Leia o Texto Completo: Bloquear Seleção de texto no Blogger | Inforlogia http://www.inforlogia.com/2008/11/bloquear-selecao-de-texto.html#ixzz1AYuS8pMz (http://www.inforlogia.com) Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives Eleonora & Jenifer: junho 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Capítulo 343 ♥ Últimos capítulos...

Quando Eleonora chegou em casa naquela tarde de sábado estranhou o som grave e rouco de uma voz que vinha da sacada. Ao chegar mais perto notou algumas ferramentas no chão, um home negro e de braços musculosos terminava de fazer alguma coisa, que viu logo em seguida o que era: Ele estava colocando uma tela de proteção que pegava toda sacada.
- Pronto dona Jenifer agora sua filha já está protegida – Disse o homem dando um arremate numa ponta que ficou pra fora.
- Obrigada, fico muito mais tranquila – Agradeceu Jenifer apertando a mão do homem. – Amor, nem vi que você tinha chegado, olha – Jenifer apontou para a tela – Agora nossa filha está mais segura, né?
Eleonora assentiu sorrindo e cumprimentou o homem com um aceno de cabeça. Estava um pouco inquieta e Jenifer percebeu.
Esperou até que o homem passasse pela porta da sala, ouvindo o clique ao fechar.
- Que foi meu anjo? – Perguntou Jenifer acariciando o rosto de Eleonora e a puxando para um abraço.
- Eu tenho uma coisa pra te falar... Uma vontade que me deu desde que voltamos de Vila São Miguel no final do ano – Respondeu Eleonora entrelaçando suas mãos nas costas de Jenifer.
- E vai me contar só agora por quê?
- Por que a vontade está aumentando cada vez mais e...- Eleonora foi interrompida por um grito estridente vindo do interior da casa.
Nem precisava saber que era Virgínia que tinha aprontado alguma coisa. E quando chegaram ao quarto da pequena, encontraram a embalagem de talco jogada no chão, o quarto cheirava a talco e quando Jenifer olhou no chão boa parte dele estava branco e escorregadio. E Virgínia estava com os cabelos brancos de produto.
- Essa menina ainda me mata do coração – Disse Jenifer brava e preocupada – Filha, a mamãe já não disse que não pode sair por ai puxando coisas?
Virgínia fez bico e enfiou a cabeça pouco abaixo do seio de Jenifer, escondendo-se.
- Ajeita isso que eu vou dar outro banho nela – Disse Eleonora pegando a filha.
- Espera, Léo... Você não vai me falar o que está acontecendo com você? – Perguntou Jenifer colocando a embalagem vazia de talco dentro do lixo.
- Depois que ela dormir vamos conversar, prometo – Garantiu Eleonora beijando Jenifer e indo com Virgínia para o banheiro.


Depois de tirar todo o talco do corpo de Virginia e limpar o chão Eleonora e Jenifer estavam exaustas deitada na cama, abraçadas conversando sobre o futuro e a vontade de Eleonora.
- Não precisa ser agora, até por que você vai começar sua outra faculdade, a Virgínia ainda está muito pequena... – Ia justificando-se Eleonora.
- Entendi... – Respondeu Jenifer soltando o ar pesadamente dos pulmões – Eu gosto daqui. Gosto mesmo. Já me sinto uma paulista, mas eu tenho muita saudade de Vila São Miguel...
- A gente espera um tempo, pode ser que essa vontade de voltar vá embora ou pode ser que só aumente, mas se você não quiser ir, tudo bem, ficamos por aqui mesmo.
- Não fica chateada comigo, Léo, eu não respondi se vou ou não, só disse que precisamos pensar, ok? – Disse Jenifer com a mão no rosto de Eleonora encarando seus olhos na meia luz.
- Tudo bem, nós temos todo tempo do mundo – Respondeu Eleonora com um sorriso demonstrando sua calma.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Capítulo 342 ♥ Últimos capítulos...

Já era noite quando Jenifer chegou em casa. Quando olhou na sala estranhou o espaço vago entre um sofá e outro, ali costumava ter uma mesa de centro. O tapete também não estava ali.
- Até que enfim chegou hein, mamãe? Estávamos com saudade de você – Disse Eleonora dizendo como se fosse Virgínia indo de encontro a Jenifer.
- A mamãe demorou, né filha? Amor... Alguém ligou, algum recado...? – Perguntou Jenifer tomando Virgínia nos braços.
- Não, ninguém ligou, mas ela tem uma surpresa pra você.
- Você tem uma surpresa pra mim? – Perguntou Jenifer olhando a filha que piscava alegremente – Vai dizer que nasceu mais algum dente, ai meus seios não vão aguentar...
- Não, não foi isso... Vem comigo filha, mostra pra mamãe o que você sabe fazer – Eleonora pegou Virgínia no colo, tirou sua sandália e colocou a pequena no chão de pé – Amor, ajoelha – Pediu pra Jenifer.
Jenifer obedeceu e ajoelhou a alguns bons centímetros das duas.
- Vai lá e mostra pra ela o que você sabe fazer – Disse Eleonora para Virgínia que se soltou de suas mãos um pouco insegura, caindo de bunda no chão, mas levantando em seguida com a ajuda de Eleonora.
Jenifer levou as mãos a boca, sentindo as lágrimas se formarem ao ver que sua filha estava andando até ela, sozinha.
- Gostou da surpresa? – Perguntou Eleonora já sabendo da resposta.
- Foi uma das melhores surpresas, nunca achei que ia me emocionar tanto por ver que a nossa filha aprendeu a andar – Disse Jenifer levantando-se e pegando Virgínia, cobrindo a filha de beijos.
- E pensar que ainda há tantas coisas para descobrir...


E a surpresa da semana seguinte não poderia ser melhor. O apartamento de Eleonora e Jenifer estava com o mesmo clima alegre de sempre. Música rolando, comida diferente sendo feita, Virgínia agora andando de um lado pro outro, vez ou outra caindo e abrindo o berreiro que parava pouco depois. Era horário de almoço e nos finais de semana aquele momento se tornou sagrado já que durante a semana Eleonora e Jenifer mal conseguiam ir ao banheiro.
Virgínia estava sentada na cadeirinha perto da mesa com seu babador rosa em volta do pescoço. Naquele momento fazendo careta, pois Jenifer ofereceu um pedaço de chuchu para filha que recusou na hora.
Eleonora tentou oferecer um pedaço do tomate que estava no seu prato. Virgínia aceitou de bom grado.
- Vou pegar a sobremesa – Disse Jenifer retirando-se da mesa e levando seu prato pra colocar na pia.
Eleonora tirava o babador de Virgínia quando seu coração parou ao ouvir:
- Mã!
Eleonora colocou o babador no colo e ficou olhando para Virgínia com os olhos arregalados.
- Mã!
Virgínia acabara de pronunciar – ou tentar – a primeira palavra.
- Amor, corre aqui – Pediu Eleonora com urgência.
Jenifer largou o refratário sobre a pia, enxugando as mãos no pano de prato.
- Que foi?
- Mã! – Repetiu Virgínia! – Mamã...
Jenifer olhou para Eleonora.
- E-ela... Ela te chamou de mãe? – Perguntou Jenifer.
- Acho que sim. Ela me chamou de mãe. Ela me chamou de mãe! – Eleonora quase saiu pulando dentro do apartamento – Diz de novo, filha...
Virgínia riu da cara de boba de Jenifer e Eleonora e se calou depois. Bocejou e mostrou que diria qualquer coisa depois de tirar sua soneca da tarde.
- Não dorme não, diz só mais uma vez – Pediu Jenifer rindo – Acorda filha...
Mas Virgínia já não estava mais ali, o sono chegou e ela dormiu ainda na cadeirinha.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Capítulo 341 ♥ Últimos capítulos...

A garota se chamava Emily, tinha 19 anos, olhos pretos e marcados por olheiras profundas. A pele clara estava com marcas roxas e amareladas e arranhões. Mas a ferida maior estava na alma. Há uma semana ela se assumiu lésbica para os pais. Viu a reação que sempre achou que eles teriam. Além de falar coisas que deixaram seu coração aos pedaços, bateram na filha e jogaram seus poucos pertences na rua, atraindo o olhar de curiosos e fofoqueiros. Não bastasse isso, seus parentes lhe viraram as costas, fingindo que Emily era uma desconhecida. E quando Emily atravessava a cidade para ir até a sua última alternativa, ir até a casa da namorada, foi atacada por um grupo de homofóbicos que a espancaram, fazendo-a fraturar a perna e deixando escoriações no rosto e braços.
- E se não fosse a Paola, minha namorada, não sei o que seria de mim – Terminou Emily, desistindo de enxugar os olhos encharcados.
- Meu Deus, isso é...
- Inacreditável né? Eu sei. Às vezes acho que vou acordar desse pesadelo e ver minha mãe do lado da minha cama, me chamando dizendo que se eu não acordar vou perder a hora de ir pra faculdade. Mas não... Isso é a minha vida agora.
Emily estava a ponto de uma crise nervosa. Chorava copiosamente. Jenifer não sabia o que fazer. Apenas chegou a cadeira mais perto e abraçou Emily. Uma ideia passou por sua mente e estacionou ali. Desde então ela não conseguiu parar de pensar em outra coisa.


Depois de colocar Virgínia no berço Eleonora voltou pra cozinha, pra enfim fazer aquilo que desejava a horas: Comer.
Estava sentada diante de Jenifer que ficava mexendo a comida com o garfo, comendo uma coisa ou outra.
- O que aconteceu? – Perguntou Eleonora deixando a comida de lado. Buscando as mãos de Jenifer com as suas.
- Eu tive uma ideia, duas na verdade. Quero a sua opinião. Mas antes eu quero te contar o porquê quero isso – Respondeu Jenifer deixando o prato de lado também.
- Pode dizer.
Jenifer contou a história de Emily para Eleonora. Eleonora ouviu tudo com a mesma perplexidade que Jenifer teve na hora, sentindo uma angustia por pensar que aquilo poderia ter acontecido com qualquer uma das duas.
- E então por isso, depois de ouvir a história da Emily eu decidi que quero isso – Disse Jenifer por fim.
- E se você quer saber, tem o meu total apoio. – Apoiou Eleonora entrelaçando sua mão a de Jenifer.


Era final de tarde na capital paulista. Jenifer estava fora de casa desde cedo correndo atrás do seu novo projeto enquanto Eleonora assistia TV com Virgínia deitada em seu peito.
- Vamos tomar banho, filha? Hein? Tá virando uma porquinha já – Disse Eleonora cheirando e mordendo Virgínia, fazendo a filha rir.
Enquanto pegava as roupas para tomar banho, Eleonora olhava Virgínia a cada meio segundo para saber se ela não tinha engatinhado para algum lugar perigoso. Virgínia estava brincando com seus ursos e bonecas sentada no grande tapete redondo que ficava na beirada da cama de suas mães.
Eleonora abaixou-se para procurar sua calça do pijama quando se assustou ao sentir as pequenas mãos da filha nas costas.
-Ai meu Deus! – Exclamou Eleonora com o coração aos pulos virando-se cuidadosamente – Ai meu Deus, você está andando. Desde quando isso mocinha?
Eleonora sentou no chão olhando Virgínia andar um pouco vacilante para sentar em seu colo.
- Sua mamãe Jenifer vai surtar quando ver isso – Concluiu Eleonora sorrindo para Virgínia enquanto a pequena passava sua pequena mão no rosto da mãe.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Capítulo 340 ♥

Maria Eduarda colocou sua mão sobre o braço do marido num gesto que pedia calma. Mas ele não cedeu. A boca de Viriato se abriu para disparar mais e mais palavras quando um senhor de túnica branca bordada em dourado e com desenhos vermelhos apareceu. Demonstrando calma. - O que aconteceu aqui meus filhos? – Era o padre Joaquim que perguntava, olhando rapidamente para Jenifer, Eleonora e a filha.
- Acontece que eu não acredito que você vai batizar a filha... – O homem que reclamara de Jenifer e Eleonora anteriormente dera uma risada irônica e abafada – Essa criança. Não acredito que o senhor vai batizar essa criança que elas dizem ser filha delas.
- E qual o problema? – Indagou padre Joaquim ainda calmo.
- O senhor ainda pergunta? Isso... Isso não pode ser chamado de família. Elas... Elas fogem da lei de Deus – Justificou o homem ficando vermelho.
- E quem disse que elas “fogem da lei de Deus”? – Questionou Padre Joaquim – Deus prega o amor, a união e é isso que eu vejo...
- Chega! Não vou aceitar isso, Amélia – Interrompeu o homem olhando para a mulher ao seu lado – Vamos embora, não quero ficar num lugar onde aceitam esse tipo de coisa.
Sebastião que estava do outro lado da igreja, no meio, pensou em levantar e dar uma lição no homem, mas Janice o conteve.
Giovanni entrara na igreja quando o homem saiu, não sabia o que estava acontecendo. Ainda.
- Mais alguém tem alguma coisa contra eu aceitar batizar a filha de Eleonora e Jenifer? Se alguém não concordar peço que se retire da minha igreja – Declarou o padre pousando sua mão enrugada e quente na mão de Eleonora.
Pelo visto ninguém tinha nada contra, pois a igreja permaneceu em silêncio.


No final do batizado quando todos já iam embora, Eleonora tomou a liberdade de entrar na sala onde o padre se preparava para a missa. Deu duas batidas na porta e ouviu um acolhedor “entre” ser dito.
- Eleonora... Entre, pode entrar. O que deseja? – Perguntou padre Joaquim ajeitando a gola de sua camisa.
- Eu... Eu queria agradecer por tudo que fez por mim e por minha filha – Disse Eleonora um pouco sem jeito – Eu ainda não acredito que aceitou batizar a filha de duas mulheres...
- Não precisa agradecer minha filha, fiz o que meu coração mandou. Além de mim tem alguém lá em cima que sabe que entre você e a Jenifer existe amor, cumplicidade... Não fiz nada demais – Disse o padre segurando a mãos de Eleonora entre as suas.
Eleonora não conseguiu segurar a vontade e abraçou o padre, recebendo o gesto de volta. Mal sabia ela que não muito tempo depois aquela notícia correria todo o país.


De volta a capital paulista Eleonora e Jenifer voltaram para a rotina. Agora nova rotina já que não era apenas mais as duas que habitavam o apartamento do bairro Paraíso.
Primeiro dia de volta ao trabalho depois do parto foi à correria que já esperavam. Arrumar a pequena mala de Virgínia que ficaria na creche do hospital, facilitando e muito a vida de suas mães.
E se adaptando a nova rotina de casa, no hospital tudo estava a mil por hora. Eleonora corria com um paciente que tinha caído de moto enquanto Jenifer sem querer fazia uma paciente chorar com os exercícios de fisioterapia.
- Desculpa... Sei que está doendo, mas se não for assim seu joelho não vai ficar bom – Disse Jenifer enquanto puxava a perna da garota.
- Eu sei... – Respondeu a garota limpando os olhos – Isso perto do que eu passei não foi nada.
Jenifer parou o que estava fazendo, pedindo que a garota relaxasse a perna.
- E o que aconteceu pra você vir parar aqui? Se quiser falar claro...
- Com certeza quero falar, mas antes... – A garota analisou Jenifer por algum tempo – Eu sabia que te conhecia de algum lugar, você é casada com outra doutora, não é? Qual o nome dela...
- Eleonora – Respondeu Jenifer – Sou casada com ela sim, de onde você me conhece?
- Aaaaah doutora, quem não conhece o primeiro casal gay a conseguir batizar um filho na igreja? Meu, isso foi dito no Brasil todo! Sério, vocês ganharam uma fã.
E Jenifer e Eleonora estavam mesmo famosas após batizar Virgínia. A notícia correu Vila de São Miguel naquele mesmo dia como faísca ao encontrar uma trilha de pólvora. Na mesma semana Jenifer e Eleonora estavam nas páginas de notícias de vários sites da internet como o primeiro casal a conseguir batizar um filho. Ganharam fãs e mais inimigos hipócritas e mal amados que responderam a isso com palavras como “inferno” e “ira de Deus”. Mas Eleonora e Jenifer não se importaram, estavam protegidas pelo amor que as unia.
- Ah, obrigada! – Jenifer estava com as bochechas um pouco coradas – Você não sabe o quanto fiquei feliz. Mas me fala de você, o que aconteceu?
- Tudo aconteceu quando eu contei para os meus pais que sou lésbica.
Jenifer analisou a frase e garota que estava machucada e pensou “isso não deve ter sido nada bom”. Respirou fundo puxando todo ar que podia, olhou em volta e pegou uma cadeira que estava atrás de si. Ignorando o pequeno caos que estava aquele dia, fingindo ainda fazer seu dever, Jenifer sentou-se e prestou atenção em cada palavra que a garota ia dizer.

domingo, 26 de junho de 2011

Capítulo 339 ♥

- Mas olha só como ela está linda – Admirou Janice ao ver a neta no colo de Eleonora.
Jenifer descia as escadas voltando do banheiro.
- Vem com a vovó, meu anjo – Janice mal estendeu os braços e Virgínia se jogou no colo da avó, deixando-a ainda mais boba.
- E esse neném lindo de quem é? – Perguntou Jenifer olhando para um bebê de olhos verdes e curiosos, que abriu seu sorriso banguela quando ela se aproximou.
- É um dos meus netos – Respondeu Maria do Carmo toda orgulhosa – Esse é Julinho, Julio Cesar filho da Duda e do Viriato. Sua filha tá a coisa mais linda, não é? Até tá parecendo um pouco com Eleonora...
- Inacreditável né? Até parece que a Virgínia saiu dela...
Maria do Carmo foi até Janice que brincava e babava na neta, enquanto Jenifer abria a fivela que segurava Julio Cesar no carrinho, pegando o pequeno no colo.
Eleonora foi até o lado externo da casa, abrindo o portão e caminhando pela calçada, quando deu por si estava de frente para a casa que vira anteriormente dentro do carro. Não sabia, mas Maria do Carmo estava atrás dela com Virgínia nos braços.
- Ah, oi tia, nem te vi ai – Disse Eleonora surpresa beijando a mão gorducha da filha em seguida. – Nunca vi essa casa antes, é construção nova, não é?
- É sim, construíram e depois colocaram pra vender, não sei muito bem o que aconteceu com os donos, mas ela é linda – Respondeu Maria do Carmo analisando a construção.
- Eu a achei muito bonita parece grande, tem um jardim lindo...
- Por que não compra? – Sugeriu Maria do Carmo.
- Ah não... Eu e Jenifer estamos bem lá em São Paulo – Respondeu Eleonora apertando os olhos para a luz do sol.
- Mas criar uma coisa linda dessa num apartamento chega a ser pecado, criança precisa de espaço.
Eleonora assentiu em silêncio.
- Ave Maria! Já tá quase na hora do almoço, deixa eu ver como andam as coisas. Vai com a mamãe vai minha linda – Maria do Carmo entregou Virgínia para Eleonora.
- E você o que acha? Queria morar numa casa bonita assim ou prefere ficar vendo os carros lá do alto como a gente faz todo dia? – Perguntou Eleonora para Virgínia que tombou a cabeça no seu ombro, demonstrando cansaço. – Tudo bem, não precisa responder agora, vamos mamar e dormir que eu sei que você tá cansada.


Aproveitando que já estavam na cidade Jenifer achou melhor já deixar tudo ajeitado para o batizado da filha que seria junto do batizado dos outros recém chegados a família Ferreira da Silva/Improtta.
Jenifer acabava de dar banho em Virgínia. Saiu do banheiro com a pequena enrolada na toalha e a colocou na cama para enxugá-la.
Ouviu-se uma batida na porta e ao virar a cabeça para saber quem era, Jenifer viu o cabelo cor de fogo da amiga aparecer na fresta que se formara na porta.
- Cadê a coisa mais linda da madrinha? – Perguntou Dafne afinando a voz e beijando a barriga de Virgínia fazendo a pequena se desmanchar de tanto rir – Olha o que a madrinha comprou pra você.
Dafne tirara de uma embalagem branca e rosa um vestido branco com alguns babados e um mini chapéu na mesma cor do vestido.
- Ela vai ficar linda amiga, adorei – Agradeceu Jenifer beijando Dafne no rosto. – Cadê a sua namorada?
- Deve estar quase chegando, atrasada como sempre.
Enquanto conversavam Jenifer vestiu a filha, substituindo o laço que ganhara da sogra pelo chapéu que Dafne deu.
- Preparada pra ser a neném mais cobiçada e linda da igreja, hein? – Perguntou Dafne pegando Virgínia no colo - Vem com a madrinha pra mamãe terminar de se arrumar.


Na igreja a primeira fileira de bancos foi tomada por toda família Ferreira da Silva/Improtta.
Plínio, Angélica e o filho Artur estavam numa ponta, ao lado deles Maria Eduarda e Viriato ajeitavam os últimos detalhes da roupa de Julio Cesar, enquanto Isabel e Edgar paparicavam a pequena Maria Paula. Jenifer, Eleonora e Virgínia sentaram ao lado deles já sentindo o clima por ser o único casal gay – talvez o primeiro da história da cidade – a batizar uma criança.
- Eu não acredito nisso que estou vendo – Disse um homem em voz baixa, mas não baixo o suficiente para que Eleonora e Jenifer não ouvissem.
- O que? – Perguntou a mulher ao seu lado, estava com uma criança no colo.
- Essas duas sapatas, filha daquele bicheiro miserável e a outra que se acha uma ortopedista... Não vai me dizer que aquela pobre criança é filha delas?
- Pobre criança por quê? – Perguntou Viriato levantando-se do banco e virando para trás – Por que pobre criança? Ela está sendo criada e muito amada, por duas mulheres sim, você se importa com isso?
De repente a igreja toda ficou em silêncio, todos os olhares voltados para o casal e Viriato.

Capítulo 338 ♥

Ao chegarem em casa Eleonora foi colocar Virgínia no berço enquanto Jenifer tirava a comida comprada na rua da sacola.
Eleonora colocou a pequena no berço, fechou a janela e as cortinas, cobrindo bem a filha com um cobertor todo desenhado por ursinhos.
- Agora você é a Virgínia Ferreira da Silva Improtta, minha filha – Dizia Eleonora debruçada no berço ajeitando a coberta.
- Amor, vem comer – Chamou Jenifer entrando no quarto.
Parou ao lado de Eleonora, passando seu braço em volta de sua cintura.
- Dá pra acreditar? Nossa filha registrada no nome de nós duas e agora podemos oficializar a nossa união – Disse Eleonora ainda com os olhos em Virgínia que já dormia profundamente.
- Duas grandes vitórias num mesmo dia são pra se duvidar mesmo. Só não espero que surja alguém de algum lugar dizendo que é pegadinha – Respondeu Jenifer rindo.
- Meio caminho já está andado, agora só falta podermos casar no civil e fica tudo perfeito – Disse Eleonora desencostando do berço sentindo o efeito da posição em sua coluna.
- É, mas enquanto isso ainda não é possível vamos comemorar o que conquistamos hoje – Disse Jenifer puxando Eleonora pelo cós do jeans.
- Você chamou pra comer... – Sussurrou Eleonora no ouvido de Jenifer – A comida vai esfriar...
- O que você vai comer está quente, pode apostar.
Jenifer saiu puxando Eleonora pela cintura, suas mãos parecendo ter vida própria tirando suas roupas.


Seis meses passaram rápidos como um piscar de olhos. Quando deram por si, Virgínia já estava sorrindo e rindo. Crescia e engordava ainda mais por já poder tomar sucos e comer papinhas, e ainda mamando rigorosamente durante a madrugada ou quando desse vontade.
Virgínia estava saudável e sua fisionomia se misturava entre Jenifer, o pai desconhecido e por incrível que pareça Eleonora; Mesmo não tendo nenhum dado genético de Eleonora, ela parecia carregar algum gene de sua outra mãe.
- Meu cabelo era cacheado igual o dela – Observou Eleonora um dia, enquanto secava os cabelos de Virgínia após um banho – O nariz dela parece o meu, pequeno e meio arrebitado.
- Os olhos dela são iguais aos meus – Disse Jenifer – Que coisa estranha... Estranha e bom, por que ela está parecendo com nós duas.
- Exceto o fato de ela ter essas covinhas quando sorri, deve ter puxado do pai.
Virgínia estava sentada no berço, enrolada numa toalha amarela desenhada com pequenos patos e observava suas mães a analisarem, piscando seus olhos esverdeados. Prestou atenção como se entendesse cada palavra.
Eleonora e Jenifer perceberam a intensidade com que a filha as observava e pararam de conversar.
- Olha amor, ela está prestando atenção em tudo, até parece que está entendendo alguma coisa – Disse Jenifer olhando a filha de rabo de olho.
Virgínia franziu o cenho e inclinou a cabeça para a direita, foi tombando lentamente dentro do berço, caindo na risada em seguida.


Naquela semana que começava Jenifer e Eleonora arrumavam as malas para irem direto pra Baixada Fluminense. Era mais um final de ano que passariam ao lado de suas famílias que agora estavam com três membros a mais além de Virgínia.
Jenifer emendou a licença maternidade com as férias, pegando quinze dias para descansar e aproveitar a família.
- Pegou a bolsa dela? – Perguntou Eleonora pegando a chave do carro e a bolsa em movimentos rápidos.
- Peguei – Respondeu Jenifer fechando o zíper da bolsa.
- Pegou a mamadeira, as fraldas e o Jack?
Jack era o ursinho marrom de pelúcia que Virgínia não desgrudava.
- Peguei – Disse Jenifer chegando à sala esbaforida. Carregando a bolsa de um lado e a cadeirinha de segurança do carro na outra mão.
- Cadê a Virgínia? – Perguntou Eleonora olhando para as mãos de Jenifer.
Jenifer ergueu uma sobrancelha e fez bico como se dissesse “Não tá vendo que eu tô ocupada?”
Eleonora foi até o quarto e tirou a pequena do berço.
Já dentro do carro Jenifer prendeu a pequena na cadeirinha e beijou sua testa, fazendo o sinal da cruz em seguida, assim como sua mãe fazia sempre antes de sair, era uma das lembranças mais fortes que Jenifer tinha da mãe.
Era a primeira vez que Eleonora iria dirigir até sua antiga casa, o tempo estava bom, era verão e o sol da manhã já brilhava forte e intensamente no céu azul e sem nuvens.
A falta de trânsito facilitou muito para que não demorassem a chegar em Vila de São Miguel. Janice avisara Eleonora que estariam todos na casa de Maria do Carmo, juntando a família para facilitar a visita.
Eleonora errou o caminho da casa da tia entrando numa rua antes, diminuiu a velocidade do carro, quase parando. Colocou a cabeça para fora do carro olhando uma casa que nunca tinha visto antes, mesmo quando morava na cidade.
- Que foi? – Perguntou Jenifer olhando para o rumo de Eleonora.
- Essa casa... Nunca a vi – Respondeu Eleonora olhando as janelas azuis fechadas – Bonita...
- Linda mesmo, mas vamos pra casa da sua tia, preciso muito ir ao banheiro – Disse Jenifer apressando Eleonora.
Eleonora engatou o carro e saiu, dando uma última olhada na casa.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Capítulo 337 ♥

- Então quer dizer que pra gente registrar a Virgínia no nome de nós duas, teremos que contratar um advogado? – Perguntou Jenifer já em casa junto de Eleonora, dobrando algumas roupas lavadas da filha.
- E pelo jeito isso vai demorar mais do que a gente quer, já que nem a união estável ainda nos foi concedido. Mas é pro bem dela – Respondeu Eleonora com a voz esmagada e entristecida, apontando para Virgínia que estava no carrinho – Eles não podem tirar o direito dela. Nem o nosso.
- Amor, você não viu que estão quase aprovando o reconhecimento de união homoafetiva aqui no Brasil? Só se fala disso há uma semana.
- Aqui no Brasil as coisas demoram, por isso eu não me iludo – Respondeu Eleonora indo até o carrinho para pegar Virgínia.
Jenifer deu de ombros e colocou as roupas dobradas em cima da cadeira.
- Vou aproveitar que ela está quietinha e vou tomar banho, prometo ser rápida – Disse Jenifer beijando a filha e Eleonora.
- Podem dizer o contrário, mas eu sinto que você é minha filha. Ninguém vai mudar isso, ninguém – Disse Eleonora apertando Virgínia em seus braços.


E depois de uma semana cansativa, Eleonora e Jenifer estavam a um passo de conseguir o que tanto queriam: Registrar Virgínia no nome de ambas, deixando em lei o que já estava claro, que as duas eram mães da pequena e nada mudaria isso.
Jenifer e Eleonora estavam em uma sala toda moldada por madeira, em estilo antigo e com cadeiras almofadas por um veludo em tom de verde-água. Uma mesa retangular estava no centro. Samir – o advogado contratado por Jenifer – e Eleonora estavam sentados em volta da mesa, com alguns papeis nas mãos. Jenifer estava em pé embalando Virgínia que estava quase dormindo. Talvez quando acordasse já estaria registrada, e se tivesse sorte seria no nome de suas duas mães.
- A juíza está demorando mais do que esperávamos – Disse Samir para Eleonora, que apenas balançou a cabeça concordando. Estava nervosa demais para falar qualquer coisa.
Minutos depois do que Samir disse a mesma ruiva que dias atrás estava no cartório conversando com Eleonora e Jenifer estava entrando na sala. Com sua roupa preta, seus cabelos cor de fogo presos num coque com uma rede preta. Estela era a juíza que diria sim ou não ao pedido do advogado.
Eleonora e Jenifer trocaram olhares nervosos.
A seção começou, o advogado apresentou todos os motivos para que Virgínia fosse registrada no nome do casal.
Para temor de Eleonora e Jenifer, Estela ficou quieta a maioria do tempo, suas mãos cruzadas sobre a mesa, seus ouvidos apurados. Fazia uma pergunta pertinente ou outra, mas na maioria do tempo ficou calada.
- E por esses motivos e outros tantos que poderia apresentar aqui, acho que a pequena Virgínia tem o direito de ter o sobrenome de suas mães – Terminou Samir juntando os papeis.
Estela deu um meio sorriso, fazendo seu olhar encontrar o de Eleonora, queria demonstrar tranquilidade, mas Eleonora sentiu tensão.
- Eu não preciso de mais motivos para dar a decisão final Samir – Começou a dizer Estela saindo de seu lugar e caminhando lentamente pela sala – O motivo principal eu já vi nos olhos da Eleonora: Amor. Ela ama essa criança como se tivesse saído dela e só isso já me basta pra conceder o seu pedido.
Jenifer aproximou-se de Eleonora com Virgínia nos braços, querendo poder abraçá-la e comemorar a decisão que nem tinha sido dita ainda.
- E o outro motivo para que eu conceda esse direito a Virgínia é que agora – Estela olhou no relógio de parede – Às 17h30 foi aprovada pelo Supremo Tribunal Federal o reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo. Seria um retrocesso negar esse pedido diante desse acontecimento.
Por um momento Jenifer achou que deixaria Virgínia escorregar de seus braços. Eleonora estava anestesiada, ficou sentada na cadeira tentando organizar o que tinha ouvido.
- Quer dizer que agora... Teremos nossos direitos garantidos como qualquer casal? – Perguntou Jenifer afoita.
- Sim! – Respondeu Estela deixando seu sorriso a mostra.
Agora dentro de Eleonora e Jenifer pareciam ter fogos de artifícios, prontos para estourarem no céu.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Capítulo 336 ♥

Eleonora e Jenifer iam para o aeroporto paulista, levar Flaviana e Janice que voltariam para Vila de São Miguel naquela manhã fria. Virgínia dormia como um anjo na cadeirinha no banco detrás do carro.
- Não se esqueça de colocar luvas e meia nela, e touca, por que aqui faz um frio horrível – Aconselhava Janice enquanto Eleonora estacionava o carro.
- Não se esqueça também de sempre ver se as fraldas estão acabando, é melhor manter um estoque do que passar apuros – Disse Flaviana.
- Tudo bem, pode deixar, não vou esquecer nada disso – Disse Jenifer anotando mentalmente cada palavra.
Chegaram ao aeroporto que estava calmo, minutos depois chamaram o vôo que levaria Janice e Flaviana para Vila de São Miguel. Jenifer se despediu pedindo para que elas ficassem mais um pouco.
Quando o avião levantou vôo, Jenifer sentiu um aperto no coração.
- Agora estamos sozinhas – Disse para Eleonora com os olhos no avião que subia cada vez mais.
- Não estamos, eu tenho você e você me tem.
- Será que vamos conseguir sem elas?
- Claro que vamos. Somos mulheres fortes, prontas pra enfrentar qualquer coisa. – Garantiu Eleonora pegando na mão de Jenifer.
Jenifer tirou os olhos do avião para olhar Eleonora.
- Eu amo você – Ela disse – Amo muito você, Eleonora Ferreira da Silva.
- Eu também amo muito você, Jenifer Improtta.
- Vamos passar no cartório agora?
- Vamos. Vamos para a nossa primeira batalha, espero que seja primeira e última.
De mãos dadas saíram do aeroporto. Armadas de confiança e do amor por Virgínia, Eleonora e Jenifer seguiram para o cartório a fim de registrar a pequena no nome de ambas.


O cartório estava com uma grande movimentação. Eleonora tirou da bolsa toda a documentação necessária para realizar o registro.
Pediu que Jenifer esperasse sentada num canto junto de Virgínia, enquanto pedia informações.
- Oi, bom dia. Gostaria de saber se é aqui com você que faz o registro de nascimento da minha filha – Disse Eleonora para uma mulher magra de cabelos curtos até as orelhas e óculos com armações redondas.
- Sim, é comigo. Você é mãe solteira? – Perguntou a mulher com voz monótona.
- Não... Bom, na verdade eu não sou a mãe biológica dela... Hum... A minha esposa que deu a luz a minha filha.
A mulher abaixou os óculos encarando Eleonora por um segundo que pareceu o suficiente para deixar seu coração acelerado.
- Sinto muito, mas fazemos registros apenas em nome de casais normais. Se quiser registrar a filha da sua mulher, é apenas no nome dela – Respondeu a mulher ríspida.
Eleonora deu uma risada abafada desacreditando daquilo que ouvia. O sangue lhe subiu deixando sua face rubra. Ela iria fazer uma coisa que detestava: Perder o controle.
- Casais normais, então... Como você é ridícula. Eu e a minha esposa somos um casal normal, temos nossa casa, pagamos nossas contas e agora vamos criar uma criança linda que é fruto do nosso amor – Começou a gritar Eleonora sentindo o sangue esquentar seu rosto – Fruto do nosso amor sim – Salientou ela quando percebeu que a mulher a encarou discordando do que ouvia – Você acha o que? Que só por que eu não “ajudei” a fazer, eu não tenho nenhum direito sobre aquela criança?
Quem estava ao redor parou pra ouvir o que Eleonora dizia. Jenifer pegou Virgínia que dormia ainda na cadeirinha e foi até Eleonora.
- Amor, vamos embora, por favor... – Pediu Jenifer puxando Eleonora pelo braço.
- Não – Respondeu Eleonora livrando o braço da mão de Jenifer – Eu amo a minha filha como se ela tivesse saído de mim, vou cuidar dela, vou protegê-la e amá-la com todo amor que eu sinto. E se você acha que isso não é normal, você realmente tem muito que aprender sobre a vida. O amor não escolhe cor, credo, religião ou sexo ele acontece e pelo visto você não tem disso na sua vida...
Um silêncio pesado como uma bola de ferro pairou no ar. A mulher encarava Eleonora com a boca seca. Todos ao redor abaixaram a cabeça. Alguns continuaram o que estavam fazendo, outros continuaram ali, esperando que algo mais acontecesse.
- Posso saber o que está acontecendo? – Perguntou uma mulher tão ruiva quanto Dafne. Olhos azuis vivos e grandes, cabelos presos num rabo de cavalo e expressão amigável.
- Elas... – A mulher detrás do balcão engasgou e pigarreou – Elas querem registrar a filha no nome das duas, mas... Eu disse...
- Que aqui só registram filhos de casais normais – Dedurou Eleonora ainda com a raiva correndo nas veias.
- Homofobia no meu cartório, Valéria? – Perguntou a ruiva olhando para a mulher.
Valéria ficou calada. Engolindo em seco.
A ruiva ignorou o silêncio de Valéria e abriu a portinhola que ficava ao lado, passando para o outro lado.
- Me desculpem o mal entendido, depois vou conversar com ela... Muito prazer, meu nome é Estela – Disse a ruiva estendendo a mão para Eleonora e Jenifer – E vocês quem são?
- Eu sou Eleonora, ela é a Jenifer minha esposa e a nossa filha, Virgínia – Apresentou Eleonora apontando para Jenifer e Virgínia.
- Oi pequena, tudo bem? Que mamãe brava você tem, hein? – Brincou Estela acariciando o rosto de Virgínia. – Vocês podem me acompanhar até minha sala, vou explicar pra vocês como funciona o registro para filhos de casais gays.
Jenifer e Eleonora seguiram Estela. Eleonora dando uma última olhada para Valéria.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Capítulo 335 ♥

Depois de meses dormindo em apenas uma posição, Jenifer esparramou-se na cama de bruços matando a saudade de dormir na sua posição favorita. O braço esquerdo estava nas costas de Eleonora e ela dormia profundamente.
Já passava das três horas da madrugada quando Virgínia começou a chorar. Eleonora acordou num sobressalto, assustada, desacostumada por ser a primeira vez que acordava com aquele “barulho”.
- Amor, acorda – Chamou Eleonora tirando o cabelo do rosto amassado de Jenifer. – A Virgínia acordou.
Jenifer resmungou alguma coisa e virou pro outro lado, puxando o cobertor todo para si.
- Amor, acorda – Chamou Eleonora de novo, agora acendendo o abajur do lado de Jenifer a luz forte clareando seu rosto cansado.
Jenifer abriu os olhos para a luz que incomodava sua visão e virou para o lado oposto.
- Vai lá ver o que é – Disse para Eleonora.
- Ela quer você amor, deve ser fome.
Jenifer ergueu a cabeça ainda sonolenta, tentando organizar os pensamentos.
- Amor, agora você não pode mais dormir uma noite inteira e nem dormir quanto quiser, seu sono agora depende dela.
Virgínia parou de chorar repentinamente assustando Eleonora e Jenifer que pularam da cama.
Correram até o quarto e sentiram como se tivessem lhe tirado um elefante das costas: Janice embalava Virgínia sentada na poltrona.
- Achei que não vinha mais – Disse com a voz áspera e baixa quando viu Jenifer.
- Desculpa, desculpa... Dá ela aqui.
Janice levantou da poltrona dando o lugar para Jenifer que sentou e pegou Virgínia nos braços, oferecendo o seio para que pudesse se alimentar. E Eleonora estava certa, a pequena estava com fome.
- Isso é hora de sentir fome, filha? – Perguntou Jenifer enquanto sentia Virgínia sugar o leite.
- Ela ainda não tem noção de horas, amor. Relaxa, rápido você acostuma – Disse Eleonora sentando no braço da poltrona, esquentando a filha e a mulher.
- Vou voltar pra cama, se precisarem de alguma coisa é só chamar – Avisou Janice saindo pela porta.
- Obrigada, sogra – Agradeceu Jenifer.
Janice sorriu de volta, deixando a porta entreaberta para espiar a filha, a nora e a primeira neta.


Era meados de Junho, o Outono estava se disfarçando perfeitamente de inverno na capital paulista. Virgínia já estava com uma semana de vida, parecia ter crescido alguns centímetros desde então. Estava no berço enquanto Janice e Flaviana ajeitavam o banheiro para dar o banho na pequena.
- Linda da mãe... Eu já te amo tanto sabia? – Dizia Jenifer para Virgínia – Você foi a segunda melhor coisa que aconteceu na minha vida. Não fica com ciúmes, por que a primeira melhor coisa que me aconteceu foi sua outra mamãe, a Léo... É, você tem duas mamães que te amam muito.
- Jenifer pode trazer ela – Chamou Janice do banheiro.
Jenifer tirou o macacão de Virgínia e a enrolou numa toalha, formando um pacotinho pequeno e gorducho.
O banheiro estava tomado pelo vapor que saia da água quente do chuveiro, a temperatura também era maior, fazendo com que Jenifer tirasse a blusa de frio.
- Banho de criança não precisa demorar muito, é coisa rápida, ainda mais no frio – Disse Flaviana ajudando Jenifer a desenrolar Virgínia da toalha.
- Pode dar o banho, eu fico olhando – Disse Jenifer sorrindo de nervoso.
- Nada disso – Repreendeu Janice – Já faz uma semana que você está olhando, quando a gente for embora como você vai fazer?
- Ela é muito pequena, tenho medo de deixar ela cair, escorregar, Deus me livre.
- Calma, só isso que você tem que ter – Disse Flaviana – Coloca ela dentro da banheira.
Jenifer deu a volta por detrás da avó, entrando no boxe e colocando a filha na água morna.
- E agora? – Perguntou Jenifer tremendo.
- Vira ela de costas pra poder lavar as costas e o bumbum – Orientou Janice gesticulando como Jenifer deveria segurar Virgínia – Isso mesmo.
Sem esperar alguma orientação, Jenifer virou Virgínia de frente, jogando água naquele corpo frágil e pequeno.
- Pronto. Viu como é fácil? – Perguntou Flaviana pegando a toalha para enrolar a bisneta novamente.
- É, não é tão difícil...
- Quanto você tiver o segundo filho já vai estar craque!
Jenifer olhou para a avó com os olhos assustados.
- Ué, que foi? Eu ainda penso que você e a Eleonora vão me dar outro bisneto.
- Eu prefiro não comentar – Disse Jenifer sorrindo levando Virgínia para o quarto.
Enquanto enxugava a filha Jenifer pensou no futuro. Onde estaria fazendo a mesma coisa que fazia naquele momento, enxugando seu filho, mas não era Virgínia por que esta estava puxando a barra de sua calça pedindo atenção. Era outro filho, um segundo. Não sabia se teria nascido dela ou de Eleonora. Mas por um breve momento esse pensamento rondou sua mente.
Mas aquilo ainda era uma vontade distante, ou nem tanto assim.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Capítulo 334 ♥

Jenifer voltou para casa no dia seguinte, essa era uma das muitas vantagens de se fazer parto normal; Voltar pra casa no dia seguinte, sem dor nem cortes medonhos na barriga.
Quando Eleonora abriu a porta Jenifer deu de cara com a sogra, a avó, as amigas e alguns balões coloridos pendurados na estante próxima a porta de correr que dava pra sacada. Entre alguns balões tinha a frase escrita em cores fortes e alegres “Bem vinda Virgínia”.
- Foi ideia dela – Disse Dafne apontando pra Rosalie.
- Que lindo gente, muito obrigada. – Agradeceu Jenifer sorrindo – Olha filha, fizeram isso pra você – Sussurrou para Virgínia que estava com seus olhos arregalados.
- Deixa eu pegar ela um pouco? – Pediu Dafne já estendendo os braços.
Jenifer assentiu e entregou a pequena nos braços de Dafne.
- Oi bebê. Sabia que sou sua madrinha? É, sou sua madrinha e vou ajudar as suas mães cuidar de você – Dafne conversava com Virgínia enquanto seus olhos se encaravam curiosos.
- Será que vocês vão conseguir batizar ela? – Perguntou Flaviana para Jenifer e Eleonora – Vocês sabem, eles não deixam batizar uma criança sem os pais estarem casados na igreja, imagina quando verem que ela tem duas mães...
- Eu também pensei nisso – Respondeu Eleonora coçando a nuca – Talvez algum padre não se importe, talvez...
- Sei de um padre que batizaria a minha neta – Disse Janice se intrometendo na conversa – O padre que batizou você minha filha.
- O padre Joaquim? Você tem certeza?
- Tenho! Quando eu descobri que você gostava da Jenifer mais do que amiga, depois que você contou isso pra mim eu fui falar com ele. Antes de toda a cidade saber que vocês namoravam ele já sabia – Explicou Janice – Sabia por que eu tinha falado com ele, e você sabe o quanto ele gosta de você.
- Você nunca me contou isso – Disse Eleonora.
- Mas estou contando agora. Foi ele que disse pra que eu não me afastasse de você, que o fato de você ser lésbica nasceu com você, assim como suas sardas e a cor dos seus olhos. Acho que ele não se recusaria a batizar a Virgínia.
Eleonora e Jenifer trocaram um olhar.
- Pronto, problema resolvido – Disse Flaviana – E quando vocês vão registrar ela? Ela vai chamar como, Virginia Improtta Ferreira da Silva ou Virgínia Ferreira da Silva Improtta?
- Nem um, nem outro – Respondeu Eleonora soltando o ar dos pulmões pesadamente pelas narinas – Virgínia Improtta apenas. Legalmente ela é filha apenas da Jenifer.
Janice balançou a cabeça algumas vezes em sinal de negação, murmurando algo que talvez ela mesma não ouvisse.
- O que foi mãe?
- Por que eles complicam tanto as coisas? – Perguntou Janice um pouco brava – Vocês estão formando uma família, uma família linda por sinal e eles negam o direito de vocês assim?
- Pra eles nós não somos uma família – Respondeu Jenifer – Num país tão hipócrita e religioso somos a perdição.
- Mas a gente vai desistir de registrar nossa filha no nosso nome por causa disso? – Perguntou Eleonora encarando Jenifer.
- Não – Respondeu Jenifer encarando Eleonora da mesma maneira – Ela nasceu de mim, mas ela é nossa, nós vamos criá-la e amá-la muito.
- É assim que se fala – Apoiou Janice – Já vi casos de gays que tem filhos adotivos e conseguiram registrar o filho no nome dos dois.
- E nós vamos conseguir também, vai ser uma luta cansativa, mas o importante é conseguir – Disse Eleonora.
- Ei mamãe, acho que alguém precisa trocar a fralda – Disse Dafne entregando Virgínia para Jenifer.
- Hã, trocar a fralda? – Perguntou Jenifer pegando a filha e buscando ajuda com os olhos.
Eleonora riu.
- Você não quer que ela faça isso sozinha, né? – Implicou Eleonora rindo.
- Vamos lá pro quarto que eu vou te mostrar como faz – Disse Flaviana – Já deu banho nela?
- No hospital antes de vir a enfermeira deu, me ensinou a trocar a fralda e dar banho, mas...
- Calma. Aprende com quem tem experiência – Disse Janice pegando Virgínia no colo.
- Ainda bem que vocês vão ficar aqui alguns dias, assim não fico tão perdida – Disse Jenifer sentindo-se mais segura.

sábado, 18 de junho de 2011

Capítulo 333 ♥

Eleonora e Jenifer conversavam sobre o parto. Dando risada da cara de alguns ajudantes que se espantaram por ver que o “pai” de Virgínia na verdade era outra mãe. Fizeram planos para quando chegassem em casa, pensaram juntas em como a rotina mudaria e tiveram certeza de que a partir daquele momento a prioridade de ambas era uma só: Virgínia.
Alguém bateu na porta e nem esperou uma resposta, foi abrindo e entrando.
Jenifer ajeitou-se na cama e seus olhos sorriram junto de seus lábios. Uma enfermeira baixinha e magrela trazia nos braços Virgínia, enrolada em uma manta rosa claro.
- Acho que alguém quer mamar – Disse a enfermeira entregando a neném nos braços de Jenifer.
Ainda desajeitada Jenifer aconchegou Virgínia nos braços, encantada.
- Co-como que faz isso? – Perguntou Jenifer rindo e ficando séria em seguida – Calma! Amor, me ajuda.
Jenifer entregou Virgínia para Eleonora. Abaixou a alça de sua camisola e apertou o seio esquerdo, esguichando uma quantidade impressionante de leite.
- Fome eu já sei que ela não vai passar – Comentou Jenifer – Pode...
Jenifer ia pedir que Eleonora entregasse Virgínia, mas ela não quis interromper a cena. Eleonora embalava Virgínia sorrindo e passando seus dedos pelos cabelos e rosto da pequena. Cantarolando alguma coisa em voz tão baixa que apenas ela e Virgínia poderiam ouvir.
- Amor, pode dar ela aqui – Chamou Jenifer não querendo estragar o momento, mas achando necessário.
- Ah! – Exclamou Eleonora parecendo voltar ao planeta terra.
Virgínia sugou o seio de Jenifer com força.
Eleonora sentou-se ao lado de Jenifer namorando a esposa e a filha. Estava quase pedindo um babador para a enfermeira.
- Vou lá chamar minha mãe e meu pai para conhecerem a neta, depois chamo seu pai e sua avó e depois os outros – Avisou Eleonora.
Eleonora estava com a mão sobre a mão de Virgínia e a pequena segurou seu dedo indicador com uma força que não parecia ser dela.
- Acho que ela quer que você fique com a gente, amor – Disse Jenifer olhando para Eleonora – Você não precisa ir agora.
- Também acho que não – Concordou Eleonora.


Já passava das oito da noite quando todos voltaram para o apartamento de Eleonora e Jenifer. Eleonora voltou para casa contra a vontade, queria passar a noite no hospital junto de Jenifer e Virgínia, mas todos disseram que não era necessário já que as duas estavam bem e na manhã seguinte já poderiam voltar pra casa.
- Minha filha, eu queria ficar, mas amanhã cedo já volto pra Vila de São Miguel – Informou Sebastião.
- Eu vou ficar – Disse Janice – Elas vão precisar de um pouco de ajuda nos primeiros dias, aprenderam a cuidar uma da outra outro dia...
- Não exagera, mãe! – Disse Eleonora rindo e abraçando a mãe – Eu e a Jenifer vamos dar conta, não deve ser tão difícil assim...
Janice, Flaviana e Maria do Carmo se entreolharam.
- Eu também vou ficar – Disse Flaviana.
- Eu queria ficar também minha genra, mas o dever me chama-me então volto pra casa amanhã – Disse Giovanni.
Eleonora assentiu e quem ia embora no dia seguinte foi arrumar as coisas, enquanto Flaviana e Janice foram verificar o quarto de Virgínia.
- Minha filha, devo te pedir desculpas – Disse Sebastião quando percebeu que estava sozinho com Eleonora.
- Desculpas por que? – Indagou Eleonora confusa.
- Por achar que era errado você e a Jenifer ter uma filha.
A boca de Eleonora se abriu, mas não saiu som algum.
- Depois de ver vocês juntas, vocês três juntas no hospital, ver como seus olhos brilharam diante daquela criança, sentir o quanto você e Jenifer... Se amam... Nunca vi nada mais bonito.
Eleonora comoveu-se com as palavras do pai e o abraçou.
- Saiba que a Virgínia vai ser muito bem vinda na nossa família, minha primeira neta...
Da porta do quarto Janice acompanhava a cena, agradecendo a Deus por ter tornado o marido mais compreensivo.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Capítulo 332 ♥

Na sala de espera todos estavam inquietos. Giovanni ainda andava de um lado pro outro, esbarrando vez ou outra em Sebastião que fazia o mesmo.
Janice e Flaviana estavam sentadas em silêncio, orando secretamente, assim como Maria do Carmo.
Venâncio voltava da cantina com café e alguns biscoitos. Rosalie e Dafne estavam sentadas de mãos dadas, mandando energia positiva para Jenifer. Abelle roia suas unhas já curtas.
Dentro da sala cirúrgica tudo estava pronto.
Jenifer fazia força para colocar Virgínia pra fora. Eleonora segurava sua mão enquanto a incentivava. A enfermeira limpava a testa de Jenifer com uma pequena toalha, toda água de seu corpo parecia sair em forma de suor.
- Vamos Jenifer, só mais um pouco, ela está quase vindo – Dizia o médico.
- Não dá mais, eu não vou conseguir... – Resmungava Jenifer quase sem voz, usando toda sua força para trazer Virgínia ao mundo.
- Vai conseguir amor, você é forte – Dizia Eleonora.
- Não dá, eu não aguento mais – Jenifer parou de fazer força por um minuto.
Soltou da mão de Eleonora que estava vermelha. Respirou fundo e fechou os olhos. “Me ajuda mãe”, pediu em pensamento.
Jenifer sentiu como tivesse recebido uma carga de energia. Agarrou com força a mão de Eleonora, ainda de olhos fechados deu um último grito de dor. Sentiu algo saindo de dentro de si. Ouviu Eleonora rindo. Olhou para o lado e as lágrimas corriam como água de cachoeira. Poucos minutos depois ouviu-se um choro. Virgínia acabara de nascer.
- Ela nasceu... – Murmurou Eleonora encostando sua testa a testa de Jenifer.
As duas sorriam em meio às lágrimas.
Virgínia chorava alto e forte. O médico a enrolou num lençol verde, levando-a até Jenifer.
- Jenifer, essa aqui é sua filha – Disse o médico colocando Virgínia nos braços de Jenifer.
Um pouco desajeitada Jenifer pegou Virgínia pela primeira vez. Mesmo que Virgínia estivesse toda lambuzada de sangue, Jenifer a achou linda. Passou seu dedo delicadamente pelo rostinho da filha, sentindo-se a mulher mais feliz do mundo.
Ao sentir o calor da mãe Virgínia acalmou-se, substituindo o choro por alguns resmungos.
- Ela é linda, não é? – Perguntou Jenifer completamente abobada e encantada para Eleonora – Nossa filha é linda.
Eleonora aquiesceu. Beijando Jenifer e depois Virgínia.
Jenifer pegou na pequena mão de Virgínia, analisando seus dedinhos perfeitos e curtos.
- Bem vinda ao mundo minha filha – Sussurrou Eleonora acarinhando Virgínia pela primeira vez.
A enfermeira voltou minutos depois para pegar Virgínia e fazer os primeiros exames.
- Trinta e oito centímetros, três quilos e quinhentos gramas – Anunciou a enfermeira tirando Virgínia da balança e limpando-a.
- Eu vou avisar que ela nasceu, senão o pessoal lá fora vai morrer de ansiedade – Avisou Eleonora.
Eleonora foi pra sala de espera com sapatos e roupas do centro cirúrgico. Tirou a touca no meio do caminho ajeitando o cabelo amassado. Seu sorriso e seu rosto banhado por suas lágrimas anunciara a notícia.
- Ela nasceu? Minha neta nasceu? – Perguntou Giovanni quase dando pulos de alegria.
Eleonora assentiu. Seus pais a abraçaram fortemente. Depois todos que estavam presentes fizeram o mesmo.
- Como ela é?- Quis saber Abelle emocionada.
- Ela é linda! É mentira que todo neném nasce com cara de joelho, minha filha é linda – Disse Eleonora.
- E a Jenifer está bem? – Perguntou Flaviana
- As duas estão ótimas, dona Flaviana.
- Ela é perfeita? – Perguntou Sebastião.
- Perfeita, pai. As mãozinhas tão lindas e gordinhas – Respondeu Eleonora sorrindo – E nasceu com muito cabelo.
- Deu pra ser parto normal?
- Deu sim tia. Achei que a Jenifer não ia aguentar, mas ela é forte e amanhã as duas já podem ir pra casa.
- Graças à Deus – Disseram algumas vozes simultaneamente.
- Quando a gente vai poder ver ela? – Perguntou Venâncio.
- Eu vou ver como as coisas estão depois eu volto pra buscar vocês, mas já vou avisando que só de dois em dois – Respondeu Eleonora.
- Eu vou ser o primeiro – Disse Giovanni levantando a mão – Ninguém passa por cima de mim.
Todos riram da irreverência de Giovanni.
Eleonora foi até o berçário e viu do outro lado do vidro sua pequena dormindo ao lado de outros pequenos. Virgínia tinha um lacinho branco nos cabelos, feito com um tira da máscara cirúrgica.
Extasiada Eleonora namorava sua filha com os olhos brilhando. Ouviu passos chegando até ela e com muito esforço tirou os olhos da filha. Um homem alto e forte dos olhos pretos parou ao seu lado. Tinha um sorriso grande igual ao de Eleonora.
- Minha filha, olha – Disse o homem apontando para uma menina ao lado de Virgínia – Linda não é?
- Ah que gracinha, sim, muito linda – Concordou Eleonora – A minha é aquela ao lado da sua.
O homem recuou um pouco,olhando Eleonora debaixo a cima.
- Não, não fui eu que dei a luz, foi minha esposa.
- Ah, mais um casal gay? Isso está virando epidemia? – Brincou o homem rindo.
Eleonora ficou com cara de interrogação.
- Minha filha é de uma barriga de aluguel, eu e meu parceiro também queríamos um filho – Explicou o homem.
- Entendi, muito bacana. Bom, agora tenho que ver como minha Jenifer está, boa sorte pra vocês – Disse Eleonora estendendo a mão para o homem.
- Obrigado. E boa sorte pra vocês também, sua filha também é linda.
Eleonora agradeceu sorrindo ainda mais. Caminhou como se tivesse nuvem embaixo dos pés.
- Entra – Disse Jenifer ao ouvir Eleonora bater na porta – Amor! Vem cá.
- Como você está se sentindo? – Perguntou Eleonora sentando na beirada da cama.
- Mais leve – Respondeu Jenifer rindo junto de Eleonora – E ela? Cadê minha filha? Ela está bem?
- Sim, ela estava no berçário até agora. Daqui a pouco vão trazê-la pra você amamentar.
- Achei que não fosse conseguir – Comentou Jenifer – Estava quase pedindo pra que rasgassem minha barriga que seria mais fácil, mas eu consegui.
- Tudo deu certo no final, né? Agora temos a nossa família – Disse Eleonora beijando Jenifer – Eu, você e a nossa filha.
- A família mais linda do mundo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Capítulo 331 ♥

Jenifer ficou muda. O suor brotava em seu rosto como gotas de orvalho. Seus olhos se arregalavam de medo.
- Já liguei pro médico avisando que estamos indo pro hospital – Disse Eleonora adentrando o quarto com uma rapidez nervosa.
Eleonora percebeu que pisava em alguma coisa, olhou pro chão e viu o líquido brilhando.
- A sua filha vai nascer a qualquer momento, Léo – Disse Janice – Ainda bem que arrumamos a mala a tempo, né?
Eleonora olhou pra mãe e para Jenifer, parecia não entender muito bem o que estava acontecendo. As engrenagens do seu raciocínio pareciam ter parado.
- Ave Maria! Vocês vão ficar paradas, ai? Andem logo que a Jenifer tem que ir pro hospital – Disse Maria do Carmo pegando a mala.
Janice e Flaviana foram amparar Jenifer para ajudá-la a levantar, mas ela permaneceu imóvel na poltrona.
- Amor, o que foi? – Perguntou Eleonora.
- Não... E se ela ainda não estiver pronta? E se eu ainda não estiver pronta? Será que... Será que já está na hora? – Jenifer tinha lágrimas nos olhos e uma palidez no rosto.
Eleonora ajoelhou ao seu lado, pegou em sua mão e disse:
- Amor, já chegou a hora de você trazer nossa filha ao mundo. Tudo vai dar certo. Não precisa ficar com medo de nada...
- E se eu não conseguir... – Jenifer foi interrompida por um beijo de Eleonora.
- Você vai conseguir. Confia em mim e confia em você. Agora vamos por que parece que ela está com pressa – Eleonora sorriu e passou a mão na barriga de Jenifer, beijando em seguida.
Jenifer sorriu para Eleonora e levantou-se da poltrona.
- Aonde vocês estão indo? – Perguntou Giovanni ao ver todas as mulheres juntas, ladeando Jenifer.
- Minha bisneta avisou que vai nascer – Disse Flaviana.
- Que? Como assim? E-ela vai nascer? A Virgínia... Mas... Ela já vai nascer? – Giovanni andava de um lado para o outro atordoado, ansioso e feliz.
- A Jenifer vai pro hospital agora, e eu vou com ela – Avisou Flaviana – Se quiser voltar pro Rio pode ir, eu vou ficar.
- De jeito nenhum! Quero acompanhá-las e ver minha neta – Disse Giovanni.
- Eu também só volto pro Rio quando conhecer minha afilhada – Disse Venâncio.
- Tudo bem, todo mundo pode ficar, mas agora a gente tem que levar a Jenifer pro hospital – Disse Eleonora em voz alta – Eu não estou em condições de dirigir...
- Deixa que eu dirijo – Disse Dafne pegando as chaves do carro na cintura de Eleonora.


- Mas já faz horas que estamos aqui, ela ainda não nasceu? – Perguntou Giovanni andando de um lado pro outro no hospital.
- A Léo disse que ela estava fazendo alguns exames, medindo pressão e esperando a dilatação – Disse Janice sentada numa poltrona ao lado de Sebastião.
- Dilatação? Quem é esse? – Questionou Giovanni.
Flaviana riu.
- Olha a minha nora ai – Disse Giovanni quando viu Eleonora.
- A Virgínia está na posição certa e o médico disse que vai poder ser parto normal, só precisa esperar a dilatação aumentar um pouco – Informou Eleonora ansiosa, esfregando as mãos.
- Se acalma minha filha – Pediu Sebastião indo até Eleonora, passando seu braço em volta de seu ombro – Vai dar tudo certo. Está parecendo eu quando fiquei esperando o seu nascimento.
Eleonora sorriu rápido, dando lugar a ansiedade novamente.
As horas se arrastavam lentamente. Parecia existir uma eternidade entre um minuto e outro. O sol já dava lugar a lua quando Diego foi até a sala de espera.
- Eleonora, chegou a hora. Você vai querer acompanhar o parto?
- Cla-claro – Respondeu Eleonora levantando-se da poltrona aos tropeços.
- Léo, grava o parto – Disse Dafne dando a Eleonora uma filmadora que cabia na palma da mão.
- Dê isso a Jenifer – Disse Flaviana entregando um terço.
Eleonora só estendia a mão para pegar os objetos e assentia. Sua voz foi esmagada pela emoção. Seus nervos estavam à flor da pele. Seu coração batia acelerado e ansioso, em poucos minutos veria o rosto angelical de sua filha.
No caminho para o quarto encontrou Marcela junto de uma moça tão linda quanto ela; Olhos miúdos e verdes, pele branca e cabelos cacheados caindo sobre os ombros.
- Passei aqui pra pegar minha carteira que esqueci ontem, vi sua amiga ruiva e a amiga loura da Jenifer na sala de espera e elas me disseram que a Jenifer está em trabalho de parto. Nem deu tempo pra ir ao chá de bebê – Disse Marcela.
- É. – Foi o que Eleonora respondeu.
- Calma, baixinha. Daqui a pouco sua filhota linda vai estar aqui. Vai dar tudo certo – Disse Marcela abraçando Eleonora para tentar acalmá-la – Só pra você saber: Essa daqui é a Natasha, minha namorada.
- Belo momento pra nos conhecermos, não? – Disse Natasha estendendo a mão para Eleonora que respondeu o gesto com um sorriso.
Diego apareceu no corredor a procura de Eleonora, ao vê-lo Eleonora apressou-se.
Chegando no quarto encontrou Jenifer já preparada. Deitada na maca com touca cirúrgica e uma roupa de tecido fino.
- Achei que você não vinha – Disse Jenifer ofegante, sua mão buscou desesperada a mão de Eleonora.
- Eu não ia te deixar sozinha... – Sussurrou Eleonora beijando a testa de Jenifer – Ela vai nascer, nossa filha...
Jenifer sorriu e fechou os olhos.
- Doutor Diego, a sala está pronta, quando o senhor quiser – Avisou a enfermeira.
- Tudo bem – Agradeceu o médico colocando a touca e ajeitando a roupa – E então Jenifer, pronta pra trazer a Virgínia ao mundo?