenifer uma vontade incontrolável de proteger e cuidar de alguém. Mas no fundo sabia que aquele tempo seria extremamente necessário para uma organização psicológica.
- Mas ainda está longe e vamos por partes, certo? Nada de passar com o carro na frente dos bois, como diria minha avó – O médico deu um sorriso – Então você está liberada e volte aqui com o resultado do exame. Mas pelo pouco que vi você está ótima e pronta pra gerar uma vida ai dentro – Seu dedo indicador apontou para a barriga de Jenifer, que colocou as mãos cruzadas sobre o ventre.
- Muito obrigada pela atenção Escobar – Agradeceu Eleonora apertando a mão do médico.
Jenifer repetiu o gesto de Eleonora e as duas saíram de mãos dadas da sala do médico. Suas mãos estavam mais unidas do que nunca.
- Você imaginou algum dia estar casada com uma mulher e ter um filho que não fosse pelo método natural? – Perguntou Eleonora.
- Antes de ter você isso nunca tinha me passado pela cabeça. Eu pensava em ter filhos sim, mas com um homem que tivesse me casado na igreja de véu e grinalda – Respondeu Jenifer encostando Eleonora contra o carro, uma mão na cintura dela a outra contornando as linhas de seu rosto.
- E agora? O que acha de tudo isso, nada saiu como seus antigos planos – Disse Eleonora rindo e beijando o pescoço de Jenifer.
- Acho que se minha vida tivesse seguido o curso “natural”, se você não tivesse aparecido e bagunçado tudo, eu não saberia o que era a felicidade e provavelmente não saberia que é possível se sentir completa com quem quer que seja, existindo amor, todas as outras coisas se anulam – Respondeu Jenifer com um sorriso maior do que o de Eleonora, agora com as duas mãos em seu rosto.
Seus olhos estavam fixos um no outro.
- Eu te amo – Disse as duas juntas. Sorriram e se beijaram.
Existindo amor, todas as outras coisas se anulam. E tudo de ruim que tinha acontecido com elas havia se anulado, nada mais parecia ser capaz de abalar aquela relação que agora estava prestes a se tornar mais forte e ainda mais completa.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Capítulo 316 ♥

Eleonora e Jenifer nunca conversaram seriamente sobre filhos. A única coisa que Jenifer sabia da parte de Eleonora era que ela queria adotar, não sabia da outra parte que estava prestes a ser relevada.
- Eu não quero engravidar – Disse Eleonora clara e diretamente – Carregar uma pessoa dentro de mim, sei lá, não me parece uma coisa legal.
- Achei que fossemos engravidar juntas – A voz de Jenifer saiu baixa e murcha.
- Amor, eu não tenho essa vontade de engravidar e ter aquela barriga enorme, amamentar... – Eleonora foi chegando mais perto para olhar Jenifer, sabia que sua decisão tinha deixado sua esposa chateada. – Você vai ser uma grávida linda, tenho certeza.
Jenifer esboçou um sorriso.
- Tenho vontade de adotar – Disse Eleonora abandonando os papeis e indo para o quarto. Queria deitar na cama e ter certeza de que não acordaria com dor nas costas por dormir de mau jeito.
- Então, eu engravido e você adota? – Perguntou Jenifer deitando-se junto de Eleonora.
- Nós adotamos – Corrigiu Eleonora.
- Na mesma época? Duas crianças pequenas?
- Não precisamos adotar um bebê. Pode ser uma criança mais velha...
- Mais velha quanto? – Jenifer parecia ter se assustado com a ideia.
- Uns cinco anos no máximo... Que foi amor, você parece que não gostou muito da ideia – Eleonora enrolava os cabelos de Jenifer em seus dedos.
- Uma criança já parece que dá trabalho demais – A resposta de Jenifer pareceu sair dura e fria. Eleonora deixou seus cabelos caírem de seus dedos.
- Tudo bem, a adoção pode ficar pra depois – Respondeu Eleonora um pouco severa.
- Amor, não faz assim... – Pediu Jenifer puxando Eleonora para beijá-la. – Olha pra mim...
Eleonora olhou Jenifer por poucos segundos e depois abaixou os olhos, se chateou com a hipótese de não adotar, ela queria ser mãe, mas daquela forma, adotando. Jenifer a puxou para um abraço e disse em seu ouvido:
- Não sei como vai ser entende? Tenho medo de te decepcionar.
- Por que me decepcionar?
- Não sei, Léo... Medo de não aguentar, sabe? Medo d-de ser uma péssima mãe. Eu aprendi a cuidar de mim não tem muito tempo e aprendi a cuidar de mim por sua causa. Nunca tive muita responsabilidade, sempre cuidada pela minha avó e pelo meu pai... Não sei amor, não sei...
Eleonora afastou seus corpos e ergueu o rosto de Jenifer com suas mãos.
- Eu entendo. Mas nada disse impede que você possa ser uma ótima mãe, nada impede que possamos aprender juntas como educar uma criança, ou duas, ou quantas nós tivemos... – Eleonora apertou o rosto de Jenifer em suas mãos, encarando seus olhos de modo desafiador e confiante – Estamos juntas, pra tudo. Pra sempre. Você não está sozinha, amor...
Depois de uma longa inspirada Jenifer sorriu e beijou Eleonora.
- Você tem o poder de me deixar calma... Só você me faz me sentir assim, completa... – Disse Jenifer abraçada a Eleonora.
Eleonora a apertou em seus braços.
- Vamos recomeçar nossos planos então? – Sugeriu Eleonora.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Capítulo 315 ♥

Ao chegarem em casa Jenifer e Eleonora estavam com os pensamentos em fervilhando. Suas mentes pareciam computadores processando vários dados.
- O que vamos fazer? – Questionou Jenifer revirando os olhos para o teto.
- Sobre...?
- Nossos filhos, amor.
- Ah, claro! – Eleonora parecia por um momento ter esquecido da conversa de mais cedo com o médico – Você está muito cansada? Não quer deixar pra amanhã?
- Não! Amanhã podemos dormir até a hora que quisermos, vamos aproveitar e começar a planejar nosso futuro.
Eleonora levantou-se do sofá e voltou para a sala minutos depois com uma caneta e uma folha de papel em branco.
- Vamos ao plano, ou planos – Disse Eleonora caminhando até a mesa da cozinha.
Jenifer a seguiu sem entender.
- Você sabe quanto tem na poupança? – Perguntou Eleonora para Jenifer – Você movimenta a conta?
- Mexo nela de vez em quando... Não me lembro quanto tem, tenho ela desde que nasci ou até antes, só tirei dinheiro para pagar coisas da faculdade e pra comprar as coisas pra nossa casa, desde então só mexo nela para guardar algum dinheiro – Explicou Jenifer aproximando-se mais de Eleonora para ver melhor o que ela escrevia.
- Eu também tenho a minha e gastei com as mesmas coisas que você... – Eleonora colocou a caneta atrás da orelha e saiu em disparada pro quarto no vamente.
Jenifer ouviu barulho de caixas e coisa sendo arrastada. Foi até o quarto e viu Eleonora pegando mais papeis dentro de algumas caixas que estavam em cima do guardarroupa.
- Mas o que você está fazendo afinal de contas? – Perguntou Jenifer quando Eleonora colocou os papeis esticados sobre a mesa.
- Contas, amor. Criança dá gasto – Respondeu Eleonora sem tirar os olhos de suas anotações. Escreveu “apê”, traçou uma reta ao lado da palavra e escreveu “cama”, mais uma reta e depois escreveu “sofá” – Ainda faltam duas prestações do apê, mais ou sofá e a cama pra terminar de pagar.
- Certo... Até Outubro já terminamos de pagar... Não precisamos pagar a inseminação à vista, podemos parcelar...
- Acho melhor pagarmos a vista. Vamos ter que montar um quarto, comprar berço...
Jenifer sentou na cadeira e enterrou as mãos nos cabelos num gesto nervoso.
- Que foi, meu amor?
- Nada – Respondeu Jenifer abanando a cabeça – É muita coisa... Berço, roupas, fraldas... Mas antes... Amor, estamos começando errado.
Eleonora largou a caneta junto aos papeis e esperou Jenifer explicar o que estava errado.
- Por que estamos começando errado?
- Por que antes de tudo isso... – Jenifer apontou para os papeis e contas e anotações – Quem vai engravidar?

Capítulo 314 ♥

Eleonora andava de um lado para o outro no corredor do hospital. Olhando a cada segundo para o relógio que parecia ter parado. Quando olhou pela enésima vez viu Jenifer andando em passos rápidos na sua direção, o jaleco esvoaçando.

- Tô muito atrasada? – Perguntou Jenifer um pouco esbaforida.
- Não, não. Estamos até um pouco adiantadas – Respondeu Eleonora ligeiramente ansiosa.
Jenifer percebeu como as mãos de Eleonora se mexiam e as pegou, unindo as suas, acalmando-a.
Eleonora sentiu-se muito mais calma.
Ainda de mãos dadas entraram no elevador e desceram até o terceiro andar. Estava calmo e poucas pessoas transitavam pelos corredores.
- Sala número 27... – Disse Eleonora olhando no número prateado que estava pregado a porta – Ali – Apontou para algumas portas a frente.
Eleonora deu duas batidas leves na porta, ouviu uma voz grave convidando para entrar. Jenifer seguiu logo atrás.
- Em que posso ajudá-las? – Perguntou um homem grisalho e de olhos grandes e interessados ao ver Jenifer e Eleonora entrarem na sala, gesticulando com as mãos para que sentassem nas cadeiras a sua frente.
- Queremos ter um filho – Disse Eleonora sem rodeios.
- Isso está se tornando cada vez mais frequente... – Comentou o médico mais para si do que para Eleonora ou Jenifer.
- Isso o que? – Perguntou Jenifer incomodada.
- Duas mulheres querendo ter um filho – Sua voz era amigável e calma – Se não me engano são o terceiro casal que aparece nesse mês. Pra mim é um número bem significativo.
Eleonora e Jenifer se entreolharam mais tranquilas, por um momento acharam que o médico era um homem machista e homofóbico.
- Já existe um doador? – O médico abriu uma gaveta e tirou fichas em branco, começando a anotar algumas coisas com sua letra quase ilegível.
- Na verdade não. – Disse Jenifer – Não pensamos em doador... Pra ser bem sincera não conversamos a respeito desse assunto, viemos mesmo pra saber mais como acontece a inseminação - Jenifer logo descartou a possibilidade de doador. Primeiro por que não conhecia nenhum homem de confiança pra tanto, segundo por que não queria ter que conviver com a figura masculina marcando presença.
- Entendi. – Ele deixou as fichas de lado e apoiou os cotovelos na mesa de vidro, cruzando as mãos.
Entre as várias coisas que disse sobre a inseminação artificial, o médico explicou que era um processo delicado e que requeria cuidado. Que na maioria dos casos a chance de não engravidar na primeira tentativa era grande. Deu uma de psicólogo e questionou sobre a certeza da decisão que estavam tomando e tirou outras tantas duvidas delas.
- Muito obrigada pela atenção, doutor – Agradeceu Eleonora estendo sua mão para o médico – Nos veremos em breve.
- Agora temos que fazer planos – Informou Jenifer já dentro do carro, colocando o cinto de segurança – Muitos planos.
- Planejar é o melhor caminho – Concordou Eleonora dando partida no carro.
As duas trocaram olhares e Jenifer acariciou o rosto de Eleonora com o dorso da mão.
- Seremos as melhores mães do mundo, não é? – Perguntou com a voz baixa.
- As melhores.

sábado, 21 de maio de 2011

Capítulo 313 ♥

Jenifer ajeitou novamente a gola do jaleco, dando passos para trás e virando-se de costas pra mulher em seguida.
- Deveria ser crime contratar estagiárias tão bonitas assim – Disse a mulher atrás de Jenifer.
Jenifer ignorou.
Jenifer não via, mas da porta Eleonora acompanhava a cena curiosa, sentindo um leve tremor no coração. “Não... Por favor” seu pensamento disse antes de poder ser freado.
- Olha, eu nem te conheço, você também nem me conhece. Eu sou casada e muito bem casada, com uma pessoa maravilhosa – Começou a dizer Jenifer um pouco irritada – Então peço um pouco de respeito!
A mulher inclinou a cabeça olhando a mão de Jenifer. A aliança parecia brilhar intensamente no dedo anelar.
- Cara de sorte – Comentou a mulher.
- Mulher de sorte – Replicou Jenifer tentando fugir novamente da mulher.
Os olhos da mulher fixaram-se em Jenifer por mais algum momento.
Eleonora entrou na sala, chutando a porta propositalmente para fazer barulho. Ao ver Eleonora Jenifer abriu um largo sorriso e deixou o que estava fazendo de lado.
- Essa é a minha mulher – Murmurou para a mulher indo de encontro a Eleonora.
A mulher girou o corpo e viu quem era a “mulher de sorte”.
- Vim ver você trabalhar um pouco... - Comentou Eleonora beijando delicadamente os lábios de Jenifer, fulminando com seus pequenos olhos a mulher que as observava.
- Já disse que tenho dona – Disse Jenifer percebendo a troca de olhares que acontecia.
- Mas pelo jeito não entenderam.
A mulher fingiu mexer em alguns papeis que estavam em cima de uma mesa. Abelle acompanhava tudo atentamente do outro lado da sala.
- Tenho uma surpresa pra você – Disse Eleonora voltando sua atenção e seus olhos para Jenifer.
- Surpresa? Adoro surpresas.
- Se o dia hoje não for muito cheio pra nenhuma de nós duas, um pouco antes de irmos embora você me procura que a gente vai ao médico.
- Médico... Surpresa... Ok, não sei o que uma palavra tem a ver com a outra – Disse Jenifer com uma sobrancelha erguida.
Eleonora sorriu.
- Estava conversando com a Marcela um pouco antes de vir aqui e ela me disse que aqui tem um médico que cuida somente da parte de inseminação. – Eleonora viu os olhos de Jenifer ganharem um brilho a mais – Ela disse também que ele é muito requisitado, quase nunca está aqui, mas que por esses dias ele vai ficar aqui cuidando de algumas coisas e pode nos ajudar.
- Mas a gente ainda tem muitas coisas pra conversar – Informou Jenifer ansiosa e preocupada.
- Eu sei, amor. A gente não precisa decidir nada agora, vamos apenas falar com ele pra tirar nossas duvidas sobre o assunto.
- Tudo bem, se tudo estiver calmo, mais tarde a gente vai falar com ele. – Jenifer puxou Eleonora abraçando-a com tanta força que poderia ter ouvido uma costela se deslocar.
Eleonora despediu-se de Jenifer beijando-lhe mais uma vez.
Jenifer voltou para seus afazeres sentindo os pés pousando em nuvens. O sorriso não conseguia ficar preso.
- Me conta – Disse Abelle direta.
- Muito em breve você vai ser tia – Disse Jenifer rindo.
Abelle inclinou a cabeça pedindo mais explicações.
- Eu e a Eleonora... Vamos ter um filho.
Abelle soltou um “uau” sem som.
- Se fosse com qualquer outra eu realmente chegaria ao ponto de fazer qualquer coisa pra conseguir o que eu queria, mas você é mulher da doutora Eleonora. Ela realmente merece meu respeito – Disse a mulher em voz alta olhando para Jenifer.
Jenifer murmurou alguma coisa que talvez nem ela tivesse entendido.
Assim como chegou a mulher foi embora, sorrateira.
- Você ficou quieta... Não gostou da ideia de ser tia? – Perguntou Jenifer para Abelle, buscando os olhos da amiga.
- Você tem certeza disso? – A voz de Abelle era firme, talvez até um pouco dura.
- Tenho – A voz de Jenifer saiu com a mesma firmeza e com emoção.
- Eu vou ser tia... – Sonhou Abelle agora mais branda – Quem vai engravidar? Ou vocês vão adotar?
- Não sei, não conversamos ainda sobre adoção. Apesar de saber que a Léo quer adotar, ainda não sei. Vamos conversar com um médico hoje sobre inseminação e depois... Bom depois veremos o que decidir – Respondeu Jenifer.
- Vai ter meu total apoio no que decidir, mas se permite uma opinião. Adoraria te ver com aquela barriga gigante.
Jenifer sorriu junto com Abelle. Fechou os olhos por tempo suficiente pra se imaginar com
Eleonora passeando de mãos dadas, e a outra mão acariciando uma enorme barriga.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Capítulo 312 ♥

O final de semana passou tão rápido quanto um estalar de dedos. Quando deram por si, Eleonora e Jenifer já estavam voando de volta pra São Paulo e um piscar de olhos depois estavam destrancando a porta do apartamento.
- Eu não quero fazer janta – Declarou Jenifer bocejando e deixando as malas no meio da sala, deitando-se no sofá do jeito que estava.
- Eu também não – Disse Eleonora deitando-se junto de Jenifer – Se a gente estivesse em Vila São Miguel poderíamos ir jantar na casa do seu pai ou na minha mãe.
- Essa é uma grande vantagem de se morar na mesma cidade que nossos pais – Brincou Jenifer rindo – Adorei passar esse tempo com eles. É bom saber que todos continuam bem e felizes. Quase todos, por que meu irmão continua a ignorância em forma de gente.
- Acho que ele é um caso perdido. Não fica se desgastando por causa dele – Aconselhou Eleonora – Só vai te fazer mal...
- Não estou nem ai. Não mais, tenho coisas mais importantes pra me preocupar – Respondeu Jenifer sem sentir nenhum incômodo por dizer aquilo. Ela realmente não se preocupava mais com o que o irmão achava dela – A Regininha não quer nem mais saber dele, né?
- Não. Ela está namorando um ex colega meu de trabalho, o Rodolfo sabe? Aquele que de certa forma me ajudou quando aconteceu aquilo com a Úrsula.
- Que legal! Falando em relacionamentos... Parece que a Isabel e aquele dono do restaurante estão dando certo, né?
- Muito certo. Eles combinam muito. E tem o Plínio e a Angélica que estão até noivos.
- Nunca imaginei o Plínio namorando, quanto mais noivo – Brincou Jenifer rindo.
- É... Todo mundo achou a tampa da sua panela. Plínio e Angélica, o Viriato e a Duda, Isabel e o Edgar, o Leandro com a Claudia, a Regininha com o Rodolfo, eu e você...
- Acho que esse último casal, eu e você, é o que mais combina e o mais lindo – Mimou Jenifer beijando Eleonora.


O rádio relógio despertou fazendo Jenifer se virar pro outro lado da cama.
- Acorda preguiçosa – Chamou Eleonora com a voz baixa de grave.
- Não. Preciso dormir mais algumas horas – Respondeu Jenifer.
- Eu também preciso, afinal de contas você não me deixou dormir essa noite.
- Agora a culpa é minha? – Jenifer virou-se para Eleonora disfarçando uma cara de brava.
- Toda sua. E se você não levantar vai chegar atrasada na faculdade.
- Acho que hoje eu vou direto pro estágio.
- Você que sabe, antes faltar da faculdade do que do estágio. Só não vai levantar muito tarde, amor pra não ter que sair correndo, tá?
Jenifer assentiu fechando os olhos novamente.


E antes que pudesse perceber Jenifer já estava no Paulistano, colocando seu jaleco branco e preparando o material para usar com os pacientes. Abelle estava do outro lado da sala separando mais algumas coisas.
Concentrada e atenta, Jenifer anotava algumas coisas quando sentiu que alguém a observava. Levantou o rosto em direção a porta, um rosto lindo e desconhecido a encarava.
A mulher era da mesma altura que Jenifer, mas tinha os cabelos curtos e pretos como a noite. Seus olhos pequenos e pretos analisavam Jenifer com curiosidade.
- Então você é a nova estagiaria? – Perguntou a mulher se aproximando de Jenifer.
- Sim, eu e ela – Jenifer apontou a caneta para trás, indicando Abelle.
- Se você quiser alguma ajuda, tiver alguma dúvida pode me perguntar – Disse a mulher chegando perto o suficiente para arrumar a gola do jaleco de Jenifer que estava mal dobrada.
Jenifer afastou-se incomodada.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Capítulo 311 ♥

Depois de jantar na casa dos Improtta, Eleonora subiu para o antigo quarto de Jenifer. Mesmo que a viagem tivesse sido rápida, estavam cansadas e queriam apenas ficar na companhia uma da outra.
- Eu tenho saudades daqui – Comentou Jenifer escorregando o corpo sobre a cama para se encaixar melhor nos braços de Eleonora.
- Aquele saudosismo comum ou saudade de voltar pra cá? – Questionou Eleonora encarando Jenifer com curiosidade.
- Não sei. Não sei se voltaria pra cá. Apesar de tudo que aconteceu lá em São Paulo, a gente se deu bem por lá, não é? Você tem o seu emprego, agora eu tenho o meu, temos nosso apartamento que é lindo... É perfeito. Não falta mais nada.
- Nada mesmo?
- Ah, acho que não. Por quê? Você acha que falta alguma coisa?
Eleonora se desvencilhou de Jenifer e sentou-se na cama. Numa postura que fez Jenifer imitar o gesto.
- Eu estava conversando com a minha mãe mais cedo e... E já venho pensando nisso tem um tempo...
Jenifer inclinou a cabeça como se dissesse “continua”.
- Você ainda quer ter um filho comigo? – Perguntou Eleonora um pouco receosa. Já fazia tempo que Jenifer comentara sobre filhos com ela, e depois de tudo que acontecera a vontade poderia ter sumido como fumaça em contato com o ar, se dissipado.
- Eu sempre quis ser mãe e claro que quero ter filhos com você – Respondeu Jenifer serena pegando nas mãos de Eleonora – Achei que você não quisesse, aquela vez...
- Aquela vez eu achei que estava cedo demais – Interrompeu Eleonora – A gente tinha acabado de se casar, poderíamos não ter dado tão certo quando estamos dando em São Paulo e vários outros fatores. Mas agora que estamos estabilizadas, acho que pode acontecer.
- Mesmo? – Os olhos de Jenifer brilhavam diante da possibilidade, seu ventre parecia tremer.
- Sim. Mas a gente tem que planejar muitas coisas, por que criança da gasto e muitos e é uma responsabilidade enorme. É uma preocupação a mais que teremos, pra sempre.
- Eu sei... Não acredito que a gente vai ter filhos, ou um filho só?
- Não sei... Ser filho único deve ser ruim, não tem ninguém da idade pra brincar e fazer bagunça – Eleonora riu lembrando-se do tempo de criança em que corria com os irmãos pelo quintal de casa – Mas acho melhor a gente conversar sobre isso lá em casa, vamos aproveitar esse tempo aqui com nossas famílias.
Jenifer assentiu e pulou nos braços de Eleonora desequilibrando-a e fazendo com que ela caísse na cama de costas.
- Eu te amo, muito. Pra sempre – Disse Jenifer beijando o queixo de Eleonora.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Capítulo 310 ♥

Janice encarou a filha algum tempo, processando a notícia que acabara de ouvir.
- O que foi? – Perguntou Eleonora depois de um bom minuto em silêncio.
- Nunca achei que você fosse querer ter filhos – Confessou a mãe – Mas como...? Por que... Ai minha filha, não sei como funciona essas coisas de filhos entre... Entre duas mulheres.
Eleonora riu da confusão da mãe.
- A gente pode fazer inseminação, adotar... Não precisa ser feito do método tradicional – Esclareceu Eleonora – Até por que eu não chegaria a esse ponto pra ter um filho e acho que nem a Jenifer.
- Mas casais assim como você e a Jenifer não podem adotar, ou podem? Se as coisas já são complicadas pra casais “normais”, imagino que pra vocês sejam quase impossíveis.
- É um pouco mais complicado sim, por várias questões, mas não impossível. E acho muito injusto privar quem quer que seja de ter uma família, independente de quem a constitua, seja um homem e uma mulher, duas mulheres ou dois homens. Eles vivem falando que os orfanatos estão cheios, que ninguém quer adotar, mas quando aparece um casal gay interessado em adoção, eles colocam mil empecilhos. Então acho que o importante é a criança ser bem cuidada e amada.
Janice entendeu aquilo como um desabafo e concordou com cada palavra que Eleonora dissera.
- E a Jenifer já sabe dessa sua vontade?
- Ainda não... A gente conversou sobre isso tem um tempo, mas achei que ainda estava cedo, tínhamos acabado de nos mudar e aconteceram muitas coisas e... – Eleonora parou de repente, não queria ter pronunciado o “aconteceram muitas coisas”.
- Quais coisas? – Perguntou a mãe.
- Nada. – Respondeu Eleonora rápida – Coisas de casais.
- Hum... – Resmungou a mãe pouco convencida – Mas você quer engravidar? Você ficaria linda com aquela barriga enorme.
Eleonora sorriu.
- Não... Não tenho vontade de ficar grávida, carregar alguém dentro de mim me parece tão estranho... Mas tenho vontade de adotar, não preciso esperar nove meses, já está lá sabe? “Pronto” – Brincou Eleonora rindo.
- Então eu não vou ter netos? – Questionou Janice um pouco séria.
- Vai.
- Não.
- Como não, mãe?
- Netos só do Vê e da Regininha pelo jeito.
- Então quer dizer que se eu adotar ou a Jenifer engravidar a senhora não vai considerar seu neto? – A pergunta saiu em um tom meio áspero. Eleonora havia ficado chateada com o comentário. Janice percebera.
- Ah minha filha, me desculpa – Pediu constrangida – Eu achei que você fosse me dar netos, mas que saíssem daqui – Janice colocou a mão na barriga de Eleonora, encarando seus olhos – E além do mais, não quero ver você sofrendo por ter perdido a luta da adoção por ser assim... Por ser lésbica.
A palavra saiu da boca de Janice sem que ela tivesse percebido. Desde que descobrira a condição sexual de Eleonora, Janice nunca pronunciara a palavra “lésbica”. E naquele momento parecia que qualquer muro que tivesse entre ela e a filha havia sido quebrado e agora se resumia a pó.
- Eu não vou sofrer – Respondeu Eleonora – Espero que não – Se corrigiu - Apesar de não parecer as coisas estão melhorando pra gente. Existem casais gays no Brasil que já adotaram, depois de muita luta é claro, mas conseguiram... – Eleonora cortou o raciocínio para olhar no relógio do pulso. Janice aproveitou a deixa.
- Me desculpa minha filha. Eu não sei muito bem sobre essas coisas, mas o que você decidir eu vou te apoiar – Redimiu-se Janice – Prometo cuidar do meu neto, seja por qual método ele venha.
Eleonora sorriu e beijou a face da mãe.
- Agora vou lá na casa do pai da Jenifer ver o pessoal e buscar minha mulher – Comentou Eleonora – Talvez eu durma lá, ou aqui ainda não sei...
- Vai com Deus minha filha, de qualquer maneira seu quarto vai ficar arrumado – Informou a mãe.
Quando Eleonora passou pela porta da sala, Janice sentiu o peso da notícia cair sobre si. Mesmo que aceitasse a filha e a companheira dela, ainda havia alguma coisa que a incomodava. Não sabia muito bem como lidar com a situação de ter um neto adotado ou filho da companheira de sua filha. Não entendia como duas mulheres poderiam criar juntas uma criança sem trazer maiores problemas. Mas não via outra saída além de aceitar e apoiar a filha em qual decisão que fosse. E aprender a amar a criança que estava por vir.

sábado, 14 de maio de 2011

Capítulo 309 ♥

- O-oi João – Cumprimentou Jenifer vacilante – Tudo bem?- Tudo bem – Respondeu sem emoção, descendo as escadas sem demonstrar nenhum saudosismo.
- Ele ainda continua o mesmo, não é? – Perguntou Jenifer para o pai enquanto subiam as escadas.
- Nha, é meu mimo, ele é um cabeça dura... Não se importe-se com ele – Respondeu Giovanni.
- Que foi que aconteceu, ela brigou com a doutora e voltou pra casa? – Perguntou João Manoel para a avó.
- Não, elas vieram passar o aniversário da doutora aqui em Vila São Miguel – Respondeu Flaviana fazendo um ponto cruz numa toalha de mesa – João Manoel, já faz meses que sua irmã foi embora daqui e pelo visto elas estão cada vez mais unidas, não tem volta meu neto, não tem...
- Nem começa vó, desde o dia que ela decidiu gostar da mesma fruta que eu, eu decidi que não tinha mais irmã...
Flaviana soltou o ar de seus pulmões de forma pesada, pedindo a Deus que algum dia Ele fizesse o neto ampliar a forma de pensar.


As estrelar brilhavam no céu de Vila São Miguel, passava das nove horas quando Eleonora voltava da casa de Maria do Carmo. Deitou-se no sofá da sala, ouviu um barulho na porta da sala e ergueu a cabeça. Era o pai que chegava do trabalho.
- Oh, minha filha! – Disse Sebastião com os olhos brilhando – Vem cá dá um abraço no seu velho.
Eleonora levantou do sofá saltitante, abraçando seu pai com força.
- Sua mãe me ligou falando que você tinha chegado, mas não pude sair mais cedo...
- Resolvi, ou melhor, resolveram fazer uma surpresa pra vocês – Disse Eleonora ainda abraçada ao pai – Tia do Carmo já disse pra comemorar o meu aniversário lá na casa dela que é maior, cabe a nossa família mais a família da Jenifer, sai de lá com ela pedindo pra Cicera fazer o melhor bolo que ela sabia.
- Sua tia... Ela não tem jeito – Respondeu Sebastião. – Vou tomar um banho, descansar um pouco e depois a gente conversa mais um pouco.
Sebastião beijou a testa de Eleonora e subiu para o quarto. Janice desceu as escadas e sentou na sala junto da filha.
- Você parece tão feliz minha filha – Analisou Janice acarinhando os cabelos de Eleonora – A Jenifer está te fazendo bem não é?
Eleonora assentiu sorrindo.
- Sabe mãe, estou pensando em dar mais um passo em relação ao meu casamento com a Jenifer – Disse Eleonora.
- Passo? Que passo?
- Quero ter um filho – Anunciou Eleonora.
Janice olhou surpresa.

Capítulo 308 ♥

O avião pousou no Rio de Janeiro às sete horas de uma noite quente de primavera. Eleonora e Jenifer pegaram um taxi para Vila São Miguel, chegariam de surpresa.
O taxi estacionou uma hora depois em frente a casa dos pais de Eleonora. Depois de 7 meses ela ainda continuava a mesma, seus tons claros empalidecidos pelo tempo, as plantas verdes enfeitando o jardim.
- Você vai descer comigo? – Perguntou Eleonora para Jenifer.
- Vou descer na casa do meu pai, a gente se encontra depois pode ser? – Disse Jenifer.
Eleonora assentiu, beijou Jenifer e esperou o taxi ir embora.
Abriu o portão e sentiu um cheiro agradável vindo da cozinha, a comida da mãe parecia continuar a mesma também.
- Tem alguém em casa? – Perguntou Eleonora em voz alta passando pela porta da cozinha.
Eleonora ouviu da cozinha barulho de talher batendo em alguma superfície, talvez a pia ou a mesa e ouviu também uma exclamação de surpresa, era a mãe que vinha ao seu encontro.
- Minha filha! Não acredito que você voltou, achei que tinha esquecido da gente. Por que não ligou avisando que vinha? Vai ficar quanto tempo? Cadê a Jenifer? – Janice disparou as perguntas eufórica enquanto se pendurava no pescoço de Eleonora, beijando-lhe a face.
- Calma, mãe – Pediu Eleonora rindo – A Jenifer foi pra casa do pai dela, depois ela passa aqui. Nem eu sabia que vinha, foi uma surpresa pra mim também.
- Por isso liguei na sua casa mais cedo e não tinha ninguém. Seu irmão ligou para lhe desejar parabéns e só chamou, vocês já deveriam ter saído de lá. – Janice puxou Eleonora para mais um abraço – Parabéns minha filha, toda felicidade do mundo pra você, que você continue essa pessoa maravilhosa que você é, o meu orgulho – Desejou olhando nos olhos de Eleonora.
- Obrigada mãe, muito obrigada. Hum... – Eleonora franziu o nariz – Acho que tem coisa queimando lá na cozinha.
- Ah, meu Deus, o arroz – Alarmou-se Janice indo pra cozinha.
Eleonora riu do apavoro da mãe, deixou as malas na sala e subiu as escadas, matando a saudade de cada detalhe do lugar onde morou por tanto tempo.
- Meu mimo, minha bebê... – Dizia Giovanni agarrado a Jenifer – Quase que mata seu pai de saudade.
- Não é por que casou que tem que esquecer da família – Bronqueou Flaviana agarrando Jenifer também.
- Não exagera, eu ligo toda semana – Respondeu Jenifer.
- Mas você ficou semanas sem ligar, sem atender ao celular, a gente achou que tinha acontecido alguma coisa.
E Jenifer lembrou-se do que tinha acontecido. A separação de Eleonora não tinha chegado aos ouvidos de suas famílias e juntas decidiram que não contariam nada.
- Ah, aconteceram algumas coisas... – Disse Jenifer vagamente – E a Tula cadê? O João...
- A Tula foi ao mercado, vou ligar pra ela e pedir pra trazer mais algumas coisas, você vai jantar com a gente né? – Perguntou Flaviana.
- Vou sim. E depois vamos à casa da Léo, pra comemorar o aniversário dela, tudo bem?
- Ah! É verdade, hoje é aniversário da minha genra... – Disse Giovanni.
- É, aniversário da sua nora – Corrigiu Jenifer rindo – Vou guardar essas coisas e tomar um banho.
Giovanni ofereceu ajuda com as malas e quando Jenifer colocou o primeiro pé para subir as escadas, deu de cara com João Manoel que parecia ter acabado de acordar. Os dois se encararam por alguns segundos.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Capítulo 307 ♥

Eleonora esperou Jenifer do lado de fora do hospital, por algum motivo Jenifer não saiu no horário que dissera mais cedo. Não muito depois de olhar no relógio, Eleonora viu Jenifer saindo esbaforida.
- Desculpa o atraso, amor. – Pediu Jenifer – Me atrapalhei com algumas coisas lá dentro, que loucura meu Deus, não vou dar conta... Não vou...
Eleonora viu Jenifer se romper em lágrimas. Passou o braço por cima de seu ombro e caminhou junto dela pra o carro.
- Amor, calma, é o seu primeiro dia, é normal ficar assustada... Você é inteligente, vai saber tirar de letra – Eleonora tentou acalmá-la.
- Parece que tudo que aprendi esses anos todos não vale de nada, é muito detalhe... Minha cabeça está doendo – Reclamou limpando os olhos e jogando suas coisas no banco detrás do carro.
- Calma, amor, calma... – Eleonora desligou o carro e virou-se para Jenifer beijando-lhe os lábios com carinho, enxugando as lágrimas com sua mão delicada. – Tá mais calma?
Depois de respirar fundo, Jenifer balançou a cabeça, estava mesmo sentindo-se mais calma.
- O que seria de mim sem você... – Disse Jenifer abraçando Eleonora – Agora vamos? Tô muito cansada...
No caminho para casa Jenifer lembrou-se da conversa que Kátia tivera com ela mais cedo, por algum motivo achou melhor contar pra Eleonora.
- Amor, a Kátia veio falar comigo hoje – Disse Jenifer.
Eleonora freou o carro bruscamente em frente ao sinal que ainda estava verde. Engolindo em seco e ouvindo as buzinadas que gritavam atrás.
- Léo! – Exclamou Jenifer assustada.
Eleonora estacionou o carro alguns metros à frente. Seu coração acelerado.
- Léo, não aconteceu nada. Ela só... Ela só veio me pedir desculpas.
Eleonora olhou Jenifer em meio às luzes amareladas que refletiam dos postes sem entender.
- Desculpa? – Indagou Eleonora confusa.
Jenifer contou o que ouviu de Kátia deixando Eleonora ainda mais zonza.
- E foi isso – Concluiu Jenifer – Nunca achei que fosse ouvir isso dela...
- Nem eu – Respondeu Eleonora ainda meio zonza, ligando o carro novamente.
- Você achou que... Que eu... Que eu tinha te traído de novo? – Perguntou Jenifer.
- Não – Mentiu Eleonora olhando no retrovisor para evitar os olhos de Jenifer – Claro que não.
- Hum – A resposta não convenceu Jenifer, mas ela decidiu ficar quieta e não puxar mais assunto. Se colocando no lugar de Eleonora entendia que Eleonora tinha motivos ainda pra desconfiar.


Chegando em casa, Jenifer deixou as coisas na sala e deitou na cama com a roupa que passou o dia, tirou os sapatos com os próprios pés e sentiu os olhos se fecharem sem esforço. De repente abriu-os num susto, tinha algo pra falar pra Eleonora.
Vencendo a preguiça e os bocejos consecutivos, Jenifer caminhou pesadamente até a cozinha onde Eleonora preparava algo rápido para comer.
- Pensei que já tivesse dormido – Disse Eleonora enquanto cortava um sanduíche ao meio.
- Eu ia dormir, mas antes tenho que te mostrar uma coisa – Jenifer foi para o quarto e voltou com as mãos atrás das costas, escondendo algo. – Feche os olhos – Pediu para Eleonora.
Eleonora deixou a faca de lado e fechou os olhos. Jenifer ergueu dois panfletos retangulares de cor azul céu.
- Pode abrir os olhos agora.
Eleonora olhou e pegou um dos panfletos, abriu e se deparou com uma passagem para o Rio de Janeiro.
- A gente vai viajar? – Perguntou.
- Não sei você, mas eu estou morrendo de saudade de Vila São Miguel. E como seu aniversário já é nesse final de semana, achei legal a gente comemorar lá com nossas famílias – Respondeu Jenifer. – Gostou da ideia?
- Claro! – Exclamou Eleonora sorrindo – Já disse que você é a melhor mulher do mundo?
- Não, hoje você não disse isso – Respondeu Jenifer dando a volta na bancada para beijar Eleonora.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Capítulo 306 ♥

Jenifer estava em pé encostada a parede, os braços cruzados e os olhos em Kátia, esperando o que ela tinha a dizer.
- Você e a Eleonora voltaram, né? – Perguntou Kátia apontando para a aliança que brilhava na mão de Jenifer – Fico feliz em saber...
Jenifer murmurou algo ininteligível.
- Eu queria dizer... Na verdade quero pedir desculpa por tudo que fiz,você pode não acreditar, mas eu amo muito a Eleonora e saber que ela não vai mais ser minha realmente me dói – Disse Kátia com os olhos marejados.
Jenifer se assustou com as lágrimas que cintilavam a luz do Sol.
- Me desculpa por ter feito vocês se separarem. Peço de coração. E quero te pedir outra coisa também: Cuida bem dela, ok? O pedido pode ser bobo, por que eu sei que você vai cuidar, pelo jeito vocês se amam muito, talvez ela te ame mais do que amou a mim... Então espero que você saiba dar valor a ela, por que há muitas pessoas parecidas em gestos e personalidades, mas a Eleonora é única, nunca ninguém vai conseguir ser metade do que ela é. Não cometa o mesmo erro que cometeu comigo.
Jenifer descruzou os braços, relaxando-os. As palavras pareciam ter fugido.
- Pode deixar, eu vou cuidar da Eleonora – Disse Jenifer por fim um pouco zonza.
Kátia sorriu.
- Essa é a última semana que fico aqui, depois vou voltar pra Vitória, São Paulo já não me faz tão bem quanto eu achei que fizesse – Disse Kátia saindo. – Se cuida você também.
Jenifer ficou parada por um minuto ainda, processando tudo que ouvira de Kátia.


Jenifer voltou pra junto de seus amigos, cabisbaixa. Ainda sem entender o que acontecera.
Penélope estalou os lábios num gesto de pura curiosidade e vontade de destilar o seu veneno. Abelle esperou com o olhar o que Jenifer tinha a dizer.
- Ela veio me pedir desculpas – Disse Jenifer sentando na cadeira.
- Hã? – Penélope parecia ter recebido um jato de água fria.
- É – Confirmou Jenifer tomando um pouco de suco – Disse que ama a Eleonora, mas que sabe que elas não vão voltar, pediu pra eu cuidar bem dela e disse que vai embora pra Vitória.
Todos se entreolharam confusos.
- E você acreditou? – Questionou Abelle.
- Acreditei... – A resposta soou um pouco vaga – Ela parecia bem triste...
O clima ficou um pouco tenso. Todos em silêncio sem saber o que dizer.
- Quem se ferrou mesmo foi você, né Pê? – Disse Max quebrando o silêncio – Agora quem vai te ensinar como ser uma lésbica?
Todos riram. Jenifer esquecera da cena que vira na casa de Kátia meses antes, rindo também, deixando-se esquecer do passado. Mirando no futuro.


Era meio do dia quando Jenifer e Abelle chegaram ao hospital Paulistano. Um médico residente com cabelos grisalhos cortados bem curto acompanhou as duas pelas dependências do hospital, explicando sobre como seria o estágio.
- Vocês vão ficar no oitavo andar, o centro de reabilitação foi instalado junto ao andar de ortopedia por ser mais viável – Disse o médico – Ele fica no final do corredor e podem deixar suas coisas lá mesmo. Tenham uma boa tarde e boa sorte.
Abelle e Jenifer caminharam inseguras pelo corredor do oitavo andar. Olhando em volta os quartos e os pacientes. Ouviram uma voz ordenando coisas.
- Levem ela pro Raio-X, agora!
Jenifer virou-se de costas e viu que a voz mandona era de Eleonora. Jenifer pegou no braço de Abelle pedindo pra que ela parasse, girou nos calcanhares e foi até Eleonora.
- Ei – Chamou Jenifer.
Eleonora virou de frente e abriu um imenso sorriso ao ver Jenifer.
- O que você tá fazendo aqui? – Perguntou beijando a face de Jenifer.
- Começar meu estágio, oras – Respondeu Jenifer rindo – Aquele médico grandalhão disse que o centro de reabilitação fica ali – Apontou pro final do corredor.
- Trabalhando no mesmo andar que eu, isso não vai dar muito certo... – Constatou Eleonora rindo – Que horas termina?
- Acho que umas seis horas, mesmo horário que você sai, né?
- Sim, vamos embora juntas então.
Jenifer pegou na mão de Eleonora desejando poder beijá-la.
- Agora eu tenho que ir, amor. Uma menininha de oito anos caiu de bicicleta e talvez tenha que operar. Boa sorte – Eleonora beijou Jenifer na testa e foi até sua pequena paciente.
Jenifer parou diante de uma porta vai-e-vem que estava fechada, no alto lia-se: Centro de Reabilitação. Seu coração palpitava inquieto. Abelle parou ao seu lado, também tensa.
- Pensando no que? – Perguntou a loura olhando para Jenifer.
- Pensando que a minha vida vai mudar a partir de hoje – Respondeu Jenifer colocando a mão na porta para entrar.

sábado, 7 de maio de 2011

Capítulo 305 ♥

O sol brilhante que saia detrás das nuvens incidiu no quarto de Eleonora e Jenifer. Seu raio quente pairou sobre a perna de Jenifer, acordando-a. Ela se remexeu um pouco na cama querendo ficar ali por mais muito tempo.
- Não quero voltar pra faculdade hoje – Reclamou com a voz abafada no pescoço de Eleonora.
- Eu também não queria que você voltasse – Murmurou Eleonora baixo.
- Hum? – Perguntou Jenifer erguendo a cabeça.
- Nada... Só disse que também não queria que você voltasse, nem que eu fosse trabalhar pra gente ficar aqui o dia todo – Mentiu. É claro que Eleonora estava pensando em Kátia quando dissera aquilo. Era inevitável não pensar nela quando se referia a faculdade.
Jenifer arrastou-se até a beirada da cama, alcançando o relógio que estava em cima do criado mudo e vendo que ainda era muito cedo.
- A gente ainda tem uma hora pra sair daqui – Sussurrou Jenifer buscando o corpo de Eleonora com suas mãos.
Eleonora se virou para Jenifer e começou a beijar seu pescoço com vontade, esquecendo tudo que estava rondando sua mente anteriormente.


- Você quer que eu venha te buscar pra levar pro hospital? – Sugeriu Eleonora enquanto estacionava o carro na porta da faculdade de Jenifer.
- Não amor, eu vou com a Bel, não precisa se incomodar – Garantiu Jenifer beijando Eleonora delicadamente.
Eleonora assentiu beijou Jenifer mais uma vez e esperou ela entrar na faculdade, o coração palpitando com certa rapidez.
Logo Jenifer encontrou seus amigos, sentou-se junto a eles na cantina. Faltavam quarenta minutos para começar a aula. Enquanto conversavam Kátia passou cabisbaixa entre eles, não parando para conversar com Jenifer como fizera há algum tempo. Abelle cutucou a costela de Jenifer, chamando sua atenção.
Kátia ergueu a cabeça e seus olhos encontraram os olhos de Jenifer. Jenifer desviou o olhar e continuou a conversar com os amigos. Kátia parecia indecisa. Seus olhos azuis pareciam menos vivos. Depois de pensar um pouco foi até Jenifer.
- Bom dia pra vocês – Cumprimentou todos com um sorriso apagado – Jenifer, eu posso falar com você um segundo? Em particular...
Todos os olhos pararam em Jenifer como se aquilo fosse a decisão da copa do mundo de futebol.
Jenifer olhou para Abelle pedindo ajuda, Abelle deu a entender “você que sabe”. Jenifer assentiu e se levantou.


No hospital Eleonora estava absorta em meio a receitas e altas que teria de assinar quando sentiu o perfume conhecido de Marcela. Levantou a cabeça e a viu chegando com o seu belo sorriso.
- Bom dia – Desejou Eleonora.
- Bom dia – Respondeu Marcela – Tudo bem?
- Tudo... – Eleonora recuou um pouco olhando mais detalhadamente o pescoço de Marcela – Que marca é essa? – Apontou com a caneta para uma mancha.
Marcela pegou o espelho dentro da bolsa às pressas, analisando.
- Ah, droga, ainda aparece – Resmungou Marcela enquanto olhava a marca – Ah! É só a marca de uma boa noite, sabe?
- Hum... Então você tá com alguém – Constatou Eleonora.
- Acho que sim, a gente ainda está se conhecendo.
- Pelo visto já se conhecem muito bem. Quem é a garota?
- O nome dela é Natasha, era minha amiga e agora... Bom, parece que está virando mais que amiga...
- Que legal! Ela é legal? Quantos anos? Mora onde? Tem passagem pela policia? – Brincou Eleonora rindo.
- Ah, não, ela não tem passagem pela polícia e é uma ótima pessoa – Respondeu Marcela rindo – E você e a Jenifer, estão bem?
- Estamos ótimas, melhor impossível.
- E por que essa cara de “algo está me incomodando”?
- Ela voltou pra faculdade hoje e...
- Ah! Nossa, a professora dela...
- É. Eu sei que não vai acontecer nada, espero que não, mas é impossível ficar 100% segura.
- “Confiança é como cristal”, não é isso que dizem? Quando quebra nunca mais volta a ser o mesmo, mas eu acho que você não deve se preocupar, a Jenifer aprendeu a lição e se não aprendeu é por que ela realmente não sabe o valor que você tem e sabe muito menos o que é amar uma pessoa – Disse Marcela acarinhando Eleonora no ombro.
- Você tem razão, não há motivos pra desconfiar – “Espero que não tenha mesmo” continuou Eleonora mentalmente.