Capítulo 304 ♥

Eleonora fechou a janela e deixou as cortinas abertas, a luz da lua iluminava o quarto. Sentou-se na cama novamente, enrolando o lençol no corpo.
- Você gosta de lembrar de coisas que te magoaram? – Questionou Eleonora olhando para Jenifer.
Jenifer negou com a cabeça.
- Foi por isso que não te contei. Na verdade, não só por isso – Se corrigiu. – Eu não achei que... Que vocês... Enfim, não vi necessidade de contar. Mas se você quiser que eu conte tudo que aconteceu entre nós duas, estou disposta a contar.
- Conta, quero ouvir sua versão – Disse Jenifer ajeitando-se na cama.
Eleonora contou tudo que havia acontecido entre ela e Kátia, vez ou outra fazendo uma pausa para se lembrar de algum detalhe. A expressão de Jenifer se alterava de nojo para horror com facilidade. Arrependendo-se a cada palavra de Eleonora, sentindo desprezível por ter se metido com Kátia.
- E foi isso que aconteceu – Terminou Eleonora – Antes até pensei na hipótese de manter um contato, amizade... Mas depois de tudo, depois do que ela me disse hoje no shopping, quanto mais longe melhor.
- Ela me disse que você recusava falar com ela – Disse Jenifer lembrando-se da conversa com Kátia – Disse que correu muito atrás de você e etc. etc...
- E você vai acreditar nela? – Perguntou Eleonora alterando um pouco a voz.
- Claro que não – Respondeu Jenifer de imediato.
Eleonora e Jenifer se olharam algum tempo em silêncio.
- Se não tivesse sido ela, teria sido qualquer outra? – Perguntou Eleonora depois de um longo silêncio. – Você teria me traído com qualquer outra?
A pergunta apunhalou Jenifer mais uma vez como uma adaga afiada.
- Sinceramente, Léo... – Jenifer inspirou fundo – E-eu... Acho que não. E por que você não ficou com a Marcela quando pôde? –Jenifer reverteu a conversa, não queria mais falar sobre traição da parte dela.
- Por que eu realmente não me senti atraída, envolvida por ela – Respondeu Eleonora sem titubear – Não tinha nada nela que me atraia mais do que as coisas que encontro em você. Nada.
A culpa doeu no peito de Jenifer, parecia sentir uma mão de ferro fria apertando-lhe o coração.
- Você me perdoa?
- Você me perdoa? – Retrucou Eleonora segurando as mãos de Jenifer.
- Não tenho o que te perdoar.
- Claro que tem. Eu te coloquei pra fora de casa, te chamei de coisas horríveis... Por um momento esqueci que você era e é o meu amor – Eleonora exaltou-se um pouco – Mas eu te perdoo. Te perdoo por que te amo mais que a mim, Jenifer. Você é a minha vida.
Os olhos de Jenifer marejaram.
- Estamos perdoadas – Disse Jenifer passando as mãos de Eleonora em torno de si – E eu também te amo, mais que qualquer coisa no mundo...
Jenifer apertou Eleonora em seus braços o mais forte que pôde por longos minutos.
- Cadê a sua aliança? – Perguntou Eleonora depois de se soltarem do abraço, olhando a mão de Jenifer.
Jenifer estendeu as mãos e viu que a peça não estava lá. Foi até a bolsa e a revirou, achando a aliança no fundo dela, embaixo de batom, ipod, papéis e tudo mais que uma bolsa de mulher tem.
Eleonora tirou a aliança de dentro da gaveta do criado mudo.
- Acho bom elas voltarem pro lugar de onde nunca deveriam ter saído – Disse Eleonora rindo, pegando a aliança da mão de Jenifer e colocando no seu dedo anelar esquerdo.
Jenifer fez o mesmo.
Uniram suas mãos e se olharam sorridentes.
- Até a eternidade – Disse Jenifer.
- Até a eternidade – Concordou Eleonora.


- Não acredito que vocês estão realmente nos braços uma da outra de novo – Gralhava Dafne do outro lado da linha depois de Jenifer contar tudo.
- Sim, amiga. Depois de tantos desencontros, voltamos. E dessa vez nada nem ninguém, ninguém – Jenifer deu ênfase a ninguém – vai separar a gente. Eu não sei mais viver sem ela...
- Romantismo a mil, hein amiga? Que bom, eu fico muito feliz em saber que vocês se reencontraram. Essa separação não poderia ser definitiva.
- Amiga, tenho que desligar agora, estou esperando a resposta de um estágio. A gente se fala durante a semana, tudo bem? Beijo, tchau. – Jenifer desligou o telefone.
Há uma semana esperava ansiosa pela resposta de um estágio em fisioterapia. Se não fosse pela calma e compreensão de Eleonora, sua ansiedade já a teria matado.
Faltava alguns minutos para Eleonora voltar do trabalho. O sol caía atrás dos prédios, tingindo o céu de um alaranjado forte e um amarelo ouro.
O telefone tocou e Jenifer não deixou tocar uma segunda vez.
Atendeu afoita, tentando escutar tudo o que a outra pessoa dizia. Desligou o telefone e sentou no sofá, seus olhos marejando, suas mãos tremendo. Ficou assim até a lua tomar o lugar do sol.
Eleonora chegou em casa e viu Jenifer sentada no sofá, inquieta.
- Boa noite minha vida – Cumprimentou Eleonora alegre. Seu sorriso foi sumindo quando percebeu que havia algo de errado com Jenifer – Que foi? Está preocupada? Ah, era hoje que iam te ligar pra falar do estágio, não é? E ai, conseguiu?
Jenifer olhou Eleonora muda.
- Fala logo, amor. Você está me deixando nervosa.
- Consegui – Murmurou Jenifer tão baixo que teve que repetir mais alto – Consegui, eu con-se-gui o estágio.
Eleonora a abraçou, compartilhando de sua alegria.
- Em qual hospital? – Perguntou Eleonora curiosa.
- No Paulistano, mesmo hospital que você trabalha – Informou Jenifer sorridente.
- Claro que eles escolheriam você, lá só tem os melhores – Gabou-se Eleonora beijando Jenifer.